28/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 18: “VAMOS DAR UM TEMPO, UM DIA A GENTE SE VÊ”. E EU DIZIA “AINDA É CEDO”!



O carro de Ricardo vai, aos poucos, afundando no mar, levando Cora ao desespero. Um dos policiais vai chegando perto da professora, que liga para o celular de Ricardo. Irritado, ele sai de perto de Cristina.
-O que você quer?

-Eu não queria ter feito isso, mas você me obrigou! A culpa de toda essa tragédia é sua!

-Tragédia, mas do que...

-Seu filho pagou por aquilo que você fez. Agora, nós vamos carregar essa culpa.

-O que você fez?

-Ele pegou o seu carro, não foi? Fiz ele cair- alterna-se entre choro e um riso desesperado, como quem não sabe exatamente o que está fazendo.

-Onde é que você tá?

-Não sei. Eu o segui. Estava em alta velocidade. Parecia que sabia que eu estava atrás com o meu carro. Bati várias vezes na lateral, até que ele se desequilibrasse e caísse. Pulou da ponte, e caiu. Eu vi o Pedro afundar no mar.

-Você só pode estar blefando.

-Eu jurei que se os seus filhos fossem algum tipo de impedimento, eu tiraria eles do nosso caminho. Eu te falei.

Ricardo desliga o celular e pega o paletó, que deixou junto à sua esposa.

-Onde é que você vai?

-Houve uma emergência.

-De trabalho? No dia da operação do Fabrício?

-Não foi a agência. Foi outro problema.

-Ricardo, você está me assustando...

-Não é nada. Prometo que não vou demorar. Vai ficar tudo bem.

-É alguma coisa que tem a ver com o Pedro. Você emprestou o carro e sabe por que ele está tão atrasado pra cirurgia.

-Claro que não.

-Fala!

-Já te falei: está tudo bem. Eu tenho que ir. Qualquer coisa me liga- corre até um táxi. Dentro dele, liga pra polícia- Alô, eu queria fazer uma denúncia. É sobre Cora Lauveríssimo. Isso mesmo. Ela tentou matar meu filho, Pedro Faria. Pode ser que ele esteja morto.



*****



Pedro sai do banheiro do posto de gasolina, quando é abordado pelo mesmo frentista.

-Moço, um assaltante levou o seu carro.

-Como é que é?

-Um cara veio aqui, ameaçou todo mundo que tava dentro do posto, levou a carteira do pessoal e fugiu no seu carro.

-Eu tava tão apertado que esqueci de trancar a porta. E esse carro não é meu, é do meu pai. Como é que eu vou chegar no hospital agora?

-Eu chamei a polícia. Ela mandou uma viatura pra...

-Não, eu não posso nem dar depoimento. Meu irmão vai se operar agora, e eu tenho que ficar na sala de cirurgia com ele. Eu vou pegar um táxi, e mais tarde, eu passo na delegacia pra prestar queixa.

-Sorte a sua não ter ficado dentro do carro.

-Depois disso, não acredito mais em sorte, não...



*****



Cristina está cada vez mais aflita com o sumiço de Pedro. E fica mais nervosa quando a televisão do hospital exibe um plantão.

-Acaba de ser encontrado um carro de modelo exclusivo dentro do rio que corta a cidade. Segundo o depoimento de policiais, o acidente foi provocado por uma motorista que também conduzia um veículo em alta velocidade. Dentro do automóvel foram encontrados diversos documentos que atestam ser propriedade do publicitário Ricardo Faria. O condutor, ainda não identificado, não resistiu. A nossa produção tenta entrar em contato com Ricardo, mas não obtém nenhuma resposta.

Após ficar em estado de choque, Cristina desmaia. Viviana sai do quarto e encontra a mulher caída no corredor.

-Cristina? O que você tem? Fala comigo. Cristina!- bate levemente no seu rosto, tentando despertá-la.



*****



Através de uma segunda porta, Pedro sai rapidamente do táxi e vai diretamente para o centro cirúrgico, onde troca de roupa e lava as mãos. Werner está nervoso porque Fabrício não consegue dormir com o sedativo.

-O que foi que houve com você? A gente tá te esperando há mais de horas.

-Depois eu te conto tudo. Desculpa o atraso.

-Seu irmão tá agitado. Parece que a anestesia não tá resolvendo nada.

-É melhor injetar mais um pouco no soro dele, enquanto a gente faz a cirurgia.

-Certo. Vamos ter que fazer uma incisão pequena antes. Pega o bisturi, e eu vou buscar o anestésico.

