11/07/2016

ROMANCES DE ESTAÇÃO/ CAPÍTULO 11: CUIDADO, NÃO A TOQUE!



-Marina, por que sua irmã chegou assim desse jeito? Fala alguma coisa, filha!
-Foi um assalto, Mãe.
-Assalto? Por essas bandas? Levaram o quê?
-Não foi por aqui, Pai, foi na rua do colégio. A gente saiu da apresentação do curta pra comprar um picolé. Veio uma ladra e atacou a Marília com um canivete.
-É pra isso que a gente paga altas mensalidades, pra escola não colocar um segurança que seja?- reclama Jorge.
-Mas a culpa foi minha. Eu que insisti pra Marília comprar um picolé pra gente- chora discretamente.
-Que é isso, filha? Você não tem culpa de
nada, meu anjo...
-Tenho, sim, Mãe. Se eu não tivesse insistido tanto, a assaltante não vinha direto pra gente. Ela viu quando Marília abriu a bolsa e atacou a gente.
-Como é possível uma coisa dessas? Marília, meu amor, você reagiu ao assalto?
-Não quis entregar a bolsa, de tão assustada que tava. A ladra era maior que a gente, começou a bater nela tentando pegar a bolsa. Comecei a gritar pedindo ajuda, ela se assustou e correu. Minha irmã, coitada, veio tremendo pra casa e eu fiquei com a bolsa na mão.
-Vamos pra delegacia agora mesmo. Vocês duas, venham comigo.
-Não, Pai. Deixa pra lá. Eu só quero me deitar...
-Como assim, Marília? Você foi agredida.
-Pai, por favor, me dá um tempo, tá? Eu tô toda arrebentada, morrendo de dor...
-Mas isso é um cúmulo, Marília! Uma pessoa te agride, quase te mata e você vai deixar por isso mesmo?
-Deixa a menina, Jorge. Não vê que ela está nervosa?
-Como sempre, a minha opinião não conta pra nada nessa casa. Por isso que acontecem as coisas com essas meninas bem debaixo do nosso nariz, Laura!
-Para com isso agora! A Marília precisa de proteção, e não de repreensão! Marina, leva a sua irmã pro quarto, que vou fazer uma garapa de açúcar.
-Não quero tomara nada, não, Mãe...
-Vai, sim, que você precisa se acalmar. Passou por um susto muito grande. Ainda bem que não aconteceu nada com você. Leva sua irmã, Marina.
-Vem, Marília- Marina estende o braço para a irmã, que a olha com repúdio.
-Vai, filha. Vai pro quarto com sua irmã. Daqui a pouco eu chego lá.
Sem conseguir entender o propósito da caçula da família, Marília é amparada e conduzida até o local indicado por Laura. Assim que fecham a porta, Marina arruma a cama e afofa um dos travesseiros.
-Se deita, Marília.
-O que você pretende com essa farsa de irmã preocupada? Qual é a tua, Marina?
-Na sala, você não cumpriu sua promessa de dizer que eu te dei essa surra.
-Posso voltar lá e contar, quer?
-Você não vai fazer isso porque hoje descobriu o que é sentir medo pela primeira vez na sua vida.
-Medo de quem? De uma coisinha insignificante como você?
-Quando você me emprestou aquela roupa pra ir à festa do Fabrício, disse que eu não ia caber no vestido. Pois é. Ser mais forte que você me ajudou muito hoje.
-Como você consegue ser tão ridícula, hein? Tá jogando nas minhas costas a culpa pela burrada de ter engravidado do Max!
-O que pode muito bem acontecer com você e o Marcello.
-Não, meu amor, eu não vou pra cama com ele sem me cuidar.
-Mas vai pra cama com ele.  Isso, pro nosso pai, é o fim do mundo. Imagina o que ele vai fazer quando ficar sabendo que você foge de casa noite sim, noite não, pra se encontrar com Marcello tarde da noite? Vai te dar uma surra pior do que essa!
-Chantagem? É pra isso que você vai apelar?
-Presta atenção, imbecil, por mim tanto faz se você transa com ele ou com outro, até porque você já ter passado de mão em mão não é novidade pra mim. O que eu sei é que nunca mais você vai se meter na minha vida.
-O que te garante isso? Quem disse que você não tá falando da boca pra fora?
-Essa lição é só uma prova do que eu vou fazer daqui pra frente. Se eu fosse você, pensava duas vezes antes de abrir essa boca imunda pra falar meu nome. Vou ver se a Mãe fez tua garapa.
-Marina, você tá tramando o quê?- Marília segura o braço da adolescente.
-Paga pra ver, maninha. Só toma cuidado, porque pode respingar em você- retira-se do quarto.

