-Por quê... – Marina percebe que Laura e a irmã lhe
observam no corredor que dá acesso à sala- Por que isso, Fabrício?
-A gente tem que terminar o que não começou. Pede pra sua
irmã explicar o caminho da minha casa.
-Tudo bem. Obrigada.
-Um beijo- Max desliga o telefone, enquanto Marina
continua com o aparelho na mão, disfarçando de maneira bastante precária sua
alegria.
-Era o namorado da Júlia mesmo? O que ele queria com
você, filha?
-Ah, Marina, não acredito!
-O que foi, Marília?- quando Laura faz essa pergunta, a
caçula da família nota que a irmã usa uma estratégia para encobri-la.
-Marina, bem que eu senti falta: a sua mochila! Você
esqueceu na casa da Júlia.
-Foi isso mesmo, filha?
-Foi, Mãe. O namorado dela me ligou pra avisar que eu
tinha deixado a bolsa no apartamento. Júlia pediu pro Fabrício me avisar.
-Tanta felicidade assim por causa de uma bolsa?
-Fiquei aliviada, Mãe, não me lembrava de onde foi que eu
tinha deixado.
-Pelo menos amanhã você vai recuperar. O seu namorado vem
pra cá hoje, Marília?
-Vem, sim, eu marquei com ele.
-Diz pro Marcello, então, que não é pra ele demorar.
Jorge vai chegar um pouco tarde, mas não quer ver ele aqui até altas horas da
noite.
-Pode deixar que eu aviso a ele.
-Deixa eu forrar a mesa da cozinha pra servir o jantar-
Laura deixa a sala.
-Você ficou maluca? Que história é essa de mochila? Minha
mochila tá dentro do quarto, Marília!
-Era o Max te ligando, né?
-Como é que você sabe?
-Sua cara, né, Marina? Mas me conta: o que foi que ele te
falou?
-Quer me ver no apartamento dele amanhã, antes da
gravação no apartamento da Júlia. Disse que era pra você me dar o endereço.
-Nem pense em recusar. Se o Max demonstrou esse interesse
todo, a ponto de fingir que era o Fabrício e te ligar...
-Tá, mas e a mochila? Mainha varre o quarto todo dia bem
cedo, amanhã ela vai ver que tá lá dentro.
-Só se... Já sei! Vamos aproveitar que o Marcello vem pra
cá hoje de noite e a gente diz pra ele levar tua mochila, e te entrega amanhã
quando for a hora de gravar o curta. Se a Mamãe vasculhar tuas coisas, ela não
vai encontrar nada.
-Marília, você tem certeza?
-Claro, boba, e digo mais: amanhã, nós duas saímos
juntas, como de costume. Você vai pro apê do Max e eu vou pra Júlia. Já
aproveito e deixo ela e o Fabrício ligados. Se Mamãe perguntar, eles vão
confirmar que a bolsa está lá.
-Ah, não, Marília, eu não quero que os outros fiquem
sabendo o que tá acontecendo entre mim e o Max...
-Se esqueceu de que não aconteceu nada, Marina? Ninguém
pode te acusar... O Max só te pediu pra passar na casa dele. Vocês estudam na
mesma sala, isso é normal. Agora, o que vai acontecer depois dessa sua visita,
aí é problema de vocês. Mas se eu fosse você, não perdia uma oportunidade
dessas.
Dez e meia da manhã e toca a campainha do apartamento de
Max. O rapaz, coberto apenas por uma toalha, atende a porta, mas não sem antes
sorrir e constatar, pelo olho mágico, de quem se trata.
-Desculpa, eu não sabia que você...
-Tem problema, não, Marininha... Tava indo tomar banho
pra ir até a gravação. Mas já que você chegou, entra aí... – a adolescente
entra, insegura- Quer beber alguma
coisa?
-Você sabe que eu não bebo. Aliás, todo mundo tá cansado
de saber.
-Sempre tem a primeira vez pra tudo, pode ser que a sua
seja hoje. A nossa... - a afirmação deixa Marina tensa, mas Max ri- Relaxa,
gata. Eu também não bebo, se esqueceu de que eu tenho dezessete? Meu velho pega
muito no meu pé, pelo menos nesse sentido.
-É, mas eu não sou assim por causa dos meus pais. Sou
porque gosto de ser assim.
-Também não precisa ficar na defensiva, eu não vou fazer
nada. Não sozinho.
-Max, por que você vai direto ao assunto?
-É assim que eu gosto... Se eu soubesse que você era
assim, tinha investido há mais tempo.
-O que é que te atrai em mim? Essa máscara que eu tô
usando? Esse jeito novo não é meu. Foi só pra chamar sua atenção.
-E conseguiu. Sabe, eu me sinto um idiota de não ter
sacado qual era a sua, que você tava pensando em mim o tempo todo.
-Vai ver porque já se acostumou. Quantas meninas não fazem
a mesma coisa por sua causa?
-Não é nelas que eu tô pensando agora, é em você.
-O que você acha que vai conseguir com esse seu jogo?
-Te dar o que você quer, que é o mesmo que eu.
-Será? Será mesmo que você sabe o que eu quero? O que eu
vejo que pode acontecer entre nós dois?
