Jacqueline chega num consultório médico e procura um obstetra.
-Jacqueline?
-Posso entrar, Denis?
-Claro. Por favor, sente-se.
-Obrigada. Denis, eu vim aqui pra tratar de
um assunto delicado.
-Se eu puder ajudar...
-A minha filha, a Sophia, vai fazer um exame
de gravidez daqui a alguns dias aqui na sua clínica.
-Sim, mas qual é o problema?
-Eu quero que você falsifique o exame. Não
adianta me olhar com essa cara, você já está acostumado a fazer esse tipo de
coisa.
-O que eu ganho com isso? Eu sou um obstetra
respeitado, não posso simplesmente me arriscar sem ganhar nada em troca.
-Ganhará aquilo que eu te dei durante muito
tempo.
-Entendo... Bom, quando ela virá?
-Em menos de um mês ela estará aqui. Ninguém
pode saber de nada. Você só tem que colocar o contrário do que der no exame. O
contrário, entendeu? Nada mais.
XXXXX
Graziela veste a roupa e Eric está sentado na
cama, observando-a em silêncio.
-Acho que está na hora de você ir embora.
-O que você achou?
-Do quê?
-Do que aconteceu com a gente agora. Não vai
me dizer nada?
-Foi uma das melhores tardes da minha vida.
-Ela pode se repetir pra sempre, Graziela. Só
depende de você.
-Na verdade, isso está em suas mãos. O tempo
todo, você não agia como se realmente fosse louco por mim. Parecia que você
precisava se livrar de uma sombra, de um fantasma que te perseguia. Vai ver é
isso mesmo, não é?
-Graziela, por favor...
-O que aconteceu aqui você podia ter
proporcionado pra qualquer mulher. Basta você sair que as suas lembranças
voltam.
-Quer dizer que você não acredita que aquela
cena lá em casa não foi culpa minha? Que tudo não passou de uma armação da
Sophia?
-Certo, você me convenceu. Acredito na sua
inocência agora. Você não ia se dar ao trabalho de me enganar pra terminar na
minha cama. Mas o fato de você estar na minha cama é se enganar.
-Então não significou nada o que rolou aqui?
Eu não posso te “descartar”, mas você pode? Sabe de uma coisa? Se você for
mesmo apaixonada por mim, me procura, OK? Porque eu estou livre.
-Claro que está. Seu coração é que não.
-Pra mim chega- levanta-se, veste a roupa e
sai do apartamento.
-Será que eu estou fazendo a coisa certa? Ou
eu estou deixando o Eric escapar?
XXXXX
Chega o dia da premiação “Manchete do Brasil
2013”, que enaltece o trabalho de novos e experientes jornalistas. Téo está
ansioso para a categoria “Melhor cobertura de 2013”, a qual concorre pelo envio
de um vídeo que falava sobre a chuva que castigou a capital pernambucana no
quinto mês do ano. O amigo que falou com ele ao telefone não esconde a
satisfação de revê-lo.
-Grande Téo!
-Fala, Alexandre. Tudo
bem?
-Tudo. Na expectativa?
-Sei lá, não é, cara? Tem tanto trabalho bom
concorrendo com o meu...
-Não é o que estão comentando. Todo mundo
gostou daquelas imagens que você fez do temporal.
-Muito estrago na cidade, cara. Não tem
infraestrutura pra cuidar de quem mora nela, quanto mais pra receber turista
que vem pra Copa.
-Parece que você não está muito animado com
isso.
-Eu queria a Graziela aqui.
-Vocês... Não tentaram nenhuma reaproximação?
-Pra quê? Eu sei que se eu conseguir, vou me
arrepender logo em seguida.
-Você não acha que já é hora de... Botar tudo
em pratos limpos com o Eric e a Graziela?
-Hum, ele já deixou bem claro que está interessado
nela. Claro que não vou culpá-lo, afinal, ela é maravilhosa. Mas que eu fiquei
com muita raiva dele por ter esfregado na minha cara que a minha ex prefere o
meu melhor amigo, fiquei. Aliás, melhor amigo, não. A gente se afastou por
conta do romance com a Sophia, pra não dizer “ele se afastou porque quis”.
-Téo?- surpreende-o Graziela.
-Eu não acredito. Você aqui?
-Sabia que esta noite seria muito importante,
e não podia deixar de vir.
-Seu lugar á mesa já estava reservado, mesmo
sem saber se você vinha ou não. Vamos?
-Claro, vamos.
Alexandre, Téo e
Graziela vão até a mesa. Os rapazes nem acreditam que a jovem estava lá mesmo
para prestigiar o ex-namorado.
