15/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 6


-O que você quer? Me enlouquecer?
-Te provar que se fugir de mim, você vai trazer infelicidade pra minha vida e pra sua também.
-Como é que eu posso acreditar que esse amor nasceu de um dia pro outro, Eric?
-Talvez estivesse adormecido em mim desde sempre e só agora eu tenha percebido. Graziela, não me deixa sozinho, por favor.
-Sozinho? Você tem toda uma vida pela frente, pode conseguir a garota que quiser.
-A que eu quero está aqui, me dando o pior conselho da minha vida.
-Até ontem à tarde, quando você me ligou pedindo uma dica de presente, a Sophia era sua única mulher. Não pode só ter sido a decepção que teve com ela. Tem que ter alguma coisa. Você está me escondendo. Mas o quê?
-Será possível que eu não tenho direito de buscar a minha felicidade longe dela?
-Longe dela, sim. Mas não pra esquecê-la. Muito menos usando alguém.
-Da forma que você fez com o Téo.
-Da mesma forma.
-Você não pode deixar que ele seja uma sombra entre a gente.
-A sombra que existe é a minha insegurança. Não existe prova nenhuma do seu amor por mim.
-Nem mesmo estar aqui?
-O tempo vai dizer o que você quer de mim. Vai dizer pra mim e pra você.

XXXXX

-Me explica direito essa história de drogas, mãe.
-Ah, Sophia, não é nada de entorpecente. Estou falando de dopar o Eric.
-Como é que eu faço isso? Ele não quer me ver nem morta.
-Você não disse que vai devolver o carro? Use isso como pretexto.
-Certo, eu dou um jeito de pôr um remédio na bebida do Eric. E depois, o que eu faço?
-Depois, você finge que dormiu com ele. Espalha umas garrafas de bebida pelo quarto dele e minta pra que todos pensem que ele se embriagou e voltou a ficar com você.
-Não acho que isso seja o suficiente para que ele se sinta penalizado e volte pra mim.
-Isso, não. Mas uma gravidez inesperada, com toda a certeza.
-Mãe, se ele vai estar apagado, como eu vou engravidar dele?
-Calma, ele só precisa pensar que você ficou grávida em consequência dessa noite de amor que tiveram. O resto vai ficar por minha conta.
-Existe outro problema envolvido: Graziela, a mosca morta que é apaixonada por ele desde a infância.
-Uma mulher sensual pode mexer com os sentimentos de um homem. Mas tem mais facilidade em destruir amizades. Provoque essa garota. Mostre que Eric só tem olhos pra você.

XXXXX

No dia seguinte, Glauco entra no quarto do sobrinho e começa a vasculhar uma das gavetas.
-Tem que existir um motivo pra ele agir dessa forma, tem que ter!- pensa.
Em meio a diversos papeis, o exame feito no dia do acidente de moto. Glauco lê atentamente e fica pasmo com o que conclui.
-Não pode ser. O Eric está... Só pode ser um engano. Meu sobrinho não pode estar tão doente dessa forma.
-Dr. Glauco? O motorista está esperando lá embaixo. Disse para o senhor não se atrasar, porque o engarrafamento está enorme na Avenida Agamenon Magalhães- a governanta entra no quarto.
--Eu só... Vou pegar a minha pasta. Obrigado- levanta-se da cama, guarda o exame onde encontrou e fecha a porta.

XXXXX

Téo está ao telefone com um colega da faculdade de jornalismo.
-Claro que eu vou, cara. Minha presença está garantida lá.
-Olha, está rolando um boato de que aquela reportagem que você vendeu pra TV vai te render o prêmio de “Melhor cobertura de 2013”.
-Mas isso é só fofoca, cara. Tem muito freelancer melhor do que eu concorrendo. Só vou por ir mesmo.
-E tua namorada vai contigo?
-A gente terminou, bicho.
-Cara, desculpa. Eu não sabia...
-Tudo bem. Olha, eu vou ter que resolver umas coisas da universidade. Depois eu te ligo.
-Falou, Téo. Um abraço.
-Como é que eu faço pra te esquecer, Grazi? Quem vai ocupar o teu lugar na minha vida?

