-Grávida?
Não pode ser... Por que eu não fiquei no Clube Líbano? Por que eu não fui
protestar contra as directioners?
Robson, onde você tava com a cabeça de voltar pra casa, seu idiota?- o jovem se
estapeia.
-Doutor,
o senhor tem certeza disso? Será que não foi nenhum mau súbito por causa da
discussão que ela teve com aquela moça?
-Certeza
absoluta, delegado. Claro que ela vai ter que fazer um ultrassom quando
amanhecer porque a sala está fechada de madrugada, mas pelo que vejo, é uma
gestação de semanas.
-Comigo
não. Comigo mesmo não. Só pode ser mentira, eu não posso estar esperando filho
nenhum...
-Tá
feliz agora, Mell? Hein? Responde! Você acabou com o meu namoro, quase matou o
meu irmão e agora quer me enlouquecer? Pois eu vou te dizer só uma coisa: antes
disso, eu me mato! Ou melhor, eu te mato!
Desembestado,
sai da enfermaria.
-“Quase
matou o meu irmão”? O que é que você tem a ver com isso?
Mell
fica sem ter o que dizer para o delegado.
*****
Lá
em Itapissuma, Débora está na casa de Bruno e Robson, tomando um copo d’água e
chorando ao lembrar-se de como foi pedida em namoro pelo rapaz. Naquela cozinha
mesmo, ele a puxou pela mão e disse:
-Me
espera. Eu tenho que te falar uma coisa bem séria.
-Quanto
suspense, Robson. Fala, o que é?
-Ai,
como eu tô nervoso.
-Suando
muito até. Você tem distonia?
-Não,
é que... Olha, o que eu tenho pra dizer não dá pra ser se não tiver trilha
sonora.
-Robson,
o que você tá aprontando?
O
cara se vira e liga o rádio de pilha que está perto do microondas e da gaveta
de talheres. Os singelos versos tomam conta do ambiente.
“Sou eu, Bola de Fogo
O calor tá de matar!”
Bruscamente,
a melodia é interrompida pelo jovem que muda de estação, tentando disfarçar o
constrangimento. Na outra toca:
“E gira em volta de
mim
Sussurra e apaga os
caminhos
Que amores terminam
no escuro
Sozinhos?”
-Ótimo.
Falou em sussurrar, sugeriu intimidade. É bem o que o que quero.
-Tribuna
FM salvando o momento.
-Justamente...
Olha, eu sei que eu tô te enrolando, mas é por não saber uma forma melhor pra
perguntar... Quer namorar comigo?
-Nossa,
eu não me emociono desse jeito desde que recebi o convite pra trabalhar na
Contax... É claro que eu aceito, é o terceiro maior sonho da minha vida!
-Por
que nessa ordem, Débora?
-Sair
de Itapissuma é o primeiro, terminar o treinamento da Contax é o segundo... Te
amo.
E
o beijo apaixonado é filmado por Bruno, que está debaixo da mesa, conectando a
câmera ao notebook e enviando a declaração de amor para o YouTube. Voltando ao
presente...
-Cento
e noventa e cinco visualizações no YouTube pra quê? Pra ele se envolver com
aquela fulana sem recheio. E eu esperando, acreditando na fidelidade dele. Eu
te odeio, canalha! Como eu te odeio!
E
joga o copo em direção à gaveta. Chora mais ainda, despertando piedade em
alguns leitores (o resto quer vê-la armando mais um escândalo). Ela segura
alguns cacos, lembra-se daquelas gurias “pancada” que se cortam em posts do Facebook e decide fazer a mesma
coisa nos pulso. Mas daí pensa:
-Não!
Eu não gastei os melhores dias da minha vida tomando farinha de linhaça e dando
cinco voltas no Parque Dona Lindu pra me cortar por ele. Ele é que se...
Pois
é naquele momento que ela descobre algo irrelevante sobre o crime. Por enquanto.
-O
que é isso?
E
percebe que a gaveta estava entreaberta, com alguns cacos do copo que jogou.
