-Quem
é esse homem, Alice?- Luciano pergunta para a mãe de Fábio.
-Não
acredito. Você, tão íntima dele, nunca falou sobre mim?- Caio faz um comentário
irônico.
-Você
andou me seguindo?
-Imagina
se eu vou me dar ao trabalho! O que você faz da sua vida não me interessa. Só
me espanta a sua hipocrisia.
-Quem
você pensa que é pra me chamar de hipócrita?
-Acha
mesmo que eu não tenho moral pra pensar isso de você, Alice? Fez um escândalo
só de pensar que eu pudesse ser amante da Ariane, e hoje eu te vejo fazendo
exatamente a mesma coisa: dando um beijo em outro homem.
-Quanta
ofensa, Caio! Quer dizer que é permitido pra você, mas pra mim não?
-Acontece
que eu nunca fui amante de mulher nenhuma!
-Nem
eu sou amante do Luciano. Mas o que me dá nojo é saber que você envolveu o
Fábio nessa sujeira. Como é que você teve coragem de convencê-lo a me seguir?
-Eu
não vim atrás de você. Eu o encontrei aqui nessa casa.
-Pra
que foi que você veio até aqui, meu filho?
-É
que... O Vinícius, ele...
-Espera
aí: quem é Vinícius, Fábio?
-Meu
amigo... É meu amigo, lá do colégio. Eu vim pra... Pra fazer um trabalho com
ele.
-Ah,
é?- Caio decide confrontar o filho- Trabalho de quê?
-Daquele
conteúdo que o professor deu na semana passada... É... Trigonometria, o
trabalho é sobre isso.
-Fábio,
eu sei que não foi por esse motivo que você veio até aqui.
-Do
que vocês dois estão falando?- Alice pergunta quando Vinícius aparece com os
cigarros na mão, assustado com a presença de todos, que notam os produtos que
ele traz consigo.
-O
senhor já voltou, Pai?- Vinícius tenta disfarçar que foi desmascarado por Caio.
-Vim
por isso, Alice. Foi o meu filho que eu estava seguindo. E pelo que nós estamos
vendo, não foi pra fazer trabalho nenhum.
-Pai,
eu não tô mentindo pro senhor. O Vinícius é da minha turma.
-Assim
como deve ser a pessoa que tem te vendido essas porcarias.
-O
senhor tá achando que... Que a gente tá metido com isso?
-Vai
continuar mentindo, Fábio? Eu já sei de tudo!
-Tudo
mesmo? Então, fala. Fala, que eu quero ouvir; fala! O que é que o senhor acha
que sabe? Diz logo!
-De
uma coisa eu tenho certeza: essa vai ser a última vez que você vai consumir um
cigarro.
-Fábio,
meu filho... – Alice aproxima-se do estudante- Diz que o Caio está enganado a
seu respeito.
-Queria
muito poder te dizer o contrário, Alice. Mas a verdade é que o Fábio...
-Como
é que você tem coragem de dizer isso de mim? Hein? O Vinny usa essas paradas,
mas eu, Pai? O senhor me conhece bem pra saber que eu não chego nem perto
disso! Achar que eu também me drogo? Que absurdo é esse? Por acaso o senhor já
me viu fumando alguma coisa, bebendo ou o que seja?
-Me
contar sobre isso você não iria. Você não é idiota, Fábio. Sabe muito bem que
eu jamais ia te dar dinheiro se eu desconfiasse de alguma coisa.
-O
senhor tá errado. Não tem lógica o senhor achar que eu sou dependente!
-Mas
é. Pode ser que você nem tenha se dado conta de que seja um, mas você é. Sabe
por que eu te segui, meu filho? Porque eu ouvi a tua conversa com esse rapaz lá
em casa, e ele ficou de conseguir mais desses cigarros pra você. Como é que
você chama mesmo? “Fuga”, não é?
-Eu
não vou ficar aqui pra ver essa cena. A minha mãe com outro homem e o senhor me
acusando sem fundamento nenhum!
-E
a conversa que você e esse rapaz tiveram há uns dias, também foi sem
fundamento?
-Que
conversa é essa, Caio?
-Alice,
é melhor você ir com ele e com o seu filho pra casa. Vocês precisam conversar-
indica Luciano.
-Melhor
escutarem ele. Ou você não quer que eu fale tudo que está engasgado e que eu já
sei sobre você?- Caio ameaça Fábio, que o espera na porta. Alice segue o filho,
enquanto o seu ex-marido diz para Vinícius, apontando-lhe o dedo- Nunca mais
você vai pisar na minha casa, entendeu bem? Nunca mais!
