12/07/2016

ROMANCES DE ESTAÇÃO/ CAPÍTULO 12: FOI EMBORA, MAS EU NUNCA DISSE ADEUS


-Quer sair daqui? A diretora pode passar e te ver, aí eu perco a prova!
-Qual foi, Marina? Parece até que tá me evitando...
-Pelo menos aqui, sim!
-Eu quero te ver. Hoje.
-Não vai dar, amanhã a gente tem prova e eu tenho que ir pra casa estudar.
-Inventa uma desculpa. Vai inventar de negar fogo agora? Nunca foi disso.
-Max, para de complicar a minha vida.
-Só tô te dando aquilo que nós dois queremos, gata.
-Tá, tá bom. Mas não pode ser a tarde toda, nem eu posso sair daqui direto pro teu apartamento.
-Eu espero. Já não tô aguentando mais de saudade de você- quase beija a moça, mas ela o repele.
-Eu também. Mas é melhor guardar essa vontade toda pra mais tarde. Aqui não vai ter graça.
-Ou a brincadeira pode ficar mais divertida.
-Esqueceu que o que a gente tem é uma troca? Nada é na hora que eu quero, nem na hora que você quer. Conversando, a gente sempre chega num acordo. É assim que funciona.
-Você venceu... Até as quatro horas. Senão eu passo na tua casa.
-E vai dizer o quê, Max? Se meu pai te pega, ele te mata. Pior: me mata.
-Teu velho não vai fazer nada, a não ser que você não apareça na minha casa. Mas é claro que você não vai correr esse risco, né, Marininha?- beija-lhe rapidamente- Te espero até as quatro- sai do banheiro.
-Se prepara mesmo. Porque nunca mais você vai se esquecer de mim. Canalha!

Marília e Marina voltam pra casa, e Laura as recebe em casa.
-E então? Foi boa a prova de hoje?
-Fácil.
-Médio- retruca Marília.
-Mãe, eu combinei com a Júlia de estudar na casa dela agora de tarde. Tem problema?
-Tua irmã vai?- Jorge ouve a conversa da sala de jantar e pergunta.
-Sem condições, Pai. Tô toda arrebentada ainda, já tô indo fazer prova a pulso.
-Nesse caso, você não pode ir, Marina. A não ser que eu leve você.
-Que é isso, Pai? Tá desconfiando de mim? Acha que eu vou pra algum lugar sem avisar?
-Ué, sua mãe disse que enquanto você estava convalescente, saiu e não disse pra onde ia. E depois de tudo que aconteceu, acha mesmo que eu posso confiar de olhos fechados?
-Então, tudo bem. Liga pra Júlia.
-Sua amiga? Aposto que vocês combinaram de confirmar essa história pra boi dormir.
-Jorge, você está se excedendo...
-E você, como sempre, se excetuando do que acontece com suas filhas. Quer que aconteça o quê, Laura? Outra gravidez?
-Se o senhor não confia em mim, tudo bem, Pai. Me leva pra lá, então. Me deixa no apartamento da Júlia. Não é caminho pro seu trabalho?
-Ótima ideia, Marina.
-Isso que você está fazendo com a nossa filha é uma barbaridade. Trata a menina como se fosse uma criminosa.
-Se eu não fizer isso, talvez ela acabe virando uma. Já disse milhões de vezes e vou repetir quantas vezes for preciso: vou defender a honra da minha família, nem que eu tenha que comprar briga com todas vocês!

