-Fala. Fala, Bráulio. Como foi que... isso
aconteceu?
-Lembra que eu falei que quando eu o atendi,
ele tinha um ferimento? Pois então, ele teve outro no tornozelo.
-Mas será que você não viu na hora?
-Isso não estava quando ele deu entrada.
Alguém atirou nele depois, quando ele não estava mais sendo atendido. E isso só
pode ter sido quando ele subiu no telhado.
-Como?
-Havia um rastro de sangue perto de onde ele
caiu.
-Deve ter sido...
-Não. Não foi aquele de raspão que fez ele
dar entrada no hospital. Foi alguém que atirou nele. Isso provavelmente fez ele
despencar. Se não foi pelo disparo, foi pelo susto.
-Eu vou desligar agora. Mais tarde, eu...
Passo no hospital...
-Fala, Robson. O que houve? O Bruno piorou ou
a Mell passou mal?
-O médico disse... Que ele teve uma piora,
que eles tão fazendo de tudo... E que...
-Posso saber o motivo das reticências?
-É que eu tô nervoso, só isso! Não posso?
-Você não quer voltar pra lá?
-Não, é melhor tirar a Débora de casa. Leva
ela pro hospital. Não tem perigo mesmo. E depois, pode ser que não tenha
assassino nenhum em casa.
-E não tem.
-Diga isso pra ela.
Minutos depois, a viatura chega à casa de
Robson.
-Olha, não liga a sirene, não. Se não, pode
assustar se alguém tiver lá.
-Tudo bem, mas acho que não há assassino
nenhum.
Os dois descem do carro.
-Eu tive uma ideia, Robson.
-O quê, Frazão?
-Vamos descer e dar uma olhada juntos ao
redor da casa. Se tiver algum veículo que condiga com a descrição da Débora...
-Ótima ideia. Bora.
*****
Mell está olhando Bruno no hospital. Anda de
um lado pro outro, nervosa demais.
-Se a Débora viu o assassino, então ele tá
solto. Eu não aguento mais esperar, eu vou sair.
-Eu vim dar uma olhada, como ele tá?
-Na mesma, doutor. E tem outra coisa: eu não
posso ficar com ele, eu vou precisar sair.
-Mas, Mell...
-Eu sei que ele não tem acompanhante, mas eu
preciso me encontrar com meu pai.
-Tudo bem, eu cuido dele.
*****
-Pronto. Não tem Camaro amarelo nenhum.
-Agora só tenho uma saída: entrar em casa.
-Tudo bem. Mas se tem mesmo um carro
perseguindo a Débora, ela pode não estar mais aí.
-Mesmo assim, Frazão, a gente arrisca- abre a
porta de casa- Débora!- grita- Débora, cadê você? O Frazão tá aqui, aparece.
-Robson, eu entendi no hospital que não foi
ela que ligou. Será trote, não?
-Não. Eu tenho certeza que não.
-você tem como provar?
-O doutor ligou pra mim e não foi pra falar
sobre Bruno. Ele descobriu que a queda do bandido não foi suicídio, foi
assassinato.
-Impossível. Eu acompanhei a perícia. Ninguém
tentou matar o bandido.
-Tentou, Frazão. Ele viu mancha de sangue no
telhado e um projétil. Alguém tentou matar o cara que tentou matar Bruno. E é o
mesmo que tá atrás da Débora.
-De quem você desconfia?
-De quem você desconfia, Frazão?
-Não entendi essa agora.
-Você é policial. Deve ter alguma ideia.
-Eu preciso contar uma coisa.
-O quê?
-O bandido caiu com a arma dele, e eu recolhi
outra no telhado.
-Ela tá com você?
-Sim. Eu trouxe comigo- ele a tira do bolso e
a estende sobre suas mãos.
-Frazão... Você acabou de perder uma prova!
-Como? Eu tô com a arma do assassino
do bandido.
-Não. Você tá sem luva. São as suas
impressões que vão ficar nela.
-Verdade. Mas deixa eu segurar
melhor...
Frazão segura o gatilho e ameaça
Robson.
-Por quê, Frazão?
-Não foi minha intenção ter que
estender esse sofrimento pra você, pra sua namorada e pra minha filha. Tudo
fugiu de controle. Não é nada que eu não posso arrumar.
-Mesmo que a Mell seja uma
mentirosa...
-Cala essa boca se não quiser...
-Cala a boca você. Você sempre vai dar
crédito pra ela. E sabe qual é o meu trunfo? Sabe por que você não vai acabar
com mais ninguém, pelo menos comigo? Porque ela disse que eu sou o pai do filho
dela.
