Juliano não sabe de
onde Lívia grita, mas vê o carro que Karen dirige. Sua reação é instantânea:
olha para Toni, gritando o nome do irmão mais velho que, ao perceber o
automóvel se aproximando, se joga na calçada, caindo junto a várias sacolas de
lixo. Desesperada, Karen foge com o veículo e a consciência da jovem se lança à
rua. Corre para ver se o DJ está bem.
-Você tá bem?-
pergunta Juliano, chorando- Tá tudo bem, Toni?
-Tá, fica calmo.
Não aconteceu nada... Meu Deus do céu, como é que foi isso e eu não vi?
-Eu ouvi um grito,
vi alguém chamando meu nome, pensei que fosse...
-Era eu!- afirma,
deixando sua voz mais nítida para Juliano.
-Lívia?
-O que é que tem
ela?
-Foi a Karen! Ela
tava dentro do carro, foi ela quem queria matar seu irmão!
-Lívia tá me
dizendo que foi Karen, que ele queria matar você.
-Mas não era ela,
Juliano. Eu conheço o carro de Karen, é um Palio preto. Esse de agora deve ter
sido um Corsa, sei lá, mas era cinza.
-Foi o Danilo que
conseguiu, o noivo dela!
-O carro não era
dela, era do noivo, Danilo.
-Meu Deus... A
gente tá correndo perigo, Juliano. A gente tem que chamar a polícia e entregar
essa mulher. Hoje, fui eu. E depois? E se ela tentar alguma coisa contra você?
-Vamos pra casa
chamar Painho. Você tá machucado no braço. Depois, a gente vai pra polícia, tá
certo?
-Grande foi o
livramento de agora. Mas eu acredito em você. Aquela mulher não presta,
Juliano.
-Vem, Toni. Vamos
pra casa- Juliano ajuda o rapaz a se levantar. Lívia continua nervosa pelo
ocorrido, chorando muito. O corpo, no hospital, faz o mesmo. Rafael pensa que a
moça vai acordar.
-Lívia? Lívia, você
tá me ouvindo?
-O que houve,
Doutor? Ela acordou?- o enfermeiro percebe o desespero do médico.
-Não. Mas pode
acordar. A qualquer momento.
/////
Cícero e Iolanda
estão na sala de estar, conversando com os filhos sobre o atentado.
-Mas eu não
acredito que você se arriscou desse jeito, Toni!
-Desculpa, Mainha,
mas eu fiz por causa de Juliano. E ele tá certo.
-Bem que eu avisei,
bem que eu disse pra você convencer seu irmão de que essa coisa de ouvir a voz
de Lívia era coisa da cabeça dele.
-Olha, Cícero, não
fica querendo tirar o corpo fora, não, viu? Sua obrigação era de me dizer a
verdade desde o começo.
-E você ia fazer o
quê, Iolanda?
-Chamar a polícia,
o que todo mundo faz, em vez de bancar o detetive particular.
-Você não tá
entendendo, Mainha... Ela é culpada do que tá acontecendo com a Lívia.
-Culpada ou não,
Juliano, isso é assunto pra polícia resolver. E tem outra, meu filho: mesmo
essa moça não sendo culpada pelo estado de saúde de Lívia, pode ser que ela
tivesse dentro do carro que quase atropelou seu irmão. Vai ver ela fez isso pra
Toni não complicar ela com a polícia.
-Por favor, não faz
isso, Iolanda. Se a gente for pra delegacia, aí sim que a nossa família vai
virar alvo dessa mulher.
-E eu lá tenho medo
dessa pirralha de nariz empinado, Cícero? Nos meus filhos, ela não toca! Mas se
for pra deixar vocês mais tranquilos, tudo bem. Eu vou ligar pro Disque Denúncia,
sem dizer meu nome. Mas eu quero que me escutem os dois: estão proibidos de
irem ao prédio dessa pilantra, ouviram bem?
-Tá, Mainha, mas e
se a polícia não fizer nada?
-Aí, eu vou ter que
abrir o jogo dessa estória toda pra Heloísa. A polícia já tava na porta dela
esses dias, querendo o depoimento dela. Eu conto a estória toda desse suposto
estupro e ela coloca a polícia na cola dessa bandida!- Iolanda pega o telefone
e disca o número- Boa tarde. Eu queria fazer uma denúncia...
/////
Danilo está
impaciente, esperando por notícias de Karen.
-Por que é que essa
demente não liga de uma vez e fala se já se livrou daquele imbecil?
-Vem, filho. Vamos
almoçar- Rafael volta do banheiro após lavar as mãos, bastante contente.
-Nossa! Há quanto
tempo eu não via o senhor assim... – ambos sentam à mesa.
-Tem razão. Hoje,
eu estou mais do que contente. Cadê a sua mãe?
-Ela disse que foi
fazer umas compras na boutique de uma amiga, a... Como é que era o nome mesmo?
Lembrei: Jacqueline Brandão.
-Ah, aquela amiga
de infância da sua mãe. Pense numa mulher fútil.
-Mas fala: por que essa
felicidade toda?
-Por causa da
Lívia.
-O que foi?
-Os sinais vitais
dela voltaram, e ela falou um nome.
-Falou, foi? E
que... Que nome que ela disse?
-“Juliano”. É,
Danilo. A Lívia pode acordar a qualquer momento.
/////
Tomando algumas
doses de uísque, Karen atende a campainha.
-Maldito porteiro
que se esquece de usar o interfone- abre a porta e encontra Salviano, o
delegado que interrogou Heloísa há poucos dias.
-Quem é o senhor?
-Ele não importa,
Karen. O que interessa é quem eu sou- Toni surpreende a moça.
-O que é que você
tá fazendo aqui de novo?
-Permita que eu me
apresente. Sou Salviano Paranhos.
-U-hum. E eu com
isso?
-Delegado,
senhorita. Você deve ser Karen Martins de Souza.
-O senhor não quer
ir direto ao ponto?
-Ótimo. Esse rapaz
que está aqui, o Marcos Antônio Almeida dos Santos, foi convocado por mim para
fazer uma acareação. Ele sofreu uma tentativa de assassinato.
-Continuo sem
entender o que eu tenho a ver com essa trama rocambolesca. Tenho cara de
promotora pública? Ou de líder da Colônia feminina do Bom Pastor?
-É muito simples.
Será que nós não poderíamos dar uma olhadinha no seu carro?
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