-A senhora não sabe
o que está falando, Dona Heloísa.
-Sei muito bem. O
senhor acha que eu vou passar de novo pela luta de criar uma criança? A
responsabilidade por esse neto não é minha, é dela. Ela que crie, que arrume
condição de viver com uma criança. De preferência, longe da minha casa.
-Mas não é
possível... A senhora não entende que sua filha pode morrer a qualquer momento?
-O que eu entendo,
Pastor, é que eu fui enganada, que minha filha não teve consideração por mim.
Agora, o senhor quer que eu tenha por um bebê, que eu nem sei se vai
sobreviver?
-Quem disse que não
vai viver? Quem sabe se até sua filha não sobrevive a essa peleja?
-Tomara. Porque eu
estou cansada. Cansada e velha de tanto lutar e não ver minha vida dando
resultado. Não fique pensando que eu sou uma desgraçada, não, Pastor. Mas quem
tem cuidar desse menino é a mãe. Se Lívia não puder, que cuide outra família.
Eu não tenho mais idade nem saúde pra isso.
-Escute isso que
está dizendo, Dona Heloísa. Nós estamos falando de uma vida.
-Não estamos, não.
Esse menino nem nasceu, não é gente ainda. Nem sei se vai chegar a ser. Já como
ele e Lívia não vão decidir nada, quem vai ter uma atitude sou eu. Vou dar pra
uma família criar.
-Meu Deus, ela tá
falando sério?
-Sinceramente, eu
não entendo a senhora. É seu sangue, é da sua família...
-Mas não é a minha
filha, Pastor. Como é que eu posso amar um feto que põe minha filha em cima de
uma cama, pra ela não se levantar nunca mais? Eu não vou tirar a
responsabilidade de Lívia, mas eu não consigo gostar dele. Pra mim, é tão
culpado de tudo que tá acontecendo quanto ela. Olha, eu tenho que ir. Obrigada
por ter passado aqui.
-Deus queira que
você repense tudo que quer fazer- Homero vai embora e Heloísa se identifica
para poder entrar. Lívia segue a mãe.
-Mãe... Fala
comigo! O que é que tá acontecendo? Por que é que a gente tá aqui? Por que eu
tô aqui? Fala comigo, mainha! Mainha!- Lívia fica parada ao ver o guarda fechar
a porta, mas resolve peitá-lo- Você não tá me ouvindo chamar minha mãe? Vai
atrás dela, diz pra ela parar de me ignorar! Ei! Tá ficando surdo, tá? O que é
que tá acontecendo que ninguém me ouve, meu Deus? Quer me deixar entrar, por
favor? Eu tô te pedindo! Por favor... – aos poucos, vai se enfraquecendo.
/////
Karen está indo ao
hospital ver Lívia, mas antes de entrar em seu carro, encontra Danilo chegando
ao seu prédio.
-Karen! Você vai
sair?
-Que pergunta
imbecil, Danilo. O que você quer?
-Queria poder falar
com você.
-E pode. Só não
garanto que eu vou dar crédito ao que você vai me dizer.
-Karen, me
escuta...
-Danilo, quem tem
que me escutar é você. Qualquer ser humano, depois de ouvir o que você me disse
ontem, precisaria de tempo pra pensar e dar um “não” como resposta. Então, para
de ficar atrás de mim, vindo até o meu...
-Vim por causa de
Lívia.
-De Lívia...
–imagina que ele vai confessar o abuso- Então, o que tem a Lívia?
-Eu vim te chamar
pra gente ir ao hospital. Visitar a Lívia, que é sua amiga.
-Sei... Como foi
que você ficou sabendo do caso dela?
-Quem atendeu à
Lívia foi meu pai.
-Claro. O Dr.
Rafael, sempre pronto pra ajudar os necessitados... E por que ele comentou justamente
com você? Até onde eu sei, eu nunca levei Lívia pra sua casa, não apresentei
pra sua família...