Frazão se aproxima mais de Robson e o
faz recuar encostando numa estante.
-Essa é a minha maior motivação.
-Traste!
Como uma ninja, Robson atira o
controle remoto contra a arma e soca o delegado, que cai no sofá.
-Débora, Débora!- grita, correndo nas
escadas.
*****
A 120 por hora, uma ambulância do Samu
leva Mell à casa de Bruno e Robson.
-A gente não vai chegar a tempo. Vai
demorar muito. O bandido deve ter fugido. E o senhor, sabe dirigir mesmo?
-Minha linda, eu aprendi quando fui
motorista de condução, em 2005- sorri seu Mané, após roubar o veículo do
hospital.
*****
Robson entra no quarto e empurra a
mesa do computador para impedir a passagem de Frazão, sem sucesso. O vilão
atira três vezes na maçaneta e tira o objeto do caminho.
-Tirou sangue de mim? Pra quem não
queria DNA, hein? Passei horas procurando o protético e você arranca um dente
da minha chapa.
-Para com isso, você tá fora de si!
-Mais do que você imagina! Muito mais!
Eu não vou te matar. Não sem contar com detalhes o que aconteceu de verdade.
-Fala, miserável.
-Trabalhava numa outra delegacia e fui
transferido pra esse pardieiro na mesma noite em que decidi dar fim à vida do
Bruno. Que impressionante. Eu fiz isso em legítima defesa da Mell.
-Do que você tá falando, seu doente?
-A Mell fez um teste de gravidez de
farmácia e deu positivo. Eu fiquei arrasado pela vergonha que eu passaria, mas
decidi procurar o canalha. E ontem, eu a segui. Vi Melissa aqui, e escutei toda
a conversa dela com Bruno.
*****
-O que é Mell, fala?
-Eu tô grávida, Bruno- ele bate
palmas.
-Uau! Tá avançando no campo da
mentira.
-O filho é seu.
-Não, o filho é seu. Você se separou
de mim porque disse que eu não presto pra você. Que o Robson é a melhor pessoa
pra sua vida. Ele é o pai.
-Não vim aqui pra discutir. O filho é
seu e pronto.
-Eu amo muito você. Não a ponto de
criar um bebê.
-Olha só, eu não tô pedindo nada. Eu
só estou te avisando. Faça o que quiser.
-Bom, se é assim, deixa eu sugerir uma
coisa: fala com o pai desse menino.
-O pai dele...
-Não sou eu, vagabunda! Tá tudo claro.
Ele te deu um pé na bunda de novo. Agora eu sou o pai. Sei... Olha, Mell,
aborta essa criança. Você tem a mesma inteligência dela, então aproveita e
deixa que os médicos clandestinos façam por você.
-Tudo bem, eu vou embora. Mas antes eu
quero te dizer uma coisa.
-O que é?
-Que eu não vou te chamar de covarde.
Porque pra ser isso, tem que ser antes um homem. Sabe o seu irmão? Ele é um
homem. E eu não falo só da moral, não, entendeu? Eu falo do que é me fazer
mulher. Sabe qual é o seu problema, querido? Inveja do seu irmão, porque ele me
deu uma coisa que você jamais vai dar pra ninguém: desejo. Pronto, falei! Com
licença.
Bruno corre pra cozinha, louco de
ódio, e abre a gaveta. Tira uma Ginsu 2000 e avança contra a porta.
-Eu te mato, infeliz. Eu acabo com
você.
Mell está em frente ao mercadinho e
não vê ele com a faca. Frazão os segue ainda. Ele a puxa pelo cabelo e grita.
-Vagabunda!
Ela recebe uma bofetada que a deixa
caída no chão. Seu Mané vê e grita, para depois sair correndo.
-É o BBB.
Se esse filho é dele, pior pra você.
Se não é, eu não vou deixar você me largar. Você pensa que eu não sei qual é o
seu plano? Só porque eu não quero assumir essa criança, o Robson vai escutar da
sua boca que o bebê é dele, vai largar a Débora pra ficar contigo. E mesmo que
seja dele mesmo... Eu não vou deixar você ficar com ele. Nunca- e mostra a faca
para Mell.
-Você não vai ter coragem.
-Nada... - e avança pra cima dela.
-Me solta, Bruno! Para com isso, você
tá louco? Socorro!
-Para, para! Larga essa faca- Robson
chega e tenta conter o irmão, separando-o de Mell- Some daqui, anda!- ela corre
para tentar se salvar.
-O super-herói chegou. Tinha que dar
um jeito de mostrar que é melhor do que eu, hein?
