-Eu sei o que “tô” falando!
Aquela infeliz quis botar a culpa em mim! Invadiu... – grita de dor.
-Calma, por favor! Você sabe
que eu vou cuidar de você.
-Quero falar com a minha
mulher... Pelo telefone...
-Já liguei várias vezes pros
números que você me deu, meu filho. Ninguém atende.
-O senhor não entende... Só
preciso ver a Giovanna... Mais ninguém.
-Quem é essa Virna? E a irmã
de quem estava falando agora pouco?
-Me acusaram... De
assassinato... Essa mulher, a Virna, era minha secretária... Mataram.
-Misericórdia... Mas por que
acham que você é o culpado?
-A irmã dela... É quem diz
que eu sou o culpado... Como eu não fui preso, ela deu um jeito de... Das
pessoas pensarem que eu sou um assassino.
-Jeito? Que jeito ela deu?
-Eu guardava... Um explosivo
no meu escritório... Ela roubou e colocou no carro de um funcionário meu...
Todo mundo... Pensou que a culpa fosse minha...
-Tudo isso que você está me
contando é monstruoso, meu filho.
-Por isso que eu não quero...
Ir pro hospital... Me internaram como louco, e eu fugi... Se me encontram, vão
me mandar de volta pra lá... Ou pra cadeia...
-Eu não sei, mas algo dentro
de mim diz que eu preciso ajudar esse rapaz- pensa Felipe- Não se preocupe com
isso. Eu não vou te denunciar. Mas você também terá que me prometer que não vai
fazer nada sem me consultar. Pense muito bem antes de tomar alguma atitude
precipitada.
Bruno, apesar da saúde
fragilizada e do modo brusco de tratar as pessoas à sua volta, se sente amparado
pelo padre, podendo, ainda que pouco tempo, se sentir aliviado diante de todas
as tragédias que o rodeiam.
|||||
Ainda naquela madrugada,
Leandro desce pela escada de sua casa e atende ao telefone. Valentina continua
na cama.
-Alô?
-Leandro? Sou eu, Beatriz.
-Beatriz? O que houve?
Aconteceu alguma coisa com mainha?- fala baixo, com o intuito de não preocupar
a esposa.
-Foi internada de novo,
Leandro.
-Ainda aquela suspeita?
-Não quer se alimentar, se
sente fraca. Achei melhor trazer ela pro hospital.
-E o médico disse o quê?
-Fez uns exames, mas o
resultado só fica pronto no fim dessa semana.
-Eu disse tanto que era pra
vocês virem pra cá. Eu tenho trabalho aqui, a minha casa tem espaço pra vocês
duas. Mas vocês só querem ficar aí, em Alagoas.
-Também achei que seria melhor
mainha ficar contigo, mas ela se recusa.
-Tudo bem. Qualquer coisa,
você me avisa.
-Você não vem pra cá? Mainha disse
que quer você aqui.
-Eu tenho que falar com
Valentina primeiro. Teve esse problema todo da irmã dela, o assassino fugiu...
Olhe, “tá” complicado aqui também.
-Certo. Eu aviso a ela. Mando
notícias.
-Ligue mesmo. Beijo.
-Quem era, Leandro?-
Valentina desce tardiamente.
-Engano.
-A essa hora?
-Procurando uma tal de...
Qual era o nome mesmo?- procura ganhar tempo para despistar a mulher- Glória.
-Esse tempo todinho?
-Dizendo pro rapaz que era
engano, que não tinha Glória nenhuma aqui. Nem queria desligar o telefone,
insistindo comigo. Mas deixa pra lá, vamos pra cama- diz, com pesar.
-Vamos, sim.
|||||
Valentina está varrendo o seu
quarto, no fim da manhã seguinte, e para pra pensar.
-Onde foi que você ser meteu,
Bruno? Tenho que dar um jeito de atrair você. A polícia tem que continuar te
procurando... Ah, já sei o que eu vou fazer- pega o telefone e disca o número
da pessoa que contratou o bandido pra dar um susto em Bruno e em Giovanna- Oi,
sou eu. Valentina. Tem alguma novidade do Bruno? Que droga! Mas se ele “tiver”
por perto, eu sei como vão achar aquele miserável. Você precisa fazer o
seguinte...
|||||
Uma pessoa misteriosa entra
na casa de Leandro e Valentina e vai até a cozinha. Abre o armário e encontra uma
caixa de fósforos. Abaixa-se até a pia, onde há uma garrafa de álcool, juntos
com alguns produtos de limpeza.
Sobe às escadas. A porta do
quarto de Valentina está encostada, com a chave por fora. Lentamente, e sem
fazer barulho, a moça é trancada, mas não se dá conta. Em seguida, a pessoa
derrama álcool no corredor e no corrimão da escada para atear o fósforo aceso
sobre o líquido.
Valentina sente o cheiro da
fumaça e vai conferir o que é. Ao tocar na maçaneta, sente ela quente.
-O que é isso?
Valentina pega o lençol da
cama, enrola-o em sua mão e segura na maçaneta novamente. Começa a gritar por
socorro ao entender que a porta está fechada por fora.
|||||
Leandro está num botequim,
próximo à sua casa.
-Me vê uma dose de uísque,
por favor.
-Pra já, delegado- atende-lhe
o garçom.
-E aí, homem?
-Iago? Fazendo o quê aqui?
-Ocorrência aqui perto.
Agressão contra mulher. Parei um minuto e vim aqui tomar um café. Posso
acompanhá-lo?
-Que formalidade é essa,
homem? Não precisa nem perguntar.
-O que foi? Que cara é essa?
E por que você está aqui, em vez de estar em casa, aproveitando sua folga?
-Evitando Valentina.
-Sério isso? Por quê?
-Promete que não conta pra
ninguém?
-Fala.
-Já faz um tempo que a gente
se planeja pra ter um bebê. Mas depois do que houve com a Virna, ela só fala de
vingança, de justiça... Vinte e quatro horas por dia.
-Mas isso é natural, Leandro.
A irmã dela não morreu acidentalmente, foi assassinada.
-Só que eu acho que isso
virou uma obsessão. Faz uns dias que eu tentei... Bom, que eu quis tocar nela.
-E ela?
-Preferiu dormir no sofá do
que comigo.
-Que estranho...
-Seu Leandro!- uma garota
chega ao botequim, gritando.
-O que foi, menina?
-A sua casa “tá” pegando
fogo!
-O quê?
-Tem certeza disso?
-Ninguém “tá” conseguindo
abrir a porta. Tem alguém gritando lá dentro.
-A Valentina! Minha mulher!-
Leandro corre para socorrer a esposa, seguido de Iago e de outros vizinhos.
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