Na manhã seguinte, Marina volta para a escola, sendo abordada por Júlia e por Thales, que toma a palavra.
-O que foi que houve? Te procurei depois do curta, e não vi nem você nem sua irmã.
-Cadê Marília?
-Ela não vem hoje, Júlia. Marília foi assaltada.
-Como assim? Ela tá bem?
-Tá, só foi um susto. Ela reagiu ao assalto e a ladra quis bater nela. Foi horrível.
-Se machucou?
-Foi, mas ela tá em casa. Tá bem.
-Vou dar uma passada na casa de vocês assim que terminar a aula.
-Passa mesmo, Julinha.
-Deixa eu ir, que esqueci o estojo na casa do Fabrício quando fui estudar lá. Tchau, Thales.
-Tchau.
-Que bom que ela saiu. Precisava falar contigo.
-Aconteceu alguma coisa, Marina?
-Lembra que quando a gente foi fazer a cena do flashback no filme, você usou um gravador?
-Lembro, sim.
-Tem como você me emprestar?
-Amanhã eu trago. Mas pra quê você quer?
-Depois eu te conto. Mas eu tô precisando mesmo, Thales.
-Fica tranquila. Amanhã eu te trago.
Max passa pelos dois estudantes, sem cumprimentá-los. Marina fica mexida com o retorno do rapaz.
-Quando foi que ele voltou?
-Ontem. Chegou e o curta já tava na metade- Thales percebe que a moça está um pouco ansiosa- Tá tudo bem, Marina?
-Não. Mas eu te garanto que vai ficar. Vamos pra sala.

Laura vai atender à porta. Júlia veio da escola com Marina.
-Ô, Julinha... Entra, por favor.
-Obrigada, Tia Laura. Como é que tá a Marília?
-Melhor. Mas ainda está muito dolorida. A bandida que atacou minha filha foi de uma violência...
-Pelo menos acabou tudo bem- Marina interrompe a conversa- Vou te levar pro quarto, Júlia.
-Não quer almoçar com a gente, Júlia?
-Se preocupa, não, Tia Laura. Prometo que não vou demorar.
-Não vai mesmo- declara Jorge, alimentando-se sobre o sofá- Daqui mesmo você vai pra casa. Nada de ficar vadiando na porta dos outros, que isso não é coisa de moça direita.
-Pode deixar, sim, senhor.
-Vem, Júlia- Marina vai até o quarto com a amiga.
Toca o telefone. Insistentemente.
-Laura, não vai atender?
-Atende você. Descobre quem é.
-Eu, hein?- atende- Alô?
-Preciso falar com você, não pode me tratar desse jeito, Jorge- grita Olga, desesperada.
-Desculpe, você ligou pro número errado- encerra o telefonema.
-Quem era?
-Engano... Escuta, que história é essa de não querer atender?
-Já ligaram pra cá quatro vezes só hoje. Faz dias que isso tem acontecido.
-E quem é?
-Não faço ideia, o telefone fica mudo. Parece que ouvem minha voz e desligam. Até achei que quisessem falar com você, que fosse do escritório. Nem quando as meninas atendem dizem alguma coisa. Falaram o nome dessa vez?
-Falaram... Perguntaram se... Se era da Avenida Rio Branco.

É dia de prova na escola onde as filhas de Jorge e Laura estudam. Na correria por ter chegado atrasado, Thales aborda Marina.
-E sua irmã? Não vem?
-Acho que ela já entrou na sala, Thales.
-Ela melhorou?
-Aprendeu a lição. Pelo menos, agora a gente sabe que ela não vai voltar a se meter com bandida.
-Olha, eu trouxe o gravador- abre a mochila e entrega- Espero que sirva pro que você quer.
-Tenho certeza que vai servir, sim.
-Quase que eu perco a hora. Vamos entrar.
-Guarda meu lugar, eu tenho que ir ao banheiro antes.
-Tá, mas não demora, Marina.
-Obrigada por tudo, Thales- cumprimenta-lhe com um beijo na testa, deixando o tímido rapaz um pouco corado.
Marina entra no banheiro enquanto todas as outras meninas saem, assim que ouvem o sinal da escola. Ao fechar a porta, é surpreendida por Max, que a abraça.
-Tava com saudade, Marininha?

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