20/01/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 2: ERA QUASE ESCRAVIDÃO, ELA ME TRATAVA COMO REI



-Eu?

-Sim.

-Ela é a moça que socorreu seu irmão. Disse que o conhecia só pra acompanhá-lo. Aliás, só você da família que chegou aqui até agora.

-Ninguém conseguiu encontrar o meu pai, o celular dele tá desligado. A minha mãe tava no shopping e deve chegar daqui a pouco. Eu tava perto daqui e ganhei uma carona. Mas você ainda não disse seu nome.

-Meu nome... É... Milena.

-Milena... Prazer. Eu sou Pedro, como ela já falou- aperta a mão dela- E como foi isso? Ele bateu em alguém?

-Tava quase saindo da pista. Não sei, parecia que tinha bebido. Mas eu cheguei perto e não senti cheiro nenhum de álcool, de cerveja, nada.

-Tinha que ganhar um destaque no jornal. Essa Milena foi uma heroína- diz Ludmila.

-Foi mesmo. Eu vou falar com o médico.

-Eu também.

-Nós vamos com você.

-Não. É melhor só a Milena ir comigo. Sabe como é? A minha mãe é difícil demais pra convencer, ela não ia querer que as informações sobre ele vazassem por aí. E do jeito que ela é, vai tentar uma transferência pro hospital particular. Vamos, Milena?

-Tudo bem, vamos.

Eles entram no consultório, e Ludmila apenas observa os dois. Passados alguns minutos, Viviana vai à enfermaria onde Fabrício está internado, pega uma cadeira e senta junto à cama.

-O Pedro disse que vai cuidar de você. E eu também vou. Não me pergunta por quê, eu só sei que é tudo muito estranho. Só sei que eu preciso ficar perto de você agora. Mesmo que eu não te escute falar nada. Mesmo sem saber se eu vou te ver abrir ou não os olhos. Tem mais uma coisa: eu tive que mentir. Eu não quero que o povo descubra quem sou eu, mas pra você eu conto. É Viviana o meu nome. Eu falei que era Milena porque... Era meu nome antigo, antes de eu chegar aqui. Antes de ter...

-O que tá acontecendo- Cristina chega desesperada ao hospital e a moça escuta.

-Mãe, calma.

-Calma nenhuma. Calma nada! Eu quero saber onde é que tá meu filho- olha pelo vidro e vê Viviana alisando o rosto de Fabrício- E essa menina, quem é?

-Ela é Milena, foi quem socorreu o Fabrício...

-Tá, tá, tá... Eu quero saber do meu filho. Você conversou com o médico?

-Conversei.

-E então, Pedro? Fala de uma vez!

-Acho melhor esperar meu pai chegar e depois a gente entra no quarto.

-Esperar o quê? Será que eu já não tô preparada pra receber uma notícia ruim?

-Duas, mãe. A coisa foi um pouco mais séria do que você pensa.

-Eu ouvi o recado que você deixou no meu celular e saí da agência voando pra cá. Como é que ele tá?- chega Ricardo, pai dos garotos.

-Vamos entrar no quarto.

-Não. Fala aqui. O que tiver que dizer, eu vou escutar aqui. Anda, Pedro, diz de uma vez o que seu irmão tem- Cristina fica ainda mais desesperada.

-O médico disse que o caso dele é muito grave. Fabrício ainda não acordou e ninguém sabe se ele vai acordar mesmo. Ele ainda corre risco de morte. A equipe já fez de tudo, o possível e o impossível pra tentar salvar meu irmão.

-Pedro, você está dizendo que o Fabrício... Que ele vai... – Ricardo levanta hipóteses.

-Não, não é isso. Quer dizer... Ninguém sabe o que vai acontecer com ele ao certo.

Ludmila espia os pais dos rapazes e Viviana acomoda Fabrício sobre o travesseiro, mas decide escutar atrás da porta. Como estão bastante nervosos, Ricardo e Cristina acabam não notando as moças.

-Meu filho... Ricardo, meu filho vai morrer e a culpa é a minha. Só minha! Eu não devia ter contado a verdade pra ele. Porque se eu não tivesse dito tudo aquilo que eu escondia, ele estaria em casa, seguro. Não numa cama de hospital.

-Não, Cristina. A gente é que tava errado por não ter revelado tudo antes. Era um direito dele de saber tudo. Ninguém pode ir contra isso.

-Segredo? Mas que segredo é esse que eles tão falando?- Ludmila fica em dúvida.

-Tem mais uma coisa.

-O quê, Pedro?

-O médico disse que as possibilidades dele sobreviver são muito poucas. E que se ele escapar, ele vai ficar paraplégico.

-Fabrício?

-Paraplégico? Meu filho paraplégico?

-E talvez pro resto da vida.

Viviana volta para o lado de Fabrício e olha-o. Em seguida, pensa:

-Paraplégico? Como é que vão contar isso pra ele?

Já no corredor, Ludmila usa um gravador.

-Fabrício Faria. Numa manchete de jornal, e pelo pior motivo.

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