13/11/2014

MENTES/ CAPÍTULO 23: AONDE VOCÊ QUISER, EU VOU FICAR

No quarto, Giovanna espera ao lado de Marisa pela chegada do bebê.
-Mãe, ele “tá” demorando.
-Calma, minha filha. Vai ver é a sua ansiedade.
-Já passaram várias enfermeiras, e nada de darem notícia sobre o bebê.
-Já escolheu o nome dele, Giovanna? Nada que lembre o Bruno, não é?
-Henrique. Ah, mãe... Não vejo a hora de senti-lo nos meus braços de novo.
-Pode ter certeza, meu amor, de que eu vou estar ao seu lado. Sabe que pode contar comigo.
-Giovanna?- o médico entra vagarosamente no quarto, apreensivo.
-Doutor! Eu estava mesmo esperando pelo senhor.
-Eu preciso falar com você. A sós.
-Não tem problema de falar na frente da minha mãe.
-Tem razão, desculpe. Esqueci que a senhora estava com ela na hora do parto.
-Não há problema, doutor. Cadê o Henrique... Digo... – dá um riso nervoso- Cadê o meu neto? A enfermeira já vem trazê-lo?
-Por que o senhor mesmo não o trouxe, doutor? Aconteceu alguma coisa?
-Infelizmente, o bebê teve um sangramento.
-Sangramento? Meu filho está bem?
-Nós tivemos que levá-lo para fazer um hemograma, já que isso não é comum em crianças nessa idade. Também percebemos uma ligeira perda de peso nesses dois dias que se passaram.
-O que o senhor acha que meu neto tem, doutor?
-Ainda é cedo para diagnósticos. Eu prefiro que esperemos o resultado do exame. Por isso que são poucas as vezes que a enfermeira o traz para ser amamentado. Preferimos deixá-lo na incubadora, para evitar quaisquer riscos à saúde dele.
-E... – Giovanna se aflige- Quando é que esse exame fica pronto?
-Mandamos a análise para o laboratório. Creio que ainda nesta noite, nós podemos descobrir do que se tratam esses sintomas.

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Há dias sem dormir, Leandro vai à delegacia. Lá, o telefone toca.
-Alô?
-Alô. Eu gostaria de falar com o delegado Leandro.
-Sou eu, Beatriz, não reconhece minha voz?
-Ah, desculpa, Leandro. É que faz dias que eu ligo e só me atende um tal de Iago. Ele não te avisou das minhas ligações?
-Não, Iago não tem me contado muita coisa ultimamente. O que aconteceu? Mainha melhorou mais?
-Nós duas procuramos o médico essa semana.
-E ele disse o quê?
-Pediu pra que ela fizesse três sessões de quimioterapia, durante duas semanas.
-Quer dizer que avançou?
-Não avançou, Leandro. Mas continuou na mesma, e isso é bem grave do mesmo jeito.
-Beatriz, eu vou... Eu “tô” indo “praí” agora! Vou fazer a minha mala e pegar uns documentos, mas vou pra Alagoas cuidar de mainha!
-Espera! Mas agora? Mas e o teu trabalho? Leandro, você tem que pedir licença, avisar da situação pra tua mulher.
-Valentina não tem que saber. Aliás, vai ficar muito bem sem mim. Só vou pedir que não liguem pra casa, nem avisem que eu vou viajar pra ficar com minha mãe;
-Brigaram, foi?
-Quando eu chegar, eu te conto tudo, certo? Beijo- desliga o telefone- Ainda tem mais essa... Tomara que ela não esteja em casa, não quero olhar pra cara dela antes de sair de vez de lá- levanta e pega a chave do carro. Novaes chega à sala.
-Vai sair, Leandro?
-Diz pro Iago que ele vai ter que me cobrir.
-À tarde toda? Mas hoje é folga dele.
-Não interessa. Diz pra aquele safado me cobrir até o dia que eu voltar.
-Mas o que foi que houve, cara? “Tá” tudo bem?
-Não, não está. Coloca o Iago pra cuidar da delegacia. Eu não sei quando volto aqui.
-Algum problema com a Valentina?
-Chega de pergunta, Novaes! Faz o que estou mandando, que saco!- vai até o carro.

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Felipe e Bruno ornamentam a Igreja Alagoana da caridade.
-A data mais esperada do ano. Essa quermesse vai ajudar tanta gente, que precisa de donativos.
-E aqueles que o senhor conseguiu indo pra Recife? Não foram o bastante?
-A caridade nunca é demais.
-Olha só, padre: esse vaso eu coloco em qual lugar? Ao lado do altar?
-Sim, é melhor.
Bruno leva o vaso com flores ao local sugerido e Felipe o observa, sorridente.
-Sorrindo de orelha a orelha por causa de uma festinha?
-Mais do que isso. Em outros tempos, você não aceitaria ajudar uma pessoa dessa forma, como está fazendo hoje.
-Eu estou apenas retribuindo a confiança que o senhor depositou em mim. Acreditou em mim quando ninguém mais queria fazer isso.
-Bruno, quando é que você pretende encarar esse seu passado de vez e procurar provas que validem sua inocência?
-Me falta aquilo que sempre tive de sobra, padre: coragem.
-Do jeito que esse passado te cerca, com diversas reportagens especulando seu paradeiro, não vai ser preciso que você tenha que correr atrás dele.
Bruno sente um frio em seu peito esquerdo.
-Alguma coisa “tá” acontecendo.
-Por que diz isso, filho?
-Eu não sei. Ou melhor, sei, sim.  Como se fosse um pressentimento. A última vez que eu senti isso foi no dia que a minha mãe morreu.
-Valha-me, Deus...

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Anoitece, e o médico vai até o quarto onde Giovanna está se recuperando.
-E então, doutor?
-As notícias não são nada animadoras.
-O que houve, doutor? Já sabe o que meu neto tem?
-Infelizmente, sim.
-É muito grave?
-A equipe médica terá que transferir o Henrique para outra área: a da oncologia.
-Não pode ser. O meu filho não pode estar doente, não pode! Diga que é mentira, doutor... Diz que é mentira!
-Henrique tem uma doença chamada “leucemia linfoide aguda”. Ele vai ter que ficar internado aqui até que o tratamento seja concluído.
-Mas não há nada que possamos fazer?- pergunta Marisa, chocada com a revelação.
-Pelo que eu pude perceber, o seu neto tem que se submeter a um transplante de medula urgentemente.

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