CENA
124
Zaira bate à porta do apartamento do
Manjericão, já à noite.
-Tenho um convite irrecusável pra te
fazer.
-Fala, Zaira.
-Vão reinaugurar o “Recanto do Leblon”
hoje à noite. Vai estar abarrotado de gente e de fotógrafos.
-Aquele barzinho que eu te levava na
época do início do namoro?
-Esse mesmo.
-Mas com fotógrafo? Vão me reconhecer!
-Imagina. Só quem desenterra o passado e
o presente da Mabi Gutierrez é a Bella Café, e ela tá muito preocupada com o
sumiço do rapaz que morava na casa dela.
-Pois é. E do presente dela eu não faço
mais parte.
-Tudo bem, desculpa. Eu não devia ter
tocado no nome dela.
-Sossega o buço, Zaira. Eu vou ficar
bem.
-Então vamos?
-Vamos, sim. Deixa eu pôr uma beca e já
venho.
-Não precisa, você tá ótimo.
E a juba do Manjericão está, como diria
um dos episódios de “A Diarista”, uma mistura do Marcelo D2 com a Gal Costa!
-Bom, sendo assim, deixa só eu arrumar o
meu cabelo- e tira do bicho preguiça que ele chama de fios capilares aquele
pente fino que vem junto com Escabin.
CENA
125
Breno está no apartamento de Gabriella,
com o telefone fixo na mão.
-Ele não atende.
-Será que aconteceu alguma coisa?-
Thiago se preocupa.
-Não. Vai ver ele só saiu de casa.
-Liga pro celular dele.
Breno liga e uma mensagem de voz pode
ser escutada.
-Oi, aqui é o Manjericão. Meu celular tá
quase descarregando e eu tô sem tempo de colocar na tomada. Deixei em casa e
fui jantar com a Zaira no “Recanto do Leblon”. Até a... - entende-se que o
celular ficou sem bateria.
-Eu não tô acreditando nisso. O desgraçado
saiu de casa com a bandida- Gabriella fala isso na hora em que Mabi chega.
-Gente, tá acontecendo alguma coisa? Por
que vocês me chamaram? Não é sobre o clipe, não, né?
-O Dr. Breno ia revelar um segredo pro
Manjericão. A gente queria que você tivesse aqui- Matheus justifica o chamado.
-Que segredo é esse?
-O Manjericão tem direito à herança de
um avô que ele não conhecia, o Damião Mantoanelli.
-O dono da “Manjericão Conexões”?
-Eu era o advogado dele. A Zaira acabou
descobrindo e agora vive cercando o Manjericão.
-Pra quê esse desespero, então? É só
contar a verdade, que drama.
-Mabi, eu fui vítima da Zaira.
-Quem é você?
-Caio, o fotógrafo que ficou responsável
pelo estúdio que guardava as suas fotos no “Pineapple”.
-Foi por sua culpa que ela...
-Te chantageou. A gente já sabe disso.
Eu tava precisando de dinheiro pra cuidar do meu bebê e vendi as fotos. Só que
ela acabou levando as fotos erradas, e decidiu dar um fim em mim. Ela invadiu a
minha casa e conseguiu o envelope que tinha as imagens.
-Sem contar que esse dinheiro das fotos
é o que ela ganhou roubando a câmera e pondo-a para ser vendida. Por sorte, eu
acabei recuperando e devolvendo para a Gabriella. Mas ela resolveu me dar um
“cala a boca” antes que o Manjericão soubesse a verdade.
-Eles estão no “Recanto do Leblon”. Pode
ser que o Manjericão seja a próxima vítima da Zaira!- Danila fica assustada com
a possibilidade.
-Essa maldita que não se atreva.
Gabriella, liga pro motorista da van que levou a gente pra Garanhuns.
-O que você vai fazer, Mabi?
-Ir até o “Recanto do Leblon” e tirar o
Manjericão de lá, antes que seja tarde demais.
-Vamos com você- Thiago garante.
-Tudo bem. Agora todos vão ter que
esperar lá embaixo, eu vou ligar pro cara. Matheus fica- todos saem.
-Pra quê você me quer aqui?
-Pra carregar o sofá junto comigo,
colocando ele em cima da van. Eu vou ver a prisão da Zaira de camarote!
CENA
126
Manjericão e Zaira estão numa mesa mais
afastada.
-Tô ansiosa por essa noite.
-Nunca te vi tão animada.
-Claro. Os caras do bar vão cantar os
sucessos da Marina Lima, que é a minha cantora predileta. E você conhece minha
música preferida dela, não conhece?
-“Veneno”.
-A própria.
-Gostei muito de você ter me convidado.
De ter pensado em mim pra sair de casa, colocar o pensamento em outro lugar.
