-Eu?
-Sim.
-Ela é a moça que socorreu seu irmão. Disse
que o conhecia só pra acompanhá-lo. Aliás, só você da família que chegou aqui
até agora.
-Ninguém conseguiu encontrar o meu pai, o
celular dele tá desligado. A minha mãe tava no shopping e deve chegar daqui a
pouco. Eu tava perto daqui e ganhei uma carona. Mas você ainda não disse seu
nome.
-Meu nome... É... Milena.
-Milena... Prazer. Eu sou Pedro, como ela já
falou- aperta a mão dela- E como foi isso? Ele bateu em alguém?
-Tava quase saindo da pista. Não sei, parecia
que tinha bebido. Mas eu cheguei perto e não senti cheiro nenhum de álcool, de
cerveja, nada.
-Tinha que ganhar um destaque no jornal. Essa
Milena foi uma heroína- diz Ludmila.
-Foi mesmo. Eu vou falar com o médico.
-Eu também.
-Nós vamos com você.
-Não. É melhor só a Milena ir comigo. Sabe
como é? A minha mãe é difícil demais pra convencer, ela não ia querer que as
informações sobre ele vazassem por aí. E do jeito que ela é, vai tentar uma
transferência pro hospital particular. Vamos, Milena?
-Tudo bem, vamos.
Eles entram no consultório, e Ludmila apenas
observa os dois. Passados alguns minutos, Viviana vai à enfermaria onde
Fabrício está internado, pega uma cadeira e senta junto à cama.
-O Pedro disse que vai cuidar de você. E eu
também vou. Não me pergunta por quê, eu só sei que é tudo muito estranho. Só
sei que eu preciso ficar perto de você agora. Mesmo que eu não te escute falar
nada. Mesmo sem saber se eu vou te ver abrir ou não os olhos. Tem mais uma
coisa: eu tive que mentir. Eu não quero que o povo descubra quem sou eu, mas
pra você eu conto. É Viviana o meu nome. Eu falei que era Milena porque... Era
meu nome antigo, antes de eu chegar aqui. Antes de ter...
-O que tá acontecendo- Cristina chega
desesperada ao hospital e a moça escuta.
-Mãe, calma.
-Calma nenhuma. Calma nada! Eu quero saber
onde é que tá meu filho- olha pelo vidro e vê Viviana alisando o rosto de
Fabrício- E essa menina, quem é?
-Ela é Milena, foi quem socorreu o
Fabrício...
-Tá, tá, tá... Eu quero saber do meu filho.
Você conversou com o médico?
-Conversei.
-E então, Pedro? Fala de uma vez!
-Acho melhor esperar meu pai chegar e depois
a gente entra no quarto.
-Esperar o quê? Será que eu já não tô
preparada pra receber uma notícia ruim?
-Duas, mãe. A coisa foi um pouco mais séria
do que você pensa.
-Eu ouvi o recado que você deixou no meu
celular e saí da agência voando pra cá. Como é que ele tá?- chega Ricardo,
pai dos garotos.
-Vamos entrar no quarto.
-Não. Fala aqui. O que tiver que dizer, eu
vou escutar aqui. Anda, Pedro, diz de uma vez o que seu irmão tem- Cristina
fica ainda mais desesperada.
-O médico disse que o caso dele é muito
grave. Fabrício ainda não acordou e ninguém sabe se ele vai acordar mesmo. Ele
ainda corre risco de morte. A equipe já fez de tudo, o possível e o impossível
pra tentar salvar meu irmão.
-Pedro, você está dizendo que o Fabrício...
Que ele vai... – Ricardo levanta hipóteses.
-Não, não é isso. Quer dizer... Ninguém sabe
o que vai acontecer com ele ao certo.
Ludmila espia os pais dos rapazes e Viviana
acomoda Fabrício sobre o travesseiro, mas decide escutar atrás da porta. Como
estão bastante nervosos, Ricardo e Cristina acabam não notando as moças.
-Meu filho... Ricardo, meu filho vai morrer e
a culpa é a minha. Só minha! Eu não devia ter contado a verdade pra ele. Porque
se eu não tivesse dito tudo aquilo que eu escondia, ele estaria em casa,
seguro. Não numa cama de hospital.
-Não, Cristina. A gente é que tava errado por
não ter revelado tudo antes. Era um direito dele de saber tudo. Ninguém pode ir
contra isso.
-Segredo? Mas que segredo é esse que eles tão
falando?- Ludmila fica em dúvida.
-Tem mais uma coisa.
-O quê, Pedro?
-O médico disse que as possibilidades dele
sobreviver são muito poucas. E que se ele escapar, ele vai ficar paraplégico.
-Fabrício?
-Paraplégico? Meu filho paraplégico?
-E talvez pro resto da vida.
Viviana
volta para o lado de Fabrício e olha-o. Em seguida, pensa:
-Paraplégico?
Como é que vão contar isso pra ele?
Já
no corredor, Ludmila usa um gravador.
-Fabrício
Faria. Numa manchete de jornal, e pelo pior motivo.
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