05/01/2013

INGRESSO CRIMINAL/ CAPÍTULO 2: O MOTIVO DA DISCÓRDIA



-Eu?- começa a ficar encabulado- Eu? Não tenho nada, Débora. Mas o caso é que isso só pode ser uma armação dele.

-Por favor, Robson. Olha pra barriga do menino, tá sangrando. Chama a ambulância.

-Tá certo. Quero ver quando os médicos chegarem, e a vergonha que a gente vai passar.

-Dá pra parar de ser frio? É seu irmão!

-Nem tudo sai da forma que a gente quer.

-Robson, que é que tá acontecendo com você? Por que essa agressividade, essa frieza?

-Nada, só acho que ele tá fingindo. Só isso? Por que vocês estão olhando pra mim desse jeito?

-Bruno!

E do nada grita pelo irmão do protagonista Mell. Sabe quem é? Deixe de ser curioso, daqui a pouco a gente conta.

-Bruno! O que foi que fizeram com você? Fala comigo! Reage, meu amor!

-Calma aí, quem é você, minha filha?- Débora quer esclarecer a situação.

-Essa menina aí tava com ele. No maior amasso em frente ao mercadinho. Peraí, não foi lá que ele tava caído?- começa a divagar seu Mané, como a gente.

-Isso é o senhor que tá dizendo- Robson se vira para Mell- Fala quem é você. É mais uma das amiguinhas dele? Aquelas com quem ele passa a noite fora?

-Não, meu amigo. Muito mais do que isso? Eu sou a mulher dele! E você quem é? Parente?

-Eu não acredito nisso...

-Robson, desde quando o Bruno tinha namorada e você me escondeu isso?

-Ele não tem namorada nenhuma, Débora. Eu não tô sabendo de nada disso.

-Nem tem porque saber. Já disse que eu sou a mulher dele. É o suficiente.

-Ela tava brigando com ele no mercadinho.

-Que história é essa? É a primeira vez que eu venho pra esse lugar. Esse velho tá o quê? Esclerosado?

-Boa observação. Mas eu quero saber o seguinte... Você disse que se chama Mell, é isso?

-É, moça.

-Vem cá, esse daqui é o Robson, irmão do Bruno. Ele nunca te falou de família, mesmo você sendo mulher dele?

Mell fica encabulada, sem saber o que dizer, mas é salva pelo Samu que tenta socorrer Bruno. Logo, começa a discussão entre ela e Robson.

-Eu vou entrar com ele.

-Não, eu é que vou.

-Eu preciso entrar com ele. Tenho medo de ser tarde demais.

-Pois pode se lamentar sozinha, porque eu vou na ambulância.

-Robson, espera. Pra onde ele vai?- Débora fica preocupada e ignora a hostilidade entre... os cunhados.

-Pro Hospital da Restauração. Só pode ir uma pessoa com ele. Então tu... Quer dizer, vocês vão ter que chegar lá de ônibus.

-Que jeito, né? Ainda não comprei meu Camaro amarelo...

Mell se aproxima do rapaz e o ameaça em voz baixa.

-Você vai se arrepender de tudo o que tá fazendo pra me afastar de Bruno. Inclusive isso.

-Paga pra ver, Mell. Paga!

E Robson entra na ambulância, ainda meio arredio, como se não quisesse chegar muito perto do irmão.



*****

Passadas algumas horas, Robson está no corredor do hospital esperando informações. Até que chega o médico.

-E então, doutor?

-Robson, por favor, pega uma cadeira e senta. Você tem que estar preparado.

-Ah, não... Não pode ser... Me diz que é mentira!- começa a chorar.

-Meu querido, eu sou médico. Infelizmente, eu não posso mentir. E depois, não teria nem como contar uma mentira. Você está vendo que eu ainda não atendi seu irmão porque tem gente pior do que ele aqui no corredor. É a Restauração!

-Ele tem chance de sobreviver?

-Eu que trabalho no SUS tenho, imagina ele. Eu vou voltar pra emergência, com licença.

-Onde é que tá o Bruno?- Mell invade o hospital.

-Calma.

-Ele tá bem, não tá? Daqui a pouco ele pode sair?

-Não, tá nas últimas. O médico disse que nem chegou a atender por causa da quantidade de gente.

-Que inferno isso daqui!

-O que é que você tá fazendo aqui? Não era pra você ter vindo com a Débora?

-Débora? Esse é o nome da sua namorada?

-Fala logo onde ela tá.

-O trânsito engarrafou na Agamenon Magalhães, como sempre. Desci do ônibus e vim correndo pra ter alguma notícia.

-Eu quero falar com você, mas aqui não. Vamos lá pra fora.

-Você nem pense em dar um jeito pra que eu saia daqui, senão eu chamo alguém pra me ajudar.

-Fica na tua e vem comigo que eu quero falar do Bruno. Anda.

Os dois saem e ficam perto de uma rampa que servem para a entrada de veículos.

-O que você tem pra me dizer?

-Eu só vou perguntar uma vez: foi você?

-Fui eu o quê?

-Foi você que tentou matar o Bruno?

-Tá vendo como eu consigo te desconcertar? Já perguntou duas vezes.

-Olha aqui, é da vida do Bruno que a gente tá falando.

-Ah, Robson! A última coisa com a qual você tá preocupado é com a vida do teu irmão. E sabe do que mais? Eu acho, sinceramente, que tudo isso é uma forma de você disfarçar o quanto você tá contente com essa situação. Provocada por você.

-Como é que é? O que você tá insinuando?- volta a ficar nervoso.

-Meu lindo, olha pra mim. Meus óculos espelhados, meu pingente de mustache e a calça apertada. Eu só tenho tempo de me insinuar pros outros, e não de fazer insinuações sobre os outros. Eu tô afirmando mesmo, dizendo na sua cara: o Bruno quase foi assassinado por sua culpa. Sua.

-Eu não. Mas os meus ciúmes poderiam fazer isso. Fica tranquila, porque eu ainda não tive essa coragem. Apesar dele ser quem ele é, é meu irmão. O que eu não consigo entender, Mell, é você. Se divertindo com dois ao mesmo tempo.  E o que é pior. Com dois irmãos.

-Qual é o teu conceito de certo, então? É se divertir com a Débora e comigo ao mesmo tempo? Por que eu não posso?

-Porque Bruno é meu irmão.

-Mas eu não tenho culpa disso.

-Você fez de caso pensado, não foi? Fez porque eu tinha falado que não largar a Débora pra ficar contigo.

-Se for... É a minha vida.

-Não, é a minha vida!

Ela ri debochadamente e se aproxima de Robson.

-Eu só vou me importar com a sua vida quando ela tiver aqui... Do lado da minha.

E tasca-lhe um beijo!

Nesse momento, o ônibus de Débora finalmente chega. Ao descer, ela repara que junto ao ponto havia uma barraca de doces e salgados, e para comprar alguma coisa. Paralisada ela fica quando vê o namorado beijando a cunhada recém-descoberta.

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