06/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 3: DEIXANDO O AR ME RESPIRAR



-É isso mesmo que a gente tá vendo, Pai? O senhor e a Dona Ariane?
-Fábio, meu filho... A gente precisa conversar.
-Que desculpa você vai inventar pro seu filho, Caio? Vai tratar a gente como se fôssemos um bando de imbecis? Não está claro esse beijo que você deu nessa mulher? Como é que você teve coragem de fazer isso comigo?
-Alice, para com esse escândalo!
-Por quê? Pra poupar a honra da tua amante? Há quanto tempo vocês dois têm um caso pelas minhas costas?
-Caio não é meu amante, Alice.
-“Óbvio que não”. É natural vocês se cumprimentarem com beijo na boca? Como você é dissimulada!
-Alto lá, eu não vou ser desrespeitada dentro da minha casa!
-Cínica!
-Mãe, para com isso, por favor!
-Acho melhor você ir com seus pais pra casa, Fábio. Tua mãe tá muito nervosa- sugere Eduardo.
-Melhor mesmo, Edu...
-O Caio não vai voltar pra casa comigo.
-Mãe!
-Não vai voltar, Fábio, eu já disse!
-Quem você pensa que é? Aquela casa é tão minha quanto sua.
-Mas eu não quero você lá, e você não vai voltar.
-Isso é o que a gente vai ver!
-Vocês dois vão se entender em casa, não aqui.
-Com ele, eu não tenho nada pra conversar, Gabriela! Agora com essa mulher, essa pistoleira...
-Veja o tom que você usa pra falar comigo!
-Uso o tom que eu quiser- Alice se aproxima de Ariane- Ontem, nós viemos a sua casa, comemorar o namoro dos nossos filhos, e hoje eu encontro você agarrada com o meu marido! Aposto que estavam rindo de mim, porque nunca desconfiei que vocês tivessem um caso!
-Ariane não é minha amante... A verdade é que eu a conheço há muitos anos, antes mesmo da gente se casar.
-Mãe, por que é que você não falou que conhecia o Seu Caio?- Eduardo questiona.
-Eu não sabia que ele era o pai do Fábio. Fiquei surpresa quando eu o vi aqui em casa, ontem à noite.
-E fingiu que não o conhecia. Mas também, o que esperar de uma mulher tão baixo nível feito você?
-Melhor você medir suas palavras ao meu respeito, Alice!
-Pra quê? Por acaso, tem medo de que seus filhos constatem o que eu percebi? Que o meu marido é infiel e que você não passa de uma vagabunda?
Ariane reage à provocação dando uma bofetada no rosto.
-Mãe!- Fábio ampara Alice.
-Isso eu não vou admitir de jeito nenhum, entendeu? Não vou!- decreta Ariane.
-Leva a Dona Alice pra casa, Fábio. Por favor!- pede Gabriela.
-Vem, Mãe. Vai ficar tudo bem... Acho que o senhor não tem mais nada pra fazer aqui, já que tem que conversar com ela, não é, Pai?
-Tem razão, Fábio. Vamos pra casa- vira-se para Ariane- Eu juro que não quis que as coisas acontecessem desse jeito.
-Mas aconteceram, Caio. Agora, por favor, vai embora daqui.
Alice deixa a casa de Ariane com o filho, sendo seguida pelo marido. Eduardo fecha a porta e cobra explicações da mãe.
-Será que dá agora pra senhora explicar o que foi que aconteceu?
-De onde você conhece o pai do Fábio, Mãe?
-Acho melhor vocês sentarem. A história é muito longa. E complicada também.
Quando os Prado Vasconcelos voltam pra casa, Alice vai ao seu quarto e senta na cama, chorando em seguida. Fábio corre atrás da mãe, tentando consolá-la. A esposa de Caio está com a cabeça abaixada até que o marido entra no quarto.
-Pai, é melhor deixar a gente sozinho. Não é hora pro senhor conversar com ela.
-Nós temos que falar agora.
-De você, eu não quero ouvir coisa nenhuma- Alice levanta da cama- Você vai tirar suas coisas desse quarto. Não vou deixar que você fique nem um só minuto nessa casa.
-Mãe, para com isso. Depois vocês conversam, vão acabar se entendendo.
-Como, Fábio? Depois do que eu vi? Do que nós vimos?
-Pra começar, eu não vou sair dessa casa. Vocês merecem, sim, uma explicação, e eu vou dar. Mas não espere, Alice, que eu assuma uma postura de culpado diante do que fiz e me puna. O que eu falei na casa da Ariane eu repito aqui: essa casa é tão sua quanto minha.
