26/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 17: ELA FALOU “MAS EU NÃO SEI MAIS O QUE SINTO POR VOCÊ...”



-Calma, Fabrício. Vamos conversar. Você tem que me dar a chance pra explicar.
-O quê? Quatro mensagens de amor mandadas do celular do Pedro? Vai dizer que ele mandou por engano?

-Não. Não foi engano.

-E você guardou por que mesmo?- ironiza.

-Porque eu... Eu...

-Não termina. Eu sei o que vai me dizer. É o que eu tô pensando mesmo. Você gostou das mensagens e não quis excluir.

-Foi.

-Isso daqui é de quando?

-Da época que sua mãe tinha te transferido pro hospital particular.

-Ah, já entendi. Desde aquele tempo que você e o meu irmão... Eu não quero mais ouvir nada.

-Fabrício, eu não tenho nada com o Pedro. É você com quem eu namoro.

-Comigo? Comigo mesmo não. Se você quisesse alguma coisa comigo, você tinha apagado isso. E agora minha ficha tá caindo. Hoje de manhã, o Pedro falou que ia te trazer aqui. Entendi. Onde é que vocês passaram antes de chegar aqui?

-Você tá me ofendendo.

-Caramba!- bota a mão sobre a boca- Desculpa. Esqueci que todo mundo merece respeito. Até uma... Cadela feito você- Viviana tenta bater no rosto do rapaz, que a segura- Fica quieta! Olha só. Olha só tua cara de vítima. Quem olhar, vai pensar que você é um anjo.

-Fui eu quem fez você decidir voltar a nadar.

-Com a ajuda do meu irmão.

-É, com a ajuda dele, sim. Porque teu irmão te ama. Ele, do mesmo jeito que eu e a sua mãe, se importa se você tá bem ou não.

-Cena! É cena! O Pedro não gosta de ninguém. A questão é puro interesse dele. Ou ele me cura, ou a minha mãe não dá liberdade pra ele ser dono do próprio nariz. Eu, em três tempos, já tinha me livrado da influência dela. O que acontece, Viviana, é que esse cara é um idiota.

-E você? Não é?

-Sou. Porque tava começando a gostar de você.

-Não é disso que eu tô falando. Você não quer ser igual ao Pedro. Nunca quis. Você se dava bem com ele, mas vivia uma vida que era sua. O problema é que ele nunca desistiu de procurar ser o que sempre quis. E depois do acidente, você perdeu a vontade de querer ser feliz. Como ele tem, você detesta.

-Tinha uma meta, sim. Quando eu pedi você em namoro da primeira vez, eu queria ser feliz. Eu tava me sentindo feliz. Aí eu descobri... O seu passado, e desisti. Depois, eu vendo aquela humilhação toda que a minha mãe tava fazendo você passar, eu voltei com o pedido. Se você aceitasse, ninguém ia mais falar de você. Aí eu prestei atenção numa coisa: a minha felicidade não importava mais; mas a sua, sim. Só que eu nunca ia conseguir ser feliz, imagino com quanta gente você viveu, dormiu, pagou pra você...

-Fabrício... Eu nunca dormi com ninguém. Se você quiser que eu me ajoelhe, que eu jure, eu faço. Mas eu não posso ir embora sem saber se você acredita em mim.

-Você não quer minha crença, Viviana! Você quer meu perdão! É diferente! Você sabe que errou. Você sabe que fez besteira! Que história é essa agora de que nunca teve nada com ninguém? Tá pensando que eu nasci ontem?

-Eu não tive nada, eu tinha acabado de chegar à cidade na noite anterior. Eu não tinha nada pra comer, não tinha o que vestir. As meninas que trabalham lá no lugar onde você sofreu o acidente é que tentaram me ajudar.

-Isso pra mim pouco importa. Sua vida não me interessa mais. O que eu não vou perdoar você é de ter tido um caso com ele.

-Eu não tive nada!

-Teve, sim! Teve, sim!- começa a gritar- Como é que eu fui tão burro assim? Desde o tempo do hospital que os dois ficam se defendendo, um na frente do outro! Fachada, claro!

-Certo. Certo, eu vou falar! Sabe por que eu não apaguei a mensagem? Porque eu fiquei mexida! Porque eu gostei mesmo. Só que isso não quer dizer que eu sinta pelo Pedro a mesma coisa que eu sinto por você. E eu não fiquei com ele porque era em você que tava interessada.

-Fragilidade. Eu detesto dizer, mas só pode ser isso que você viu em mim. Pensa comigo: um cara rico dirigindo um carro do ano que ganhou de aniversário. O cara sofre um acidente e fica aleijado. Plano perfeito. Você não deixou escapar nada do seu plano.

