08/07/2016

ROMANCES DE ESTAÇÃO/ CAPÍTULO 8: DEIXANDO ESCAPAR SEGREDOS



-Você tá viajando, Marília... Que ideia é essa?
-E por que não? É possível, sim! Você e o Max usaram camisinha?
-Será que dá pra parar de se meter na minha intimidade, se não for pedir muito?
-Responde, Marina!
-A gente transa com camisinha, sim...
-Todas as vezes?
-Da primeira vez, não...
Marília suspira fortemente, atordoada.
-Pelo menos você tomou a pílula do dia seguinte?
-Ah, Marília, como é que eu ia me lembrar disso?
-Você tinha que se lembrar. Tem que se lembrar! Caramba, Marina, é o que mais se fala na aula de Biologia. Como é que você dá um escorregão desses?
-Demos, né, minha irmã? O Max e eu.
-Não importa. Não é ele que tá esperando um bebê, é você!
-Fala baixo, quer que o pessoal da sala escute?
-Pior vai ser quando o Papai souber, não quero nem imaginar.
-Se nem eu sei se estou grávida, imagina ele? Como é que tiro a dúvida?
-Já sei: vamos falar com a Júlia.
-Não, Marília, não vamos colocar mais gente nessa história...
-Fica tranquila! Eu vou pedir pra Júlia comprar um teste de gravidez na farmácia e peço pra ela levar lá pra casa. Você se tranca no banheiro e faz o teste, pronto.
-Pra você tudo é simples, não é?
-Quem complicou as coisas foi você, agora aguenta! E vê se fica calma.

Ao entardecer, Laura sai para fazer compras num supermercado, e Júlia aproveita a ausência da dona-de-casa para entrar na casa de suas amigas, entregando à Marina o teste. Nervosa, esta entra no banheiro, enquanto Marília espera, junto com Júlia, no quarto o resultado.
Minutos depois, as moças estão apreensivas. Marina sai do banheiro, sem o resultado do teste nas mãos.
-O que foi que deu, Marina?
-Positivo, Júlia. Eu tô esperando um filho do Max.
-Não sei nem o que dizer, Marina... – Júlia fica atordoada com a revelação.
-Eu tenho que falar com ele, vou até o apartamento- Marina tenta correr.
-Liga pra casa dele antes, Marina, pode ser que ele tenha saído- Marília sugere.
-Tem razão- Marina vai até o telefone e digita o número- Ninguém atende, que droga. Eu vou até lá!
-Marina, por favor, se acalma, a gente vai com você.
-Deixa ela, Júlia. Esse assunto é entre eles- alerta a irmã mais velha.
Marina pega uma carteira dentro do quarto e desce para tomar um táxi.
-Pelo amor de Deus, Marília, ela não pode sair assim nesse estado.
-Se a gente for com ela, vai ser pior. Isso tem que ser a sós. Mas eu vou te confessar que queria ser uma mosquinha pra ver a cara do Max quando descobrir essa novidade.
-Você não sente pena da sua irmã?
-Sentiria se ela não soubesse o que estava fazendo. Mas não só sabia como tava gostando também. Ah, Júlia, me poupe. Os dois procuraram essa situação e vão ter que aguentar. O que me dá medo mesmo é a reação do meu pai quando ficar sabendo.
-O que você acha que ele vai fazer?
-Ele mata a Marina! Porque além de ela transar com um cara fora do casamento, ela ainda vai ser mãe solteira. Muito óbvio que o Max não vai assumir essa criança. Sinceramente, Júlia... Meu pai prefere ver a Marina morta do que ser mãe solteira!

O porteiro do prédio onde Max e Breno moram está lendo um jornal. Ao avistar Marina, cumprimenta a jovem.
-Boa tarde, moça.
-O Max tá em casa? Liguei pra ele e ninguém atendeu.
-O Max e o pai dele, Seu Breno, viajaram.
-Pra onde eles foram?
-Aí eu já não sei, moça. Só ajudei os dois a colocarem as malas no táxi, que foi pro aeroporto.
-E isso já tem tempo?
-Faz uns três minutos. Se você pegar um táxi agora, acho que ainda dá tempo de alcançar os dois.
-Isso é um pesadelo, só pode ser um pesadelo... – fala pausadamente, com os olhos fechados e em tom baixo.
-Tá tudo bem, moça?- o porteiro encosta sua mão no braço de Marina, que responde rispidamente.
-Claro que eu não tô! Que pergunta idiota!- sai do prédio sem olhar pra trás, acenando em seguida- Táxi!- abre a porta do veículo- Me leva pro aeroporto, rápido!

