08/01/2013

INGRESSO CRIMINAL/ CAPÍTULO 6: ACABANDO COM UMA SUPOSTA TESTEMUNHA



-Calma.

-Calma nada!

-Bom, se é assim, eu também não vou me acalmar. Você acabou de jogar água na minha cara.

-Eu achei pouco, perto do que eu descobri.

-Ah, é? E o que foi que você descobriu, projeto de corno?

-Olha como você fala comigo!

-Cala essa boca, Robson! Você não tem direito de mandar em mim. Todo o respeito que eu tinha acabou. Por sua causa. Cada vez mais eu me dou conta de que foi um erro a gente junto.

-Pode ter certeza de que não é a única pessoa a ter certeza disso!

-O que é que te deu?

-O Bruno acordou. Ele me contou que te levou pra cama.

-Sim, e...

-Como é você tem coragem de ficar assim, falar desse jeito comigo? Você me traiu com o meu irmão, Débora! Eu confiei em você.

-O que aconteceu depois disso? Ele só pode ter desmaiado. Ou mentido. Eu não devo explicação nenhuma, mas se você quer saber, eu vou te contar a verdade. E vou provar que o teu irmão é tão ou mais cafajeste que você.



*****


Num outro corredor, Mell conversa como o delegado Frazão.

-Eu tô perdida. Eu tô sem chão, não sei o que vou fazer agora.

-Mell... Você tem noção do que me contou até agora? Você se envolveu com os dois irmãos. E com o Bruno pra se vingar do Robson.

-Mas eu não gosto do Bruno. Nunca gostei. Tudo o que fiz foi pra chamar a atenção do outro.

-Essa conversa que a gente teve é informal, mas... Isso te torna suspeita.

-Por quê? Eu não fiz nada!

-Veja bem: as evidências estão bem claras. Se o Bruno passou a perseguir você e tudo não passou de uma birra que você tinha com o irmão dele, a polícia pode pensar que você quis se livrar de um pra ficar com o outro.

-É mesmo? E o que o senhor acha que eu tenho que fazer?

-Contar a verdade.

-A verdade é essa que eu falei. Não tem outra. Eu não vou me incriminar.

-Tirando o crime, Mell, há outra situação com a qual você tem que se preocupar: essa criança que você espera.

-Eu vou tirar.

-Viu? Viu com o cerco tá se fechando contra você? Se você é tão apaixonada por esse Robson, como diz, essa gravidez poderia ser usada como trunfo para separá-lo da namorada. Mas se é do Bruno, e ele não te interessa, o aborto só vai provar o quanto você o detesta. E se ele é uma ameaça para o seu romance com o irmão...

-O que o senhor acha que devo fazer, delegado?

-Eu vou... Eu vou conversar com Robson e averiguar a história. Só te digo uma coisa, menina: quanto mais cedo você disser quem é o cara que te engravidou, melhor.

-Tô lascada.

-Você nem imagina.



*****


-Ontem, quando você me ligou e disse que tinha comprado dois ingressos pro show, eu fui à sua casa.

-E daí, Débora? Foi lá que você...

-Cala... Essa boca... E me deixa terminar.

-Fala, então.

-O seu irmão tava nervoso, transtornado, e me pediu pra que eu fosse ao quarto dele que tinha uma coisa muita séria pra falar comigo.

-Hum... Desenvolva!



*****


-Olha só, Bruno, eu só vim perguntar se Robson deixou meu ingresso do tal Rock Mafia contigo.

-Eu queria aproveitar que ele não tá aqui pra te falar uma coisa muito importante.

-Tudo bem, diz.

-Débora, eu sei que isso é errado, que eu não devia ter esse tipo de sentimento, só que eu sou louco por você.

-Como é?

-Faz tempo que eu tenho isso, sabe?- vai se aproximando da garota, que anda pra trás- Nunca que eu ia falar, mas eu já não consigo mais guardar isso dentro de mim.

Os dois caem na cama. Que rápido, não?

-E o que faz você pensar que eu vou largar meu namorado pra ficar com o irmão dele.

-Minha beleza? Meu carisma? Minha conta bancária?

-Por favor, né, Bruno? Você é tão pobre quanto Robson! Daqui a pouco até a Dilma chama vocês pra fazerem comercial!

-Bom, desse jeito é melhor olhar então os outros atributos- tenta tirar a camisa.

-Obrigada, meu cunhadinho... –levanta-se da cama- Mas você não faz Letras, e gente de intelecto inferior não me interessa.

-Por que vocês acham que todo homem bombado é imbecil?

-Ah, não é generalizado. É só o seu caso!- dá o fora.



*****


-Eu não acredito em nenhuma palavra que você me diz.

-Ótimo, eu também não acredito em você.

-Sabe qual é a minha vontade agora, Débora?

-Qual é?

-É de te matar. Fazer você sofrer o mesmo que eu tô sofrendo agora. Matar você na mesma intensidade que eu te amo.

Débora saca uma faca de sua bolsa e aponta para Robson.

-Mata. Não é isso que você quer? Vai. Só que não esquece que esse vai ser o segundo crime que você comete.

-Abaixa isso, Débora...

-Tá reconhecendo essa legítima Ginsu 2000?

-É uma das facas de casa, mas o que...

-Eu fui até lá levar todas as coisas que você me deu pra jogar no lixo, rasgar todas as fotos que imprimimos, tocar fogo naquela birosca, mas eu tive uma surpresa. Eu encontrei um monte dessas facas na sua gaveta. E uma delas foi usada pra matar o Bruno. Eu sei disso porque eu vi a faca largada na calçada. Foi da sua casa. Você tentou matar o Bruno. Você!

-O que é que tá acontecendo aqui?- chega o delegado Frazão.

-Conta pra ele, Robson. Conta pra ele o que eu descobri. Cada vez mais, eu me convenço de que você não presta- guarda a faca e vai embora.

-Tá tudo bem, meu filho?

-A Débora me tirando do sério. Ela encontrou na minha gaveta várias facas iguais àquela que foi usada contra Bruno.

-Ela sabe quem fez aquilo com seu irmão?

-Não, mas tá “investigando”. E se ela não parar com isso logo, ela vai continuar acreditando que eu sou o culpado.



*****



Débora volta para casa. Pelo caminho, encontra seu Mané numa cadeira de balanço, em frente à cena do crime. Ela repara que a faca não está mais na galeria, mas se mantém no meio da rua.

Seu Mané avista a moça e grita:

-Guardei, guardei!

-Hã?

-Guardei, minha filha!

-Esse velho é doido mesmo.

Do nada, um Camaro amarelo aparece em alta velocidade, disparado em direção à Débora. Seu Mané levanta da cadeira e empurra a menina que estava estática. Mas é atingido pelo veículo. Sem prestar socorro, o motorista do veículo com vidro fumê acelera pelas ruas de Itapissuma.

-Era pra mim... Tentaram me matar... – concluiu a moça, vendo seu Mané desmaiado.

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