-Isso é o que você pensa de mim? Depois de tudo que eu passei contigo?

-O que eu penso, eu não falo, pra não te dar a chance de falar também. Porque se eu ouvir a tua voz mais uma vez, eu te mato. Volta pro teu pai, se é que esse pai existe. Volta pro lugar de onde o Pedro te tirou.

-Você vai sentir tanto quando perceber que eu te amo mesmo, Fabrício.

-Eu não quero esse sentimento, e sim que ele exploda com você. Meu irmão não é tão merecedor? Ama o Pedro- vai abrir a porta- Agora sai.

Vendo que ele está irredutível, a moça sai. Fora da mansão, vira-se para ele.

-Pode deixar que não volto, Fabrício.

O rapaz bate a porta com muita força, gritando dentro da mansão.

-Até nunca mais! Vadia! Vadia!

Fabrício vai para o seu quarto e quebra tudo e desforra a cama, enquanto xinga Viviana. Tempos depois, já sem forças, vai ao canto da parede, onde há uma grande janela. De lá, vê a garota indo embora e chora bastante.



*****



-Cora? Cora Lauveríssimo? Esse é o segredo, Ricardo? Você salvou o sobrenome dela pra que eu não reconhecesse?

-Calma, Cristina...

-Não me faça de idiota. Não de novo. Você estava na festa que eu organizei. Era a professora do Pedro, não é isso?

-Fui, fui, sim.

-E desde quando vocês se conhecem? Não, não precisa dizer. Isso pouco me interessa.

-Olha, Cristina, eu nunca quis que as coisas chegassem a esse ponto.

-Ponto? Foi lá que você conheceu essa desgraçada?

-Escuta aqui, eu não vou admitir...

Cristina bate na professora, que cai sobre a cama.

-Você não é ninguém pra admitir nada.

-Sou, sim. Sou eu a mulher que tem um caso com o Ricardo. Eu não sei quem foi que te contou, mas é isso mesmo. Exatamente isso. Foi bom você ter vindo aqui, porque eu quero deixar claro que eu não vou abrir mão do seu marido.

-Cínica. Você não passa de uma cínica.

-Não preciso fingir nada. Se tem uma coisa com a qual eu deixei de me preocupar é com a opinião alheia.

-Quer dizer que você acha bonito se envolver com um homem casado?

-Não. Mas acho bonito saber que ele me ama, e não a esposa.

-Eu vou matar você!- Cristina avança contra Cora, mas Ricardo as aparta.

-Isso não vai trazer seu marido de volta, Cristina.

-Sempre que o seu filho precisava de você, era pra cá que você corria, não é, Ricardo? Desgraçado, mas você vai se arrepender disso.

-Se tem uma coisa de que eu me arrependo, é de ter me envolvido com as duas. Só disso.

-Eu estou cercada de vagabundas mesmo. Meu filho e meu marido. Sabe de uma coisa, Ricardo? Fica com ela. Agora que você se contenta com mercadoria de baixa qualidade, eu não vou aceitar que você volte pra se tornar novamente um pai e um marido ausente.

-Cristina...

-Procura o seu advogado e pede o divórcio. Quebrar a cara dessa mulher não vai adiantar nada. Só que de uma coisa eu tenho certeza: pra casa você não volta. Se você não consegue ser um bom pai, não precisa ser um péssimo marido também- abre a porta e vai para o seu carro.

-Volta aqui, Cristina. A gente tem que...

-Conversar? Com essa mulher? Ricardo, você não a ama. Se você a amasse, você não estaria aqui comigo.

-É sobre isso que eu vim conversar. Eu estava sendo vítima de uma chantagem.

-O quê?

-Uma jornalista nos viu juntos, aqui na pousada, e exigiu cem mil dólares para que o nosso caso não fosse revelado.

-Foi por isso que...

-Exatamente. Eu não quis que a minha família soubesse e terminei com você, pra evitar que a Cristina e os meninos pudessem descobrir por conta própria.

-Tem ideia de como ela possa ter descoberto?

-Não, nenhuma. A tal jornalista não falou nada, eu paguei o que ela quis, e no prazo certo.

-Sabe o que isso significa, não é? Agora que a Cristina já sabe de tudo, nós não precisamos mais nos esconder.

-Não é assim, Cora.

-O que te impede, Ricardo? O quê?

-Ela tem razão. Eu fui fraco. Ausente como marido e pai no momento que o Fabrício mais precisou de mim. E quando a minha esposa também me queria por perto, eu fugi. Eu vinha pra cá, fazia de tudo pra não estar próximo a ela.

