-Como foi que você conseguiu essas fotos,
menina?
-Digamos que não é muito inteligente para um
homem manter um caso e beijar a amante na rua. Tudo foi obra do acaso, mas
infelizmente eu não pude evitar. Ou será “felizmente”?
-Você vai dar um jeito dessas fotos sumirem
pra sempre.
-De graça? Não, Ricardo. Elas vão continuar
em meu poder e eu vou destruir todas as cópias quando você me der o cheque.
-Como é que eu posso ter certeza disso?
-Porque você vai me ver destruindo as fotos,
uma por uma.. E também porque não quer arriscar ver seus filhos sofrendo por causa
da sua traição com a Cora Lauveríssimo.
-Até o nome dela você sabe, sua desgraçada?
-Acredita mesmo que eu só ficaria nas fotos?
Eu apurei tudo sobre essa mulher. Onde ela trabalha, onde ela mora, tudo. O
caso de vocês poderia muito bem ser secreto se não fosse a sua falta de
discrição.
-Pelo jeito de falar, até parece que você
quer mesmo que a minha família saiba de tudo.
-Motivos pessoais eu não tenho. Mas não vou
perder essa chance. E então, Ricardo? Vai ou não me dar o dinheiro?
-Amanhã você passa aqui...
-Hoje mesmo, às três e meia. Do banco
passamos no jornal e pegamos as últimas cópias disponíveis. Não tente me
enganar, ou vai se arrepender. Bom... – pega a bolsa e põe num dos braços- o
doutor é um homem importante e tem uma reunião para a qual já está atrasado.
Nos vemos mais tarde. Com licença. Ah, tem mais uma coisa. Recolhe essas
imagens do chão. Vai que a arrumadeira vê isso. Seria terrível se outras
pessoas descobrissem. Até logo.
Ricardo espera Ludmila sair e decide ligar
pra Cora.
-Sou eu, Cora. Olha, eu vou ter sair pra almoçar.
Tem como você me esperar às doze horas na pousada? Tudo bem. Um beijo.
Ao desligar, ele perde a cabeça e atira o
celular contra a porta, tomando pela raiva que sente da jornalista.
*****
Fabrício continua em seu quarto, discutindo
com sua mãe sobre a festa.
-Meu filho, já imaginou os nomes na coluna
social de novo? Isso vai representar a nossa virada, a volta por cima.
-Quem tem que dar a volta por cima sou eu.
Não é a família Faria. Eu é que quase morri naquele acidente, e não tô
mendigando matéria em jornal nenhum.
-Me desculpa, filho, mas eu não sou obrigada
a aceitar todos os seus caprichos.
-Ah, sei, mas o Pedro, o meu pai e eu temos
que aguentar suas frescuras sem falar nada?
-Confia em mim, meu filho.
-Até quando você vai insistir que somos mesmo
uma família feliz? A gente não era antes do acidente, e agora nem se fala.
-Eu sou sincera nos seus sentimentos.
-Mas acha que precisa expressar todos eles
numa capa de jornal.
-Bom, Fabrício, daqui a cinco dias, toda a cidade
vai saber que você está disposto a fazer uma cirurgia e voltar à sua vida
normal.
-E se eu não...
-Vai voltar. O seu irmão vai te ajudar.
-Quando você vai parar de insistir nessa
mentira?
-Eu nunca vou parar de insistir nessa
mentira. O meu amor por vocês é grande demais pra que eu possa abrir mão dessa
mentira. Agora, se me der licença, eu vou fazer a sua lista de convidados-
levanta-se e sai do quarto.
-Irmão...
*****
Ricardo chega ao quarto de Cora, que o recebe
com um beijo ardente.
-O que foi? Você está distante demais.
-Aconteceu um problema. Eu preciso conversar
com você.
-Por favor, senta aqui- tira uma almofada do
sofá- O que aconteceu?
-Cora... A gente tem que terminar o nosso
romance.
A professora fica em estado de choque, por
não acreditar que ele tomaria essa atitude.
*****
Pedro e Viviana estão no quarto de Fabrício.
O rapaz faz exercícios com o irmão.
-Pra quê isso? Eu nem tô operado ainda.
-A gente tem que exercitar a sua musculatura.
Não pode ficar enrijecido.
-Teu irmão sabe o que tá fazendo, Fabrício. É
pro seu bem.
-Onde é que você tava, Milena? Você demorou
pra chegar hoje.
-Uns problemas.
-De família?
-É, Fabrício, você sabe me ler como ninguém.
Pedro mantém a perna direita de Fabrício
dobrada.
-O que tá fazendo?
-Já falei. Exercitando você. Não sente nada?
-Não, nada.
-E agora?- Pedro dobra a outra perna, e se
manem sobre ambas.
-Nada ainda. Quer dizer...
-O quê?
-Eu tô sentindo como se tivesse queimando.
Mas pelo menos eu tô sentindo alguma coisa.
-Milena, me ajuda aqui.
-Eu faço o quê, Pedro?
-Segura as pernas dele, na mesma posição. Eu
vou pegar uma coisa na gaveta.