Pai,
mãe e filho entram no carro de Caio, enquanto Luciano observa o veículo saindo
daquela rua. Vinícius aproveita a situação para fazer uma provocação.
-Quer
dizer que o senhor tá de rolo com a mãe do Fábio?
-Alice
e eu não temos nada.
-Mas
quem diria, hein? Logo o senhor, que fala tanto de família, ser o responsável
pela destruição de uma. Belo exemplo que eu tenho dentro da minha casa, não é?
Irritado
com o episódio envolvendo a família de Alice e o comportamento irresponsável do
filho, o policial não se contém e acaba por dar uma bofetada no modelo.
-Você
não vale nada mesmo.
-Que
foi? Você pirou? Como é que você tem coragem de fazer isso comigo? De colocar a
mão em mim?
-Não
adianta acabar com a sua vida e me empurrar, junto com a Victória, pro seu
túmulo; tem que arrastar outra pessoa pro teu lado!
-Foi
ele que quis! Eu não coloquei uma arma na cabeça dele, não!
-Quando
é que você vai parar, Vinícius?
-Eu
já disse não sei quantas vezes: quando eu quiser, eu paro. Quando eu quiser!
-Presta
atenção porque eu só vou te falar uma vez: seja quem for que estiver acabando
com a sua vida e a desse rapaz, eu vou colocar na cadeia.
-Pro
senhor, é fácil colocar a culpa num traficante qualquer, né?
-Em
mim é que não vai ser. Desde o dia em que eu soube no que você estava se
transformando, eu senti remorso. Mas eu não quis enxergar que esse caminho foi
você quem escolheu. Eu não vou deixar esse bandido ferrar ainda mais com a sua
vida, nem acabar com a desse garoto.
-Tudo
isso é pra quê? Pra ficar bem na fita com a mãe do Fábio?
-Pra
manter vocês dois vivos!
-Tá
errado! Se você prender esse cara- mente- Eu encontro outro. O mundo não vai
mudar só porque você quer.
-Você
quem pensa, Vinícius.
Voltando
todos à mansão, os pais de Fábio o veem subindo às escadas. Ele, no entanto, é
impedido por Caio, que segura o seu braço.
-Onde
você pensa que vai?
-Pro
meu quarto- desvencilha-se do pai- Por quê? Você interditou sem eu saber?
-Desde
quando você usa esse tom pra falar comigo?
-Desde
hoje, quando descobri o que você pensa de mim!
-Fábio,
não fala assim com o seu pai. Nós dois exigimos respeito de você!
-Mas
não se respeitam, nem dentro de casa nem fora! Que estranho, né? Depois vêm, na
maior cara de pau, me cobrar por alguma coisa!
-O
que seu pai falou lá na casa do Luciano é verdade?
-Não
está vendo, Alice? Nem coragem de olhar na nossa cara ele tem. Porque sabe que
eu estou falando a verdade!
-Revista
meu quarto, então. Vê se acha o que o senhor pensa que tem lá.
-Me
diz uma coisa: você acredita que sua mãe e eu somos o quê? Um par de imbecis
que você pode manipular a seu bel-prazer? Eu já sei que aquele moleque compra
droga pra você, que você tem tirado da sua mesada pra dar ao tal do Vinícius.
-Você
andou me vigiando, é isso?
-Deve
ser esse tipo de atitude que falta àquele homem. Isso, se ele não for conivente
com a falta de caráter do filho!- Caio alfineta Luciano na frente de Alice.
-Eu
só sou amigo do Vinícius. Só isso! O que é que isso tem demais, Pai?
-Fábio,
eu sei que você usa drogas aqui dentro. E que se livra de todas as evidências
para que nem eu nem sua mãe descubramos. Mas agora acabou.
-Quando
você diz “acabou”, tá querendo dizer o quê?
-Eu
liguei pro banco e encerrei a conta que eu criei pra retirar a sua mesada. Não
vou te dar nem um só centavo a mais.
-O
senhor não pode fazer isso comigo. Esse dinheiro é meu, eu tenho direito a ele...
Mãe, dá um jeito de convencer meu pai! O que ele tá fazendo comigo é uma
injustiça!
-Fábio,
o que seu pai está dizendo é a verdade. Eu preferi ficar calada, mas eu já
desconfiava do seu envolvimento com... Não consigo nem falar...
-Mãe,
você tá errada! Os dois estão errados! Eu só experimentei uma vez, mais nunca!
-OK,
Fábio. Quer me convencer e ter dinheiro de novo? Então, vamos lá.
-O
que o senhor quer que eu faça?
-Vem
comigo até a delegacia.
-Pra
delegacia? Mas o que eu vou fazer lá?
-Denunciar
a pessoa que te vende droga. E você vai citar o Vinícius pra que ele deponha
também.