-Porque você não a ama!

-Mas amo a minha família, e tudo aquilo que eu construí.

-Eu não acredito em você. Tudo o que a gente viveu não serviu de nada? Não teve significado nenhum?

-Claro que teve, mas eu não posso mais continuar com você.

-Seus filhos não são crianças, sabem o que fazem, têm entendimento do mundo. Agora você vai me largar por causa de homens que têm uma vida feita?

-Mas não têm um pai. E não são eles que sentem a minha falta somente. Eu também me sinto incompleto se os meus filhos não estão comigo.

-Você tem ideia do que eu sinto? Alguma ideia, por menor que seja?

-Minha intenção nunca foi te machucar, te seduzir e depois fingir que nada aconteceu. Acontece que a minha vida não é atrelada à sua.

-Sabe que se os seus filhos são a única razão pra nos impedir de ser felizes, eu vou dar um jeito nisso...

-Do que você está falando?

-Nada mais me importa. As consequências não me assustam. Se os seus filhos não me deixam ser felizes contigo, acho que a única solução vai ser tirá-los do nosso caminho...

Ricardo agarra o seu pescoço com violência, estrangulando-a aos poucos.

-Se você tocar neles... Se você pensar em fazer alguma coisa com o Fabrício ou o Pedro, eu acabo com você. Porque aí, quem não vai temer as consequências sou eu...

-Me larga, Ricardo!- fala com dificuldade, até que o publicitário a joga contra a parede.

-Não se aproxima da minha família, Cora. Vai ser pior pra você!



*****



Pedro chega à sua casa e encontra Fabrício na sala, de costas.

-Tive que voltar pra casa. Recebi uma mensagem do Werner e vim falar com você. Lê.

Sem se virar, o jovem pega o celular, deixando Pedro desconfiado. Lê em voz alta:

-Consegui marcar a cirurgia do Fabrício. De hoje a oito, no Melina Dubeux. Werner.

-E então, cara? Não vai dizer nada? O que foi, Fabrício?- abaixa-se e vira a cadeira do irmão.

-Você entende tudo sobre SMS, não é? Prova disso é que mandou quatro pra minha namorada.

-Foi a Milena... Foi a Viviana que te contou isso?

-Aquela? Nunca ia falar. Eu que mexi no celular dela e vi.

-Fabrício, você leu a data dessas mensagens? Porque quando eu mandei, ela não era...

-Cala essa boca! Pra mim, pouco me interessa quando você mandou isso. Eu não nasci ontem. Você mandou pra Viviana porque sabia que eu tava interessado nela.

-Mas não tinha nada com ela.

-Já você...

-Não, eu não tive nada também.

-E ainda querem que eu acredite nessa estória. Chega, Pedro. Não precisa mais fingir. Toda essa aproximação foi pra agradar à minha mãe e ficar mais perto dela. Resumindo: você sempre quer dar um jeito de tirar o que é meu.

-A mãe é minha também, esqueceu? E depois, quando eu fiz a minha declaração, você não namorava ela.

-E foi só uma vez?

-Não.

-Eu sabia.

-Teve aquele dia da praia também. Eu pedi de novo. Sabia que ela gostava de você, mas como não namorava contigo, pensei...

-Que eu era um idiota que nunca ia se dar conta da biscate que botei dentro do hospital e em casa.

-Para de falar da Viviana desse jeito!

-Vai fazer o quê? Defender a vagabunda?

-Chega, Fabrício!

-Não! Agora eu vou falar! Não precisa mais fingir pra ficar perto dela. O caminho tá livre. O que foi? Tá me olhando assim por quê? Acha que eu faço questão de ficar com ela sabendo do passado dela? Fica pra você, já que faz tanta questão de ter o que é meu mesmo.

-Aí é que tá: desde quando a Viviana foi sua? Nunca foi. Nunca. Ela podia ter se apaixonado por você, mas nunca tiveram nada. E eu, como gostava dela, e gosto ainda, fui direto ao ponto duas vezes e perguntei se ela queria ficar comigo. Simples! Mas é de você que ela gosta. Nunca quis tirar a sua felicidade.

-O que você quer é que eu me dane com a minha felicidade!

-Mas uma coisa é certa: se você não quer a Viviana, eu vou lutar por ela. Como eu já devia ter feito desde o começo. Eu só não fiz isso antes porque não imaginei que você fosse tratar a Viviana desse jeito.

-Pedro, eu tô impressionado, sério. Caramba, como você mente bem. Bicho, o que você quer é a Viviana porque ela me quis. Nem o fato dela ser quem é te interessa.

