-Fala de uma vez, Doutor!
Eu tenho AIDS? A minha mulher tem AIDS?
-O resultado dos exames não fica pronto agora, só daqui a
dois dias.
-Mas o senhor não desconfia de nada?
-Do quê, exatamente, Laura?
-Não sei, algum sintoma!
-O vírus não se manifesta assim que o indivíduo é
contagiado. A pessoa pode ficar de dois a quinze anos sem manifestar qualquer
sinal de que possua o HIV.
-Quer dizer que o resultado pode dar falso, mas o vírus pode
se desenvolver lá na frente?- Jorge se mostra cada vez mais preocupado.
-Sim, Jorge. Infelizmente a medicina não avançou tanto no
sentido de prevenção. Essa doença só foi descoberta há oito anos.
-E essa informação me serve de quê mesmo?- o
marido de Laura ironiza a explicação.
Passa-se mais um dia, com a tensão tomando
conta de todos os integrantes da família Lemos Andrade. Laura continua com os
afazeres domésticos com aparência abatida, Jorge sai para o trabalho sem
disfarçar sua preocupação e as garotas vão juntas para a escola sem trocar uma
só palavra. Para a mais velha, é inegável que a caçula é a responsável pela
crise no lar, ou pelo menos é tão culpada quanto Jorge. Já para Marina, o
sofrimento tem a ver com a necessidade que a mãe tinha de descobrir sobre o
caso de seu pai.
Marília conta sentada numa das últimas
carteiras da sala de aula, mas sem o mesmo entusiasmo de antes. Júlia, Fabrício
e Marcello tentam falar com a moça, que não quer diálogo nem mesmo com o
namorado. Pouco antes do anúncio do intervalo, Marina pede a Joana para ir ao
banheiro. Com a licença dada pela professora, a adolescente só não espera
encontra no corredor a diretora acompanhada de um senhor.
-Eu já ia mesmo te chamar na sua sala.
-Eu pedi pra ir ao banheiro. A senhora queria
falar comigo?
-Na verdade, quem quer falar é ele, Marina.
-Desculpa, a gente se conhece?
-Não. Meu nome é Breno Balboa. Sou o pai do
Max. Será que a gente pode conversar, Marina?
-Pode ir pra minha sala com ele, Marina. Eu
aviso à Joana que você está com ele.
-Vamos, então?
-Tudo bem. Eu vou com o senhor- Marina
acompanha o empresário até a diretoria, receosa.
Jorge volta à clínica onde fez os exames com
Laura, sem a companhia da esposa. Aborda a recepcionista do local.
-Bom dia, é a respeito do exame que eu fiz
ontem.
-Ah, eu lembro que o senhor esteve aqui com
sua esposa. É o teste de HIV?
-Pois é... – Jorge fica constrangido em
admitir- Eu queria saber se vocês podem me dizer a que horas eu posso pegar o
exame que ficou pra amanhã.
-O senhor não vem com a sua esposa?
-Não, eu vou ter que passar mais cedo amanhã,
por conta de um... De um compromisso.
-Que sorte que o senhor deu. O laboratório
liberou os exames há uma hora, nós já estamos com o resultado. Seu nome é...
-Jorge Magalhães Andrade.
-Deixa eu verificar aqui na pasta... João,
Joel, Jonas, Jones... Aqui: Jorge Magalhães Andrade- entrega o envelope- O
senhor não vai pegar o resultado do teste?-pergunta, ao perceber a aflição do
marido de Laura.
Toca o sinal que anuncia o intervalo. Na
diretoria, estão Marina e Breno.
-Marina, eu queria conversar a sós com você.
-Tô vendo. Só não entendo que assunto o
senhor tem comigo.
-Eu não queria falar na frente do Max porque
nos últimos dias ele tem andado nervoso, irrequieto. Certamente não concordaria
com a minha ideia de vir aqui.
-Por favor... Vai ver foi ele quem veio com essa
iniciativa.
-Meu filho não é essa pessoa que você
descreveu pra polícia, Marina. Ele não é esse monstro...
-Mas a polícia sabe disso?
-O que eu vim te pedir é muito simples. Eu
não sou homem de ficar implorando nada pra ninguém, mas a situação de vocês
dois é muito grave. Marina, eu queria que você pusesse sua mão na consciência.
Thales passa nesse exato momento e se esconde
para escutar a conversa, pois vê que Marina está na sala da diretora da escola.
-Sinceramente, eu acho que o senhor tá perdendo
seu tempo...
-Retira essa denúncia contra o meu filho.
Esquece essa história de abuso sexual que você inventou pra prejudicar o Max.
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