13/04/2015

LEVE-ME DAQUI/ CAPÍTULO 13: LEVE


-Espera um minutinho, Toni- Juliano volta para enfermaria e confere se o corpo de Lívia ainda está lá.
-Juliano, o que foi?
-Nada.
-Como é que não foi nada?
-Me diz que você tá me escutando, por favor...
-A que horas eu passo lá no aeroporto?
-Se puder ir agora, é melhor.
-Tá bom. Eu vou te esperar lá, então.
-OK. A gente se vê lá. Um abraço.
-Outro- desliga o celular- Eu podia jurar que era a voz...
-Não é sua imaginação, não. Você não tá delirando. Sou eu, Lívia.
O jovem fica encostado à parede por poucos segundos.
-Ninguém tá falando comigo. Eu tô sonhando... Isso é um sonho...
-Me escuta! Você tem que falar com minha mãe, a Karen tá mentindo pra ela, e eu não sei por quê! Por favor, me ajuda! Só você pode me ouvir.
Juliano corre para a entrada do hospital, na esperança de encontrar um táxi.
-Para de me ignorar, que eu sei que você tá me ouvindo.
-Não tô ouvindo nada! É alucinação da minha cabeça...
-Menino, por favor, me ouve: a minha mãe pensa que eu dormi com um desconhecido na festa, mas é mentira! Eu fui abusada sexualmente, a minha amiga mentiu quando teve aqui...
-Você não tá falando comigo! Tá deitada naquela cama, sem poder se bulir!- ao perceber que o tom de voz chama a atenção dos transeuntes, acena para um táxi.
-Não, cara! Me espera!- Juliano entra no veículo, sem querer dar importância à presença da estudante- Volta aqui! Me espera! Ele pode me ouvir... Ele vai me ajudar...

/////

Horas depois, Rafael volta à enfermaria e vê que um dos auxiliares está mudando a moça de posição.
-E o rapaz que estava aqui?
-Quando eu cheguei, não tinha ninguém com ela, Doutor.
-Notou alguma coisa de diferente nela?
-Os sinais vitais... Estão desaparecendo.
-Meu Deus... Por mais que eu já tenha visto casos assim, eu sempre tenho um sopro de esperança.
-Não me admira que a situação grave dessa moça não recue. Se ela estiver escutando tudo o que foi dito aqui nesses dias...
-É verdade. A mãe de Lívia foi muito dura. Eu espero profundamente que essa mulher se arrependa e volte a ver a filha enquanto houver tempo. Mas e o bebê?
-Vem crescendo naturalmente.
-Talvez isso seja um sinal. Um sinal de que ainda não é o fim.

/////

Patrícia entra no escritório de Rafael, procurando pela empregada.
-Etelvina?
-Sim, senhora?
-Meu marido ligou?
-Ligou, sim. Há uns dois minutos.
-E por que não me chamou, sua anta?
-Dr. Rafael não demorou nada no telefone, disse que vinha almoçar e pediu pra lhe avisar.
-Que ótimo... Pode se retirar.
-Com licença.
-E o Danilo, hein?- anda de um lado para o outro- Será que ele já conseguiu dobrar a fera da Karen?
Patrícia encontra um envelope de laboratório com o nome “Rafael Duarte”. Com um estilete, ela decide conferir o resultado, e fica boquiaberta com o que lê. Disposta a não ser flagrada pelo marido, ela procura um tubo de cola e novamente sela o envelope. Logo em seguida, fecha a porta do escritório, desacreditada do que acaba de ler.

/////

No aeroporto, Juliano está de óculos escuros, aguardando pela chegada de Toni. Os dois irmãos se cumprimentam com um abraço.
-Por que você demorou?
-Teve um problema na hora da decolagem, a gente teve que esperar mais um pouco pra embarcar. E Mainha?
-Ficou fazendo o almoço. Só ficou em casa porque se viesse, Painho não comia nada quando chegasse do trabalho.
-E você? Por que não foi trabalhar hoje?
-Disse que queria ver aquela menina.
-Sei. Mas tem alguma coisa estranha com você.
-Eu? Coisa estranha?- tenta fugir da afirmação com o olhar, ainda mais distante.
-Tem a ver com a pessoa que tava falando contigo quando eu te liguei, não tem? O que houve, Juliano? Olha, se alguém tirou onda com a sua cara, eu já vou logo avisando que...
-Lívia. Lívia pode escutar a gente, ouvir tudo que a gente fala.
-Que bom, cara. Vai ver assim ela se sente melhor. Eu já andei lendo uns casos na internet em que a pessoa, mesmo nesse estado, pode ouvir tudo. Foi Dr. Rafael que te disse isso?
-Não. Foi ela.
-Ela quem?
-A Lívia, Toni. A Lívia falou comigo, e me pediu ajuda.

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