CENA 109
Matheus está na
entrada do prédio de Manjericão. Thiago chega para a reunião.
-Sabe por que o
Manjericão chamou a gente aqui? Ele te adiantou?
-Não. Por quê? Pra
você ele disse alguma coisa?
-Matheus, senta na
escadaria daqui da frente. Você vai precisar.
-Sem suspense, Thiago.
-Por favor, Matheus,
senta.
-Eu tô bem de pé.
-O Manjericão disse
que tá pensando em desistir do videoclipe...
O adolescente cai,
rolando às escadas.
-Bem que você falou.
Mas a briga foi grave mesmo?
-Por essa estória da
taça do Gugu ninguém esperava. O consolo é que dessa vez não fui culpa da
Zaira.
Toca o tema da malvada
do horário pobre: “No eran buenas esas épocas/ Malos eran esos aires/
Fue hace veinticinco años/ Y vos existías, sin existir todavia”.
-Ouviu essa música?
-Quê que tem?
-Zaira vai aprontar na próxima cena. Se já não
aprontou.
-De todo jeito, a gente tem que conversar com o Manjericão.
-E tomar cuidado com essa moça.
CENA 110
Gabriella, Matheus,
Zaira, Danila e Thiago estão no apartamento de Manjericão, que logo sai da
cozinha.
-Tá todo mundo aqui?
Eu tenho um comunicado a fazer.
-Falta a Mabi- Matheus
lembra.
-Não mais- Mabi entra
abatida- E se você me permite, Manjericão, eu gostaria de fazer o meu
comunicado primeiro.
-OK. Vamos adotar o
cavalheirismo. Sobre o quê você quer anunciar?
-Sobre o meu
desligamento do videoclipe.
O pessoal da sala fica
chocado com a notícia.
-Isso... Não tem a ver
com o nosso término, não é?
-Não. É uma decisão
estritamente profissional, e eu peço que vocês todos respeitem a minha escolha.
Matheus olha para
Zaira e percebe a felicidade da chantagista.
-Qual é o problema?
Você tá sendo pressionada?
-De onde que você...
Tirou essa ideia?
-Sinceramente, eu
também acho que seja isso- Thiago concorda com o amigo.
-Gente, vamos parar
com essa conversa? Eu só peço que vocês entendam o meu lado. Tudo o que
aconteceu é recente demais pra mim.
-Isso não é nada, se você
realmente não mistura o pessoal com o profissional- Matheus continua intrigado.
-O que tá acontecendo,
Mabi? Você é a mais profissional de nós!
-Chega! Eu não quero
mais nada. Eu tenho que ir embora. Com licença.
Manjericão segura o
seu braço, e Zaira se levanta pensando que eles poderão se reconciliar agora.
Mas Mabi acaba se soltando e saindo.
-Galera, o que foi que
aconteceu aqui?- Gabriella fica sem entender absolutamente nada.
-Foi por minha culpa.
Eu acabei com o sonho de ser atriz que ela tinha.
-Calma, Manjericão- Zaira
se faz de boa- Você não tem culpa de nada. O que aconteceu foi entre vocês, não
precisava afetar a equipe. Essa garota tinha que ser profissional.
-Ah, é? Como você, que
só tá enfurnada aqui pra agradar o Manjericão.
-Thiago, eu não tô
entendendo o seu tom de voz.
-Olha aqui, para com
essa palhaçada de trocar os nossos nomes, que eu tô te sacando há muito tempo.
O que você fez com o Breno?
-Breno... Quem é
Breno? De quem você...
-O advogado dele. O
mesmo advogado que ia contar uma coisa pra ele e não falou porque você ligou
pra ele e fez o velho sumir.
-Ele comentou alguma
coisa com vocês antes de desaparecer? Vocês sabem o que ele ia me dizer?
-Não, a gente não
sabe. Nem faz ideia- Thiago preserva os amigos da maldade de Zaira.
-Não adianta tapar o
sol com a peneira, não, Thiago. Tirando o Manjericão, a gente sabe quem é a
culpada de tudo o que tá acontecendo nos bastidores dessa gravação.
-O que você quer
insinuar, seu fedelho?
-Insinuar, não. Eu tô
dizendo na sua cara! Já me cansei de você!- Matheus avança contra a vilã, que é
segurada por Manjericão. O garoto só não chega mais perto porque Thiago e
Gabriella procuram controlá-lo. E também porque Danila fica no meio,
aproveitando para tirar uma casquinha do adolescente.
