06/07/2016

ROMANCES DE ESTAÇÃO/ CAPÍTULO 6: DO PRINCÍPIO AO SIM



Sem fazer barulho, Marília fecha a porta, comemorando o envolvimento da irmã com Max. Vagarosamente, ele levanta a blusa azul que Marina traja, mas ela se recusa a dar continuidade à situação.
-Por favor, para! Eu não quero isso. Não assim.
-Tem ninguém vendo a gente, não, Marininha... O melhor é aproveitar enquanto a gente pode...
-Max, para. Eu não quero ser mais uma da tua lista.
-Que idiota... – Marília diz para si, ainda escutando o diálogo.
-Tá bom. Quer que eu faça o quê pra te provar? Você não tá me vendo com ninguém. E eu não posso porque não consigo tirar você da cabeça. Fica comigo, Marina.
-A Júlia disse que depois de gravar essa cena, vai chamar todo mundo pra lanchar, e depois a turma volta pro prédio, pra gravar a segunda cena do curta.
-Por que tá me dizendo isso?
-Porque você pode me ajudar a guardar os equipamentos no apartamento da Júlia. Não vai ter ninguém lá até o pessoal voltar, os pais dela estão viajando a negócio...
-Já entendi.
-Marina não é fraca, não, hein?- Marília vibra com o plano da irmã.
-Então, eu te ajudo com tudo- beija-lhe novamente- Vou te esperar.
-Não vai se arrepender, eu te garanto.
Júlia vai à porta do banheiro e encontra Marília, sem desconfiar de que ela escuta toda a conversa.
-Marília, faz um favor pra mim? Avisa a eles que já podem sair pra gente gravar o segundo take.
-Tá bom- abre a porta- Ô, casal de cinema, vão ter que rodar de novo.
-Obrigado, Marília- Marina limpa a boca levemente borrada. Depois, os dois saem do banheiro.
-Gente, antes da gente gravar a segunda cena, eu quero convidar todos vocês pra almoçar na lanchonete que fica no próximo quarteirão.
-Já tá mais que topado- avisa Caíque, seguido de outros alunos que aprovam a ideia.
-Eu vou ficar aqui, Júlia.
-Por que, Marina? Vai recusar o convite da Júlia?- Marília finge não saber dos planos da irmã.
-Pra ajudar a organizar essa bagunça que ficou aqui na piscina, e levar tudo pra dentro.
-Menina, deixa disso, tem a diarista pra dar conta disso.
-Você dispensou a empregada. Lembra, Júlia?- Max toca em um ponto que lhe é favorável.
-Ah, é mesmo. Mas vai ficar muito pesado pra você sozinha, amiga.
-Pode deixar que eu dou uma mãozinha pra Marina.
-Ou uns pegas, que eu bem sei- Caíque comenta com Thales.
-Deixa de falar besteira.
-Thales, acorda. Se esses dois não tiveram nada ainda, a chance vai ser essa.
-Se é assim, eu também fico, Marina!- Thales surpreende a todos.
-Na boa, cara, não precisa. Eu sou forte, carrego o equipamento sem problema.
-Imagina. Se você fez esse favor pra Marina, dá muito bem pra eu ajudar também. A não ser que tenha algum problema nisso, ou tem?
-Não viaja, nerdzinho... – diz, contrariado.
-Bom, vamos rodar de novo?- pergunta Júlia, indiferente ao clima.


Em sua sala, Jorge analisa alguns contratos de sua empresa, enquanto Laura varre a casa.
-A casa está muito silenciosa. As meninas estão estudando?
-Foram pra casa da Júlia.
-Sei... Já reparou que essa Júlia nunca mais veio aqui?
-O que quer dizer?
-Que elas andam se deslocando bastante pra lá ultimamente.
-Isso é por causa de um trabalho que a professora de português passou.
-Em plenas férias? Não vai me dizer que elas ficaram de recuperação?
-Joana passou um filme, Jorge. Um filme pra elas produzirem. E como só vai ser possível ter tempo livre agora em julho...
-Sei... Tomara que não usem esse pretexto pra libertinagem fora de casa.
-Credo, Jorge, isso é coisa que se diga? Por acaso não confia na educação que nossas filhas receberam?
-Claro. Eu não confio em hormônio de adolescente. Ainda mais agora, que a juventude anda contestadora demais. Já estou vendo a cena: falo que um rapaz tem direito a passar o tempo que quiser na casa da namorada. Mas se eu estabelecer limite de horário, Marília já reclama logo. Não é assim que funciona com ela e o tal de Marcello, o maloqueiro?
-Tudo bem, confesso que Marília é um pouco difícil de lidar.
-Mas nada que eu não resolva cortando as asinhas dela. Filha não é mais do que eu de jeito nenhum. E depois que ela repetiu de ano é que eu ando mais cabreiro com ela.
-Pelo menos a Marina não dá nenhuma dor de cabeça. É mais ajuizada que a irmã.
-Claro, puxou a mim!
-Jorge, onde é que você estava mais cedo?
-Numa reunião com um cliente.
-Homem ou mulher?
-Laura, isso faz alguma diferença?
-Desde que você não traga manchas de batom, como nessa camisa que está usando, faz uma diferença enorme!
-Qual é o problema? Por acaso eu não posso cumprimentar minhas clientes com um beijo, ser respeitoso?- levanta-se do sofá e vai para o quarto terminar a análise- Vê se não delira.


À noite, as duas irmãs estão em seu quarto, conversando sobre o filme.
-E aquela cena em que tua personagem descobre ser "tocada"?- Marília se refere ao fato de que a personagem principal, por ter relações sexuais sem preservativo, é contaminada pelo vírus da AIDS.
-Nossa, muito difícil de fazer aquilo.
-Ficou concentrada demais? Arrasou, maninha!
-Que nada, acho até que fiquei bem nervosa.
-Não será por causa de quem tava contracenando contigo, não?
-Mas você não deixa passar um detalhe só, Marília?
-Seu problema é que você é muito transparente. Tá na cara que você e o Max ainda vão... –ambas riem- Mas tinha que ter aquele estraga-prazeres do Thales pra se meter.
-Acha mesmo que ia acontecer alguma coisa se a gente tivesse ficado sozinho no apartamento da Júlia?
-Óbvio que ia rolar! O bom é que o Max é persistente, ele não vai desistir tão fácil de você.
-Se é que ele tá interessado em mim mesmo.
-Se tá ou não, aproveita enquanto ele quiser. Porque depois, meu bem, vai ser difícil de agarrar aquele gato de novo.
Laura entra no quarto.
-Marina, telefone pra você lá na sala.
-Quem é?
-Disse que é o namorado da Júlia.
-Fabrício? O que é que ele quer?
-Não sei, minha filha, vem atender.
-Tudo bem. Já venho, Marília- Marina levanta da cama e se dirige à sala.
-O Fabrício de conversa com a minha irmã? Duvido muito... –constata a filha mais velha de Laura e Jorge.
Marina toca no telefone, sendo observada por Laura.
-Oi, Fabrício, pode falar- diz ao atender.
-Sou eu, Max.
-O que... O que é que você quer?
-Amanhã, antes de ir pro apartamento da Júlia, eu quero você na minha casa. Amanhã, sem falta. Se você não for, eu vou até aí.

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