XXXXX
-Só pode estar de
brincadeira comigo!- grita Eric, furioso.
-O que houve?- questiona
Glauco.
-O senhor não vai
acreditar. Liguei pro celular da Graziela e ela não atendeu. Liguei pra casa
dela e uma vizinha que está tomando conta do apartamento atendeu. Adivinha aonde
ela foi? À premiação de jornalistas que o Téo está concorrendo.
-Eric, ela foi namorada
dele. É normal que os dois tenham uma relação de respeito.
-Respeito nenhum. Se isso
acontecer, vai que ela fraqueja e volta com ele?
-Sinceramente, eu não te
reconheço mais. A Graziela não é a sua namorada, e o Téo é seu melhor amigo. O
que mudou?
-Fácil de responder: eu
posso morrer.
-Não se atormente antes
da hora. Você não sabe se sua doença está num estágio avançado.
-Pode até ser. Mas eu
vou lutar pelo que eu quero e por quem me quer. E vai ser agora.
-Pra onde vai?
-Eu vou à festa e deixar
claro de uma vez por todas que eu sou o homem por quem ela está apaixonada. Se
o Téo não entendeu da primeira vez, vai entender agora.
-Convite? Você tem algum
pra entrar?
-Não preciso disso. Eu
sou o Eric Ávila. Esqueceu, tio?
XXXXX
Meia hora depois, Sophia
navega pela internet e vê, num portal de notícias, a foto de Eric na premiação.
-O que é isso, minha
filha?
-Eric. Sempre esse
desgraçado fazendo os planos da gente irem por água abaixo. Sabe onde ele está?
Numa premiação de jornalistas.
-Qual o problema?
-Me lembro de ter
escutado o Eric comentar que o Téo e a Graziela estarão lá também. Parece que o
Téo, inclusive, está concorrendo.
-Pelo visto, o Eric não
fá ponto sem nó. Ele está disposto a conquistar essa Graziela, nem que pra isso
tenha que criar um mal-estar com Téo.
-Agora você entendeu o
meu drama.
-Bom, talvez seja a hora
de nos adiantarmos.
-Como assim? Eu ainda
não fiz o teste de gravidez.
-Mas podemos dizer que
há suspeitas que recaem sobre seu estado de saúde. Ele vai ficar tão chocado
com a notícia que não vai pensar em mais nada. Ou em mais ninguém.
-Se a senhora pensa em
entrar na festa, pode esquecer. Precisa de convite.
-Nossa família está à
beira da falência, mas a alta sociedade não precisa saber disso. Continuamos
com influência e, sobretudo, na vida do Eric.
XXXXX
Alexandre, Graziela e
Téo estão assistindo à premiação, quando a apresentadora do evento anuncia:
-E agora vamos a um dos
prêmios mais esperados da noite: o de “Melhor Cobertura de 2013”. E a vencedora
é- abre o envelope- “A chuva que castigou maio”, produzida por Téo Andrade.
Emocionado, Téo sobe e é
cumprimentado pela apresentadora e agradece aos que estavam presentes.
-Bom, eu queria
agradecer primeiramente aos que estão aqui. Eu posso afirmar que algumas
pessoas são realmente muito especiais pra mim... - ele olha para Graziela, que
lhe retribui com um sorriso. De repente, Eric entra no salão, ocupa o lugar no
qual Téo estava sentado e põe a mão sobre a da ex do amigo.
-Eric?
-Você não achou que eu
te deixar sozinha num momento tão especial, não é?
Visivelmente
constrangida, Graziela olha para Téo, que segura com raiva o microfone, e para Jacqueline,
que inclina a cabeça para falar com ela.
-Com licença, você é a
Graziela, não é?
-Ele está muito emocionado,
gente, não consegue falar- Alexandre tenta contornar o silêncio de Téo, levando
o público a bater palmas para o premiado.
-Bom, essa cobertura
foi... Um dos melhores presentes que eu tive na minha vida... –sente uma
vertigem.
-Sou, sim. Quem é você?
-A sogra dele- aponta
pra Eric- Ele não te contou da novidade? O Eric vai ser pai!
-O quê?- assusta-se
Eric. Graziela fica perdida com a mentira contada por Jacqueline. Téo sente
outra tontura e acaba desmaiando no palco, fazendo todos se levantarem de susto
e curiosidade, menos Eric, que acredita ser fingimento para roubar a atenção de
Graziela. E consegue, bem como a de Sophia, que entra no salão quando os
presentes tentam acudi-lo.
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