FURO DECISÃO- O FILME/ SEQUÊNCIA DE CENAS 22

CENA 97

-Matheus, espera aí!

-Eu não vou ficar se essa palhaçada continuar.

-O que foi que te deu? Não é você que só falta parar a praça do Derby pra todo mundo ver pelo menos um episódio do “Furo Decisão”?

-A Gabriella já recuperou a câmera e tá escondendo isso da gente.

-Como assim, se ela cobrou a cota pra comprar outra?

-O Dr. Breno entregou a câmera pra ela na porta do colégio. Por que isso agora de esconder que as imagens do clipe estão na nossa mão?

-Se o Dr. Breno fez isso é porque ele tá desconfiado da Zaira.

-Mas essa moça é o quê? Duende Verde? Lex Luthor? Dr. Octopus? Quanta vocação pra maldade. Não bastou ter enganado o Manjericão, não?

-Foi pra despistar a Zaira. Se ela não te contou a verdade, é porque ela tem medo que você abra a boca.

-Por que isso?

-A Danila é a mais nova amiga de infância da Zaira, mas vive atrás de você... E de mim. Também, pra fazer ciúmes... Ninguém pode saber da verdade.

-Meninos, eu preciso compartilhar uma coisa com vocês.

-Que cara é essa, Manjericão?

-Tenho um abacaxi pra descascar.

-Mais um? Putz, velho, mas não há granja que sobreviva!

-É pomar, bestão!

-Ah, é...

-Eu vou ter que fazer uma coisa bem perigosa: seguir a Mabi.

-Que é isso, cara? Olha a desconfiança! Com nove cenas juntos e você já tá pensando em gaia? Não é possível- Matheus lamenta.

-Deixa disso, Manjericão.

-Ela tá me escondendo alguma coisa, e eu tenho certeza que tem a ver com o Pineapple.

-Que é isso? Concorrente da Apple? Marca de tablet? Ou single de mulher-fruta?

-Não, Thiago! Nunca ouviram a frase “Pineapple: descasque esse abacaxi e coma a maçã do amor” na “Sessão da Tarde”?

-Ah, por isso. Vejo mais, não. Fico vendo anime a essa hora.

-E eu não vejo por dois motivos: primeiro porque estudo e segundo porque não vejo “Sessão da Tarde” desde que trocaram “A lagoa Azul” pelo Horto de Dois Irmãos.

CENA 98

Mabi pega um táxi na calçada do prédio. O taxista, de costas para a câmera o tempo todo, e ostentando um bigode enorme, pergunta:

-Pra onde vamos, senhorita?

-Hotel Pineapple.

-Sim. Aquele do “descasque esse abacaxi”...

-“E coma a maçã do amor”, já sei. Me leva pra lá.

-Mas... Tipo assim... Onde é que fica?

-Você tem certeza que é taxista?

-Claro, moça. Só que eu sofro de perda de memória recente.

-Tudo bem, eu digo. Fica na Avenida dos Reitores.

-Bom saber.

E o carro segue diretamente ao Pineapple.

CENA 99

Zaira sai do banco, onde depositou o dinheiro da câmera de Gabriella, e é seguida por Breno. Ela até tenta escapar do advogado, mas ele a alcança.

-Lembrada de mim, Zaira?

-Como é que você sabe o meu nome? Eu não me lembro de ter dito...

-O que o Brasil não sabe sobre a vida de Manjericão depois que ele foi preso? Ah, eu sei: não sabe que ele tem uma herança pra receber. Espero que você tenha contado para ele toda a verdade.

-Eu não tive ainda a oportunidade de...

-Você pensa o quê, menina? Que eu sou idiota?

-Penso. E o que o senhor quer? Me ameaçar?

-Ameaçar, não. Eu diria “estabelecer prazo”.

-Eu não quero ter nenhum tipo de vínculo com o senhor- tenta escapar.

-Talvez com as grades da delegacia. Vocês poderiam ficar bem íntimas com uma simples denúncia.

-Fala. Fala de uma vez, velho hipócrita!

-Ou você se afasta do Manjericão e de todos que o rodeiam, ou eu conto pra polícia que você colocou a Top Therm dentro da mochila dele.

-Você... Você não tem provas contra mim.

-Posso não ter, mas eu sou advogado. A suspeita de um homem da lei pode atiçar a polícia, e aí... Pode ser o seu fim.

-Que direito você tem de me exigir isso?- levanta a voz.

-E qual é o seu direito de manipular a vida das pessoas dessa forma? Eu vou dar dois dias pra você arrumar suas tralhas e sumir no mundo. Se você continuar rondando o pessoal, eu coloco você na cadeia!- a malvada logo fica “pianinho”.

