01/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 7: ELA TAMBÉM ESTAVA PERDIDA


Cristina chega ao hospital e entra no consultório.
-Doutor Oliveira?
-Pode entrar, dona Cristina.
-Eu vim falar com o senhor. Sobre a transferência. Queria saber se há condições de tirar o meu filho daqui.
-O Fabrício está evoluindo muito bem. Inclusive eu soube que ele já pediu para comer. Se possível, hoje mesmo resolvemos esse problema.
-Ótimo. O senhor não sabe como eu fico feliz em ver que ele já está melhor.
-Temos um empecilho ainda: ele não quer usar a cadeira de rodas.
-Mas isso é questão de tempo. Logo, logo, o meu outro filho, Pedro, vai convencê-lo a fazer o tratamento necessário.

*****

Pedro está saindo da faculdade e encontra Cora em seu carro.
-Professora?
-Indo para o conservatório?
-Não, eu vou ao hospital. É o mesmo caminho, na verdade.
-Quer que eu te leve?
-Isso já tá virando rotina!
-Você sabe que não tem problema nenhum. Aliás, é um gosto ajudar você. É um dos meus melhores alunos, se não o melhor. Quer dizer, foi.
-Sabe que eu já nem sei mais o que pensar? Quanto mais eu fico aqui, nessa faculdade, mais eu tenho vontade de desistir de tudo. E agora tem um motivo mais forte pra eu continuar: Fabrício.
-O caso ainda é grave?
-Ele tá fora de perigo. Mas por causa do trauma que ele sofreu, ele não pode andar.
-Nossa, eu sinto muito, Pedro.
-O problema mesmo é que a gente não sabe qual é o tratamento, porque ele não aceita a minha ajuda.
-Mas você é o irmão dele, por que ele não...
-Professora, é uma história comprida demais. E não é o melhor lugar pra contar.
-Bom, meu convite fica de pé. Quer minha carona?
-Tudo bem, eu vou com a senhora.
Pedro entra no carro e Cora conduz o veículo rumo ao hospital.

*****

-Por que você fez isso?
-Pra você entender, de uma vez por todas, que eu não quero fazer o que todo mundo manda. Ninguém vai dominar, entendeu? Ninguém!
-Fabrício, eu vou repetir que é pro seu bem.
-Meu bem? O que é que você sabe? O que é que você entende da minha vida? Sofreu por acaso? Descobriu que era filha de gente que não conhece, nem sabe o nome? Eu não vou sentar nessa cadeira! E pode vir Pedro, Cristina, a repórter, a polícia, o escambau!
-Não vai se levantar, é?
Viviana trava uma luta contra o rapaz, tentando a todo custo tirá-lo da cama.
-Me solta! Você tá me machucando! Para, Milena! Me larga!
-Cala a boca! Você não acha que eu sofri? Acha que eu não tenho nada? Que eu não sinto nada? Senta!
-Olha aqui, ninguém me tratou desse jeito.
-Porque você é rico! É só isso o que interessa. Tua família é você. Quem liga pra saber como você tá, só se preocupa por causa do seu dinheiro.
-Eu não quero dinheiro nenhum.
-O que você não quer é gente que te ama perto de você. Sabe o que eu fiz antes de chegar aqui? Fugi!  É, eu fugi pra não ter que viver com gente perigosa e insensível feito você.
-Não quero saber!
-Mas vai saber! Você não sabe o que é amor, mesmo sendo amado. Mas vai ter que aprender na marra. Eu vou embora, mas quando eu voltar, eu quero te ver sentado, comendo, falando com todo mundo. Se quiser ficar com raiva, pode ficar. A hora é essa.
Viviana abre a porta e sai irritadíssima. Ela encontra Cristina, que percebe o quanto a moça está alterada.
-O que houve?
-Eu fiz ele se sentar na cadeira.
-Ah, quer dizer que conseguiu convencê-lo?
-Não, eu fiz o que todo mundo tem que fazer pra conversar com ele: briguei.
-O que você fez com o meu filho?
-Fiz ele ser homem e sentar. Arrastei ele da cama até a cadeira e resolvi o problema.
-Quem te deu o direito fazer isso, sua insolente?
-Fabrício, com a falta de educação dele. Com licença.
Cristina fica barbarizada e liga para Ricardo.
-Onde você está?
-Na agência.
-Você tem que vir pra cá.
-Por quê? O Fabrício piorou?
-Ele vai sair o mais rápido possível daqui. Não quero mais meu filho metido nesse lugar.
-Resolva o problema da transferência, fale com o médico.
-Já falei. Venha pra cá.
-Pra resolver o quê?
-Ricardo, você é o pai dele! Venha agora!
-Não vou desmarcar minha reunião pra resolver seus caprichos.
-Ricardo? Ricardo? Desligou na minha cara o desgraçado. Ai, mas vai ter volta.
-Droga! O que foi que eu fiz? Eu não posso deixar minha mulher sozinha numa hora dessas- Ricardo se levanta e pega o carro para ir ao hospital.

*****

Passada meia hora, Cora faz uma cara de preocupação, quando está prestes a chegar com Pedro.
-O que houve, professora?
-O combustível está acabando.
-Pode me deixar aqui. Tá perto, eu vou andando.
-Imagina. Isso daqui é uma avenida, o que não falta é posto de gasolina.
Na entrada do hospital, Pedro agradece.
-Tia Cora, eu nem sei como te agradecer.
-Pra começar, pode parar de me chamar de tia. Já passamos dessa fase.
-É o costume. Já te conheço faz tempo.
-Manda melhoras pro seu irmão.
-Valeu- Pedro a beija no rosto, desce do carro e vai até a recepção.
Momentos depois, Cora está com o celular nas mãos. Ricardo chega e vê Cora, aproveitando para se aproximar do carro.
-Você por aqui?
E ela se surpreende com a presença de Ricardo, ficando bastante mexida através da lembrança do beijo que deram.

*****

Na zona central da cidade, Cristina chega numa ambulância com Fabrício. Ele, no momento acordado, é levado ao Hospital Melina Dubeux. A mãe adotiva do jovem conhece o novo médico do filho.
-Muito prazer, dona Cristina. Eu sou o Werner Ribeiro.
-Prazer. Tem certeza que ele vai ficar bem aqui?
-Nosso hospital é referência no estado, pode ficar tranquila. Como ele reagiu á notícia sobre a paraplegia?
-Da pior forma possível. Mas acredito que, com o tempo, ele volte a si.
-Pelo visto, vamos ter muito trabalho.
-O meu outro filho é estudante de Medicina. Eu queria saber se ele pode acompanhar a evolução do quadro.
-Claro, sempre que quiser.
-Eu só queria pedir mais uma coisa, doutor.
-O quê?
-Eu queria proibir a entrada de uma pessoa em especial.
-Imagino. Repórter?
-Não. Uma moça chamada Milena. Ninguém desse hospital pode deixá-la entrar de jeito nenhum.

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