CENA 111
Matheus, após ter
saído do apartamento, protagoniza novamente uma cena externa- paramos o
trânsito para tal momento misterioso- O celular toca: número confidencial.
-Alô? É da Casa
funerária!
-Mais fúnebre que a
minha voz não existe- uma voz rouca do outro lado.
-Coroa da Top Therm, é
você?
-Não disfarce,
Matheus. Eu sou de confiança. Quero sua ajuda.
-Quem é você?
-Infelizmente, não
posso me identificar. Liguei pra minha operadora e tirei o identificador de número.
Preciso conversar com você.
-Um minutinho. Tenho
que comprar um penico na farmácia- Matheus está urinado e trêmulo, como você.
-Não há tempo. A vida
do Manjericão está em perigo. Ele pode ser a próxima vítima do horóscopo
chinês... Digo, da Zaira. Não precisamos conversar no endereço que vou te dar. Você
tem um papel e uma caneta?
-Só um segundo- encontra
um grafiteiro- Amigo, você poderia me emprestar um spray, rapidinho?
-Tá na mão, brother.
-Valeu. Pode falar,
Lombardi Ghostface.
E a anta anota o
endereço secreto em cima da arte que o cara do elenco de apoio estava fazendo: “Terreno
baldio da Avenida Beco de Subúrbio, sem número”.
-Lembre-se: ninguém
pode saber de nada- desliga.
-Tá aqui o spray, bicho. Valeu, hein?- vai embora.
-Garoto discreto é
esse, viu? Programa de proteção à testemunha em 5, 4...
CENA 112
Num ponto de ônibus,
Mabi divide a cena com sessenta figurantes. Mas se eu falei que era ponto de
ônibus, e sabendo da greve dos rodoviários, como não poderia ter muita gente?
Voltando ao assunto, Manjericão
a encontra.
-Como você me achou
aqui?
-Engarrafamento,
protesto, motoristas revoltados... Não tinha como você escapar de mim.
-Sendo assim-
levanta-se da cadeira- Prefiro ir a pé.
-Escuta uma coisa, Mabi:
o que aconteceu com a gente não é motivo pra você se desligar do clipe.
-Não estou fazendo
isso pela gente. Estou fazendo isso por mim.
-Até quando você vai
me deixar sem resposta?
-Você não precisa
delas.
-Preciso mesmo é de
você- fica encabulado- Quer dizer... Achava que precisava.
-Tem que refazer a sua
vida.
-Pra isso, eu não
preciso te prejudicar, nem acabar com o teu sonho.
-Manjericão, eu já
deixei claro que não vou voltar atrás. Lamento por você e pelos meninos, mas
disso não passa.
-O que você não me
esclareceu foi a razão pra isso. Não pode ter sido eu.
-Como pode ter certeza
disso?
-Você queria que eu te
desse uma chance de se explicar pelo seu passado. Do nada, você desiste de mim
e larga o clipe?
-Eu tô te dando uma
chance de ser feliz. Pessoal e profissionalmente.
-Misturando as coisas?
Se prejudicando? Alguma coisa tem aí, e eu quero que você me diga o quê.
-Chega de tornar as
coisas mais difíceis pra nós dois. Refaça a sua vida. Fique com alguém que te
valorize e seja sincero. A Zaira, por exemplo.
-Quer saber de uma
coisa? É isso mesmo que eu devia fazer. Não pela Zaira, que realmente tem
mostrado o quanto me admira pelo que eu quero ser. Mas por mim, pra ver se você
sai do meu pensamento. Se fosse tão fácil assim, Mabi, pode ter certeza de que
eu teria feito isso desde o dia em que eu descobri o seu passado. Ou melhor,
desde o dia em que eu me dei conta da confiança que você não sente em mim.
-Isso é um adeus?-
Mabi chora.
-Não. É um “até logo”.
Cabe a você decidir se vira um adeus- começa a chover.
-Adeus, Manjericão.
Enquanto o
co-protagonista vai embora, irritadíssimo, Mabi se encosta àquele vidro da
parada de ônibus e vai escorregando aos poucos, em meio a clichês.
E haja o refrão de
Paula Fernandes pra consolar essa menina!
Nenhum comentário:
Postar um comentário