XXXXX

O telefone toca. A empregada atende. É o segurança da mansão onde moram Eric e Glauco.
-Alô?
-Sônia? Olha só, voltou pra cá aquela moça que se diz namorada do Eric. Disse que quer falar com ele pra devolver a chave do carro.
-Menino, pelo que eu ando escutando aqui, ele não quer ver essa menina nem pintada de ouro. Mas já que é pra devolver a chave, deixe ela entrar. Não é possível que ele não vá querer o carro de volta.
-Certo- desliga. A empregada continua limpando um vaso de flores, quando toca a campainha. Abre a porta pra Sophia.
-Cadê o Eric, Sônia?
-Está tomando banho. Eu vou avisar que a senhorita chegou.
-Já conheço o caminho, queridinha. Pra quê me anunciar?- sobe até o quarto.
Abre a porta com cuidado, quando escuta o chuveiro ainda ligado. Sophia vê na mesa de cabeceira uma jarra com água e alguns copos. Ela enche dois deles e num, põe o sonífero que Jacqueline lhe entregou.
Eric sai enrolado numa toalha e estranha a presença de Sophia em seu quarto.
-Você aqui? O que você quer?
-Eu vim devolver a chave do carro. Não era isso que você queria que eu devolvesse?
-O teu amor servia como pagamento. Infelizmente eu nunca tive. Como é que você entrou aqui?
-Me apresentei como quem eu realmente sou.
-Disse pro segurança que era minha namorada? Mentiu pra conseguiu entrar?
-Não, disse que era sua mulher. Contei uma verdade irrefutável.
-A única verdade irrefutável que consigo enxergar claramente agora é que você consegue enganar qualquer pessoa, sem dificuldade.
Sophia entrega um dos copos para Eric. E faz um brinde.
-Sabe por que estou fazendo isso? Porque me lembra daquele dia em que você me levou à praça, comprou dois refrigerantes e sem que eu me desse conta, colou na lata seu pedido de namoro. Você bebia- levanta o copo dele, que, como se estivesse hipnotizado pelas vãs palavras da moça, bebe a água- e eu sequer imaginava que você me faria em poucos instantes a mulher mais feliz do mundo...
-Chega, Sophia!- arremessa o copo antes de terminar de ingerir todo o líquido- Sei muito bem o que você quer. Me transformar naquele cara que você sempre manipulou!
-E eu? Eric, você pensa que eu não me sinto manipulada porque sempre tenho que esperar que você reconsidere e volte pra mim? Será que você não entende que a minha vida está nas suas mãos?
-O que está nas minhas mãos é a sua conta bancária. Acordei, Sophia. Acordei e me livrei da influência que você tinha sobre mim.
-Mudou demais até. O que é, então? Não pode ser apenas por conta da decepção que você diz ter comigo. É a Graziela, não é?
-Não digo ter, tenho mesmo. Eu não fiquei louco só porque sofri um acidente de moto e passei a escutar errado as coisas. Eu ouvi e vi. Deixa de ser cínica, Sophia!
-Você não respondeu à minha pergunta: é a Graziela, não é?
-Também. E se não fosse, seria qualquer mulher. Aliás, qualquer não. Porque eu estou... – sente as primeiras vertigens- Convencido de que ela me ama de verdade, sempre me amou, ao... Ao contrário de você. O que você botou na minha água?
-Eu? Eric!
-Não se faça de besta comigo. Deve ser algum plano da sua mãe. O que é? Decidiram me drogar agora? Vocês não vão conseguir...- desmaia.
Sophia se apressa para procurar bebidas alcoólicas no quarto de Eric. Ao achá-las, derrama muitas delas na pia, e molha a mão com uma das garrafas, passando-a na boca do jovem. Ela o recolhe para a cama e em seguida, tira a roupa. Na mesa de cabeceira, encontra o celular e manda uma mensagem para Graziela.
-A Graziela não vai ficar com você, Eric. Principalmente depois de hoje.

XXXXX

Jacqueline está na sala de estar, comemorando o sucesso de seu plano antes da hora.
-Sophia vai conseguir enganar o Eric mais uma vez. E depois que eu entrar em cena, eles vão voltar a namorar. Nunca mais vamos voltar para o vermelho, graças ao dinheiro da família Ávila.
-No meu dinheiro você não toca, Jacqueline.
-Glauco?- vira-se- O que você está fazendo aqui?
-Vim ter uma conversa definitiva com você. Definitiva!

XXXXX

Sônia abre a porta da mansão Ávila.
-Oi, Sônia, tudo bem?
-Tudo, Graziela. Sabe como é? Aquela correria de sempre, tendo que cuidar dessa casa enorme...
-Sei... O Eric mandou uma mensagem dizendo que queria falar comigo. Onde ele está?
-Faz mais de horas que ele não desceu. Ele foi tomar banho, e depois a Sophia apareceu pra falar com ele e também ficou lá no quarto.
-Espera, Sônia. A Sophia está aqui?
-Sim, ela nem quis que eu subisse pra avisar.
-Mas então por que ele me chamou? Será que o Eric voltou com ela?
-Duvido muito. O Eric está com muita raiva dela. Vamos subir?
-Agora, eu nem sei se quero subir mais.
-Fica tranquila. Nessa hora, ele já deve ter dado um fora daqueles naquela patricinha. Vem- as duas sobem até o quarto de Eric. Sônia bate à porta.
-Pode entrar- grita Sophia.
Quando as duas abrem a porta, Eric e Sophia estão envoltos nos lençóis. O rapaz ainda está desacordado, e a moça se faz de desentendida.
-Graziela? Mas o que você veio fazer aqui? Quem te chamou?
Graziela fica completamente perplexa com a situação. Ainda mais porque Eric acorda e, não entendendo o que aconteceu, demonstra não ter qualquer explicação.

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