-Endoidou agora? Tá fazendo o quê,
Bruno? Cosplay de seu Mané?
-Olha só o que a gente fez... Perdeu o
juízo... Tudo por causa de uma mulher. Ela te quer. Mesmo você dizendo que
prefere sua namorada. Isso me dá ódio. Ódio, sim, porque mesmo deixando ela,
ela ainda te quer. Agora eu não sei como eu acabo com essa história: se eu
acabo com ela... Ou com você... – avança violentamente contra Robson, que o
segura.
-O que é? Vai me matar agora?
-Com muita vontade, sabia? Só assim eu
tenho paz. Só assim eu paro de sempre disputar tudo o que eu quero pra mim com
você. Se eu te mandar agora pro inferno, vai ser com gosto. Porque a minha
maior vontade não é ficar com a Mell. É me livrar de você, mesmo que eu não
fique com ela...
O bate-papo foi interrompido porque
Robson perdeu a paciência e deu dois socos no irmão, empurrando-o depois para a
rua. Quando Bruno cai no chão, é obrigado a escutar um desabafo.
-Eu não sou melhor do que você. Nunca
vou ser. O seu problema é que você é um lixo, que faz questão de ser pior que
todo mundo. Se bem que até lixo vale mais que você. Se a Mell não sente nada,
eu pelo menos sinto pena- e volta pra casa para pegar os ingressos do show do
Rock Mafia. Bruno, arrasado, se levanta e decide dar sequência ao seu plano de acabar
com a ex-namorada.
-A culpa é dela. Dessa vagabunda. Eu
vou acabar com ela. Com filho na barriga ou não.
-Você não fazer nada, seu moleque-
finalmente Frazão dá as caras.
-Quem é você?
-Guilherme Frazão. Ou melhor dizendo:
o pai da Mell, aquela “vagabunda” que você engravidou.
-Ah, veio defender a filha?
-Olha aqui, Bruno. Você vai assumir
essa criança, porque eu não criei filha minha pra ser mãe solteira.
-Problema seu! Não me interessa a
criação que você deu àquela vadia. Aliás, muito ruim por sinal.
-Respeita a Melissa, seu verme!
-Não vou respeitar ninguém. Ela não
merece nem o seu respeito! Ela te contou que deu em cima de dois irmãos ao
mesmo tempo? Contou que tá grávida? Pra você tá irritado desse jeito, é porque
não sabia um terço da missa. Encara a verdade, rapaz.
-Quem tem que encarar alguma coisa é
você, seu monte de lixo. Eu posso acabar com a sua vida. Te ferrar de vez,
entendeu? Agora diz na minha cara que você não vai assumir o bebê. Eu trabalho
na polícia, seu imbecil. Só que eu também conheço um monte de gente errada que
pode te liquidar. E aí? Vai medir força, comigo? Quer se estrepar? Se você não
procurar minha filha ainda hoje e pedir desculpa, eu mato você. Eu jogo seu
corpo no matagal da Copélia e ninguém fica sabendo seu paradeiro. Quando
descobrirem, eu forjo provas e digo que você tava se metendo com bandido. Acho
melhor ficar vivo e assumir a besteira que fez com a Melissa. Não é, não?-
Frazão tira o paletó que está usando, o que evidencia sua barriga saliente.
-Se é assim, me mata. Vamos ver que
sai perdendo. Eu, sua filha ou seu neto.
-Não brinca comigo, Bruno- Frazão vai
embora, para o Camaro, quando Bruno avança contra o delegado e se atraca com
ele, tentando matá-lo. Frazão segura a faca e abaixa o braço do rapaz, que é
brutalmente ferido.
-Você... Você vai pra cadeia... Você
se denunciou...
-Eu segurei a faca com o paletó.
Ninguém tem minhas impressões. Pra todos os efeitos, a Mell não pegou na faca,
o teu irmão também não... Você tirou a faca de casa. Mesmo que não descubram o
culpado, ninguém vai ter suspeito. Todo mundo vai mentir pra se livrar da
cadeia. Todo mundo vai negar que te odeia. E aí, seu caso vai ser arquivado. Quem
mandou se meter com a minha filha? E comigo?
Bruno desmaia e Frazão segue à procura de seu
carro. Com isso, o autor do crime segue à procura de seu carro, quando é visto
por seu Mané sem ser percebido.
*****
-Se você fez isso com o meu irmão, então quem
era o bandido do hospital?
