06/01/2013

INGRESSO CRIMINAL/ CAPÍTULO 3: EMBATE NA VARANDA DO HOSPITAL


-Me dá um pacote de Pippos rápido- Débora pede ao vendedor que está do seu lado- Obrigada, pode ficar com o troco.
-Mas tá faltando, moça...
-Daqui a pouco eu acerto.
E se camuflou com o pacote, tentando escutar a conversa que se iniciou após o beijo desentupidor de boca. Mell, é claro, foi repelida por Robson.
-Nunca mais você vai fazer isso. Eu não tô mais a fim de você.
-A verdade é que não me interessa o que você sente ou deixa de sentir. O que aconteceu agora foi pela minha vontade.
-De me enlouquecer? Só se for. É isso que você quer. Nem com o meu irmão no hospital você tem consideração.
-Eu tenho motivo pra ter? Bruno vivia atrás de mim, me perseguindo o tempo todo, acreditando que eu fosse ficar com ele de vez. Ele não entende que eu desisti da nossa relação.
-Você tem ideia do quanto sua cara de pau tá te cegando? Você chega perto da minha casa, arma um escândalo, fala pra quem quiser ouvir que é a mulher dele e tá aqui, comigo, dizendo na minha cara que ele te perseguia.
-Porque eu tô aqui sozinha. Eu não tô na frente da Débora. Eu não tô na frente de ninguém que me impeça de falar tudo que eu sinto.
-E qual é a mentira que eu vou ter que ouvir? Chega, Mell, chega!
-Eu quero te ouvir falando, Robson, Eu quero te ouvir jurar que o que aconteceu com Bruno não é culpa sua.
-E por que não pode ser sua? Hein, Mell? Não era você que tava com ele no lugar onde Seu Mané encontrou ele caído?
-Você não vai escutar um...
-Nem ele, nem você. Eu vou embora.
-Robson, não!- segura-o- Eu não vou te deixar escapar de novo.
-Sinto muito. Eu fui obrigado a fugir de você. E pra isso, o Bruno ajudou bastante. Eu só espero, sinceramente, que tudo isso não seja culpa sua.
-Mesmo que eu tivesse feito isso, meu pai é delegado. Ele vai saber o que fazer. Ele ia me ajudar, com certeza.
-Eu não tô falando da polícia. Eu tô falando que eu não sei do que sou capaz se descobrir que você tá envolvida nisso até o pescoço.
-Vamos ver quem é que tinha mais motivos pra matar seu irmão.
-Solta- num acesso de raiva, sai de perto de Mell e volta para o hospital. Débora, ainda “disfarçada”, entra em seguida. Enquanto isso, Mell chora por pensar que perdeu as chances com Robson.

*****

Após um tempo, Robson volta a falar com o médico.
-Alguma novidade?
-Sim, conseguimos colocá-lo numa maca.
-Só isso?
-Bom, nós tivemos que fazer uma transfusão, pois seu irmão tinha perdido muito sangue.
-E alguém conseguiu descobrir o que é que ele tinha?
-É Robson o seu nome?
-Sim, e o seu é... Bráulio Rodrigues- lê na vestimenta do médico.
-Ah, é fácil de memorizar. É o mesmo do mordomo da “Usurpadora”... Bem, tudo indica que seu irmão foi perfurado por um objeto cortante. Uma faca, um estilete, uma tesoura... Eu já acionei a delegacia, que encaminhou o caso para uma correspondente à sua região.
-Delegacia? É... Mas o senhor acha que precisa disso mesmo?
-Seu irmão é vítima de uma tentativa de homicídio, a gente não sabe se ele vai conseguir sobreviver.
-Sim, mas...
-Qual é o problema? Até parece que você não quer que resolvam isso e descubram quem cometeu o crime.
-Eu... Eu sou o que mais quero isso, doutor.
-Ótimo... - desconfia de Robson- Eu vou ter que atender outros pacientes. Você me dê licença.
-Claro. Valeu.

*****

Ao sair, encontra Débora.
-Oi, meu amor. O que foi que houve?
Ela, com a cara mais amarrada do mundo, responde:
-A misteriosa mulher de Bruno não explicou que o ônibus quebrou?
-É, ela falou. Eu preciso de um favor seu.
-Claro, meu bem, você pode pedir o que quiser. Afinal, não é isso que você espera de mim, apesar de tudo?
-Débora, qual é o problema?
-Nenhum, só acho que fiquei muito abalada pelo que aconteceu. E ele, como é que tá?
-Parece que não tá bem. O médico disse que ele perdeu muito sangue e que tiveram que fazer transfusão. No meio dessa agonia, esqueci de pegar os documentos dele. Vou ter que entregar pra polícia.
-Ela sabe quem fez isso?
-Não, mas o médico avisou porque descobriram que tentaram matar Bruno com algum objeto cortante. Olha, eu sei que você tá cansada por ter ido comigo ao show do Rock Mafia, mas será que você podia ficar com ele enquanto eu vou em casa?
-Posso, posso, sim.
-Só você mesmo pra me deixar tranquilo numa hora dessas. Te amo, tá? – tenta beijá-la.
-Disponha, meu querido- repele-o.
-Só mais uma coisa: não deixa aquela menina entrar. A gente não sabe se ela é namorada dele, e se for, ela pode muito bem ter feito isso. A gente não conhece.
-Agora, sim.
-Eu vou lá- Robson sai desconfiado da frieza da namorada.

*****

Débora fica na enfermaria, a sós com Bruno. Só mesmo no mundo da ficção que o Hospital da Restauração tem uma enfermaria exclusiva. Ela fala em seu ouvido.
-Mesmo com toda a raiva que eu tô sentindo do seu irmão, eu ainda quero que você desapareça.
E chega à varanda, onde busca tomar um ar. Mell bate na porta.
-Posso entrar?
Débora reconhece a sua voz, e ainda de costas, diz:
-Entra logo.
Mell se aproxima de Bruno e pergunta à Débora:
-Como é que ele tá?
Ela não responde.
-Ei, você ficou surda? Eu perguntei...
-Eu ouvi o que você disse- vira-se para Mell- Se você ainda não se tocou, a gente tá no hospital. Então, procura fala baixo. Vem pra varanda.
Mell a obedece.
-Fala, é grave?
-O médico disse que a gente tem que esperar, mas por enquanto, é grave.
-Ele tem que se salvar.
-Você, que é... A mulher dele... Tem alguma ideia de quem pode ter feito isso?
-Não, nenhuma.
-Engraçado, lá fora você parecia certa de que Robson era culpado...
-Como é que você...
-Eu penso que talvez seja você. É, pra concluir o teu plano de acabar com os dois irmãos idiotas.
-Tá completamente errada.
-Tudo ficou bem claro. Só você não vê. Vai ver que você só tá aqui pra disfarçar. Se não for culpa, não é?
-Mesmo? Então diz o que é que você vai fazer. Vai me denunciar?
-Por ter tentado matar o Bruno? Você não merece ir pra cadeia por conta disso- e do nada, agarra o pescoço dela, levando-o para o alto.
-Me larga- começa a sufocar.
-Já pelo que você fez comigo e com o Robson, sua cachorra, isso eu faço questão de te fazer pagar.
-Me solta, Débora!
-É o que eu quero fazer. Mas ainda tá meio longe do chão, né, meu bem?
-Socorro!- Mell se ergue e agarra Débora, que rapidamente volta a ameaçá-la.
-Não adianta, Mell. Daqui você só sai morta, vagabunda!
-Socorro... - Mell, suspensa, tenta articular as palavras, mas elas já falham...

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