Jorge encontra com Laura carregando as compras e leva a esposa de volta para casa. Ao ver o marido carregando as sacolas, diz:
-Espera, deixa que eu abro a porta- destranca a fechadura e deixa o esposo passar primeiro.
-Nossa, quanta coisa que você comprou. Era necessário tudo isso mesmo?
-Quero fazer aquele estrogonofe que você e as meninas tanto adoram.
-Por falar nisso, onde elas estão?
-Devem estar no quarto.
-Devem? Devem por quê? Saíram sem sua permissão, por acaso?
-Não foi isso que eu quis dizer, Jorge. Só que quando eu saí, elas já tinham voltado da escola. Vem, coloca as sacolas em cima da mesa- Jorge atende o pedido da esposa- Você não vai voltar pro serviço hoje mais, não?
-Hoje eu larguei cedo, vou aproveitar pra descansar. Deixa eu ir ao banheiro- Jorge se dirige ao recinto e Laura retira todos os ingredientes das sacolas.
Meio minuto depois, Laura se assusta ao recolher todas as sacolas plásticas e ver o marido, com uma feição nervosa, olhando para seu rosto.
-Que susto, Jorge! O que foi?
-Laura, você pode me explicar o que é isso?- Jorge mostra o pacote do teste de gravidez que Marina deixou no banheiro.
-Como é que isso veio parar aqui dentro de casa? Quem usou?
-Se eu soubesse, não estaria te perguntando... Claro... Isso é coisa da Marília.
-Por que você acha que esse teste é da Marília?
-Porque da Marina não pode ser, ela não tem ninguém, não namora! Ao contrário da cabeça oca da Marília, que tem aquele Marcello como namorado!
-Ainda acho que o Seu Jorge devia ser o primeiro a saber dessa gravidez- ouve-se a voz de Júlia no apartamento.
-É a voz da Júlia, esse teste deve ser dela!
-Fala baixo, Laura! Vamos até o quarto- o casal procura não fazer barulho.
-Tá ficando louca, Júlia? Você acha o quê? Que ele vai reagir numa boa? O Max tem que saber primeiro e, dependendo do que ele vai fazer, aí a gente conta pro meu pai. Só que tá mais do que na cara que ele vai pirar quando souber que a Marina tá grávida!
Jorge abre a porta violentamente.
-Repete! Repete o que você disse, Marília!
-Pai, o que você...
-Eu já falei pra você repetir o que disse, Marília! Que história é essa, e o que é que esse teste está fazendo dentro da minha casa?
-Júlia, me diz que esse teste é seu...
-Dona Laura, eu...
-Não, Júlia. Não precisa se justificar nem mentir. Uma hora não ia ter como esconder. A Marina tá grávida, Pai- admite Marília, com certa satisfação.
Laura sente uma vertigem e acaba desmaiando. Júlia e Marília se abaixam para amparar a dona-de-casa, enquanto Jorge permanece de pé, contrariado, pensando no que irá fazer quando vir a filha caçula novamente.

-Atenção, passageiros com destino à cidade de Boa Vista: dirijam-se à sala de embarque- avisa um alto-falante.
-Vamos, Max. É o nosso voo- avisa Breno.
-Até que enfim, não aguentava mais esperar...
-Max! Max!- Marina aparece correndo, aos gritos.
-Quem é aquela menina, meu filho?
-Ela é...
-Ainda bem que eu te encontrei. Precisava falar com você.
-Tá, mas agora?
-Filho, eu vou pra fila do embarque passar nossa bagagem. Não demora, por favor.
-Vai lá, Pai.
-Olha, eu não ia vir aqui senão fosse muito sério. Pensei que eu ia te perder.
-Marina, o que você quer? O porteiro não avisou que eu ia viajar pra Roraima?
-Só que eu não podia esperar. Por que você não me avisou dessa viagem?
-Por que eu te avisaria? A gente não tem compromisso, se esqueceu?
-Tem uma coisa que eu preciso te contar, Max.
-Tô vendo. Só não sei por que tanto suspense. Fala de uma vez o que é.
-É que é muito difícil de dizer o que tá acontecendo, eu ainda tô em estado de choque...
-Marina, eu não vou ficar aqui o dia todo. Diz de uma vez o que é que eu tenho que embarcar!
-Eu tô esperando um filho.
-Você o quê?
-Tô grávida- afirma, após respirar fundo.

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