20/11/2014

MENTES/ CAPÍTULO 25: MAS DEIXE QUE EU TE DIGA AGORA O QUE VOCÊ FEZ COMIGO

Percebendo que quer ouvir o que Giovanna tem a dizer, Bruno volta ao confessionário.
-E... Está arrependida do que fez?
-Não sei... Não sei se foi o melhor... Mas agora eu tenho que procurá-lo. Pelo menos, procurar a família do meu marido.
-Por quê?
-Meu bebê nasceu há poucos dias.
-Você quer que o pai o conheça?
-Não, a questão não é essa. Ele está doente. Tem leucemia- Bruno fica devastado com a revelação- Só vai poder se curar se fizer um transplante de medula... E eu não sou compatível com ele, minha mãe também não é. Por isso eu tenho que procurá-lo. Mas eu sinto medo. Medo por mim e pelo meu filho.
-Mas é filho dele! Ele não pode fazer mal ao próprio filho.
-Já tentou, padre.  Tentou quando eu já estava esperando o meu filho. Só que agora...
-Sabe o quanto é grave o que você fez? Você privou uma pessoa de viver a plenitude da paternidade.
-Mas fiz pra protegê-lo. Eu não sei o que ele seria capaz de fazer se soubesse que eu levaria a gravidez adiante.
-E o bebê?
-Está internado, no Hospital Geral. Ainda hoje vai ser transferido pra área da oncologia. O que eu faço, Padre? Como eu posso agir?
-Filha... – mesmo chorando, Bruno mantém a calma- Você precisa encontrar o pai de seu filho, dar uma chance para que ele se aproxime e explique o que aconteceu.
-Não, eu não posso fazer isso... Ele pode me matar quando descobrir que eu escondi a verdade... Eu não posso! Não posso!- sai correndo.
-Meu filho... Vivo... Agora, sim. Mais do que nunca. Eu preciso provar a minha inocência- dá um riso nervoso, ainda sem acreditar.
Bruno fecha a igreja e vai até a casa paroquial, onde Felipe já está dormindo. O arqueólogo olha para o cabide que fica ao lado da cama. Este segura a batina do padre. O jovem toca na vestimenta e tem uma ideia.

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Leandro está no quarto do hospital com Beatriz e a mãe.
-Se sente melhor?
-Um pouco. Os olhos estão ardendo muito.
-É o efeito da quimioterapia.
-Por que você não veio me ver antes, meu filho?
-Desculpa, mãe. Eu estava dando mais atenção aos problemas de lá do que à senhora. Mas eu vou corrigir isso, prometo.
-E a sua esposa, meu filho? Por que Valentina não veio com você?
-Valentina tem aqueles problemas do caso da irmã dela, sabe que ela não pode vir pra cá nesse momento.
-Brigaram?
-Não. Ela nem me dá mais a oportunidade de fazer isso.
-O que aconteceu, então, Leandro?
-Mainha, pare de fazer essas perguntas, senão a senhora vai acabar piorando.
-Beatriz tem razão. É melhor eu procurar a enfermeira e pedir pra trazer sua comida. Eu volto logo.
Assim que abre a porta, vê Giovanna passar rapidamente, mas esta não nota o delegado, que estranha o fato de ela estar naquele local.

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Marisa está na enfermaria com Henrique, com o telefone em mãos.
-O que você está fazendo?- pergunta Giovanna ao entrar.
-Estava esperando você chegar. Onde foi?
-À igreja. Falei com um padre, e ele me aconselhar a procurar o Bruno, a dar a chance de ele se defender. Quem sabe ele pode salvar o Henrique?
-Bruno continua foragido, Giovanna. Desde a época que ele foi internado numa clínica psiquiátrica.
-Como soube disso?
-Acabei de ligar para a casa do Plínio, e falei com a governanta. Ela está desesperada sem saber notícias dele.
-Não contou a ela sobre o bebê, contou?
-Não contei, por enquanto. Mas talvez o Plínio possa nos ajudar. Talvez ele possa doar a medula que tanto precisamos pra salvar a vida do Henrique.
-Em compensação, ele pode tomar o meu filho de mim, já que eu menti pro filho dele.
-Não seja tola, minha filha. O Plínio entenderia perfeitamente o seu problema. E depois, já vimos com essa confusão toda que a última coisa que ele gostaria de ser é próximo ao Bruno. Pense na saúde do Henrique, em salvar essa vida que é sua também. Deixe o orgulho de lado, Giovanna. Esqueça o que o Bruno fez, passe por cima de tudo isso pelo bem do bebê!
Giovanna continua pensativa.
-Falou com ele?
-Já está dormindo, eu não quis incomodar. Disse à Noêmia que o assunto era de extrema urgência. Mas amanhã, antes de ele ir ao prédio do Mentes, ele vai retornar a minha ligação. Pode ter certeza.