-Quando você olha pra mim, me acha bonito, capaz de
atrair qualquer menina, mas não enxerga aquilo que procura: um cara sério, pra namorar,
que te assuma, que te pegue pela mão e se apresente pro teu coroa, pedindo sua
mão em namoro. Sinto muito, mas esse cara não sou eu. Isso não impede que a
gente se divirta juntos. E talvez, se a gente gostar de hoje, repita quantas
vezes a gente quiser.
-Já entendi- diz, com certo ar de desapontamento- Pra
você, eu quero um namorado...
-O que eu posso ser pra você é o mesmo que eu sou pras
outras. O meu jogo só funciona assim, Marina, porque eu sei que sou capaz de
dar o prazer que você tanto quer. Agora, se você não quiser...
-Pela sua cara, você já sabe qual vai ser a minha
resposta, não é?
-Pois é. Eu imagino.
Marina dá as costas para Max e tranca a porta do
apartamento, tirando a chave da fechadura e jogando sobre o sofá da sala. Em
seguida, encosta-se ao torso do rapaz, que não entende a proposta da
adolescente.
-Você tem razão quando acha que eu não sou igual às
outras. Não sou mesmo. A diferença é que elas sempre pensaram que você fosse
capaz de dar prazer. Não quero isso de você, Max. Eu não vim aqui pra receber.
Vim pra gente trocar.
-Para de brincar com fogo, menina...
-Mas eu não quero parar. Eu vou até o fim, assim como
você. Com você!
Aos poucos, o beijo que Max e Marina trocam é capaz de
lhes tirar o fôlego. Enquanto a beija, o rapaz desabotoa a blusa enquanto ela
solta os cabelos. Logo, ele a vira de costas para abrir o sutiã. Marina sorri, demonstrando
para o amante uma confiança que nunca teve nem em si mesma. O jovem tenta levar
a parceira para seu quarto, mas ela não dá permissão para outra coisa não ser a
troca de carinhos mais íntimos.
UM MÊS DEPOIS...
Tomando café da manhã com seu pai, o empresário Breno,
Max não dialoga. Ainda assim, o homem procura conversar com o filho.
-E como está indo na escola?
-Daquele jeito, que o senhor sabe.
-Ou seja, do jeito que não é do meu agrado. Aliás, você
já se decidiu pra que vai prestar vestibular?
-Não faço ideia.
-Deveria. A inscrição é para ser feita no mês que vem.
-É, mas até lá, eu me decido.
-Max, você acredita que pode viver dessa forma até
quando? Sem arcar com suas decisões?
-Pai, sermão a essa hora não, né? Por favor.
-Talvez seja a hora de intervir a seu favor. Ser um pai ausente
não te ajuda em nada.
-Quê que é isso? Atestado de culpa?
-Olha, Max, não pense você que eu fecho os olhos pra tudo
que você faz ou deixa de fazer. Eu acho que o que você precisa é passar um
tempo a mais comigo, no meu trabalho. Afinal, um dia você vai tomar conta de
tudo o que eu comando, não é?
-Pois é, mas não agora. Nem precisa pensar nisso.
-Escuta, você não tem aula nesse horário? Sempre sai
antes de mim...
-Pois é, mas o professor de Educação Física não vem hoje.
Por isso, eu vou chegar mais tarde- mente para faltar- Acabou o interrogatório,
Dr. Breno?
-Acabou. Mas não esquece o que eu te falei.
-Posso levantar pra escovar os dentes agora?
-Max, não brinca com sua vida. Pensa no que você faz com
ela, tá bom? E tem outra coisa que eu preciso te falar.
-Ah, o que é?
-O assunto é sério, Max. Muito sério.
-Diz, então.
-A empresa terá que fazer uma conferência em Roraima. Vou
passar dez dias lá.
-E?
-E é óbvio que você vai comigo, Max!
-Peraí, eu não posso ir. Eu tenho escola, prova pra
fazer...
-Nossa, como você se preocupou rápido com seus estudos...
Acontece que você é menor de idade, não pode ficar sozinho aqui. Quanto às
provas, eu vou entrar em contato com a diretoria do colégio e explico a
situação pra você fazer segunda chamada.
-Tá bom, então, se não tem outro jeito... Quando é que a
gente vai?
-Hoje à tarde.
-E só agora você me avisa?
-"Senhor" pra você. Como eu posso te encontrar,
se você se enfia na praia ou na casa das suas amigas? Isso quando não as coloca
dentro de casa, que eu bem sei. Quanto a isso, você não se preocupe. Na hora do
almoço, eu passo aqui e vou arrumar nossas malas.
Marina e Marília estão no banheiro. A primeira está
trancada enquanto a outra lava o rosto na pia e coloca outra farda. A caçula da
Família Lemos Andrade sai, empalidecida.
-Nossa! Você passou mal mesmo na aula de Educação Física.
O que foi?
-Tô enjoada de novo. Já faz uns dias que eu ando assim.
Sem comer nada estragado, até porque se eu coloco alguma coisa no prato, já me
sinto mal.
-Quantos dias você tá assim?
-Faz umas semanas, Marília.
-Me diz uma coisa: a sua menstruação tá vindo normal?
-Não vem faz uns dias, Marília. Por quê?
-Ai, não pode ser...
-O que foi?
-Sua tonta! Será que você não sacou ainda? Você só pode estar
grávida do Max!
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