-Comentou como quem
fala de outra paciente qualquer, Karen. Ele não sabe que Lívia é sua amiga, nem
que eu conheço ela. Enfim, eu vim te chamar pra gente passar no hospital.
-Já tava indo pra
lá.
-Não quer vir no
meu carro?
-Acabei de
abastecer, se é isso que te preocupa.
-O que me preocupa
é a distância entre a gente.
-Devia se preocupar
com a Lívia.
-Tem razão. Mas eu quis
te avisar. É sua melhor amiga.
-Pois é. O que mais
me dói.
-Então, vamos.
-Vamos. Você no seu
carro e eu no meu- Karen entra no automóvel e Danilo, contrariado, a segue.
/////
Toni está arrumando
a mochila para embarcar rumo a Teresina. Faz isso vagarosamente. Juliano o
observa atentamente.
-Quando você olha
pra mim desse jeito, é porque sabe que eu tenho alguma coisa me apertando, e eu
tô doido pra te contar, não é?
-O que foi?
-Não paro de pensar
naquela menina, no que ela passou, naquele sangue todo.
-É, mas... Você tem
que se concentrar. O pastor falou do seu nome, confiou em você.
-Eu sei, Juliano,
mas... É como se eu pudesse fazer alguma coisa a mais, e não sei o quê.
-Viaja. Vai saber o
que fazer na volta.
-Só espero que o
Senhor não guarde ela na minha ausência.
-Gosta dela, né?
-Lívia chama a
atenção. Não chama a tua?
-A minha mesmo não.
-Eu sei. Ela nunca
te tratou bem.
-Mesmo assim... Não
queria que ela morresse.
-A vida dá volta
demais, Juliano. Ela nem olha pra sua cara, e foi logo o seu irmão que levou
ela pro hospital. Mas vai quem um dia ela precise de você....[
-Cobrar da vida não
é meu forte, Toni. Quer ajuda com a mochila?
-Vou levar pouca
coisa. Quer que eu te traga alguma coisa de lá?
-Traz felicidade.
Um sorriso no rosto vai te cair bem.
-Não tô tão triste
assim, Juliano...
-Tá, sim. Você ri
pra mim e não disfarça nem a voz. Mas tudo vai melhorar.
/////
Juntos, Danilo e
Karen observam Lívia. E Lívia os observa.
-Coitada da Lívia.
Ela não merecia isso.
-Verdade. Foi tão
de repente que... Ela te contou por que fez isso?
-Canalha... –
observa Lívia, completamente atordoada com a presença do moço.
-Muito bem, rapaz.
É exatamente isso que eu queria saber- Heloísa os surpreende.
-Dona Heloísa? A
gente acabou de chegar pra ver a Lívia. Eu sinto muito.
-Guarde a conversa
mole pra depois, Karen. Eu quero a verdade, e é você quem vai me dizer.
-Mas o que a
senhora quer saber?
-Lívia contou pra
você que tava grávida, não contou?
-Não, senhora, eu
não sabia...
-Deixa de ser
mentirosa, menina! Ela sempre se abriu com você, por que não ia falar
justamente sobre isso?
-Olha, senhora, eu
já disse que não sei.
-Vamos parar de me
enrolar, tá bom? Lívia desmaiou no seu prédio, que eu bem sei. O que é que ela
tava fazendo lá? Só podia estar contando a novidade pra você. E não só contou
que tava grávida como também disse quem era o vagabundo que dormiu com ela, não
foi?
-Tá bem. Lívia me
disse que tava grávida. Disso, eu já sabia.
-Quem é o pai,
menina? Eu quero o nome desse infeliz... Fala quem é o pai, eu tô mandando!
-Vai, Karen. Diz à
minha mãe que é Danilo.
Danilo se mostra
cada vez mais incomodado com a situação, e Lívia pensa que ele será punido pelo
que aconteceu.
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