26/11/2014

MENTES/ CAPÍTULO 29: TODO SEGUNDO É TUDO

-Como foi que você conseguiu isso?
-Sempre desconfiei de que ela tinha alguma coisa a ver com a morte do Abílio, porque a secretária me falou que ela foi pegar os pertences da Virna que ficaram na minha sala.
-E aí ela tirou o explosivo que você guardava... E pôs no carro do Abílio.
-Eu pedi a ajuda da governanta da minha casa, a pus a par das minhas suspeitas.
-O que mais você sabe sobre ela? Tem algo mais que eu preciso saber sobre aqueles dois?
-Leandro, é melhor você pedir a exumação do cadáver da Virna.
-Por quê? Já está bem claro, ela foi assassinada.
-Não estou me referindo à causa da morte, e sim à identidade da vítima.
-Você não está tentando dizer que... Ah, agora só falta me dizer que quem morreu foi a Valentina e a Virna enganou a todos nós durante quase um ano... Isso é loucura, Bruno! Você quer enlouquecer a todos, manipular como sempre faz!
-Deixa eu te fazer uma pergunta de caráter pessoal: a Valentina tem evitado ter algum contato íntimo com você desde que a irmã faleceu?
-Por que está me perguntando isso?
-Sua cara já diz tudo. Você não voltou a tocar nela porque ela não quis, assim como o Iago também nunca tocou nela, apesar de ter feito todas essas atrocidades. Sabe por que, Leandro? Porque a Virna nunca tinha se entregado a homem nenhum, e se você transasse com ela, saberia que ela assumiu o lugar da irmã pra me destruir.
-Agora eu entendo muitas coisas... Entendo por que de repente ela começou a desistir da ideia de termos um filho... Onde você esteve escondido, nesse tempo todo?
-Numa igreja daqui, de Alagoas. Contei a minha estória a um padre e ele me acolheu. Voltei pra Recife ontem, te procurei assim que soube da verdade, mas soube que você estava aqui. No mesmo hospital que o meu filho está internado.
-Mas se você estava aqui o tempo todo... E o incêndio?
-Incêndio?
-Assim que você desapareceu, a nossa casa pegou fogo. Valentina estava sozinha em casa, e só escapou porque chegamos a tempo, eu e o...
-Quem, Leandro?
-O Iago...
-Está vendo? Mais um plano pra colocar a culpa em mim, pra colocar a polícia no meu pé! Essa mulher está enganando todo mundo, e com a ajuda do mequetrefe do delegado! Você tem que fazer alguma coisa!
-Fazer o quê?
-Usa essa gravação e decreta voz de prisão conta o Iago e contra essa farsante! Faz isso em segredo, senão eles podem escapar.
-Você tem ideia do que está me contando? Primeiro, me diz que a minha mulher é uma assassina. Depois, diz que ela está morta! Se você está dizendo a verdade, por que não estaria morta a Virna, e sim a Valentina, que não tinha nada a ver com você?
-Quem dera se eu tivesse todas as respostas, Leandro... Mas com o que eu tenho, não pode mais deixar aqueles dois livres. Eles mataram a Valentina, mataram o Abílio, quase me fizeram matar a Giovanna e o meu filho! Ligue pra polícia e mande detê-los!
Leandro pega o celular, assustado, e procura um número em sua agenda. Reluta bastante em discar.
-Novaes? Sou eu, Leandro. O Iago... Ele está na delegacia? Não, não chama. Eu preciso que você monte uma operação e expeça um mandado de prisão. Contra ele e a Valentina.