Jorge cumpre a promessa e leva a filha mais nova até o apartamento de Marina.
-Obrigada por me trazer.
-Antes de descer, eu só vou te dizer mais uma coisa.
-Outro sermão?
-Marina, me escuta bem. Eu não sou a Laura, que passa a mão na cabeça depois de qualquer burrada que vocês façam, não. Toma cuidado com a sua vida.
-Não se preocupa comigo. Quando eu vou dormir, vou sem peso na consciência, sem me preocupar com o que eu fiz ou deixei de fazer. Já o senhor, eu não sei.
-Quer dizer o quê com isso? Fala na minha cara!
-Se você não se arrepende de nada do que fez e ainda tá fazendo comigo, não sou eu quem vai apontar o dedo na sua cara. Posso sair do carro agora?
-Pode. Quando terminar, liga pro meu trabalho, que eu venho te buscar. Agora, desce.
Marina obedece ao pai e toma o elevador para chegar ao apartamento de Júlia. Toca a campainha, bastante nervosa, com a mochila na mão.
-Marina, o que é que você tem?
-Preciso de um favor seu, Júlia.
-Fala, menina.
-Teu pai tá usando aquela máquina de escrever que vocês têm no quarto dele?
-Não, meu pai saiu, como sempre. Você sabe que ele e a Mamãe vivem ocupados.
-Será que eu posso usar? Eu prometo que eu não vou demorar.
-Claro que pode, boba, entra no quarto.
-É... Tem outra coisa que eu queria te pedir, Julinha: pra você não ler o que eu vou escrever.
-Tudo bem, Marina, mas... O que tá acontecendo?
-Daqui a um tempo, eu vou te contar. Mas por enquanto ninguém pode saber.
-Calma, você não veio pra estudar pra prova de amanhã comigo?
-Não, eu tenho um compromisso pra daqui a pouco, não posso me atrasar.
-Espera! Você não vai me dizer que tá dando trela de novo pro Max, depois do que ele te deixou passar?
-Isso não. Mas confesso que ele vai pagar pelo que me fez.
-Esquece isso, Marina. Não vale a pena armar nada contra ele. Você já abortou seu bebê, e essa decisão foi só sua.
-Foi dele também. Foi também do meu pai. Antes, eu me sentia constrangida pelo que eu tinha feito, Júlia. Agora eu sinto nojo deles dois, e de mim também.
-Acontece que você não tinha saída, Marina. Era isso ou ficar na rua, grávida de uma criança que você não queria.
-Mas não é justo eu me sentir culpada, enquanto eles vão continuar fazendo o que der na telha, enquanto eu me consumo de culpa! Eles não podem sentir na pele, mas eu vou fazer sentirem bem pior!
-Ouve só o que você tá dizendo, Marina!
-Eu não aguento mais, Júlia! Vou ficar louca se eles não pagarem pela morte do meu filho.
-Marina, era um feto. Não tinha ainda uma vida dentro de você. E depois, aborto é ilegal, mas foi justamente pra te poupar de outra dor de cabeça! Essa criança não chegou nem a nascer!
-Mas podia ter uma vida melhor do que a minha. Sabe qual é o pior disso tudo? É que a assassina sou eu, a mãe!
-Você não é mãe de ninguém, Marina. Nunca foi...
-Para de passar a mão na cabeça deles, Júlia! Abortei pra não perder nem o Max nem o respeito do meu pai. Um me olha com indiferença e outro me quer como se fosse mais uma das piranhas que ele leva pra cama!
-E é disso que você vai passar a viver? De vingança?
-Tá me achando um monstro, não tá? Mas não sou pior do que eles. Se você soubesse do que eu sei, e do que eu vivi por culpa do meu pai e do Max, faria a mesma coisa.
-OK, Marina. Usa a máquina de escrever do meu pai. Mas me promete que não vai fazer nenhuma burrada.
-Só se eu voltar atrás em tudo que eu acabei de te dizer.

Antes das quatro horas da tarde, o horário combinado na escola, Marina chega ao apartamento de Max, que atende com euforia. Entra ela subitamente.
-E aí, gata? Quer beber alguma coisa?
-Água gelada!-diz, em tom gélido- Cansou de saber que eu não bebo.
-Sabe que eu fiquei pensando em nós dois nesses dias que eu fiquei fora?
-Eu também. Não tem um só segundo que você não fuja da minha cabeça.
-E a saudade aumentou, sabe por quê? Completei dezoito anos lá onde eu tava. Tudo que eu queria era comemorar contigo, já tava contando as horas.
-Que estranho. Chegou e nem perguntou como é que eu tô?
-A gente tem tudo, menos compromisso, lembra?- envolve-lhe em seus braços.
-Mulher gosta de ouvir essas perguntas.
-Então, tá. Você... Resolveu aquele problema que me contou antes de eu ir pra viagem?
-Se preocupa com isso, não, meu gostoso. Pode fazer o que quiser de mim porque eu aprendi a lição. Tomei a pílula antes de vir pra cá.
-Menos mal- abre um sorriso.
-Só que hoje vai ser diferente, Max. Eu é que vou ditar a regra do jogo.
-Como sempre, querendo ser mais do que eu...
-É só um jogo, cara. Garanto que é excitante pra qualquer homem.
-Sabe disso como? Indo pra cama com cada um deles?- a grosseria de Max deixa Marina momentaneamente encabulada, mas ela prossegue com o flerte.
-O que a gente tem é uma troca, certo? Mas todo mundo sabe que homem gosta mesmo é de pegar de jeito, de dominar. Nunca de ser dominado.
-Gostei disso... Fala mais.
-Que tal se hoje você fizesse uma coisa que nunca fez comigo?
-Como o quê, Marina?
-Tudo. A diferença é que eu vou fingir que não quero. Vou te pedir pra parar, e quanto mais pedir, mais você ignora meus pedidos. A única coisa que vai importar aqui é o que você sentir. Só que tem uma coisa: eu quero durante essa tarde inteira, sem parar. Quanto mais eu implorar pra que você pare, mais você me dá prazer.
-Caramba... Não pensei que você gostasse tanto de mim a esse ponto!
-Sabe por que eu gosto de você, Max? Porque você não pensa. Você faz. Vem- conduz lentamente o rapaz até o banheiro do apartamento, levando consigo a bolsa levemente aberta- Não me deixa fugir daqui, não me deixa sair...
-Se é assim que você quer... Meu desejo é uma ordem.
Max empurra Marina contra a parede do local, e ela solta a bolsa no chão.
-Que é isso? Que você tá fazendo? Me larga, Max!
-Pode gritar, que ninguém vai te ouvir. Você vai saber o que é homem de verdade, Marininha. Vai saber e sentir!- desabotoa a blusa da adolescente com uma das mãos, enquanto a outra abre o fechecler de sua calça, dando leves mordidas no pescoço da moça.
-Não faz isso comigo! Por favor, para! Para, Max! Para!
Max dá uma bofetada no rosto da moça, que grita.
-Nunca mais você vai pedir pra eu parar- retira o sutiã que ela traja, voltando a acariciá-la.

DIAS DEPOIS...

Breno toma café sozinho. Max ainda está dormindo no quarto.
-Acorda logo, filho, senão você vai se atrasar.
Alguém bate a porta, e Breno corre para atender.
-Bom dia. O senhor é Max Balboa?
-Não, eu sou o pai dele.
-Ele está?
-Max!- grita, quando o rapaz sai em trajes íntimos do quarto- Vê se põe uma roupa...
-Você que é o Max Balboa?
-Tá falando com ele. Quem é você?
-Oficial de justiça. Você pode assinar aqui, por favor?
-Pra quê isso?
-O que o senhor quer com meu filho?
-Eu não posso dar muitas informações a respeito, meu senhor. Assim que ele abrir a carta, vai entender.
-Tudo bem. Deixa que eu assino- Max pega a caneta do oficial e coloca seu nome.
-Obrigado. Tenha um bom dia e compareça no local e data determinados- o oficial se retira.
-O que é que a Justiça quer com você? O que foi que você aprontou?
-E eu sei lá por que querem falar comigo, velho?
-Deixa eu ver isso daqui- Breno abre a intimação.
-O que tá dizendo aí, Pai?
-Você vai ter que comparecer à Delegacia da criança e do adolescente.
-Mas por quê?
-Tem uma garota, menor de idade, te acusando de estupro!

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