-Não menciona o nome daquela desgraçada aqui dentro. Como é que você pôde ser tão canalha e manter um caso com ela? Com a mãe da Gabriela, namorada do nosso filho? O que é que você tem pra me explicar, Caio?
-Eu tive um relacionamento com Ariane, mas antes de te conhecer, Alice.
-Se isso fosse verdade, por que você teria de esconder? Por que não falou sobre isso ontem, quando Gabriela e Eduardo apresentaram a mãe deles? E o que nós vimos naquela casa agora há pouco, foi alguma ilusão?
-O que vocês viram foi um beijo, da minha iniciativa. Ariane não teve nada a ver com isso. Nós não temos um caso.
-Então, por que você ficou calado, Pai? Por que não disse que conhecia a Ariane?
-Quando eu tinha a sua idade, Fábio, eu me apaixonei por ela. A gente teve um romance breve e... Ela foi a minha primeira mulher.
-Não quero mais ouvir isso...
-Vai ter que escutar, Alice. Vocês merecem uma explicação.
-O namoro que a gente teve foi rápido, durou só seis meses- Ariane explica o relacionamento com Caio para os filhos.
-Como foi que vocês se conheceram, Mãe?- pergunta Eduardo.
-Na escola, bem como a sua irmã e o Fábio.
-A senhora sentia o quê por ele?- Gabriela busca ser compreensiva diante da situação delicada.
-Com certeza, é algo muito diferente do que eu sinto agora. Eu tinha por ele uma paixão urgente, desenfreada, imaginava passar a minha vida ao lado dele, até que...
-“Até que”...
-A gente teve uma briga e eu tomei a iniciativa de acabar com o que a gente vivia.
-Brigaram por quê?
-Por favor, Eduardo! Isso é um assunto da minha esfera pessoal...
-A gente tem o direito de saber também. Se envolve a senhora, envolve a gente também! A Dona Alice te viu beijando o marido dela, te chamou de vagabunda, a senhora reagiu com um tapa e quer que a gente faça de conta que não viu nada acontecer?
-Fala, Mãe- Gabriela pede- Por que você terminou o namoro com o Seu Caio?
-Essa dúvida vocês vão ter que esclarecer com ele... Isso, é claro, se ele quiser listar os motivos.
-Foi traição?
-Gabriela, para! Já disse que não vou deixar vocês invadirem minha intimidade. O que os meus filhos precisam saber, e não aquela mulher, é que o beijo que Caio me deu partiu dele.
-Se aquela mulher não tomou a iniciativa, por que você escondeu que já a conhecia?- Alice continua incrédula.
-Porque fiquei em estado de choque, eu não sabia que o Fábio namorava justamente a filha da Ariane. Como é que vocês acham que eu ia chegar e dizer no jantar: “olha, eu tive um romance com essa mulher há mais de vinte anos”? Fábio, depois que eu terminei os estudos, eu nunca mais soube de nada relacionado a ela, não soube se ela casou, se constituiu família...
-E por que você deu um beijo nela?- Alice fica enfurecida com o marido tentando se explicar.
-Porque eu não me sinto mais feliz! Eu me sinto incomodado com a minha vida, com a maneira que eu a estou levando, com a minha rotina, com o meu casamento, com tudo! Quando eu vi aquela mulher no jantar de ontem, eu quis reviver alguma coisa que se perdeu de mim há muito tempo! Eu quis me dar a chance de ser feliz de novo, mesmo que fosse por um instante! Não é isso que vocês queriam ouvir de mim? A verdade? Pois é essa: eu não estou feliz!
-Então, trate de levar essa infelicidade pra longe de mim, porque eu não vou mais dividir a minha vida com alguém que não sabe ser fiel! Você vai sair dessa casa agora!
-Casa que eu comprei, quando você ainda nem sonhava em trabalhar, não é, Alice? Mas eu não vou sair daqui! Se você está incomodada em ter de morar debaixo do mesmo teto que eu, mude-se você!
-Chega!- Fábio grita com os pais, mas nem isso os impede de continuar discutindo.
-Minha decisão já está tomada. Eu não vou sair dessa casa, Alice.
-Muito menos eu. Conviva com a sua crise existencial, traga quantas amantes tiver vontade... Daqui, eu só saio morta!
-Eu já disse pra vocês dois pararem com isso! Vocês... Vocês vão se acalmar e conversar depois.