-Ok- pega os bisturis numa bandeja, até que ao tê-los em mãos, imagina que eles sejam duas baquetas.

-Pensei que você não vinha mais- diz Fabrício.

-Eu nunca desisti de você. Nem vou fazer isso nunca- olha novamente pros objetos- “Baquetas”, me ajudem!



*****



Na delegacia, Ricardo confirma que Cora está presa e vai vê-la na cela.

-Você me obrigou a isso. Eu nuca quis fazer mal aos seus filhos, a nenhum deles. Mas você não me deu outra saída.

-Eu fui reconhecer o corpo dele.

-Às vezes, eu penso que vivo um pesadelo. E não posso mais acordar dele.

-O Pedro não estava no carro. Um ladrão conduziu o carro. Você tava atrás de um bandido que levou o meu carro.

-Isso quer dizer que... - volta a sorrir.

-Que você é pior do que ele. Eu consegui reconhecer o corpo dele, mas não reconheço mais você. Você quis destruir a minha família, mas não percebeu que eu já tinha feito isso.

-Ricardo, eu vou implorar mais uma vez. Me dá uma chance pra te fazer feliz.

-Não posso ser feliz com você. Você mexeu com um dos meus filhos. Não vou fazer você apodrecer na cadeira porque você já foi presa. Isso vai te fazer pensar mais em si mesma, e esquecer de mim. De uma vez por todas. Nunca vou perdoar você, Cora. Nunca- vai embora com um carcereiro, enquanto Cora bate nas grades com muita raiva e aos prantos.



*****



Cristina está voltando a si. Uma enfermeira traz uma garrafa com álcool e um pacote de algodão. Viviana toma as embalagens e tenta acordá-la.

-Ela tá voltando- diz a jovem.

-Meu filho... Pedro...

-O Pedro não está aqui. Eu não vi ele no hospital- Cristina começa a chorar, tentando articular as palavras e sendo abafada pelo seu desespero- O que foi? Quem tá aqui no hospital?

-O Fabrício... ia se operar. O Pedro vinha acompanhar o irmão...

-Mas ele não chegou ainda?

-Pedro não vem mais... Ele sofreu um acidente...

-Acidente? Mas ele tá bem? Onde é que ele foi parar, Cristina? Em que hospital ele foi parar?

-Ele morreu, Viviana. O Pedro morreu.

-Não... Você tá mentindo pra mim! Só pode ser uma mentira- logo as lágrimas caem.

-O carro dele caiu no rio. Deu na televisão que o motorista não sobreviveu ao acidente.

-Pedro... O Pedro, não. Ele não pode ter morrido. Ele não pode ter me deixado sozinha.

-Meu filho, Viviana. Meu filho. Eu nunca mais vou olhar pro rosto dele.

-Tudo o que aconteceu comigo, ele entendeu. Conversava comigo, me dava força. Não desistiu de mim. O Pedro me tratava como gente, do jeito que ninguém nunca me tratou. Ele não pode ter morrido. Eu não posso ter perdido o Pedro, não posso.

Amedrontada, Cristina olha para as três pessoas que estão atrás da garota: Werner, Pedro e Fabrício, recém-saídos do centro.

-Meu filho... Meu filho, você está vivo... Pedro, você está vivo!- corre para abraçá-lo, enquanto Fabrício olha para Viviana, entendendo o que se passa na cabeça da moça- Mas como foi que você sobreviveu ao acidente?

-Acidente? Que acidente, mãe? Do que você tá falando?

-Do carro do seu pai. Ele caiu no rio.

-Eu fui ao posto de gasolina e entrei no banheiro. Pois então: levaram o carro. Acho que foi o bandido que caiu.

-Você não imagina o desespero que eu sofri pensando que... Ah, meu querido- novamente o abraça.

Outra enfermeira chega para chamar Viviana.

-Quem é Viviana?

-Sou eu.

-O seu pai está passando mal. Ele quer ver você. Infelizmente, ele teve uma piora.

-É melhor a gente ir- diz Werner, percebendo que Fabrício não sabe o que dizer com a situação.

-Vamos- concorda Pedro, levando a maca de Fabrício para a sala de recuperação. Viviana corre para o leito do pai.

-O que houve? Pai, o que é que você tem?

-Eu não posso ir embora sem ouvir você dizendo que me perdoa.

-Pai, calma, procura descansar. Vai ficar tudo bem.

