-Me
dá um pacote de Pippos rápido- Débora pede ao vendedor que está do seu lado-
Obrigada, pode ficar com o troco.
-Mas
tá faltando, moça...
-Daqui
a pouco eu acerto.
E
se camuflou com o pacote, tentando escutar a conversa que se iniciou após o
beijo desentupidor de boca. Mell, é claro, foi repelida por Robson.
-Nunca
mais você vai fazer isso. Eu não tô mais a fim de você.
-A
verdade é que não me interessa o que você sente ou deixa de sentir. O que
aconteceu agora foi pela minha vontade.
-De
me enlouquecer? Só se for. É isso que você quer. Nem com o meu irmão no
hospital você tem consideração.
-Eu
tenho motivo pra ter? Bruno vivia atrás de mim, me perseguindo o tempo todo,
acreditando que eu fosse ficar com ele de vez. Ele não entende que eu desisti
da nossa relação.
-Você
tem ideia do quanto sua cara de pau tá te cegando? Você chega perto da minha
casa, arma um escândalo, fala pra quem quiser ouvir que é a mulher dele e tá
aqui, comigo, dizendo na minha cara que ele te perseguia.
-Porque
eu tô aqui sozinha. Eu não tô na frente da Débora. Eu não tô na frente de ninguém
que me impeça de falar tudo que eu sinto.
-E
qual é a mentira que eu vou ter que ouvir? Chega, Mell, chega!
-Eu
quero te ouvir falando, Robson, Eu quero te ouvir jurar que o que aconteceu com
Bruno não é culpa sua.
-E
por que não pode ser sua? Hein, Mell? Não era você que tava com ele no lugar
onde Seu Mané encontrou ele caído?
-Você
não vai escutar um...
-Nem
ele, nem você. Eu vou embora.
-Robson,
não!- segura-o- Eu não vou te deixar escapar de novo.
-Sinto
muito. Eu fui obrigado a fugir de você. E pra isso, o Bruno ajudou bastante. Eu
só espero, sinceramente, que tudo isso não seja culpa sua.
-Mesmo
que eu tivesse feito isso, meu pai é delegado. Ele vai saber o que fazer. Ele
ia me ajudar, com certeza.
-Eu
não tô falando da polícia. Eu tô falando que eu não sei do que sou capaz se
descobrir que você tá envolvida nisso até o pescoço.
-Vamos
ver quem é que tinha mais motivos pra matar seu irmão.
-Solta-
num acesso de raiva, sai de perto de Mell e volta para o hospital. Débora,
ainda “disfarçada”, entra em seguida. Enquanto isso, Mell chora por pensar que
perdeu as chances com Robson.
*****
Após
um tempo, Robson volta a falar com o médico.
-Alguma
novidade?
-Sim,
conseguimos colocá-lo numa maca.
-Só
isso?
-Bom,
nós tivemos que fazer uma transfusão, pois seu irmão tinha perdido muito
sangue.
-E
alguém conseguiu descobrir o que é que ele tinha?
-É
Robson o seu nome?
-Sim,
e o seu é... Bráulio Rodrigues- lê na vestimenta do médico.
-Ah,
é fácil de memorizar. É o mesmo do mordomo da “Usurpadora”... Bem, tudo indica
que seu irmão foi perfurado por um objeto cortante. Uma faca, um estilete, uma
tesoura... Eu já acionei a delegacia, que encaminhou o caso para uma correspondente
à sua região.
-Delegacia?
É... Mas o senhor acha que precisa disso mesmo?
-Seu
irmão é vítima de uma tentativa de homicídio, a gente não sabe se ele vai
conseguir sobreviver.
-Sim,
mas...
-Qual
é o problema? Até parece que você não quer que resolvam isso e descubram quem
cometeu o crime.
-Eu...
Eu sou o que mais quero isso, doutor.
-Ótimo...
- desconfia de Robson- Eu vou ter que atender outros pacientes. Você me dê
licença.