-Não disse que apesar de ser policial,
conheço gente perigosa? Eu fiquei sabendo que aquele homem já era procurado
pela polícia há algum tempo. E fiz uma proposta: se ele sufocasse o Bruno na
enfermaria, pra que todo mundo pensasse que a morte seria em decorrência do que
aconteceu no mercadinho que tava fechado, eu o ajudaria a fugir. Ele topou, e
eu o vesti com uma capa preta. Só que o médico entrou na hora, e isso estragou
tudo.
-Mas a morte dele foi acidental. Não é
possível que tenha sido homicídio.
-Eu estou no seu quarto, te ameaçando com uma
arma, e você acredita em acidentes?
-Como é possível? Eu tava atrás de você! Se
alguém tivesse atirado, eu teria escutado.
-O médico do Bruno sabe brincar de detetive. Você
não. Como foi encontrado um projétil sem que ninguém tivesse atirado, Pedro Bó?
O que acontece é que a gente correu atrás do bandido pelas escadas e eu, apesar
de ser balofo, já estou acostumado a perseguições. Por isso, passei na sua
frente. E na correria eu tracei o plano que me livraria da cadeia: eu tinha que
matá-lo pra que ele não abrisse a boca. Porque mesmo que ninguém descobrisse o
motivo pelo qual ele queria acabar com Bruno, a Mell continuaria sendo suspeita
se seu irmão tivesse sucumbido debaixo de um travesseiro sem que ninguém
percebesse. Quanto ao barulho que você não ouviu, eu pus um silenciador na
minha arma. Eu passei na sua frente, e como ele estava muito desesperado e
perto de cair, eu atirei pra fazê-lo cair. Ele mal chegou a me ver. Depois, eu
recuei uns passos na escadaria pra que você pudesse me alcançar e guardei a
arma, sem o silenciador.
-E tudo isso foi porque Bruno não
queria assumir o seu neto.
-Exatamente.
-Mas a Mell disse que eu era o pai do
bebê.
-Só que eu me apresentei pra seu
irmão. Se ele sobreviver, ele fala tudo. Quando eu fui procurá-lo, tentei
acabar com ele por esse motivo. Quando falei com o bandido, foi só pra calar a
boca dele.
-E a Débora?
-Quando você me contou que ela
encontrou um modelo de faca na sua casa, imaginei que ela fosse investigar a
fundo e descobrir alguma falha que eu pudesse ter cometido. Daí o Camaro amarelo.
Sem contar que livre da Débora, você poderia ficar com a minha filha.
-Onde é que ela tá agora, Frazão? Você
matou a Débora?
-Não faço a menor ideia. Mas ela não
vai me deter. Antes, o Bruno era suspeito de ser o pai do bebê da Melissa. E
por tudo o que ele fez, eu tomei essa decisão precipitada. Mas o pai é você. E
como você continua fazendo mal pra ela, eu vou ter que te apagar. Sem contar
que eu já contei tudo, né? Mais motivo óbvio, impossível!
*****
A ambulância do Samu continua a todo o vapor.
Uma moça do Detran que estava de moto passa a perseguir seu Mané, que está em
alta velocidade.
-Seu Mané, tem alguém atrás da gente. Uma
moto- avisa Mell.
-Fecha o vidro!- tem um momento de lucidez.
-O quê?
-Fecha logo esse vidro, menina. Credo. Nunca
vi uma enfermeira tão devagar. Fecha o meu também que tô no volante.
O veículo continua a todo o vapor (vapor?), e
antes que o sinal da avenida feche, o Samu segue com tudo. Infelizmente, a
motociclista não tem a mesma sorte.
-Não tem problema. Eu já memorizei a placa.
Vamos ver que é o motorista.
*****
-Você ainda pode desistir, Frazão.
-Eu não preciso. Eu não posso. Sua vida acaba
agora.
-O que você quer? Que eu grite “Laurinha”?
-Hum, boa piada. Depois você psicografa.
Débora está escondida no guarda-roupa, com a
gata no colo. De repente, ela mia- ainda que baixo- para desespero da moça.
Robson ouve o miado e arregala os olhos de pavor.
-Suas últimas palavras?- diz Frazão.
-Alba... - reconhece Robson.
E não mais que de repente, Débora joga a gata
na cara de Frazão, que desesperado, larga a arma no chão. Ele tenta tirar o
animal que o arranha violentamente.
-Cuidado!- grita Robson, ao ver o quanto o
delegado está próximo da janela. Inevitável. Ele despenca de lá, com a gata e
tudo.
Se você esperava um desfecho mais dramático e
trágico, está equivocado. Ele cai em cima da ambulância que era conduzida por
seu Mané.
Minutos depois, a polícia chega e o prende.
Na saída da casa de Robson, Mell aborda o pai sobre seus crimes.
