-Não pode ser verdade. Esse filho é do Bruno,
não meu.
-Robson, ela confessou. Ela não tem mais o
que perder.
-Então, como é que ela sabe se o filho é meu
mesmo? Eu fui o único, por acaso?
-Toda mulher sabe, e eu sei.
Débora chora em silêncio e decide sair do
corredor, tomando cuidado para não ser vista.
-Acontece que você não é uma mulher. É um
atraso de vida.
-Robson, eu não vou admitir que você aja
assim com ela. Eu exijo respeito.
-Eu até te entendo, Frazão. Mas a gente tem
que concordar que ela não é a pessoa mais santa do planeta... É o mesmo se eu
disser: “Michael Jackson não sabia dançar”.
-Age como se eu estivesse exigindo algo mais
grave do que o normal.
-Como o quê?
-Como casar.
-Realmente, esse tipo de coisa eu não faço.
Eu tenho que dizer na sua cara que não confio nela.
-Não era isso que vocês pensavam quando se
envolveram com a Mell.
-Será que dá pra parar de falar de mim como
se eu não estivesse aqui?
-Não!- dizem Frazão e Robson.
-Desculpa, Frazão. Mas eu não vou assumir
esse menino de jeito nenhum.
-E a minha reputação, como é que fica?
-Cara, eu não tô culpando você de nada. Só
que eu não tenho essa facilidade de acreditar nela como você tem. É o pai dela?
Ok, dá pra captar isso. Mas eu não. Ela pode estar mentindo.
-E se não estiver?
-E se estiver? Uma garota que se envolve com
dois irmãos, um deles por vingança... Ah, faça o favor, né?
-Robson, eu não vou admitir...
-O senhor não tem que admitir nada. Não quero
sua permissão nem a de ninguém pra fazer o que me der vontade. Se existir algum
respeito, ele vai continuar, independente de qualquer coisa que aconteça.
Porque já me deu provas de que eu devo ter confiança. Mas é só isso. Acabou.
Nem a Mell nem ninguém vai me obrigar a fazer o que eu não quero. Eu já tô
deixando tudo muito claro pra não ter mais confusão, como essa daqui.
-Certo, já que você quer deixar tudo claro
demais, por que então a gente não faz um exame de DNA pra resolver esse
problema?
-Porque a minha palavra vale muito mais do
que as besteiras que você faz e fala. Eu é que não vou dar um fio de cabelo,
nem uma gota de sangue pra provar o que todo mundo desse hospital sabe: que
você é uma vagabunda dissimulada.
-Cala essa boca! Cala a boca! É a minha
filha, seu verme. É dela que você tá falando. Ela pode ter procurado o Bruno,
mas foi você que a seduziu. Melissa pode não ser a criatura mais inocente da
qual a gente tem notícia, mas ela não traiu ninguém. Você pode até não me dar
crédito, mas eu não vou admitir que você abra a boca pra falar qualquer coisa,
por menor que seja.
-Poxa, valeu a defesa, pai...
-Viu? Ela tá te iludindo! Te cegando! Mas
quem enxerga melhor sou eu. Sabe o que eu vejo? Que se aquele homem não tivesse
tentado matar meu irmão, ela teria se adiantado. É muito na cara que ela não
ama o Bruno. Não vou ficar mais aqui perdendo o meu tempo, não- Robson chega
perto da portaria, e retorna para dar seu recado, antes de sair
definitivamente- Tem mais uma coisa, Mell: já que eu sou o pai do seu filho, me
conta por que você ainda tá aqui. A paternidade não foi esclarecida sem exame
nenhum? Então, dá o fora desse hospital. E rápido, hein?
-Ele não quer esse filho, pai. Ele ama aquela
Débora.
-Robson só está nervoso, Melissa. Daqui a
pouco, ele coloca a cabeça no lugar. E se ele não quiser esse filho, a gente
vai criar junto- e dá um abraço emocionado na filha.
*****
Débora anda algumas quadras até chegar à sua
casa. Prometemos que ela não vai mais voltar ao hospital para dar verdade à
estória. Quando chega perto da casa de Bruno e Robson, ela percebe um Camaro
amarelo parado no meio da rua. Quando os faróis acendem, ela sai correndo
desesperada até a porta do ex-namorado. Como ela tem a chave, tenta destrancar,
sem sucesso.
-Socorro!
De repente, o carro vai com toda velocidade
pra cima da moça. Ela dá um grito de pavor e consegue entrar na casa. O carro
sobe na calçada e fica a milímetros da porta. Ninguém desce do veículo, por
enquanto.
*****
Bráulio está examinando um paciente, no
mínimo, curioso: seu Mané.
-Olha só, daqui a pouco eu vou te dar alta. Mas
a moça não tem seu nome no prontuário. Como é que o senhor se chama?
-Mané. Mané Maionese Margarina Matarazzo Matusquela
Matalascayano. Mas o povo me chama de seu Mané. Não sei por quê. Eu sou de todo
mundo e todo mundo me quer ver internado.