-O que ela fez ficou no passado dela.

-Conversa. Se eu tivesse morrido, a mesma coisa ia acontecer com o meu pai. Ela me levava pro hospital, dava um nome falso e o seu Ricardo cairia na conversa.

-Chama ele de pai. É tão difícil de entender que...

-Que ele é seu pai? Que a Cristina é sua mãe? Que é a sua vida e que eu não faço parte da sua família? Não, não é difícil! Eu estilei com isso, mas depois eu achei bom! Nunca mais eu ia conseguir imaginar que você tivesse nascido da mesma mãe que eu.

-Por quê? Você não é melhor do que eu, nem eu melhor que você.

-Claro. O número do bom moço de novo. Vai tentar fazer isso no dia da operação também?

-Eu não vou te deixar sozinho lá.

-Deveria. Aproveita e vai tentar conquistar a Viviana.

-Talvez eu deva. Se eu fizer isso, vou fazer finalmente a única coisa que me torna diferente de você: ser homem!

Fabrício se enfurece e acaba dando um soco no irmão, que cai sentado no chão.

-Era você que devia ter sofrido aquele acidente. Era você que devia ter ficado preso numa cadeira de rodas. Melhor: devia ter morrido lá mesmo. Sabe o que eu quero? Que você sofra a mesma coisa, seu imbecil!

Pedro, por sua vez, acaba desferindo outro no rapaz, levando-o a cair da cadeira.

-Eu vou pra sua cirurgia! Você não vai me impedir. E eu não vou deixar de ser feliz por culpa de ninguém. Sua, menos ainda!- vai para o quarto.



*****



Cristina invade a sala de Ludmila.

-Eu tenho que falar com você agora!

-Dona Cristina...

-Agora, sua insolente! Agora!

-Sente-se, por favor.

-Foi você que publicou a matéria que falava mal da tal de Viviana, não foi? Fala, desgraçada!

-Tem razão, fui eu.

-E também sabia da traição do meu marido. Como?

-Uma vez eu fui cobrir uma matéria no conservatório, onde o Pedro estudava escondido. O Ricardo estava aos beijos com a Cora Lauveríssimo. No mesmo dia, eu tinha ido procurá-lo para que ele me desse uma entrevista sobre o Fabrício. Como ele não estava, desconfiei. Horas depois, liguei os pontos.

-Você não vai contar a ninguém sobre o aconteceu entre ele e a Cora- abre a bolsa e tira seu talão de cheques e uma caneta- Quanto você quer pra ficar de boca fechada, e ainda influenciar seus amigos jornalistas a não publicarem toda e qualquer nota sobre a existência da Viviana?

-Nada, Cristina.

-Dona Cristina pra você.

-Cristina, eu ainda não terminei de fazer o que tinha pra fazer quando me aproximei da sua família.

-Deixa de me enrolar e dá logo o seu preço!

-É isso que te importa no momento? Meu preço? Pois eu vou mostrar uma coisa- tira diversas fotos de uma modelo- Sabe quem é essa mulher?

-Não me é estranha. Lembrei: é a Verônica Zimmerman. A modelo que morreu há algum tempo. Suspeita de ter se matado.

-Suspeita, não. Ela se matou. Pôs fim à própria vida. Por causa do Ricardo Faria!

-O que meu marido tinha a ver com essa mulher?

-A Cora é apenas a segunda amante do seu esposo. A primeira foi a Verônica. Minha irmã.

-Irmã?

-O acidente do Fabrício nunca me interessou como matéria. O fato de Viviana ser uma garota de programa, menos ainda. O problema é o seu marido. Imagino o quanto a senhora deve ter tratado mal aquela garota, sem perceber que o grande problema da sua família dorme na sua cama.

-Ludmila... Isso é mentira. Você não tem como provar nada.

-Claro que não. A única prova morreu: o meu sobrinho.

-O quê?

-A Verônica ficou grávida do Ricardo. Mas ele mandou que ela abortasse. Ela seguiu o conselho e depois, ele a abandonou. No fim, ela entrou em depressão, parou de participar de desfiles, definhou e sentiu culpa pela morte do filho. Até que... Agora sai daqui. Vai ser feliz, Cristina. Volta pra tua vida mentirosa e vazia. O meu trabalho acabou.

Cristina sai impressionada com a revelação de Ludmila. A moça, por sua vez, decide pegar as passagens que comprou com o dinheiro de Ricardo e as olha.

-Agora todos serão tão infelizes quanto eu. Ou mais.



*****



Viviana está completamente desolada, por ter sido expulsa por Fabrício. Seguindo-lhe, há o seu pai, que chama seu nome.