-Peça pra empregada transferir suas coisas pro quarto de hóspedes, Caio. Prefiro evitar ter o mínimo de contato com você. O seu desrespeito comigo eu não vou tolerar.
-Tudo bem, então. Se você prefere que vivamos como dois estranhos, eu aceito. Só que eu não vou mais calar o que eu sinto.
-Pouco me importa o que você sente. Pouco te importou a sua família quando você quis me trair com aquela mulher. Viva a sua vida, Caio, e seja bem infeliz com ela.
Caio vai ao quarto de hóspedes e deixa Fábio, um tanto abalado pelos últimos acontecimentos, com a mãe.
-Me diz quando foi que vocês chegaram a esse ponto.
-Não sei, meu filho. Mas o seu pai não pode me decepcionar mais do que ele fez. Eu vou pedir o divórcio.
-Pensa direito, Mãe. A senhora ainda tá com a cabeça quente.
-Não tem conversa com o Caio, Fábio. Enquanto eu não estiver separada legalmente, eu fico aqui. Mas pra ele eu não volto nunca mais.

No fim daquela tarde, Bete e Diego estão num velho sobrado do centro da cidade, onde a jovem mora sozinha. Esquecendo-se do tempo, os dois transam sobre a velha cama onde dorme a adolescente. Diego beija todo o corpo desnudo da namorada, que permanece fria. O rapaz percebe que, apesar das carícias, Bete está distante.
-O que foi, gata?
-Nada, por quê?- enrola-se num lençol.
-Parece que nem tava aqui.
-Só tava pensando.
Diego se levanta e veste a roupa lentamente.
-Já sei. Tá com medo de Eduardo dar com a língua nos dentes e dizer pro diretor que a gente fumou dentro da sala...
-Por mim, que diga.
-Não fala isso nem de brincadeira. A gente é bolsista, esqueceu?
-Mas duvido muito que aquele cara diga alguma coisa. Qualquer coisa, eu dou uma lição nele.
-Hum... – Diego se abaixa pra falar com a moça, ainda deitada- Se você quiser, eu mesmo dou um corretivo nele- morde os lábios da jovem.
-Até parece que não me conhece. Sei me virar sozinha.
-Mas é como se não conhecesse.
-Tá falando do quê?
-Nunca fala da tua vida, por que mora aqui sozinha...
-Vamos lá: a gente se conhece há quanto tempo?
-Um ano, mais ou menos.
-Pois é. Lembra como a gente se viu? Onde foi que a gente se encontrou pela primeira vez? Na boca de fumo. Eu te vendi um cigarro, a gente se curtiu, foi pra cama e pronto. Só isso que precisa saber.
-Tanto mistério assim pra quê?- beija o pescoço da namorada, enquanto puxa lentamente o lençol no qual ela está enrolada- Hein?
-Não é assim que funciona? Então, pronto. Não me pergunta mais nada, tá?
-O que é você tanto faz questão de esconder? Me diz. Eu não conto pra ninguém.
-Diego, Diego... Você não devia ter vestido essa roupa agora.
Bete empurra o namorado na cama e tira a camisa do rapaz, passando suas mãos sobre o peitoral do rapaz e desabotoando com urgência a calça que ele acaba de colocar. Tudo para demovê-lo do intento de saber o que ela esconde.

A noite do dia seguinte reserva um problema para o jovem Vinícius. A sua namorada, a modelo Victória, está caracterizada para um ensaio fotográfico, mas demonstra estar apreensiva. A fotógrafa se aproxima.
-Vicky, que cara é essa?
-Já deu pra perceber, né? É o Vinícius, que não me atende!
-Olha, meu bem, infelizmente eu não posso fazer nada. Sei que você até pediu pra fazer uma média por ele, mas...
-Tudo bem. Eu entendo, Lúcia. Até te peço desculpa por esse atraso, tô prejudicando a tua equipe inteira por causa disso...
-Esquece essa bobagem e muda essa cara. O cliente não está interessado nas nossas preocupações. Ainda mais nesse caso, quando elas são cotidianas. Vai pra sua marca, querida, que a gente não pode esperar mais.
Quinze minutos depois, Vinícius entra afobado no estúdio.
-Victória?- o modelo se surpreende com a namorada trabalhando sem ele- Você começou sem mim?
-Começou e vai terminar sem você também, Vinícius- adverte Lúcia.
-Olha, me desculpa, Lúcia, mas é que eu peguei um trânsito infernal...
-Isso não serve como desculpa nem pra você, rapaz. A Victória vai ser o único rosto da campanha da Casual Models.

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