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Amanhece o dia. Beatriz ainda está no quarto, velando o sono da mãe e de Leandro. O delegado acorda.
-Você ficou aí, à noite toda?
-Sem sono, Leandro.
-Falou com o médico?
-Disse que ainda é cedo pra dizer alguma coisa, mas pelo menos parece que ela está reagindo bem.
-Que alívio... Beatriz, eu acho melhor você tomar um banho, dormir um pouco. Vai pra casa que eu fico aqui.
-Mas você vai aguentar?
-Vai por mim, será melhor você repousar um pouco.
-Tudo bem, então. Mas qualquer coisa que acontecer, você me liga.
-Não vai acontecer nada, fica tranquila- beija a irmã.
-Até mais tarde.
-Tchau- Leandro arruma o travesseiro da mãe e ouve a porta sendo fechada por Beatriz. De costas por mais alguns segundos, ouve-a sendo aberta. Irrita-se ao ver que Valentina está dentro do quarto- O que está fazendo aqui?
-O que foi, Leandro? Até parece que não quer que eu saiba do estado de saúde da minha sogra.
-Fala baixo!
-Por que você me escondeu que vinha pra Alagoas? Eu tive que me hospedar num hotel, como se eu fosse uma bandida, porque você anda agindo pela surdina.
-Não te devo explicação nenhuma.
-Ah, deve, sim! Eu mesma dou detalhes dos lugares que eu vou, de cada passo que eu dou... Por que com você tem que ser diferente? Porque é homem?
-Já chega, vamos sair daqui.
-Larga do meu braço, você está me machucando.
-Não fiz isso em anos, não vou começar a fazer justamente agora!- leva a moça até a porta da enfermaria.
-O que está acontecendo, Leandro?
-Isso é você quem vai ter que me responder!- ouve-se o som de Henrique chorando na enfermaria.
-Eu? Você foge da sua casa e do seu emprego como se fosse um bandido, um marginal, e eu é que tenho que dar explicação?
-Será que não tem?
-Olha aqui, eu não vou admitir insinuações da sua parte.
-Então, vai admitir de quem? Do seu amante? Do Iago?
-Do que você está falando?
-Que da sua obsessão em encontrar o cachorro do Bruno podia acabar com o nosso casamento, eu já sabia. Mas daí a ficar próxima do cara que está comandando as investigações... Até que você desceu muito baixo pra ver se ele descobre o paradeiro do assassino da sua irmã, não foi? Que senso de justiça maravilhoso o seu.
-Eu não vou admitir que você me acuse de adultério.
-Faço mais do que isso, Valentina! Te acuso de ser piranha mesmo! Aliás, afirmo com toda a certeza do mundo! Nem pra ir pra um lugar discreto, longe da minha vista? Resolveu se esfregar com aquele desgraçado dentro do lugar onde eu trabalho! Pra quê? Pra me humilhar? Não bastasse falar do Bruno vinte e quatro horas por dia, como se ele fosse o homem da sua vida, tinha que seduzir o Iago, sua...
A porta da enfermaria se abre. Giovanna sai, irritada, e fala com ambos, sendo que Valentina está de costas.
-Será que dá pra vocês conversarem lá fora? Meu filho não consegue dormir!
Leandro reconhece a esposa de Bruno e Giovanna se vira para ela, que se assusta com a presença da moça.
-Você?
-Valentina?
-Disse que seu filho não consegue dormir?- adentra na enfermaria abruptamente, sendo seguida por Leandro e pela mãe da criança, que chama a atenção pela sua beleza, em meio a tantas outras. Valentina fica em estado de choque ao descobrir a verdade e reconhecer no bebê traços de seu maior inimigo.

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