21/05/2013

A CRUZ E A ESPADA/ CAPÍTULO 10


Alexandre corre até o palco. Graziela, desesperada, vai atrás do amigo de Téo, mas é impedida por Eric.
-Não vai atrás dele, Graziela. É de mim que você precisa, e sou eu quem precisa de você.
-Como é que você pode ser tão insensível assim, Eric? Pelo que a sua sogra disse, não é difícil imaginar quem seja você de verdade- vai atrás de Alexandre.
Jacqueline segura o braço de Eric ao perceber que ele correrá atrás da jovem.
-Nossa conversa não acabou aqui, Eric!
-Eu vou matar você!
-Não, não vai matar, não. Você não pode ir pra cadeia porque tem um filho pra criar. O filho da minha filha.
-Isso é mentira. É mais uma das mentiras que a Sophia se acostumou a contar. Com a sua permissão, é claro.
-O que você quer? Ouvir da boca dela que o que eu falei não é mentira? Procura a Sophia lá fora, ela vai te contar tudo que você precisa saber sobre a gravidez. E adivinha como foi que ela ficou grávida? E quando? Pois eu vou te responder: no dia em que ela foi devolver a chave do carro e você- aponta- a seduziu.
-Deixa de ser cínica!
-Eu teria que aprender com você se quisesse ser realmente cínica. A Sophia te espera lá fora. Se você quiser tirar suas dúvidas sobre esta gravidez, ela vai te esperar- sai do salão.
-Téo? Téo, fala comigo! Téo! O que é que você tem, Téo? Téo!- Graziela toca no rosto do rapaz.
-Eu chamei uma ambulância. Gente, ele está acordando- Alexandre avisa.
-O que houve? Onde é que eu estou?
-Téo! Ainda bem que você acordou? Você desmaiou, meu querido.
-Deve ter se emocionado com a premiação.
-Levem ele para a administração do clube, rápido- diz um dos seguranças do evento.
Graziela acompanha o ex-namorado, junto com Alexandre e dois seguranças. Eric olha para a jovem, irritado, e ela retribui com a feição de mágoa, como se aquela única tarde servisse para machucá-la diversas vezes. Ele decide ir atrás de Sophia e Jacqueline, no jardim do clube.

XXXXX

-E agora? Como você está, Téo?
-Melhor. Não precisa se preocupar comigo, Graziela. Eu estou bem.
-Acho que ele precisa de um médico. Está muito pálido- diz outro segurança.
-Sério mesmo, não chama ninguém. Daqui a pouco eu vou pra casa. Alexandre, chama um táxi pra mim.
-Calma, Téo. Você tem que descansar um pouco. Não pode sair agora, está cedo demais. Olha, vocês não acham que tem gente demais nessa sala. Fica uma pessoa só com ele.
-Eu fico, Alexandre.
-Ótimo. Qualquer coisa que ele sentir, pode chamar a gente. Estamos na porta- avisa outro segurança.
-Tudo bem, obrigada.
-Você não se cansa de me surpreender. Primeiro não avisa que pretende vir, e depois traz o Eric aqui. Sempre uma caixinha de surpresas. Desagradáveis, por sinal.
-Téo, eu não sabia que o Eric vinha. Ele faz um curso diferente, não tem porque estar num evento de jornalismo.
-Por quanto tempo mais você vai tentar me enganar, Graziela?
-Não estou mentindo pra você.
-O jeito que ele segurou a sua mão. Num dos dias mais importantes da minha vida, com a mulher que até então era a mais importante da minha vida? Você acha que eu acredito em coincidência? E numa nova coincidência justamente com ele?
-Você está me julgando mal, e não me dá nenhuma chance de defesa. Parece que não me reconhece mais. Sou eu, Graziela!
-Sei disso. A mesma Graziela que aceitou o Eric segurando sua mão na minha frente, mesmo sabendo que isso ia me doer. A mesma Graziela que espancou a Sophia por ciúme. A mesma Graziela que beijou o Eric numa lanchonete um dia depois do nosso término!
-Beijo? Mas que história é essa de... – entende sobre o que ele fala.
-Sua memória voltou a funcionar, não é? Eu não fico mais um segundo com você. Um que seja- levanta-se.

XXXXX

-Parece que você não desistiu do seu plano de me enlouquecer.
-Nem você de conquistar a Graziela.
-O que você quer? Beirar o ridículo e tentar me fazer acreditar naquela estória sem pé nem cabeça que me contou?
-Eric, fala baixo. Os convidados podem escutar- Jacqueline tenta acalmar os ânimos.
-Danem-se todos, inclusive você. A nova mentira é essa, Sophia? Gravidez indesejada?
-Fruto do nosso amor. Do mais sincero sentimento que sempre existirá entre nós.
-Quantos minutos você demorou em casa pra decorar essa fala?
-O que eu posso fazer pra te convencer de que eu amo você?
-Jacqueline, você não se surpreende que ela consegue mentir melhor do que você?
-Por favor, tenha calma! Eu sei que é difícil, mas a minha filha está grávida mesmo, Eric.
-Prova, então. Mas esqueci que vocês não tem provas, nem caráter, nem palavra!
-Senti muitos enjoos, sono, eu... Eu estou atrasada.
-Eu também, mas porque eu tinha que te dizer uma verdade. Por mais que eu ame você, não significa que eu vou me casar com um lixo de pessoa!
-Não fala assim comigo!
-Lixo. Descartável, como um dia eu fui no seu coração. Aliás, você é descartável pra qualquer homem que saiba por que você se aproxima- abre a carteira e tira um maço de dinheiro- É isso que você quer, não sou eu. Fica com o dinheiro, mas me deixa em paz.
-Eric, olha o que você está dizendo. Sophia é louca por...
-Dinheiro, Jacqueline. Sua filha é aquilo que você projetou: uma vagabunda que se interessa por dinheiro- esfrega o maço no rosto dela.
-Para, para com isso! Larga minha filha!
-Foi bom pra você? Se sentir usada? Humilhada? Destruída? Pois foi assim que eu me senti quando descobri que tudo foi mentira, e é assim que você vai se sentir enquanto você tiver vergonha na sua cara!- fala pausadamente a partir de então- Você não vale nada! Um rato de esgoto tem mais valor do que você.
Sophia sai correndo, desolada e inconformada com as verdades ditas.
-Você não pode ter dito isso. Que monstro... - põe a mão na cabeça- Que tipo de monstro é você, Eric?
-É melhor você correr atrás da sua filhinha do coração. Ela vai precisar de você. E você mais dela, se não quiser escutar verdades. Eu tenho nojo de vocês duas! Nojo!- cospe na cara de Jacqueline, empurrando-a em seguida.
-Olha o que você me fez passar, Glauco... Mas não se preocupe. O que é seu e do seu sobrinho está guardado. Maldito!- fala em voz baixa, enquanto limpa o rosto.

