08/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 11: EU SEI QUE ELA TERMINOU O QUE EU NÃO COMECEI


-Que história é essa, menino?
-Tô falando sério.
-Não, só pode ser brincadeira.
-Pra mim, não é.
-Foi você que escreveu isso e mandou pra mim?
-Não é meu, é da Vanessa Rangel. Não sou fã dela, te juro, mas ouvi no rádio e...
-É lindo.
-Você gostou mesmo?
-Claro. Amei.
-Mas e a sua resposta?
-Foi mal, Pedro, mas pra mim não vai dar.
-Desculpa falar desse jeito, mas só se você tiver alguém.
-Eu sou muito complicada. Sei que olhando assim, ninguém diz...
-É o Fabrício, não é?
-Oi?
-Eu devia ter sacado logo, é muita leseira a minha. É do meu irmão que você tá a fim.
-A gente não tem nada. Juro, a gente não ficou nem tá namorando. E eu te acho um cara legal. O problema sou eu.
-E se eu te perguntasse se o problema tem a ver com o Fabrício, o que você vai responder?- ao perceber que Viviana não consegue responder, interrompe a conversa- Deixa pra lá. Deu pra entender.
-Olha, Pedro, eu não quero te ver desconfiando de mim. Me dá um voto de confiança.
-Se você diz que não teve nada com o Fabrício, eu não duvido. Acredito em você, Milena. Mas é bom a gente parar por aqui.
-Nesse clima?
-Eu não quero machucar ninguém. Principalmente a mim mesmo.
Os dois tentam disfarçar a situação.
-É melhor a gente...
-Subir pra ver o Fabrício.
-Isso.

*****

No dia seguinte, Ricardo volta à pousada que Cora está hospedada. Ela se mantém fria quando encontra o publicitário.
-Você aqui?
-Ontem você me expulsou. Eu entendi só porque estava nervosa. Mas hoje, eu vim saber se você pôs a cabeça no lugar.
Pus ontem mesmo. Não precisava ter se dado ao trabalho de vir- Ricardo a segura pelo braço- O que é isso? Vai apelar pra violência agora?
-Mesmo que você jure pelo que for que não quer mais nada comigo, eu não acredito em você.
-Por que é tão difícil de entender, Ricardo?
-Porque você me ama.
-Claro. Constatação excelente, não é? Depois, você se reconcilia com a sua esposa e tudo volta ao normal. Vai ver ela nem sabe que vocês estão brigados, já que sua satisfação pra família é mínima. Mas e depois? Quando você se cansar dela de novo, vai me procurar? Deixa eu te responder: não! Não vai! Eu sou um jogo. Um jogo com o qual você se divertiu bastante. Por mais que eu goste de você, eu não vou deixar de seguir com a minha vida por isso- entra no seu quarto, enquanto Ricardo pensa.
-Eu não vou desistir, Cora. Vou voltar e ter você ao meu lado de novo.

*****

Pedro entra no quarto de Fabrício.
-Tá melhor?
-Tô, sim. Não precisava ter mandado o médico trazer aquele remédio.
-Precisava, sim. Você tava muito agitado.
-Sonhei com o acidente. Aquilo tudo de novo, foi horrível.
-Eu imagino.
-Não, ninguém consegue imaginar. Ainda mais se não ficar numa cama de hospital pra saber.
-Você sabe que tem um jeito pra resolver esse problema.
-Não venha me falar de cirurgia de novo.
-Ah, você reclama porque tá aí, sem poder andar. Quando a gente te oferece uma solução, não quer.
-A solução é o quê? Admitir que eu sou deficiente?
-Qual o problema?
-Queria ver você no meu lugar. Queria te ver frente a frente com a morte e saber que tem coisa pior do que ela.
-Fabrício, você tá vivo. E a gente tá fazendo de tudo pra que você volte a andar. É só uma questão de paciência!
-Paciência pra meses, pra anos até. E isso, sinceramente, eu não tenho. Quanto aos outros, não se preocupe. Eu não estou implorando a ajuda de ninguém. Muito menos a sua.
-O seu problema sou eu, mas só vai sair daqui quando eu disser ao Werner que pode. Você não quer andar porque sabe que eu vou acompanhar teu caso?
-Justamente.
-Pois eu vou te dizer uma coisa, Fabrício: quanto mais você me odiar, mais eu vou fazer de tudo pra você se curar. Agora, não é porque a mamãe pediu, é porque eu quero e vai ser assim.
-Para de pagar como irmão, Pedro. Eu não quero você aqui. Eu odeio você.
-Engraçado, né? Até há um mês atrás, a gente era amigo.
-Só que eu não sabia a verdade.
-Verdade essa que você me acusa de saber e não contar. Sabe qual é a impressão? É de que eu sempre te odiei, sempre tive inveja. Quem entrar e ver a gente aqui, vai pensar isso.
-Eu não me importo com os outros.
-Mas eu me importo contigo.
-Perda de tempo.
-Só quero que você entenda que não é um exame de DNA que decide quem vai ser irmão de quem. Eu sou o seu irmão há dezoito anos, e vai ser assim até o fim da vida.
-Pedro... Você mente cada vez melhor.
-Não. Você é que tem que ser cada vez melhor.

*****

Cristina vai até o hospital e encontra Viviana.
-E meu filho?
-O Pedro chamou o doutor pra dar um remédio pra ele.
-Remédio? Por quê? O que foi que você fez com ele?
-Deixa dessa frescura, ele só tava inquieto pra dormir por causa de um sonho ruim que teve.
-Mesmo você tendo se aboletado aqui, sua convivência com os meus filhos vai ser cada vez menor, se depender de mim.
-Fale com o Pedro, pra ver se ele resolve o seu problema. Não vai entrar?
-Claro. Pergunta idiota.
No quarto, Cristina fica surpresa com Fabrício sentado na cadeira de rodas. Pedro sorri, por ter convencido o irmão.
-Meu filho...
-Eu sei. Já não era sem tempo.
-Finalmente você aceitou. Mas vai ser por pouco tempo, eu te juro. Que alegria de saber que meu filho já está...
-Aceitando a situação? Isso nunca.
-Bom, mãe, eu tenho outra boa notícia.
-O quê?
-Hoje, a Milena, o Fabrício, a senhora e eu vamos pra um lugar.
-Lugar? Qual?- estranha Viviana.
-Pra casa. Eu falei com o Werner e ele deu alta pro Fabrício.
-Pedro, eu vou pra casa? É isso?
-É, Fabrício. Pra nossa casa.
-Eu tenho que ligar pro Ricardo. Ele precisa saber disso... Que felicidade- abaixa-se e dá um abraço em Pedro e Fabrício- Agora eu vou ter meus dois filhos em casa. Os dois.

*****

Ludmila está com um fotógrafo na porta da casa da família faria.
-Olha só, não perde ninguém de vista. Mesmo que eles não queiram fotos, você registra tudo pra sair já na coluna de amanhã.
-Pode deixar. Não são eles ali?
-Onde? No táxi?
-É.
-Pra mim, eles vinham de carro com o Ricardo Faria.
Do veículo descem Viviana, Cristina, Pedro e Fabrício. Os três primeiros estão contentes. Já Fabrício está um pouco receoso de voltar à sua casa. Ludmila e o fotógrafo se aproximam da família.
-Bem-vindo de volta, Fabrício- diz a jornalista, procurando ser agradável.

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