-Isso
eu não vou fazer.
-Por
quê? Teu vício é mais importante do que uma ordem do teu pai?
-Agora
vocês lembram que são meus pais, né?- Fábio tenta usar a crise conjugal para
escapar da proposta feita por Caio.
-Isso
jamais foi esquecido por nenhum de nós, Fábio! E não acho que só porque seu pai
e eu deixamos de ser um casal que não mereçamos respeito ou não sejamos uma
família.
-Belo
exemplo que vocês dão. Pra mim, o nome não é “família”. É “hipocrisia” mesmo.
-Se
eu fosse você, começava a medir suas palavras.
-Ah,
vá! Se você se preocupa tanto com a nossa família, por que deu em cima da
Ariane sendo um homem casado?
-Eu
não dei em cima de ninguém, Fábio...
-Deu,
sim! Se bobear, vocês foram pra cama e ninguém ficou sabendo.
-Agora
você passou dos limites! Comigo você não fala desse jeito!
-Falou
o ofendido. E veja só quem você escolheu pra casar, a mulher que te bota chifre
com um policial sem eira nem beira, pai de um usuário de crack!
-Já
chega, Fábio! Eu exijo que você se retrate por falar conosco desse jeito!
-Pedir
desculpa uma ova, Mãe! Vocês estão se doendo porque sabem que eu tô dizendo a
mais pura verdade!
-Verdade
ou não, você é a pessoa menos indicada pra falar sobre nós. Olha pra você, se
comportando feito um menino mimado! Daqui a pouco, você atinge a maioridade e
pensa que vai fazer o que bem entender da sua vida, mas não é assim que a banda
toca, não. Vai nos respeitar, sim, senhor! Nós não empurramos você pra vício
nenhum.
-Agora
você quer tirar o corpo fora, Pai?
-Você
é quem procurou isso. Não vê que precisa de ajuda.
-Dispenso
qualquer coisa que venha de você. Menos o seu dinheiro, é lógico.
-Sabe
o que tem que fazer. Nós vamos agora mesmo à delegacia e você vai contar quem é
a pessoa que está te vendendo essas drogas. Do contrário, Fábio...
-Pode
parar! Eu não vou ceder à tua chantagem de jeito nenhum.
-Fábio,
pensa em nós dois, no seu futuro. Pensa na Gabriela. O que ela vai dizer quando
souber no que você tem se transformado?
-Eu
quero que a Gabriela se dane, Dona Alice! Ela e todos vocês!
-Me
respeita, Fábio!- Caio grita com o filho.
-Se
você tirar um só centavo do que é meu, pode ficar certo de que eu vou acabar
dando um jeito.
-O
que você quer insinuar com isso?
-Parece
até que você não me conhece. Eu não sou homem de insinuar, eu sou homem de
falar na cara. Você pode tirar tudo que é meu, e eu posso também tirar as
coisas que você tem de valor daqui de dentro. Aí eu vou querer ver se você não
vai devolver a minha mesada e reativar a porcaria da conta.
-Sinto
te desiludir, mas não acredito que você seja homem pra tanto. Aliás, eu tenho
certeza de que não é. Mas eu vou te ensinar a ser um.
-Não
acho que o senhor seja capacitado pra essa tarefa. O senhor não é homem de me
encarar. Nem homem você é... – Fábio é interrompido por uma bofetada dada por
Caio, segurando-se no corrimão da escada.
-Não
se engane achando que eu vou me contentar só com isso, não.
-Bate!
Bate mais! Aproveita que agora você teve coragem de levantar a mão pra mim,
desgraçado!
-Era
o que te faltava. Era o que a sua mãe e eu deveríamos ter feito há muito tempo.
Antes que você tenha tempo de armar algum tipo de revide contra nós, eu vou
internar você, Fábio. E não vou descansar até jogar esse traficante na cadeia. Porque
eu não tenho medo do que ele possa fazer contra mim.
-Do
traficante você não precisa ter medo, Caio- Fábio chega perto do pai.
-Não
nos chame pelo nome, não mandamos que você fizesse isso.
-Se
eu fosse você, tomava cuidado. Quem tá me vendendo droga não é mais perigoso do
que eu.
-Como
é?
-Fábio,
vai pro teu quarto, por favor! Mais tarde, filho, a gente conversa com mais
calma!- Alice tenta fazê-lo subir.
-Espera,
Alice. Agora eu quero saber!
-Caio,
não piora a situação! Deixa o Fábio ir pro quarto dele!
-Faço
questão. Mas antes ele vai dizer na minha cara. O que você vai fazer, Fábio? Me
diz! Vai fazer o quê? Vai me matar pra eu não te impedir de nada, é isso?