XXXXX

Téo acena para um táxi. O motorista para.
-Boa noite. Pra onde?
-Pro bairro de Casa Forte, rápido- entra no carro.
Sophia aparece correndo ao sair do salão e entra no táxi também.
-Pra onde você está indo?
-Sophia?
-Pra onde você está indo?
-Pra casa, lá em casa Forte.
-Ótimo. Vamos sair logo daqui.
-De quem você está fugindo?
-Para de me fazer perguntas, eu só quero sair daqui.
-Pode seguir, taxista.
O carro sai, e Jacqueline vai atrás da filha, sem conseguir alcançá-la.
-Sophia! Minha filha, volta aqui! Sophia! Onde será que ela foi?

XXXXX

Eric volta para casa e Glauco está à sua espera.
-Conseguiu encontrar a Graziela na premiação?
-Deu tudo errado, tio. Tudo. Era pra ser minha chance, mas eu... –abaixa a cabeça.
-O que houve, Eric?
-A Jacqueline e a Sophia apareceram lá e... A Jacqueline disse, na frente da Graziela, que a Sophia está grávida!
-Só pode ser mentira dessas duas.
-Pode até ser, mas como eu faço pra Graziela acreditar em mim? Como, tio?

XXXXX

Sophia entra no apartamento de Téo, que vai até a cozinha pegar um copo com água para a moça.
-Toma.
-Não, não quero nada. Só queria sumir, desaparecer daquele lugar.
-Você veio o caminho todo chorando, não disse nada. O que houve? Por que você foi à festa?
-Eu fui conversar com o Eric lá e ele me disse coisas tão... – volta a chorar- Foi horrível, horrível, eu não quero mais me lembrar dele. Eu não quero mais continuar com isso!
Téo enxuga as lágrimas da garota, após colocar o copo numa estante.
-Calma. Você não está mais lá. Eu estou aqui com você, não estou? Não precisa se preocupar. Não vou te deixar sozinha.
Os dois dão um abraço, e Téo segura o cabelo da jovem. Afasta-se com lentidão para tentar beijá-la, mas ela se levanta do sofá, correndo até a porta do apartamento.
-Eu já sei o que você quer: me usar. O que você pensa? Que vai me convencer a te ajudar nessa vingança ridícula contra o Eric?
Téo apaga as luzes.
-Já pensou que você talvez esteja experimentando o mesmo ódio que eu tenho dele agora? Por mais que ele te ame, as coisas nunca mais vão ser como antes. E você precisa dar o troco por tudo que ele disse e fez. Quem melhor do que eu pra te ajudar nisso?
Téo toma Sophia nos braços e lhe beija de forma calorosa, a ponto de ambos esquecerem o propósito de vingança. A partir da entrega, ainda que demorem a admitir, nasce um intenso sentimento capaz de extinguir maus pensamentos.

XXXXX

No dia seguinte, Graziela está arrumando diversas pastas para levá-las à faculdade. Quando está prestes a sair, lembra-se do celular que deixou carregando próximo à janela da sala. Abaixa-se para pegá-lo e o põe no bolso. Mas uma pessoa ainda a atrasará, quando esta abre a porta.
-O senhor aqui, Dr. Glauco?
-E já imagina o que vou tratar com você- entra sem permissão.
-Vai me desculpar, mas eu tenho uma prova agora... Eu não posso conversar com o senhor. E se tiver a ver com o Eric, eu não tenho tempo nem cabeça pra isso.
-Graziela, você precisa acreditar em mim. O fato de você ainda não estar com o meu sobrinho é culpa de um plano preparado pela Sophia e pela Jacqueline.
-Plano que tem uma afetiva participação do seu sobrinho. Até onde eu sei, elas não o forçaram a nada.
-O Eric quer ficar com você. acredite. Ele está confuso, mas te quer bem. Seus sentimentos são sinceros.
-A ponto de engravidar a ex-namorada? Por favor, não me faça rir. E por que, de uma hora pra outra, ele descobriu que eu vou fazê-lo feliz?
-Porque ele pode morrer.
-O que foi que o senhor disse?
-Meu sobrinho está doente, Graziela. E ele decidiu que não vai se tratar enquanto você não ficar com ele.
Graziela fica atônita com a revelação feita por Glauco, sem desconfiar de que a doença de Eric ainda a surpreenderá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário