-Escuta só, cara, você não acha que tá pedindo demais,
não?
-Que foi, Thales? Tá com ciuminho da Marina, é?
-Não é nada disso, é que... – Thales procura esconder o
sentimento que tem pela colega- Marina não fez teste pra protagonizar o filme.
-Nem vai ter teste, Thales- Marília se põe entre os
rapazes- Max foi convidado pela gente, e nem ele nem ninguém vai passar por
porcaria de teste nenhum.
-Você quer o quê? Acabar com o trabalho? Esse cara não
deve nem saber atuar!
-Tá me tirando, rapaz?- Max adota um tom ameaçador- Se você
não sabe, eu fiz um curta no ano passado, faço melhor o papel do que qualquer
pangaré desse que se acha ator na sala.
-Quanta aplicação como aluno. Pena que reprovou de ano.
-Por favor, parem de brigar!- Marina apazigua a situação-
Se é esse o trato que você quer fazer pra ficar no filme, eu topo.
-Como assim? Você vai fazer o que esse cara quer?
-Pelo bem do filme, Thales. Ele precisa tanto de nota
quanto a gente.
-Sim, e por causa disso você vai fazer o que ele quer? Eu
falo com a professora, ela arruma outra pessoa pra fazer o protagonista...
-Relaxa, nerdzinho... Ninguém tá colocando minha irmã na
toca do lobo, não. Marina vai porque quer.
-Tá, mas eu não quero Max no filme.
-Você não tem que querer nada, nós duas falamos com o Max
ontem e ele ficou de pensar. Não foi, Marina?
-Max vai fazer o papel. Depois, a gente decide quando e
onde vai ser a gravação.
-Quem sabe é você, Marina- diz Thales, desapontado, sob o
olhar triunfante de Max. Em seguida, a garota se aproxima do jovem
conquistador.
-Obrigada por aceitar.
-Depois de ontem, eu tenho certeza de que vou me divertir
muito fazendo o filme.
-Ah, é? Por quê?
-Porque você vai se divertir comigo, isso eu te garanto-
sussurra no ouvido da moça antes de voltar para o seu lugar, e Joana prosseguir
a aula.
EM JULHO DE 1988...
Jorge está na cama, coberto por um lençol, fumando sobre
a cama de Olga. Ela está enchendo um copo com água, segurando um antitérmico.
-Ainda não melhorou da febre?
-Nem um pouco, ela não quer ceder.
-Devia procurar um médico. Você é do ramo, conhece gente
demais...
-Tá louco? Vou me apresentar por aí como médica? Se
alguém me reconhece, eu vou pra cadeia.
-Mas já faz dias que você está assim, sem melhora.
-Pensei que você não tinha notado, tá sempre com pressa
quando chega aqui.
-Principalmente hoje, que é sábado. Viu só? Se eu não
gostasse de você, não teria tirado um tempinho da minha folga pra estar aqui. E
depois, você não pode me cobrar nada. Nunca te exigi nenhum voto de castidade,
muito menos prometi fidelidade à nossa relação. Tem funcionado tão bem até
agora, por que vamos estragar?- levanta-se da cama, em pelo, e abraça a amante.
-Existe uma coisa que eu quero te perguntar.
-Fala depois, Olga- beija-lhe.
-Calma aí, me deixa falar...
-Tudo bem, o que é?
-Se um dia alguém descobrisse o nosso caso, o que você
faria?
-O que você quer que eu faça? Largue a Laura e fique com
você?
-Isso sempre foi uma dúvida que me incomodou.
-Tudo bem, Olga: se por acaso eu me separasse da Laura,
nós viveríamos juntos. Mas eu não posso pôr a família que construí em risco. E
depois, o que nós temos sempre foi tão prazeroso, tão excitante que... Não vale
a pena desperdiçar nem um só segundo. Sempre esteve bom assim, não foi?
-Tem razão.
-Vem- desabotoa a blusa da médica- Me deixa amar você e
fazer se sentir mais quente que agora- Jorge respira ofegante diante do rosto
de Olga, enquanto passa a mão pelo corpo curvilíneo da amante.
A piscina do prédio em que Júlia mora é o cenário da
primeira cena gravada para o filme "Vítimas da malícia". Marina é
arrumada por sua irmã, enquanto Max lê o roteiro, sem muita atenção. Thales
está com uma cópia do roteiro, enquanto Caíque (outro adolescente pertencente à
turma) segura a câmera.
-Marina, pode vir pra cá. Você também, Max- Thales
orienta os jovens.
-Fala aí, nerd. O que é que a gente faz?
-Você não leu a cópia que eu te dei, Max?
-Assim, por alto...
-Explica pra ele, Marina...
-A cena é simples, e não tem fala, Max, eu vou passar no
meio do pessoal que está dançando na festa. Você vai me ver de longe e vai
atrás de mim. Eu vou entrar no banheiro. Só tem que me seguir.
-Só isso?
-Só. Você acha que consegue fazer a cena?- Thales
procurar atiçar a ira do colega.
-Lógico, nerd!
-Vamos começar a rodar, então. Marília, põe a música pra
tocar na radiola. Tudo mundo dançando assim que começar, ouviu? Caíque, você
começa filmando a Marina indo pro banheiro.
-Beleza.
Marília coloca um long play para ser executado: "Voo
de coração". Seleciona a faixa mais conhecida do álbum: Menina veneno.
Enquanto todos dançam, Marina caminha em direção ao banheiro e Max obedece ao
roteiro, indo atrás da moça. Thales orienta o amigo Caíque.
-Agora continua filmando o pessoal dançando aqui- diz em
voz baixa, para não atrapalhar o andamento das gravações.
Dentro do banheiro, Marina está de costas para Max, que
diz:
-Você já sacou que eu tô afim de você, né?
-Que é isso? Resolveu ensaiar a continuação da cena logo
agora?
-Só tem a gente aqui dentro. Não precisa ficar com medo
de mim. Até porque você quer a mesma coisa que eu.
-Eu... – pigarreia- Acho melhor a gente sair, pode ser
que Thales tenha terminado de rodar a cena.
-Ainda não acabou. Quando terminar, vai chamar nós dois.
Bem que a gente podia aproveitar.
-Pra quê?
-Não se faz de difícil, Marina.
-Fácil é que eu não sou!
-Gostei de ver. Decidida, sabe o que quer, diz na lata o
que sente... Antes não era assim. Mudou por causa de mim, não foi?
-Convencido...
-Então, foi por causa do quê?
-Porque eu quis. Não posso?
-Tem que ter um motivo, e eu sei que sou eu.
-Max, eu sinto te informar, mas você não é o último
menino da face da terra.
-Sou só o que você quer. Diz que é mentira...
–aproxima-se da adolescente.
-Para com isso. O que você ia querer comigo?
-Com você, eu não
quero nada. Quero você- Max a pressiona contra a parede e lhe dá um beijo,
testemunhado por Marília.
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