10/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 1


É aniversário da mimada Sophia. Eric, como sempre, é um rapaz atento a tudo que ocorre à volta de sua namorada, mas não percebe seu verdadeiro caráter. Filho de uma família tradicional da cidade, ele age como um bobo só pra satisfazer os caprichos da amada, e se coloca numa posição inferior à moça. O que não imagina é a relação que Sophia pretende manter através desse namoro: uma solução para seus problemas financeiros.
Determinado a surpreendê-la, liga para a sua melhor amiga, Graziela. Estaciona em frente à uma vitrine de roupas femininas.
-Oi, Eric.                                                            
-Queria falar contigo. Hoje é aniversário da Sophia.
-Hum... Soube pela internet. Ela disse que vai dar uma festa.
-Não te convidou?
-Você sabe que a gente não é tão próxima assim...
-Pois é... Eu tô pensando em dar um presente pra ela, faz só seis meses que a gente tá namorando. Não sei o que vou comprar. Tem como me ajudar nessa?
-Eu?
-É, poxa. Você é mulher. Deve saber o que ela quer ganhar.
-Meu gosto é diferente do dela, pode ter certeza. Ela adora mostrar que tem, se exibir pra todo mundo.
-Sophia diz que só gosta de coisa simples...
-Coisa simples pra você dar. Deve ser chato pedir ao namorado presente. Dá uma bolsa. Tudo bem que ela deve ter um monte, mas do namorado ela não vai recusar, não é?
-Já sei o que eu vou fazer- diz Eric, depois de olhar para diversos vasos de flores- A gente se fala depois.
-OK. Beijo- Graziela desliga.
-Quem era?- surpreende Téo, namorado de Graziela e amigo de infância de Eric.
-Eric. Adivinha pra quê? Pra pedir dica do que comprar pro aniversário da Sophia.
-Fácil de saber: é só ele bancar a festa.
-Ai, eu não sei por que ele perde tempo com ela ainda.
-Porque ele ama aquela menina. Do mesmo jeito que eu amo você- tenta beijá-la.
-Não, Téo. Agora, não.
-O que foi? Ficou nervosinha por que ele te ligou?
-Claro que não. Deixa de dizer besteira.
-Eu não ia me surpreender, não, Graziela. É natural. Amar em silêncio é uma coisa difícil pra caramba. Eu imagino. Mas só quem sente, sabe.
-Eu não mandei você parar?
-De quê? De dizer a verdade?
-Você está a fim de discutir mesmo?
-E você de me deixar ser a sombra do meu melhor amigo. Olha o que você faz comigo: eu estou disputando com ele uma mulher que ele nem sabe que existe.
-Acabou? Com licença!- pega a bolsa.
-Onde é que você vai?
-Pra qualquer lugar que você não esteja perto. Não sou obrigada a escutar sua crise de ciúme. A mulher aqui sou eu. A ofendida sou eu.
-E a rejeitada também.
-Que seja- sai da sala de aula da universidade.
-Grazi? Grazi, desculpa. Volta aqui.
-Nem vem- fecha a porta.
-Droga!
Eric comprou o maior dos buquês para Sophia. Tira do bolso sua carteira e, após abri-la, entrega o seu cartão de crédito para um dos vendedores. Enquanto isso, ele liga para a namorada. Quem atende é a mãe, Jaqueline.
-Alô?
-Oi, Eric.
-Liguei pra desejar parabéns pra Sophia. Onde ela está?
-Oh, querido, ela ainda está dormindo. Eu peço pra ela te retornar quando acordar.
-Certo. Eu ligo depois. Até mais.
-Tchau- desliga o aparelho.
-O que ele queria?- aparece Sophia, composta.
-Te desejar feliz aniversário. Só não entendi por que você não quis atendê-lo.
-Ninguém aguenta esse namorado pegajoso, mãe. Por favor. Vê lá se eu tenho cara de quem vai atender telefone à essa hora só porque ele quer.
-Sophia, você não devia brincar com a sorte desse jeito. O Eric pode ser a salvação dos nossos problemas financeiros. Olha aqui: nem pense em deixar esse garoto escapar.
-Escapar como, mãe? Ele só tem olhos pra mim. Nunca que ele vai se apaixonar por outra pessoa. O cara come na minha mão, caladinho. Eu sou a válvula de escape dele, e não ele a minha.
O cartão de crédito é devolvido ao Eric. Ele dirige sua moto com bastante ansiedade, indo ao encontro e esperando surpreender Sophia. O que ele não imaginava era que outra motocicleta ultrapassaria um semáforo, causando-lhe um acidente que lhe faria perder a consciência, algumas escoriações e flores espalhadas no asfalto, despedaçadas como a sua vida diante de muitos fatos prestes a acontecer.
O outro motociclista também cai, mas nada sofre. Busca socorrer Eric através de uma ligação feita do celular. A ambulância não demora. O aparelho telefônico do rapaz desacordado está jogado também na pista. Busca avisar a alguém de sua lista de contatos. Liga de um por um, mas por falta de sinal, só consegue se comunicar com alguém quando está em frente ao hospital. A primeira pessoa com quem estabelece comunicação é Graziela.
-Alô?
-Eu queria falar com a Graziela.
-É ela mesma. Quem fala?
-Moça, você conhece o Eric Ávila?- olha na carteira de identidade do rapaz.
-Eric? Conheço, sim. O que foi que houve?
-Ele sofreu um acidente aqui perto. A minha moto acabou batendo na dele.
-O Eric? E como é que ele está?- quando fala o nome do amigo, surge novamente Téo, atrás dela.
-Desmaiado. Os médicos foram cuidar dele agora. A gente acabou de chegar.
-Escuta, eu quero o nome do hospital. Qual é? Sei, sei onde fica, sim. Eu estou correndo pra chegar a tempo. Tomara que não seja nada grave. Tem mais uma coisa: na agenda dele, tem o nome “Sophia”. É a namorada dele. Liga pra ela avisando do acidente, ela deve estar indo pro hospital também. Pode ser? Certo, obrigada.
-Que é que está pegando? O Eric está  sentindo o quê?
-Um acidente com a moto. Parece que bateram nele, não sei. Eu vou pro hospital.
-Mas você tem uma apresentação hoje. Graziela, é a última prova. Eu vou junto com você!
-Não dá. Não dá, eu fiquei nervosa. Não vou conseguir fazer nada. Eu falo com o professor e tento remarcar para outro dia. Se ele não deixar, eu pago a cadeira de novo.
-Fica calma, Grazi. A gente não sabe se é tão grave assim. Vai ver ele só teve um ferimento, nada demais.
-Ele está desmaiado, Téo. Lógico que é  grave. Eu preciso ir lá, e eu vou é agora.
-Pelo menos, espera por mim, não é? Não vai fazer o papel da viúva inconsolável antes do tempo.
-Sem gracinhas, entendeu? Sem gracinhas. Eu vou chamar um táxi pelo celular, te espero lá embaixo- desce às escadas.

XXXXX

-Claro. Claro que sim, eu sou a mãe dela. Vou avisá-la sobre o que aconteceu. Obrigada por ter nos avisado, eu vou preparar um carro para levá-la ao hospital. Até logo.
-Quem era no telefone, mãe?
-A empregada mandou me chamar. Um rapaz ligou dizendo que o Eric sofreu um grave acidente de moto.
-O Eric? Mas logo hoje? Logo hoje, pra estragar o meu dia? Eu já estava me planejando pra festa, pra receber o pessoal...
-Aterrissa, Sophia! Por favor! O Eric vai precisar de você nesse momento. A festa pode esperar.
-Mas é meu aniversário!
-Aprenda como dar prioridade às coisas.  O mais importante é a saúde desse rapaz. Já pensou se ele morre? Como é que a gente fica? Hein? O motorista já está esperando você no jardim. E agora você precisa mostrar que está apaixonada por ele, mais do que nunca.
-Sempre com seus planos, não é, Dona Jacqueline?
-Não deixe esse rapaz escapar por nada desse mundo. Nada!

XXXXX

Na enfermaria, Eric está  com o pé enfaixado e começa a recobrar os sentidos. O médico se aproxima dele.
-Eric Ávila?
-Sou eu. E o senhor, quem é?
-Fui quem te atendeu quando você chegou. Não se lembra do que houve? Você sofreu um acidente de moto, o rapaz que te atropelou te trouxe pra cá.
-Lembro só que eu tinha que comprar flores pra Sophia, minha namorada. Depois disso, eu juro que não lembro mais de nada. Ai!- sente dor quando tenta se levantar.
-Calma, ainda está cedo pra você se levantar. Tem que chegar alguém que seja conhecido, que possa te levar pra casa.
-Tem a Sophia. O número dela está no...
-Seu celular está na seção de prontuários. O rapaz que te atropelou o recuperou e ligou pra sua namorada e para uma amiga, a Graziela.
-É, a Grazi deve estar chegando também.
-Eric, eu queria conversar com você antes de ir pra casa.
-O que houve? Algum problema?
-Nós tivemos que fazer alguns exames pra saber se você estava bem. Eu pedi um exame de sangue e enviei ao laboratório que fica perto daqui.
-Mas, doutor... Desculpa, eu só sinto mesmo dor no pé. Nem sei como eu vou fazer com a moto.
-Vai mais além do que o ferimento no pé.
-Mais? Mais o quê, doutor? O senhor está me deixando assustado agora. O que é que eu tenho?
-O exame mostrou que a sua taxa de glóbulos brancos está baixíssima. Isso pode comprometer e muito a sua saúde.
-Calma aí! Glóbulos brancos? Leucócitos, é  disso que o senhor está falando?
-É, sim, Eric.
-O senhor não está  tentando me dizer que...
-Que você... Está correndo risco muito grande. Embora você ainda não sinta nada, você está muito doente. E precisa buscar ajuda médica o quanto antes.
-Não. É mentira. Eu não posso ter ficado doente! Não agora que a minha vida está dando certo. Não posso!- agarra o médico.
-Você tem que ser forte. Tem que aceitar, porque daqui em diante, tudo será mais difícil pra você. E vai precisar muito do apoio da sua namorada e de todos que te cercam.
O olhar de Eric fica perdido, como se esperasse alguém que trouxesse uma solução que pudesse livrá-lo daquele pesadelo.

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