No corredor do hospital, Marisa
senta ao lado da filha.
-Daqui a algumas horas, o
Henrique vai ser transferido pra área da oncologia. Filha, fala alguma coisa.
-Eu estou sem chão, mãe. Eu
mal pude segurar meu filho nos braços, e agora isso? Por que tinha que acontecer
isso, mãe? Justo com ele?
-Minha filha, é sobre isso
que eu vim falar. Por mais que eu tenha insistido, eu acho que já está na hora
de entrarmos em contato com a família do Bruno.
-Pra quê?
-Querida, entenda. Eu sei que
tudo o que você fez foi pra fugir dele, mas acontece que você tem que pensar
nessa criança.
-Eu também fiz o teste pra
ver se sou compatível, assim como você. É lógico que eu vou poder doar a medula
pro Henrique.
-Com licença, senhoras.
-E então, doutor? Qual o resultado
do exame da compatibilidade com o meu neto?
-Infelizmente, nenhuma das
duas poderá doar a medula pro bebê.
-Não... O senhor só pode
estar mentindo.
-Calma, minha filha!
-Como calma, mãe? Que calma?
O meu filho está prestes a morrer, pode parar de respirar a qualquer momento,
não tem um mês de vida! E você quer que eu fique calma?
-Talvez se vocês procurassem
algum parente dele... E o pai da criança? Ele sabe o que está acontecendo?
-Não se preocupe, doutor...
Nós vamos procurá-lo, o mais rápido possível.
Giovanna sai correndo pelo
hospital.
-Aonde ela vai?
-Deixa, doutor. Deixa a minha
filha esfriar a cabeça. Ela vai tomar a melhor decisão pela saúde do filho
dela.
|||||
Iago recebe uma ligação de
Valentina.
-Fala, amor.
-Não diz isso, vai que alguém
te escuta falando aí na delegacia...
-Não sei por quanto tempo vou
ter que esconder o que sentimos um pelo outro.
-Ah, me poupe. Há tempos que
fazemos esse teatrinho. Pode muito bem aguentar mais um pouco.
-Então, o que é que você
quer?
-Saber do meu marido.
-Isso eu também quero saber.
-Não mais do que eu. Leandro
não dormiu em casa, e eu estou preocupada.
-Quer dizer que você também
não sabe do que ele fez aqui?
-Como assim?
-Disse ao Novaes que eu tinha
que encerrar a minha folga e ocupar o lugar dele até ele voltar. Saiu sem dizer
nada de pra onde ia, o que ia fazer. Pensei que você tivesse alguma ideia.
-Não, nenhuma. Esse sumiço
está estranho. Tem pouca roupa dele no armário.
-Espera um pouco, estou lembrando
de uma coisa...
-O quê?
-Leandro não está com uma mãe
doente, em Alagoas?
-E ele ia até lá sem me
avisar?
-Leandro se queixa de sua
falta de interesse por ele.
-Mas a esse ponto? De sumir
sem deixar rastro?
-Só pode ter ido pra lá. A
irmã dele ligou essa semana. Vai ver que a mãe dele piorou, não foi?
-Vou comprar minha passagem e
ir pra lá agora!
-Pra quê?
-Você acha que o Leandro vai
acreditar que eu sou uma esposa carinhosa sem dar sinal nenhum de que saí pra
procurar ele? E depois, se eu fingir que me preocupo com aquela velha, vai ser
bom pra mim. Ganho pontos com ele. E, assim, não desperto nenhuma suspeita.
-Mas e o Bruno?
-Se ele aparecer, liga pra
mim que eu saio de lá correndo. Continue no rastro daquele infeliz.
|||||
Giovanna está caminhando
pelas ruas da cidade, e avista Felipe ao longe, varrendo a fachada da igreja.
Sem notar a moça, ele adentra no recinto, onde se dirige a Bruno, que está
varrendo o altar.
-Já não está na hora de você
descansar, meu filho?
-Quem tem que descansar é o
senhor. Ficou quase o dia todo sem comer nada.
-Talvez você tenha razão.
Amanhã a gente termina, logo cedo.
-Bom, acordar cedo não é lá o
meu forte. O senhor sabe. Eu posso dar uma paradinha rápida e voltar a limpar
isso daqui.
-Não é melhor descansar e
retomar essa limpeza amanhã?
-Pode deixar. Só vou parar um
pouquinho. Mas o melhor agora é o senhor se deitar.
-Está bem, então- benze o
arqueólogo- Que você seja abençoado, meu filho.
-Com urgência. Boa noite,
padre.
-Boa noite.
-Ele tem razão. É melhor
mesmo eu descansar, nem que seja um pouco- e Bruno vai ao confessionário, onde
senta para repousar.
Encontrando a porta da igreja
aberta, Giovanna chega aos prantos e se aproxima do confessionário. Ela também
entra e ajoelha.
-Padre?
Bruno reconhece a voz da
esposa.
-Giovanna?- pensa.
-A sua bênção, seu padre-
fica desconfortável com o silêncio- O senhor está aí?
-Sem pecado, concebida-
responde o jovem, embargando a voz.
-O senhor não tem ideia do
quanto estou sendo castigada pelo mal que eu causei... Mas não era pro meu
filho estar sofrendo isso tudo no meu lugar. Tudo o que eu queria era
protegê-lo.
Sem entender o que a esposa
está dizendo, Bruno prossegue com o teatro.
-Explique.
-Há alguns meses, eu tinha
uma vida feliz, era casada com um homem lindo, bem educado, que parecia que me
amava mais do que tudo... De repente, eu começo a descobrir que as pessoas
pensam que ele é um monstro. Meu marido foi acusado de cometer mortes, de
tramar assassinatos...
-Você acreditou?
-Tudo estava contra ele, as
evidências eram claras. Só que um dia, ele pegou um revólver e atirou na minha
direção. Ele disse que foi um acidente, que ele não teve culpa, mas eu não
acreditei. Eu sabia que o meu esposo daria um jeito de continuar ao meu lado,
mas eu fiquei com medo, porque estava grávida dele.
-O que fez?
-Eu disse que, na ocasião em
que ele quase me matou, eu tinha sofrido um aborto.
-Não foi isso?
-Não, padre. O nosso filho
nasceu. Eu menti pro meu marido sentir culpa.
Rapidamente, Bruno começa a
se sentir sem ar dentro do confessionário. Giovanna chora cada vez mais, sem
imaginar com quem está conversando.
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