-Lívia tá grávida?
-Pensei que você
soubesse, já que disse que são vizinhos.
-É que... A gente
não é tão próximo assim, Doutor. Por isso, eu não sabia. Mas... E agora? O que
a gente faz?
-Não há o que
fazer. Temos que esperar pra ver se Lívia demonstra algum tipo de reação. Mas o
quadro é realmente muito grave.
-Ai, meu Deus. Ela
desmaiou perto de mim, eu não sabia que era isso.
-Chegou a avisar
alguém da família?
-Eu tava tão... Sem
saber o que fazer... Que eu só fiquei aqui orando... Pensando que em alguns
minutos ela ia sair de lá de dentro, medicada...
-Se quiser usar
minha sala, pode telefonar de lá.
-Não, eu tenho
bônus no celular ainda, mas... Acho que é melhor ir pra casa dela, avisar à
mãe. Essas coisas, a gente não diz pelo telefone.
-Tem razão. Bom, eu
vou comunicar às autoridades sobre o caso dessa moça. É Lívia de quê mesmo?
-Sinceramente,
Doutor, eu não lembro, nem tô com cabeça pra isso. Mas por que o senhor quer
chamar a polícia? Acha que alguém mandou ela tomar esse remédio que o senhor
falou?
-Obrigada ou não,
ela tentou abortar, o que não é permitido pela lei, a não ser em caso de risco
para a vida da gestante ou de abuso sexual. Tirando isso, ela jamais poderia
ter...
-Mas a gente não
sabe o que aconteceu. Só quando ela acordar é que vai poder explicar.
-Se acordar, rapaz.
Eu já vi muitos casos assim. Mas o que me impressiona não é o estado dela. É o
fato de não ter acontecido nada com o bebê. O feto está em perfeitas condições,
não sofreu nada que o prejudicasse, mesmo com a mãe em coma e com uma hemorragia
difícil de controlar.
-Foi milagre.
-Talvez tenha sido
mesmo...
-“Tenha sido” não.
Foi.
-Bom, você entre em
contato com a família dela, que nós precisamos de uma pessoa pra ser
acompanhante da moça. Agora você vai ter que me dar licença.
-Pode ir, Doutor.
Obrigado.
Toni sai do
hospital em silêncio, abatido, pensando em como dar a notícia para a vizinha
Heloísa.
/////
O rapaz, ao voltar
para o bairro, estaciona a moto na porta de Heloísa. Algo que Iolanda, com a
janela aberta, estranha no filho. Mas decide não chamá-lo. Toni toca a
campainha.
-Já vai- abre a
porta- Oi, Toni. Tudo bom?
-A senhora tá
ocupada? Ainda vai sair pra trabalhar hoje?
-Tô uns dias em
casa. A minha patroa tá viajando. Foi pra Juazeiro do Norte.
-Dona Heloísa, eu
posso entrar rapidinho? Tenho que falar com a senhora.
-Pode, sim, meu
filho. Entra, por favor- Toni entra e Heloísa fecha a porta- Não repara na
bagunça, que ainda falta mudar o sofá de lugar. O que houve?
-Eu vim aqui por
causa de Lívia.
-O que é que tem
ela?
-É que ela tá no
hospital, e eu vim avisar a senhora.
-Minha filha? No
hospital? Mas o que houve?
-Foi um sangramento
que ela tava tendo, eu encontrei com ela por acaso no prédio do Pastor...
-Toni, como é que
ela tá? Ela tá melhor?
-Não. Ela tá inconsciente,
Dona Heloísa. Saí do hospital e ela não tinha acordado ainda. Ficou internada.
-Em que hospital
ela tá, Toni? Me leva pra lá que eu quero ver minha filha agora!
-Calma, eu vim pra
buscar a senhora...
-Nenhum médico
atendeu Lívia? Ela vai ter que ficar esperando um médico aparecer?
-Não, o médico
atendeu ela, sim. Mas ele falou que era melhor deixar ela lá. Vem comigo, eu
levo a senhora.
-Espera, eu vou no
quarto pegar os documentos de Lívia pra levar até o hospital. Já venho.
-Eu ajudo a senhora
a procurar.
Ao entrar no quarto
de Lívia, Heloísa e Toni procuram algum documento da jovem. A mãe decide
procurar na mesa de cabeceira, enquanto o DJ procura nas gavetas do guarda-roupa.
Mas um detalhe chama a atenção da doméstica.
-O que é isso?
Toni se vira e vê
Heloísa recolher, do cesto de lixo, o teste de gravidez que Lívia comprou.
/////
Karen está
preparando o jantar, quando o interfone toca.
-Fala, Seu Claudinei.
-Seu Danilo está
querendo subir pra falar contigo.
-Danilo?
-É. E está com um
buquê de flores. Posso mandar subir?
-Pode- estranha a
atitude do ex- Obrigada.
Enquanto o rapaz
não entra, a estudante continua arrumando a mesa. Ouve-se o som da campainha.
Quando ela abre a porta, o vê escondendo o buquê de flores nas costas.
-Parece até que você
sabia que eu vinha. Tá linda.
-O que você quer
aqui, Danilo?
-Te ver. E te
trazer isso também.
-São muito bonitas.
Não acho que precisava.
-Você merece.
-Pena que é um
presente não muito apropriado.
-Não?
-Pois é. Funciona
quando um homem dá pra mulher que ele ama. Ou que, pelo menos, seja sua
namorada. E até onde eu sei, não somos nada disso.
-Tem razão. Não
somos namorados. Somos noivos.
-Como assim? Do que
você tá falando, Danilo?
Do buquê, Danilo
tira uma aliança e coloca na mão direita de Karen. Depois, faz um pedido,
mostrando a sua mão com outra aliança.
-Quer casar comigo,
Karen? Não aceito “não” como resposta.
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