-Você aqui?

-Minha filha, você precisa entender o motivo que me levou a...

-Separar a minha mãe de mim? Por causa da traição. Mas por mim, o senhor não teve consideração.

-Milena...

-Não me chama desse nome. Foi Viviana o nome que ela colocou em mim. Eu tô cansada de mentir pra todo mundo.

-Pra casa...- começa a passar mal- Volta pra casa, Milena... Minha filha, eu vou...- desmaia, após pôr a mão no peito.

-O que foi? O que é você tem? Pai, pai, fala comigo.

Werner passa de carro pelo local e reconhece Viviana. Desce do veículo e corre até a garota.

-O que houve?

-Ele tá passando mal, doutor. Me ajuda!

-Parece que foi um enfarte. Eu vou chamar a ambulância pra tirar esse senhor daqui.

-Salva o meu pai, Werner. Por favor!



Uma semana depois...



Fabrício está numa sala de espera com Cristina e Ricardo. Werner chega com um copo descartável e entrega ao jovem.

-Pra quê isso?

-É o anestésico. Em menos de meia hora, eu acredito que você já tenha dormido. Bebe.

-Isso é horrível!

-Vai, toma tudo.

-E o Pedro? Até agora não apareceu? O que houve?- pergunta Cristina.

-Ele teve que resolver um problema da faculdade. Pediu meu carro emprestado e disse que de lá vinha direto pro hospital- responde Ricardo.

-Muito obrigada, mas seria melhor se você fizesse de conta que eu não existo, como faço contigo agora.

-Por favor! Eu vou ser operado daqui a pouco. Dá pra parar com isso? Ia ser muito bom se ele não viesse. Não faço questão da presença dele.

-Nem brinca com isso, Fabrício. Ele tem que aparecer- Cristina busca impor.



*****



Pedro sai da faculdade e destrava a porta do carro do pai. Numa mureta, está o carro de Cora. Ela está escondida e observa o garoto entrando no automóvel.

-Sinto muito, Ricardo. Mas eu vou ferir você naquilo que mais te dói.

Em velocidade reduzida, Pedro segue com o carro, e a professora vai um pouco mais atrás, para não ser notada. Antes do sinal fechar, o estudante percebe que a gasolina está quase terminando, e decide ir ao posto mais próximo. Cora é impedida de acompanhar o carro por conta do semáforo. Defeituoso, ele acaba impacientando os mais diversos motoristas que transitam por aquela via.

O estudante chega ao posto.

-Por favor, dá pra botar trinta reais de gasolina?- em seguida tira a quantia do bolso e entrega ao frentista.

-Vou botar agora.

-Sim, antes que eu me esqueça: enquanto você enche, eu posso ir ao banheiro?

-Pode. É na primeira porta à direita.

-Valeu- desce do carro.



*****



Fabrício já está sentindo uma sonolência, agora deitado na cama. Werner se aproxima dele.

-Tá sentindo alguma coisa?

-Começou a ficar escuro.

-Tenho que te contar uma coisa: a Viviana veio pra cá há uma semana.

-Ela ficou doente?

-Não. O pai dela é que tá muito mal.

-Por mim, tanto faz... Por mim, ela podia morrer... Ela e o Pedro.



*****



Quando Cora chega ao posto de gasolina, o carro de Ricardo foge em alta velocidade, deixando o frentista assustado. Sem titubear, a professora vai atrás do automóvel, que corre cada vez mais. Ela nota que o motorista do veículo coloca o braço esquerdo para fora, e não entende porque seu ex-aluno corre tanto. Achando que ele percebeu a sua caçada, decide acelerar à mesma medida e provoca leves batidas no veículo.

O rapaz do carro não se detém e põe seu braço de volta ao veículo, fechando o vidro escuro. Ambos os carros passam por uma viatura policial, que procura cercá-los. Mas a última cartada é dada por Cora quando os carros passam por uma ponte. Com bastante ódio, ela bate na lateral do automóvel de Ricardo mais uma vez, fazendo com que ele caia da ponte, rumo ao mar.

Neste momento, Viviana olha seu pai, inconsciente, quando sente uma sensação de angústia. No centro operatório, Werner e os enfermeiros esperam por Pedro, e Fabrício está quase dormindo, até que...

-Pedro!- gritam Viviana e Fabrício, que finalmente adormece.

Cora sai do carro, e os policiais se aproximam dela.

-Não pode ser. Não pode ser verdade. Eu não posso ter matado ele. Pedro! Pedro! Pedro!

Nenhum comentário:

Postar um comentário