-Manjericão... – aproxima-se do rosto do
cantor e com o olhar, é capaz de seduzi-lo para que ele não perceba que ela
está moendo a fruta venenosa dentro de seu copo e misturando com o canudo- Você
sabe que eu seria capaz de fazer qualquer coisa para conseguir te ter de volta.
-Sei. Sempre foi determinada. Isso me
diminuía tanto na época em que a gente namorava... Sempre pensei que jamais fosse
capaz de te alcançar.
-E não alcançou nunca mesmo.
-Até uns dias atrás, a sua escolha de
não ter continuado comigo na época em que eu fui demitido parecia ser a melhor
coisa pra todos nós. Hoje, eu não sei mais.
-Não vamos falar do passado. Vamos
brindar.
-A quê?
-À sua felicidade. Um dia poderia ser
nossa, mas com o que te espera, tem que ser só sua.
-Saúde- bebe o suco envenenado.
-Eu tenho uma notícia maravilhosa pra te
dar, Manjericão.
-Fala, Zaira. Não me deixa curioso.
-Só que pra receber a notícia, você tem
que assinar- tira um documento do decote- na linha pontilhada.
-Que bagulho é esse?
-Bagulho, não. Quer que as pessoas do
restaurante pensem que você traficou Top Therm de novo? Assina.
-Tá certo. Eu só preciso de uma
caneta...
-Achei uma- tirei do cabelo dele- Na
verdade, eu pus antes de sairmos do apartamento.
-Só tô assinando isso porque confio em
você- sacramenta o compromisso legal.
-Perfeito.
-Agora, me conta: por que eu assinei
esse documento?
-Leonardo Mantoanelli Jensen Ribeiro
Castro Oliveira: você nunca sentiu o mínimo de curiosidade em saber por que
esse nome tão grande?
-Meu pai sumiu no mundo, não quis saber
de mim, não me registrou... A minha mãe arcou com tudo sozinha. Saiu de casa depois
de ter engravidado. Ela disse que infelizmente, eu fui registrado com esse nome
grande por causa do meu avô, mas ela nunca quis me contar detalhes sobre a vida
dele.
-Seu avô era o Damião Mantoanelli. Podre
de rico, e dono de 99% das ações da “Manjericão Conexões”.
-Como é que você sabe disso, Zaira?
-Porque antes de bater as botas, ele
sentiu culpa pelo desprezo de todos esses anos e decidiu te recompensar, dando
todos os bens dele pro único neto rejeitado.
-Zaira, eu... - sente sono- Não quero
nada desse homem. Nada.
-Não é o que parece. Você assinou uma
procuração em que assume o que é seu de direito e passa para o meu nome.
-O quê?- pergunta com dificuldade.
-Deixa eu te contar algumas coisas,
antes de você dormir pra sempre: o Breno, que te defendeu, era o advogado do velhote,
e eu impedia sempre que você soubesse a verdade. Porque caso você assumisse os
negócios da banda larga, você dividiria sua vida com a Mabi. Pela lógica do meu
recalque, nunca deixaria você fazer isso.
-Dr. Breno sumiu... É culpa sua?
-É. Eu liquidei o coroa. Tudo pra que você
não soubesse a verdade. E me livrei de outro também. Só acho uma pena que não
pude dar ao Matheus e ao Thiago o que eles mereciam. Esses idiotinhas me chantagearam,
pensaram que podem brincar com gente grande. Mas antes que eles revelassem
tudo, eu mesma falei.
-Veneno... Foi isso que você colocou,
não é? Você me matou pra ficar com o meu dinheiro? Que tipo de mulher é você?
-Eu nunca tive a boa vida que eu quis.
Acho que isso você tava me devendo.
-Todo o meu salário ia pras suas mãos.
Eu bancava tudo, todos os seus luxos. Quem comprou sua coleção de sandálias da
Opanka fui eu! Agora você me dá um golpe desses?
-Agora, não. Desde que soube.
-Você vai pagar por isso- cai de cara no
prato de macarronada com manjericão- A polícia vai saber de tudo- levanta o
rosto.
-A polícia não está nem aí pra você,
desde o escândalo do Top Therm. Aliás, isso também foi obra minha pra que a
Mabi perdesse a confiança em você. E como ninguém ousou voltar para aquele fim
de mundo da “Lagoa Azul”, todos vão pensar que foi um mero ataque, não um
crime.
-Podem não descobrir seus crimes, Zaira,
mas o meu sim.
-Crime?
-Esse!- aperta o pescoço da vilã, que
fica sufocada.
-Me ajudem! Socorro!- os figurantes se
levantam e ficam aterrorizados com a atitude de Manjericão.
-Você vai me pagar, Zaira! Vai me
pagar... - desmaia no “Recanto do Leblon”.
-Sua participação com co-protagonista
nesse longa-metragem acabou. Adeus, Manjericão- diz no ouvido dele, que
desmaia- Por favor, chamem uma ambulância! Socorro!- continua encenando para os
presentes.
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