CENA 100

Mabi desce do táxi e paga a corrida para o bigodudo misterioso. Nem dá “obrigada”. Ao chegar à recepção, encontra Fernanda atendendo ao telefone.
-Sim, senhor. Nós estaremos levando uma cesta de frutas para o quarto. Sim, senhor, eu gosto de falar no gerúndio como atendente de telemarketing. E não se esqueça: descasque esse abacaxi e coma a maçã do amor. Até logo- ainda de costas, Fernanda começa a cantar a música do comercial- Everybody wants celebration, everybody feels the sweet sensation... C’mon, c’mon, c’mon, c’mon, it’s alright.

-Finalmente voltei a esse lugar.

-Mabi Gutierrez. Eu não posso acreditar. Não me diga que você vai parar o trânsito de novo posando no Pineapple?

-Você me conhece desde a época daquelas fotos que eu fiz pra revista?

-Não, eu sou nova aqui. Mas pelos elogios dos funcionários, você não tem do que se envergonhar.

-Como não?

-Ia fazer sucesso naquele tempo. Minha antiga chefa contou tudo. Acho que você não devia ter rasgado o contrato. É só uma opinião.

-Eu quero limpar a minha imagem, e não ser associada a um símbolo... Olha aqui, você sabe que esse lugar tá ganhando visibilidade desde que passou o comercial na “Sessão da Tarde”.

-Um pouco de sabor em meio àqueles filmes de cachorro, querida.

-Olha aqui, minha filha, eu tô tentando realizar o meu sonho de ser atriz, de me formar, de ser uma profissional requisitada. Dançar ou posar pra foto não é mais a minha meta.

-Disso eu sei, mas como é que você vai fugir do seu passado?

-Fugir dele, eu não sei. Eu preciso é escapar do interrogatório do Manjericão!

-Manjericão? Esse nome não me é estranho...

-Ele não pode saber que eu posei pra revista PlayMobil- o taxista sai do carro rapidamente- E o mais importante de tudo: o Manjericão não pode saber que eu fui dançarina da taça do Gugu! Não pode cogitar a possibilidade de eu ter deixado a Sidra Cereser cair em cima de mim! Não pode sequer supor que eu fui a musa das tardes de domingo do início do século!

-O quê?- o bigodudo sorridente fala atrás de Mabi, que se vira rapidamente.

-Ufa, que susto. Pela voz, eu pensei que era o meu namorado.

-Disse bem, Mabi. Era!- e o disfarce vem à tona: Manjericão era o taxista!

-Você?

-Você!

-Quer dizer que você escondeu de mim que rebolava pra todo o país?

-É você! Manjericão! É você!

-Quem é essa? Coleguinha do Luciano HUck?

-Não se lembra de mim? Eu fui sua aluna na Escola Municipal Correta Decisão! Meu nome é Fernanda! Eu era doida no senhor! Sempre fui!

-Hein?

-Professor, o senhor era meu sonho de consumo na adolescência... Mas agora que eu saí de lá, e fiz dezoito, acho que chegou a hora de fazer a... Pergunta de quinta- pega um controle remoto e aponta para o teto, que abre para um globo sair e iluminar a recepção. Logicamente, ao som de ‘”Just the way you are”- Manjericão, qual é o seu estado civil neste momento?

-Magoado.

-Nada que eu não possa curar neste momento- e o ataca com um beijo caliente, sendo separados por Mabi.

-Mas o que é isso? Agarrar o namorado das outras?

-Das outras, sim. Porque seu eu não sou mais. Pensei que você tinha sido verdadeira naquele tarde que passamos no elevador, ao som de Susana Vieira... Mas você mentiu, omitiu... Quando eu te perguntei da verdade, você desconversou, e agora vem ao Pineapple pra pedir que não contem sobre o seu passado?

-Manjericão, me deixa falar, por favor.

-Fala com a minha mão. Eu não quero que você fale. Eu não quero ouvir sua voz, porque senão eu sou capaz de cometer uma loucura!

-Comete comigo- Fernanda fica incendiada!

-O pior é que eu me sentia culpado por não achar um jeito de provar que eu era inocente.

-Mas eu acredito em você!

-Agora! Antes, você nem dava as caras na delegacia. Até um tempo atrás, eu tava sendo condenado. Por que eu não posso fazer a mesma coisa?- coloca o bigode falso na boca- Vou devolver o táxi que roubei pra te seguir- entra no veículo e dispara.

-Manjericão, volta aqui, por favor! Eu te amo! Volta!

-Vem, rapaz! Vem ser o manjericão da minha macarronada! Dá meia volta!