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Saindo da cantina, Giovanna vem com um pouco de café. Ao chegar à área de oncologia, encontra Bruno olhando para Henrique, que dorme. Assustada, deixa a bebida cair.
-Bruno?
-Não esperava por mim, não é? Pensou que eu ficaria preso eternamente no nosso álbum de casamento? Ou nas lembranças ruins que você fez questão de guardar?
-Como foi que você soube?
-Por você. Você se confessou pra mim naquela noite, o padre não estava.
-O quê?
-E seria naquela mesma igreja que se realizaria a missa de sétimo dia do Henrique, não era? Como você teve coragem de mentir desse jeito pra mim?
-Queria que eu fizesse o quê, Bruno? Deixasse o meu filho conviver com um assassino?
Bruno não se contém e dá uma bofetada na esposa.
-Essa vai ser a última vez que você vai se referir a mim dessa forma, ouviu bem?
-Você me bateu, seu covarde! Como é que você teve coragem?
-Você me deu essa coragem! Eu pensei que ninguém mais seria capaz de me decepcionar além do Plínio, mas você se revelou pior do que ele! Você é que é um monstro!
-Monstro? Eu dei te dei amor, carinho, respeito que nenhuma outra mulher poderia te dar!
-Claro que sim! E eu ganhei também o pior sofrimento de todos: a culpa! Eu poderia ter passado a vida toda preso numa clínica psiquiátrica, com remorso por algo que eu não fiz! Tanto que eu te falei naquele hospital que a minha intenção não era machucar vocês... Olha só o que você fez comigo! Olha só o que você fez com o nosso filho! Ainda cogitou a possibilidade de não me pedir ajuda, mesmo sabendo que o Henrique poderia morrer!
-Isso não muda o fato de você ser um criminoso!
-Não, Giovanna- Leandro surpreende a moça- Por mais incrível que pareça, Bruno conseguiu provar que é inocente de alguns dos crimes dos quais ele é acusado.
-Do que você está falando, Leandro?
-O assalto à casa de vocês realmente aconteceu. E foi tudo planejado pra que você se decepcionasse com o Bruno. Colocaram mesmo uma arma na sala de vocês pra que ele fosse preso por porte ilegal.
-Mas... E o assassinato do Abílio?
-Foi cometido pela mesma pessoa que organizou o assalto: a Valentina.
-Você está dizendo que... A sua mulher fez tudo isso só pra prejudicar o Bruno?
-E você acreditou, sua idiota. Em tudo que aquela mentirosa fez e contou.
-Bruno, eu... Eu nem sei o que dizer.
-Não precisa me dizer nada, Giovanna. Eu só quero que você minta outra vez. Só que agora, eu quero que finja pra mim que você morreu. Porque eu vou fazer isso. Independente do nosso filho, eu vou esquecer que você existe- vira-se para Leandro- E o que foi que você resolveu?
-Vamos ter que ir de volta pra Recife. Eu vou ter de deixar o Novaes atuar no caso, já que eu sou ligado a uma das vítimas.
-Não sei da Virna, mas ele pode escapar a qualquer momento. E eu sei como pegá-lo!
-Virna? Mas o que está acontecendo?
-A Virna não morreu, Giovanna. Tudo foi uma farsa pra me colocar na cadeia e me separar de você.
-Isso só vamos ter certeza depois que exumarmos o cadáver- frisa Leandro.
-Então, vamos logo. Eu vou precisar da sua ajuda pra pegarmos o Iago.
-Vamos, sim. Só um minuto- Leandro se dirige à Giovanna- Posso te pedir um favor? Vai até o quarto da minha mãe e diga que eu vou precisar me ausentar por um tempo, mas amanhã eu volto.
-E... Aonde você vai?
-Eu vou seguir o conselho da minha mulher e fazer justiça- afirma, com lágrimas nos olhos, saindo ao lado de Bruno.
-Minha filha? O que houve?
-Um pesadelo, mãe. O pior pesadelo da minha vida!

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O carro de Leandro chega à porta da delegacia, com Bruno.
-E então, Leandro?
-Iago foi a uma lanchonete que fica aqui perto, já que é hora do almoço. Daqui a uma hora, mais ou menos, ele vai pra casa. Você disse que tinha uma ideia pra pegar o Iago.
-Sim. Você lembra que, na conversa que ele teve com a Virna, ele disse que pilotou um helicóptero no dia que eles mataram o Abílio?
-Lembro... Aonde você quer chegar me lembrando disso?
-Se o Iago tentar escapar, ele certamente vai fazer isso pilotando um helicóptero, pois seria muito óbvio uma fuga de carro.
-É... E o Iago só usa o helicóptero em operações de alto risco.
-Pois é.
-Ainda não entendi o que você quer.
-Eu quero que você avise ao principal heliporto da cidade pra ficar alerta caso o Iago tente fugir de helicóptero.
-Entendo. Pra não o deixar decolar.
-Muito pelo contrário. Eu conheço uma pessoa que pode perfeitamente pilotar o helicóptero e o trazer à delegacia.
-Está querendo envolver um civil na operação?
-Não é um civil qualquer, Leandro. É o que não só tem domínio de um helicóptero como também foi o maior prejudicado nessa sujeira toda.
-Não pense em fazê-lo agir com as próprias mãos.
-Não. Prometo que ele vai colaborar com a polícia.

