-Espera um minutinho, Toni- Juliano volta para enfermaria e confere se o corpo de Lívia ainda está lá.
-Juliano, o que
foi?
-Nada.
-Como é que não foi
nada?
-Me diz que você tá
me escutando, por favor...
-A que horas eu
passo lá no aeroporto?
-Se puder ir agora,
é melhor.
-Tá bom. Eu vou te
esperar lá, então.
-OK. A gente se vê
lá. Um abraço.
-Outro- desliga o
celular- Eu podia jurar que era a voz...
-Não é sua
imaginação, não. Você não tá delirando. Sou eu, Lívia.
O jovem fica
encostado à parede por poucos segundos.
-Ninguém tá falando
comigo. Eu tô sonhando... Isso é um sonho...
-Me escuta! Você
tem que falar com minha mãe, a Karen tá mentindo pra ela, e eu não sei por quê!
Por favor, me ajuda! Só você pode me ouvir.
Juliano corre para
a entrada do hospital, na esperança de encontrar um táxi.
-Para de me
ignorar, que eu sei que você tá me ouvindo.
-Não tô ouvindo
nada! É alucinação da minha cabeça...
-Menino, por favor,
me ouve: a minha mãe pensa que eu dormi com um desconhecido na festa, mas é
mentira! Eu fui abusada sexualmente, a minha amiga mentiu quando teve aqui...
-Você não tá falando
comigo! Tá deitada naquela cama, sem poder se bulir!- ao perceber que o tom de
voz chama a atenção dos transeuntes, acena para um táxi.
-Não, cara! Me espera!-
Juliano entra no veículo, sem querer dar importância à presença da estudante-
Volta aqui! Me espera! Ele pode me ouvir... Ele vai me ajudar...
/////
Horas depois, Rafael
volta à enfermaria e vê que um dos auxiliares está mudando a moça de posição.
-E o rapaz que
estava aqui?
-Quando eu cheguei,
não tinha ninguém com ela, Doutor.
-Notou alguma coisa
de diferente nela?
-Os sinais vitais...
Estão desaparecendo.
-Meu Deus... Por
mais que eu já tenha visto casos assim, eu sempre tenho um sopro de esperança.
-Não me admira que
a situação grave dessa moça não recue. Se ela estiver escutando tudo o que foi
dito aqui nesses dias...
-É verdade. A mãe
de Lívia foi muito dura. Eu espero profundamente que essa mulher se arrependa e
volte a ver a filha enquanto houver tempo. Mas e o bebê?
-Vem crescendo
naturalmente.
-Talvez isso seja
um sinal. Um sinal de que ainda não é o fim.
/////
Patrícia entra no
escritório de Rafael, procurando pela empregada.
-Etelvina?
-Sim, senhora?
-Meu marido ligou?
-Ligou, sim. Há uns
dois minutos.
-E por que não me
chamou, sua anta?
-Dr. Rafael não demorou
nada no telefone, disse que vinha almoçar e pediu pra lhe avisar.
-Que ótimo... Pode
se retirar.
-Com licença.
-E o Danilo, hein?-
anda de um lado para o outro- Será que ele já conseguiu dobrar a fera da Karen?
Patrícia encontra
um envelope de laboratório com o nome “Rafael Duarte”. Com um estilete, ela
decide conferir o resultado, e fica boquiaberta com o que lê. Disposta a não
ser flagrada pelo marido, ela procura um tubo de cola e novamente sela o
envelope. Logo em seguida, fecha a porta do escritório, desacreditada do que
acaba de ler.
/////
No aeroporto,
Juliano está de óculos escuros, aguardando pela chegada de Toni. Os dois irmãos
se cumprimentam com um abraço.
-Por que você
demorou?
-Teve um problema
na hora da decolagem, a gente teve que esperar mais um pouco pra embarcar. E
Mainha?
-Ficou fazendo o
almoço. Só ficou em casa porque se viesse, Painho não comia nada quando
chegasse do trabalho.
-E você? Por que não
foi trabalhar hoje?
-Disse que queria
ver aquela menina.
-Sei. Mas tem
alguma coisa estranha com você.
-Eu? Coisa
estranha?- tenta fugir da afirmação com o olhar, ainda mais distante.
-Tem a ver com a
pessoa que tava falando contigo quando eu te liguei, não tem? O que houve,
Juliano? Olha, se alguém tirou onda com a sua cara, eu já vou logo avisando
que...
-Lívia. Lívia pode
escutar a gente, ouvir tudo que a gente fala.
-Que bom, cara. Vai
ver assim ela se sente melhor. Eu já andei lendo uns casos na internet em que a
pessoa, mesmo nesse estado, pode ouvir tudo. Foi Dr. Rafael que te disse isso?
-Não. Foi ela.
-Ela quem?
-A Lívia, Toni. A
Lívia falou comigo, e me pediu ajuda.
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