-Vai lá.
Pedro pega um piloto na gaveta e se aproxima
da perna que está sentindo um incômodo.
-Olha só: eu vou escrever, bem devagar, um
nome. Você vai ter que dizer que nome eu escrevi. Certo?
-Tá bom, Pedro. Escreve.
Pedro começa a escrever, enquanto Viviana
olha em silêncio.
-Pronto. Que nome eu escrevi.
-Milena. Você escreveu o nome da Milena.
-Foi. Isso mesmo. O nome da Milena. Você tá
começando a sentir suas pernas, Fabrício.
-Eu não acredito. Eu não acredito... –
Fabrício abraça o irmão, e Viviana se emociona.
*****
-Você não pode estar falando sério.
-Nunca falei tão sério na minha vida, Cora.
-Ricardo... Para pra pensar. A minha vida
agora depende do que vai acontecer conosco. Eu me sinto ligada a você. Eu sei
que não devia, mas não posso controlar.
-O nosso caso não pode continuar.
-Caso? Você chama o que temos de caso? Eu
chamo de entrega. E você ficava me cercando, me procurou até que eu não pudesse
resistir mais. Agora, essa conversa de fim de caso. O que é? Outra mulher?
-Não. É a mesma. Eu descobri que ainda sou
apaixonado pela minha mulher.
-Isso não é verdade.
-Somos casados há vinte anos, temos uma
cumplicidade mútua...
-Você está mentindo pra mim!- começa a
gritar- Se tem uma coisa que a sua mulher representa pra você, é a prisão. Eu
sou sua única saída, Ricardo. A única que consegue te amar de verdade.
-Para com isso, Cora. Eu vim até aqui pra
deixar de te iludir, de contar mentiras. Eu fiquei fragilizado pelo que
aconteceu com o meu filho, mas passou. A Cristina me inspira segurança, e eu
não posso mais te enganar. Adeus, Cora.
-Volta aqui, Ricardo. Não me deixa sozinha!
Você não pode fazer isso comigo. Eu te amo! Eu vou acabar com você, desgraçado.
Eu vou acabar com a sua família, maldito! Volta!
Cora percebe que Ricardo não volta ao seu
quarto e chora compulsivamente, a ponto de cair do chão. O que ela quer agora é
se vingar do homem que a abandonou.
*****
Pedro, Viviana e Fabrício vão à praia. Os
três estão na calçada, e só o estudante de Medicina entende o propósito de
estarem lá.
-Por que você trouxe a gente aqui?
-Quis comemorar seu progresso. E acho que
você queria comemorar também.
-Comemorar eu só vou quando eu puder correr
pela areia, sentir as ondas batendo em mim, me sentir livre.
-Tenho pra mim que você pode fazer isso hoje.
-Tá pensando no quê, Pedro?- Viviana fica
curiosa com as ideias do jovem.
-Me ajuda aqui, Milena.
E Pedro retira o irmão da cadeira de rodas.
-Vamos tomar banho, como a gente fazia quando
era criança. A mãe levava a gente pro colégio e, em vez da gente ir direto pra
casa, a gente largava a bolsa na areia e brincava na água. Vem também, Milena.
Viviana e Pedro correm com Fabrício até a
água, onde se divertem bastante. O rapaz esquece por alguns minutos de seus
problemas e brinca com o irmão e a amiga no mar. Num dado momento, ele abre os
braços e se sente flutuar.
Passados algumas horas, ele está de volta à
cadeira, no meio da areia, olhando o pôr do sol, enquanto Viviana e Pedro vão
comprar uma água de coco, observando-o.
-Nunca vi ele sorrir tanto desde que
aconteceu o acidente.
-Parece que agora fica mais fácil pra fazer o
meu irmão andar, voltar a ser feliz. O que foi? Tá distante...
-É que... Minha manhã hoje foi barra-pesada.
-Por causa dos problemas com a família que o
Fabrício contou.
-Isso aí.
-Você não merece sofrer, Milena. Desde que
você chegou, a nossa vida podia ter ficado pior. Em meio à tragédia total. É só
chegar lá em casa e ver que meu pai não tá lá, minha mãe tá mandando mais na
gente... Acho que cria um problema pra fugir de outro.
-Pelo menos você tem mãe. Uma pessoa pra
reclamar.
-Você é órfã?
-Pior: não sei nada dela, não sei onde ela
tá, meu pai tá me procurando e eu não quero mais a cara dele... – Viviana para
pra chorar, e Pedro enxuga suas lágrimas.
-Quando a gente tem alguém do lado, os
problemas somem. É assim que eu me sinto quando eu tô com você.
-Pedro...
-Me dá uma chance. Você tornou a vida da
gente melhor, a minha melhor também. Eu só quero tentar te fazer feliz, mesmo
que pouco. Eu vou te perguntar de novo, e se você disser que não, eu vou
entender. Na boa. Quer namorar comigo?
No mesmo momento, ela olha pra Fabrício, que
está bem distante. Sem saber do pedido do irmão, o rapaz também olha pra ela.
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