-Eu amei muito a sua mãe. Amei muito você também, minha filha. Eu te protegi tanto que esqueci de deixar você viver, de ser feliz, de saber a verdade.

-Não pensa mais nisso, pai, por favor.

-Por favor, me perdoa, filha. Me perdoa.

-Tá bom, pai. Eu te perdoo.

-Acho que agora eu já posso ir em paz.

-Você não vai me deixar!

-Talvez agora você possa ser feliz. É isso que eu quero: saber que você vai ser feliz, mesmo estando muito longe de você- falece em seguida.

-Pai? Pai, o que houve? Fala comigo, pai, acorda! Não me deixa sozinha! Me desculpa, pai! Não me deixa, volta pra mim! Volta, pai! Volta!

Logo chegam os médicos, que tentam reanimá-lo. Viviana se aproxima da porta e fica em estado de choque, não conseguindo crer na perda do pai.



*****



Um dia depois...



Werner encontra Viviana na varanda do Hospital Melina Dubeux. A moça olha para o céu, enxugando as lágrimas.

-Posso falar contigo?

-Claro. Queria mesmo falar com você. Eu quero agradecer por tudo que você fez nessa semana. Trouxe meu pai pra cá, cuidou dele, me deixou comer aqui no hospital, tá resolvendo os problemas do... do enterro... Olha, eu não sei quando eu vou poder pagar essa despesa.

-Não precisa se preocupar com isso. Você não é nenhuma desconhecida. Foi aqui que a gente se conheceu, por causa do Pedro e do Fabrício. Eu sei que você não tem condições. Não está me devendo nada, fica tranquila. Mas eu vim falar com você de outra coisa.

-O quê?

-Tem alguém querendo falar com você.

-Quem?

-Vem comigo- Werner a leva para um quarto, onde está Fabrício.

-Eu vou deixar vocês a sós- fecha a porta.

-Fiquei sabendo do seu pai. Meus sentimentos.

-Obrigado, mas eu pensei que você não quisesse mais me ver. Não depois de ontem.

-Eu fiquei com raiva na hora. Mas depois eu pensei que ali você tava sendo sincera. Como foi durante esse tempo todo que ficou do meu lado. É por isso que eu gosto de você. Você me fala a verdade. Até aquela que eu não gosto de saber.

-Fiquei com medo de você não entender.

-O seu medo era de perder o Pedro.

-Como eu também tenho de te perder.

-Viviana, vamos ser adultos. Eu sei que é difícil dizer isso. Eu só tô numa cadeira de rodas por causa da minha criancice, por não ter aguentado a verdade. Aos poucos, você foi abrindo meus olhos. Eu tenho mais pra agradecer do que pra reclamar.

-Não é mais a mesma coisa do que no tempo que a gente se conheceu.

-Sei disso. Eu te magoei muito.

-Vai ver que foi por isso que falei aquela coisa sobre o Pedro.

-Você falou porque era verdade. O Pedro tava do seu lado. Eu virei as costas, fingi que não me importava e te deixei sozinha. Ficou magoada, e eu entendo isso. Foi essa confusão toda do acidente que me fez ver que você não pode ser feliz amando um cara que não pode te querer do jeito que você é.

-O que você tá tentando fazer? Me empurrar pro seu irmão por achar que ele é melhor pra mim?

-Pelo menos você o ama. Imagina de novo o Pedro morto. Onde é que ia ficar seu chão? Eu não vou obrigar você a ficar comigo. Hoje, a gente fica junto. Depois, eu te trato mal. Eu não quero e você não merece, entende isso?

-E se eu quiser ficar contigo?

-Querer até pode. Amar é mais difícil. A gente tem que crescer. Você percebeu que fez a maior besteira da vida fugindo de casa. Teve que perder um pai pra isso. Eu tive que sofrer um acidente e quase morrer. Por que a gente tem que sofrer mais? Não, pra mim chega. Eu quero ser feliz. Mereço isso. E você e o meu irmão também. Talvez mais.

-Fabrício, eu vim ver... – Pedro entra no quarto, quando vê Viviana- Desculpa, eu volto depois...

-Não, espera. Ela quer falar contigo lá fora. Vai, Viviana- com receio, a moça vai ao encontro de Pedro.

-O que houve?

-A gente tava conversando. Sobre você.

-Mesmo com aquela agonia toda do acidente e da cirurgia, eu gostei de saber que ia fazer falta.

-Pode ter certeza de que muita. Ele acha que eu devia ficar com você.

-Ainda é muita coisa na cabeça do meu irmão, ele deve...