-Paga
pra ver, Caio. Mas eu vou te dar um conselho: não se mete com a minha vida
nunca mais, porque eu não vou ter pena nenhuma de você...
-Insolente!-
Caio devolve a ameaça avançando contra Fábio, sendo que Alice tenta separá-los.
-Se
mete comigo! Tenta se meter comigo, que eu acabo com você!
-Sobe
pro teu quarto, Fábio! Anda!
-Eu
vou te internar! Pode escrever o que eu estou dizendo!
-Chega,
Caio!
-Experimenta
me tirar daqui, e eu acabo com a tua raça!
-Não
vou sustentar marginal nem drogado na minha casa!
-Para
com isso, Caio! Para, eu estou pedindo! Deixa o Fábio ir pro quarto dele!
-Devolve
meu dinheiro, Caio! Traz o meu dinheiro, senão você vai ver!
-Você
não passa de um drogado! Drogado! É isso que você é!
-Você
tem vinte e quatro horas, entendeu? Vinte e quatro horas pra devolver minha
grana!- Fábio vai para o seu quarto.
-Espera
sentado, imbecil! Acha que tem culhão pra me enfrentar? Então, vem! Vem, que
quem vai dar uma lição em você sou eu! Drogado desgraçado!- Caio se afasta de
Alice e vai em direção à porta da sala de estar, aos prantos.
-Não
estou acreditando... Não pode ser o meu menino. Não é o Fábio... – Alice chora,
para depois segurar o ex-marido- Promete, Caio! Promete pra mim que você não
vai colocar o meu filho numa clínica! Promete que não vai internar o Fábio,
Caio!
-Só
disse aquilo pra... Pra meter medo nele- Caio fala baixo, para que Fábio não o
ouça- Eu não vou ter coragem de fazer isso com ele, Alice; não tenho... – volta
a chorar.
-A
gente vai salvar o Fábio, eu tenho certeza. Essa fase vai passar. Ele só
precisa confiar na gente, só isso.
-Tomara
mesmo. Porque eu tenho medo desse rapaz que me enfrentou. Ele parecia ser
qualquer pessoa, menos o meu filho.
À
noite, Ariane está jantando com Eduardo quando toca a campainha algumas vezes.
-Você
dispensou a empregada hoje, Mãe?
-É
que ela teve um problema de família e eu a deixei sair mais cedo. Abre a porta
pra mim, meu amor?
-Claro-
Eduardo limpa a boca com o guardanapo e atende à visita de Caio e Alice. Ariane
os vê em sua porta e, assustada, levanta-se para recebê-los.
-A
gente pode conversar, Ariane?
-Desculpa,
Caio, mas eu não tenho nada pra falar. Muito menos com essa mulher.
-Mãe,
pega leve, tá bom?
-O
assunto é realmente importante. Precisamos falar com a Gabriela, sua filha.
-Se
vocês tivessem vindo há dez minutos, Dona Alice, tinham pego ela aqui. A minha
irmã foi ver o Fábio.
-Ela
foi lá pra casa?- Alice fica nervosa.
-O
que é que está acontecendo? O que de tão grave vocês têm pra falar com a minha
filha?
-Alice,
é melhor a gente dizer pra eles, vão acabar descobrindo de qualquer maneira.
-Tem
razão, Caio- Alice olha para Ariane- Podemos entrar?
Bete
está em seu sobrado, tomando um banho gelado e com a luz acesa, mas com a porta
do banheiro entreaberta. Lembra que já é noite e que, costumeiramente, seu
namorado estava presente neste período do dia. Mesmo com o chuveiro ligado, a
traficante sente que um cheiro forte emana da sala. Rapidamente, ela enrola-se
em uma velha toalha amarela e vai até o cômodo.
Não
há ninguém, nem mesmo um único cigarro que tenha sido aceso. Consumida pela
culpa de ter destruído a vida de Diego, Bete deita sobre a cama, tocando o
lençol exatamente do lado em que ele costumava dormir.
-Por
que você teve que fazer isso comigo?
-Posso
te fazer a mesma pergunta.
-Diego?-
Bete fica apavorada ao ver o corpo do namorado ao seu lado.
A
campainha da mansão da família Prado Vasconcelos toca três vezes. Fábio está no
chão de seu quarto, sem abrir a porta por pensar que Caio e Alice estão em casa.
Notando a demora, o adolescente vai até a janela e vê que se trata da namorada.
Pensando que não há ninguém em casa, Gabriela deixa a calçada do local, até ser
alcançada pelo rapaz.
-Peraí,
Gabriela!- Fábio grita, sendo retribuído pelo sorriso da garota, que não
desconfia do dia tenebroso que ele viveu com a família.
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