-Claro.
Valeu.
*****
Ao
sair, encontra Débora.
-Oi,
meu amor. O que foi que houve?
Ela,
com a cara mais amarrada do mundo, responde:
-A
misteriosa mulher de Bruno não explicou que o ônibus quebrou?
-É,
ela falou. Eu preciso de um favor seu.
-Claro,
meu bem, você pode pedir o que quiser. Afinal, não é isso que você espera de
mim, apesar de tudo?
-Débora,
qual é o problema?
-Nenhum,
só acho que fiquei muito abalada pelo que aconteceu. E ele, como é que tá?
-Parece
que não tá bem. O médico disse que ele perdeu muito sangue e que tiveram que
fazer transfusão. No meio dessa agonia, esqueci de pegar os documentos dele.
Vou ter que entregar pra polícia.
-Ela
sabe quem fez isso?
-Não,
mas o médico avisou porque descobriram que tentaram matar Bruno com algum
objeto cortante. Olha, eu sei que você tá cansada por ter ido comigo ao show do
Rock Mafia, mas será que você podia ficar com ele enquanto eu vou em casa?
-Posso,
posso, sim.
-Só
você mesmo pra me deixar tranquilo numa hora dessas. Te amo, tá? – tenta beijá-la.
-Disponha,
meu querido- repele-o.
-Só
mais uma coisa: não deixa aquela menina entrar. A gente não sabe se ela é namorada
dele, e se for, ela pode muito bem ter feito isso. A gente não conhece.
-Agora,
sim.
-Eu
vou lá- Robson sai desconfiado da frieza da namorada.
*****
Débora
fica na enfermaria, a sós com Bruno. Só mesmo no mundo da ficção que o Hospital
da Restauração tem uma enfermaria exclusiva. Ela fala em seu ouvido.
-Mesmo
com toda a raiva que eu tô sentindo do seu irmão, eu ainda quero que você
desapareça.
E
chega à varanda, onde busca tomar um ar. Mell bate na porta.
-Posso
entrar?
Débora
reconhece a sua voz, e ainda de costas, diz:
-Entra
logo.
Mell
se aproxima de Bruno e pergunta à Débora:
-Como
é que ele tá?
Ela
não responde.
-Ei,
você ficou surda? Eu perguntei...
-Eu
ouvi o que você disse- vira-se para Mell- Se você ainda não se tocou, a gente
tá no hospital. Então, procura fala baixo. Vem pra varanda.
Mell
a obedece.
-Fala,
é grave?
-O
médico disse que a gente tem que esperar, mas por enquanto, é grave.
-Ele
tem que se salvar.
-Você,
que é... A mulher dele... Tem alguma ideia de quem pode ter feito isso?
-Não,
nenhuma.
-Engraçado,
lá fora você parecia certa de que Robson era culpado...
-Como é que você...
-Eu penso que talvez seja você. É, pra
concluir o teu plano de acabar com os dois irmãos idiotas.
-Tá completamente errada.
-Tudo ficou bem claro. Só você não vê. Vai ver
que você só tá aqui pra disfarçar. Se não for culpa, não é?
-Mesmo? Então diz o que é que você vai fazer.
Vai me denunciar?
-Por ter tentado matar o Bruno? Você não
merece ir pra cadeia por conta disso- e do nada, agarra o pescoço dela,
levando-o para o alto.
-Me larga- começa a sufocar.
-Já pelo que você fez comigo e com o Robson,
sua cachorra, isso eu faço questão de te fazer pagar.
-Me solta, Débora!
-É o que eu quero fazer. Mas ainda tá meio
longe do chão, né, meu bem?
-Socorro!- Mell se ergue e agarra Débora, que
rapidamente volta a ameaçá-la.
-Não adianta, Mell. Daqui você só sai morta,
vagabunda!
-Socorro... - Mell, suspensa, tenta articular
as palavras, mas elas já falham...
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