Dentro dele, havia modelos de faca Ginsu 2000, mais precisamente comprados em
1997 (pesquiso bem para saber narrar). Débora começa a juntar as peças do
quebra-cabeça.
-A
faca que tava na calçada... É da casa deles...
Mais
um flashback; no entanto, é só daqui a pouco. Não saia da página!
*****
Na
enfermaria, ainda é de madrugada (o nível de verdade é tanto que os ônibus
passam depois da meia-noite e não se passaram vinte e quatro horas desde a
primeira cena). Robson estava lá, tristonho, na mesma janela que serviria para
um segundo crime. De repente, escuta uma voz.
-Robson...
Robson...
Ao
se virar, assustado, em câmera lenta (porque isso é uma novela, queira você ou
não), chega perto do leito do irmão, emocionado.
-Bruno...
Bruno, você acordou. Como foi isso?
-O
que eu tô fazendo aqui?
-Você
foi encontrado na rua, caído, sangrando. Eu não posso esconder nada... Seu caso
é grave...
-Sobre
essa... Você podia ter deixado de me contar...
-Eu
vou chamar o médico.
-Não...
Eu preciso contar... Uma coisa... Se eu morrer mesmo... Eu não posso deixar
passar...
-O
quê?
-A
Mell... Ela disse que queria ficar contigo...
-Bruno,
para.
-Não!
Eu tenho que falar... Aproveitar... Que tô vivo...
-Tá,
mas sem tantas reticências que tá chato.
-Tô
agonizando, cara...
-Certo.
Confessa o que quiser agora.
-Ela
ficou comigo... Pensando em você... E eu... Me vinguei... Quis me vingar... Dos
dois.
-A
Mell já conseguiu.
-Ela...
Eu também.
-Você
não tem mais nada pra me dizer.
-Eu
quis... Acabar... Com você... Naquilo... Que mais dói... A Débora...
-Débora...
-Eu
dei em cima dela... Eu levei... Ela... Pra cama... Sem você... Saber...
-Mentira...
Bruno, me diz a verdade... Bruno? Bruno?
E
percebe que o irmão desmaia novamente.
-Essa
não... Doutor Bráulio! Enfermeira!
E
o entra e sai de Robson nessa novela continua sem explicação alguma. É o que os
autores de novela chamam de barriga- aquele momento em que nada acontece.
*****
Mas
Débora continua com sua investigação irrelevante. E faz um flashback de algo
que ninguém percebeu na ocasião.
*****
-Mas
o que é isso?
E
encontra Bruno desmaiado, de cara para o meio-fio com um ferimento na barriga.
Correndo, vêm atrás Seu Mané e Robson, que desconfiam um do outro.
-Eu
vou chamar a polícia. Robson, me dá o celular logo.
-Não,
Débora. Por favor, não chama a polícia.
-Por
quê? O que é que você tem pra esconder, Robson?
Só
que quando ela perguntou isso, ela olhou para o cunhado safado e o pôs em seu
colo. Pelo fato de ter se abaixado, encontra perto de uma galeria uma faca
Ginsu 2000. Logicamente, não toca na arma para não deixar suas impressões
digitais. E pelo inusitado da situação, ela nem se lembrou de avisar ao namorado
que havia achado a prova.
*****
Perto
daquele purificador de água, está Robson, algumas horas após a confissão de
Bruno, tomando uma água perto do portão de acesso às enfermarias. Débora chega
desesperada, correndo.
-Robson,
eu preciso falar com você?
-Débora?
-Eu
descobri uma coisa que pode ajudar a descobrir quem tentou matar o Bruno.
-Mesmo?-
com ar irônico- Eu também descobrir uma coisa muito importante.
-O
quê, então?
Sem
um pingo de cavalheirismo, e reforçando a tese que tudo pode acontecer numa
estória de suspense, Robson joga água na cara da ex-namorada.
-Como
é que você teve coragem de dormir com o Bruno? Como, Débora?
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