-Vocês estão errados. Eu não sou criminoso,
não!
-Claro que é. Eu tenho a prova.
-Qual, Débora?
-Quando eu me escondi dentro do guarda-roupa,
eu levei meu celular e gravei tudo o que você narrou, todos os detalhes.
Inclusive o detalhe que envolve o carro de Munhoz & Mariano.
-Por quê, pai?
-Eu não... Eu não queria ver você cuidando de
um bebê sozinha. O Bruno não queria assumir quando você mentiu pra ele. Como eu
acreditei que ele era o pai, tentei acabar com ele.
-Pai... Eu não menti pro Bruno. O filho é
dele mesmo.
-Calma aí, queridinha. Eu ouvi você, seu pai
e Robson conversando. Eu te escutei dizendo que ele era o...
-Eu menti, Débora. Eu sabia que vocês dois estavam
separados. Daí, pensei que se eu mentisse, ele ficaria comigo de vez. Sem contar
que a gente não sabe se o Bruno vai acordar.
-Você não podia ter feito isso comigo, minha
filha. Não podia...- Frazão é levado para o camburão, sendo observado por seu
Mané.
Robson sente seu celular tocar e atende.
-Fala, doutor. Sério? Finalmente, uma notícia
boa. Valeu por ter me ligado. Tchau.
-O que foi, Robson?
-O Bruno, por um desses milagres que a gente
não entende, tá fora de perigo. Meu irmão tá salvo, Débora.
E os pombinhos dão um abraço,
emocionadíssimos, enquanto Mell chora discretamente com a prisão do pai e seu Mané
volta à ambulância, fingindo dirigir com a porta aberta.
*****
Uma semana depois, temos um epílogo.
Robson e Débora estão no teatro da UFPE
esperando que comece um show.
-Ei pensei que você ia evitar de frequentar
show por um tempo. A última experiência foi uma tragédia.
-Nem fale. O Rock Mafia ficou dois dias aqui
no Recife. No primeiro, eu tive que ir embora. No segundo, eu tava prestando
depoimento sobre o Frazão.
-Ave, nem me lembra disso.
-E pensar que tudo isso aconteceu em vinte e
quatro horas.
-Nesse tempo, a gente terminou e voltou.
-Com um detalhe: a gente voltou mais apaixonado
ainda.
-Ah, meu tufi-tufi... – beija-o.
E não é que eles encontram Bráulio ao lado da
guarda do Detran?
-Olha só quem tá aqui.
-E aí, doutor, tudo em cima?
-Doutor, não, hein? É Bráulio, por favor.
-Tudo bem.
-Olha só, amanhã o Bruno pode voltar pra
casa.
-Ah, eu não sei se ele quer voltar, não.
Quando ele chegar, vai ter que aguentar a Mell, que se aboletou lá em casa. Sem
contar que é um inútil, não faz muita diferença.
-Deixa eu apresentar: essa é a minha esposa,
Karen.
-Prazer- cumprimenta Débora.
-É, também ganhei uma folga hoje. O pessoal
tá louco no trânsito.
-Meu amor, não vamos misturar trabalho e
diversão.
-Não consigo, amor...
-Oi, gente boa- chega Adonias, o motorista da
ambulância do hospital.
-Ganhou folga também?
-É, seu Bráulio, tem que sair um pouco pra se
distrair.
-Claro, meu filho. Você tá mais do que certo. E é
show da Sandy. Quer diversão melhor? E ela é tão linda, talentosa... Sem contar
que ela fez Letras, o que aumenta meu respeito. Todo mundo que cursa Letras
tem, sei lá, uma aura especial. Sabe aquele rapaz que é escritor, o Thiago
Barros? Aquele homem é um espetáculo! Olha, sorte a dele que eu namoro sério,
porque senão... Eu pegava!
-Débora!- Robson está pasmo com a franqueza
da amada. Eu também, só pra constar.
-Faz silêncio, bobo. Já vai começar.
E todos curtem o show da Sandy. Uma hora
depois, acontece o momento que todos aguardam: ela canta “Aquela dos 30”, seu
mais recente sucesso. Curiosamente, Karen não tira os olhos de Adonias.
-Quer dizer que você dirige a ambulância do
HR?
-É, sou eu mesmo.
-Toma!- bate na mão dele e entrega uma
multa, deixando Robson, Débora e Bráulio sem entender nada.
-O que é isso?
-É o que você tem que pagar por
excesso de velocidade.
A fala inusitada coincide com os
versos finais da canção: “Já é quase meia-noite, quase sexta-feira e me falta
tanto ainda”.
Fim
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