-Eu quero.

-Como é?

-Você já tinha um espaço importante, um lugar no meu coração. Depois daquela festa, em que você tentou ficar do meu lado quando todo mundo ficou falando mal de mim, eu comecei a te respeitar mais. Só que quando eu pensei que nunca mais ia te ver, parecia que eu ia morrer.

-Por que isso?

-Porque foi aí que a minha ficha caiu. Eu não vou ficar com você. Eu preciso. Muito, Pedro.

-Isso quer dizer que você quer namorar comigo? Mas e o Fabrício?

-A gente tem que crescer. E eu quero crescer do seu lado.

-Mas você não me ama.

-Talvez não seja amor. Talvez seja só amizade. Eu não sei explicar e você também não, mas ainda é cedo demais pra saber.

Contente, e ainda sem acreditar no que Viviana diz, Pedro a beija sem se conter, enquanto as lágrimas caem dos olhos do casal.



*****



Poucos meses depois, Fabrício já está habituado à fisioterapia. Numa das sessões, Werner, Cristina, Ricardo e Viviana e Pedro estão no local para acompanhá-lo. Cristina chama seu filho mais novo.

-O que foi, mãe?

-Eu trouxe uma coisa pra você.

-Pra mim? Um presente?

-Um dossiê. Eu mandei fazer pra que você soubesse quem eram seus pais verdadeiros.

-Você leu?

-Não, não li.

-Pois é. Nem eu. O que eu preciso saber sobre a minha família eu acho nos álbuns e nos quadros de casa. Joga isso fora.

-Ah, meu filho... – emociona-se.

-Desculpa interromper, mas é a hora dele tentar dar os primeiros passos- diz Pedro.

-Mas... Agora?

-Vai lá, cara, eu tô contigo.

Minutos mais tarde, Pedro o ajuda a se encostar às barras para sua segurança. Assim, vai até o outro lado, esperando que o irmão venha. Com receio, Fabrício pensa em desistir, mas depois anda lentamente, fazendo muito esforço. Ao cruzar a passarela, abre os braços e dá um abraço no seu irmão. Os presentes, tocados com a cena, aplaudem com entusiasmo.

-Mãe, prepara a minha festa que eu vou fazer vestibular pra música- Pedro brinca com Cristina.



*****



Noutra passagem de tempo, acontece a tal festa. As coisas já estão mudadas. Fabrício agora anda sozinho e Ricardo apenas visita a mansão. Cristina puxa Werner para os fotógrafos e assume seu namoro com o jovem médico.

-Cadê o Fabrício, gente?- procura Pedro.

-Seu irmão disse que já vem- garante Viviana.

-Me diz uma coisa: esse romance da sua mãe com o médico é sério mesmo?- questiona Ricardo.

-E então? A fila anda, pai.

-Isso é ridículo! Ele tem a metade da idade dela!

-Em compensação, o dobro da discrição. Repara que ele não quer conversa com os jornais, e a mãe arrasta ele.

-Gente, chama a mãe que eu quero fazer uma surpresa- vem Fabrício, com uma moça paraplégica ao lado.

-Já estou aqui.

-Qual é a surpresa?- pergunta Werner.

-Povo, eu quero apresentar a Beatriz. Minha nova namorada.

-Ah... – Cristina não disfarça o descontentamento.

-Muda essa cara e deixa de preconceito. Até há pouco tempo, seu filho também era paraplégico- sussurra Werner.

-Bom, cadê o pessoal do conservatório, Pedro?

-Todo mundo tá por aí. Agora tão achando meio caída a festa.

-Vocês não vão tocar aquelas músicas clássicas, não?

-Que nada. Hoje é pra esquecer que aula existe. Bota Jota Quest que o problema tá resolvido.

Uma música animada começa. Cristina logo convoca os fotógrafos e vai para a pista de dança. Pedro e Viviana vão para o salão, enquanto Fabrício beija Beatriz.

-Junta o pessoal pra tirar uma foto- pede a moça.

-Vou chamar o povo. Vem, gente!- puxa o irmão e a cunhada para registrar um dos melhores momentos da vida de todos. Assim sendo, Beatriz vai com o namorado e com ele dança, bem como Werner faz com Cristina e Pedro com Viviana. Ricardo apenas os observa, lembrando-se dos tempos que era totalmente feliz com a família e medindo bem o que perdeu. No entanto, ainda é cedo para dizer se ele não terá um final feliz, como os integrantes da família Faria tiveram e mereceram.


Fim

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