-Calma. A gente vai dar um jeito de liberar. Sossega.
O celular do médico toca.
-Alô? Karen? Oi, meu amor, o que houve? O quê?
Não, tá cortando. Olha, liga... Cinco minutos! Eu vou pro telhado!
*****
Débora continua trancada na casa de Robson e
apavorada com o criminoso à solta. Ela fecha as janelas da casa e corre pro
quarto dele, onde tem um computador.
-Eu tenho que pedir ajuda, tenho que achar o
endereço da delegacia daqui.
Ela pesquisa no Google e acha o nome, mas não
reconhece a rua.
-Onde é que é isso, gente? Vou pro Maps. É só eu digitar e... Aaaaaaaaaaaahhhhhhhh!
E vê que numa proximidade da rua pesquisada,
aparece o Camaro amarelo capturado pelo satélite.
-Eu não acredito. Só pode ser isso. Mas o que... Por que tá atrás de mim? Já sei o
que vou fazer.
E pega o celular do bolso para falar com a Oi.
O plano é fazer com que o número seja confidencial dali em diante. Sabemos que
a operadora demora 48 horas para a execução do serviço, mas... Quem se importa.
Com o ID não exposto, liga para Robson.
-Alô?- disfarça a voz.
-Quem é?
-O assassino tá na sua casa.
-É o quê, rapaz?
-Quem tentou matar o seu irmão tá atrás da
Débora. Ela tá na sua casa, e o carro que quer pegar a menina, em frente à tua
casa. Chama a polícia, mas não avisa a ninguém que ele tá aqui. Ele pode acabar
com qualquer um- desliga.
-Alô? Alô?
*****
Bráulio vai até o telhado e tenta falar com a
esposa.
-Oi, fala. O sinal só pega melhor aqui. A
menina ficou doente e você não sabe onde tá o cartão? Faz o seguinte: procura
na segunda gaveta do guarda-roupa. Não, hoje eu faço plantão aqui. Tá bom,
beijo.
Só que o médico vê um pequeno rastro de
sangue e perto dele, uma cápsula.
-Mas o bandido não tinha atirado. Só no
quarto- ele pensa em tocar o objeto, mas desiste por causa das impressões
digitais.
*****
Na enfermaria, Frazão chega e percebe Robson nervoso.
-Aconteceu alguma coisa?
-A Débora tá lá em casa, trancada com medo do
assassino.
-Ainda? Mas não tem bandido nenhum.
-Ela disse que tem alguém que dirige um Camaro
amarelo que anda atrás dela. Foi por causa disso que o seu Mané foi atropelado.
-Robson, o assassino morreu.
-Não pra ela!
-Como é que você sabe que ela tá na sua casa?
Ela te ligou e não ligou pra polícia?
-Não, foi outra pessoa.
-Tudo bem, a gente vai até a sua casa pra
tentar salvar a menina.
-Não é melhor pedir ajuda aos outros da
polícia também?
-Pode ser um trote, não sei. Ando desconfiado
de que essa tal Débora possa ter muito a esconder.
-Não viaja, Frazão!
-É verdade. Quem pode ter interesse em acabar
com ela? E por quê?
-Vamos embora logo.
-Vamos.
Mell chega à enfermaria e vê os dois saindo.
-O que houve?
-A gente vai ter que ir à casa do Robson.
Alguém tá botando medo na Débora.
-Eu vou com vocês.
-Não, você fica. Qualquer coisa que você
precisar, liga pro meu celular. Mas não sai daqui.
*****
Ainda apavorada, Débora ouve miados no quarto
de Robson, que fica no primeiro andar da casa. Embaixo da cama, há uma pequena
mascote branca.
-Alba...- sorri ao ver o animal, e cochicha- Você
tem que fazer silêncio. Só a polícia pode saber que tem alguém aqui.
*****
Robson e Frazão entram na viatura e seguem
para a casa do rapaz. No meio do caminho, o cara se impacienta.
-Dá pra acelerar aí, Frazão?
-Já imaginou se alguém anota a placa da viatura?
Eu é que não vou aparecer no “Ronda Geral”.
O celular de Robson toca e é Bráulio.
-Fala, doutor.
-Robson, aconteceu uma coisa grave.
-O que houve com o Bruno?
-É sobre o assassino. Ele não se jogou do
telhado.
-Espera. É o quê que você tá me dizendo? Explica
direito!
-Alguém atirou no bandido que tentou matar
seu irmão no quarto. Sacaram uma arma e atiraram pra fazer ele cair. O cara que
vocês viram... Eu acho que a morte dele foi queima de arquivo. Quem tentou
matar o Bruno perto da casa de vocês ainda tá vivo.
Robson se assusta e deixa o celular cair.
-O que houve, Robson? Quem era no celular?-
pergunta Frazão.
-Robson? Você ainda tá aí?- Bráulio fala
diretamente do hospital.
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