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Já passam das três da tarde. O delegado meliante demora mais tempo que o previsto para voltar pra casa. Iago está dirigindo até a rua de sua casa, mas encontra várias viaturas. Estranha, e segue vagarosamente com o veículo. Desiste da ideia ao lembrar o que disse à Virna.
-Já me sujei muito por você! Joguei minha reputação no lixo, me meti com bandido, virei assassino. E o Bruno não sofreu a metade do que eu tive que me submeter por sua causa!
-Toca no Bruno e eu te jogo na cadeia.
-Aquela desgraçada me denunciou!
-Olha o carro do Iago ali!- avista um policial.
Iago começa a dirigir em alta velocidade. As viaturas o perseguem.

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Novaes recebe um telefonema na delegacia.
-Alô? E aí? Droga! Não perde ele de vista, por favor!- desliga o telefone.
-O que houve?
-Iago conseguiu escapar, Leandro!
-Droga! A gente nãopode deixar ele fugir... O heliporto.
-O que tem? Você acha que ele foi pra lá?
-Iago tem a mania de andar com todos os documentos no carro. Ele pode estar com o passaporte, e a licença pra pilotar.
-Mas quem deixaria o Iago pilotar, sabendo de tudo que ele fez, e que está sendo procurado pela polícia?
-Bruno disse que tem alguém que sabe de tudo e está disposto a colaborar com a polícia. Ele fingirá levar o Iago, mas vai entregá-lo de bandeja pra gente.
-Leandro, o Bruno envolveu outra pessoa? Isso é arriscado! E se o Iago a fizer de refém ou matá-la?
-Depois do que eu descobri, eu tenho que dar esse voto de confiança ao Bruno.
-Então, vamos para o heliporto, rápido!

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Bruscamente, Iago freia o carro na frente do heliporto. Encontra uma moça na porta do local.
-Eu quero um helicóptero agora!
-Mas, senhor...
-Deixa que eu pago quanto for necessário! Me arranja um helicóptero pra pilotar agora!
-Só tem um disponível, senhor, e já está reservado para... – Iago passa pela mulher- Senhor? Senhor!
Ao chegar ao pátio, vê a porta de um helicóptero fechada, com o piloto dentro.
-Me leva pra Fernando de Noronha agora- Iago invade o veículo.
-O quê?- assusta-se o louro piloto, com óculos escuros e de cabelo longo.
-Olha aqui- tira um revólver do bolso- Me leva pra Fernando de Noronha, rápido!
-Sim, senhor. Só um momento.
Um carro da polícia chega ao pátio. O helicóptero está decolando. Leandro e Novaes descem da viatura. A moça que estava em frente ao heliporto entra correndo.
-Quem está naquele helicóptero? O Iago?
-Sim, Seu Novaes.
-E quem está pilotando?
-Não se preocupe, o Bruno já me colocou a par da situação, reservei aquele helicóptero pra ele.
-Onde está o Bruno?- pergunta Leandro.
-É ele quem está dirigindo. Até mostrou a licença de piloto.
-Essa não...
-Nos arrume outro helicóptero urgente. Precisamos saber onde eles vão- Novaes é categórico.

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-É impressão minha ou o helicóptero está dando voltas?
-Não, não é impressão sua, desgraçado!- Bruno vira o rosto para Iago.
-Você?
-Que curioso! Não está reconhecendo meu cabelo de Pocahontas? Ou será que foi o tempo que fez você esquecer da minha cara?
-Então, você está por trás de tudo isso? Se disfarçou pra armar uma cilada contra mim?
-O que você acha? Que eu ficaria de braços cruzados vendo você me destruir, junto com aquela vaca?
Iago volta a ameaçar Bruno com o revólver.
-Me leva pra onde eu falei. Senão, eu vou fazer com você aquilo que eu fiz com o Abílio.
-Mesmo que eu te deixe no lugar que você quer, vai acabar comigo de todo jeito, não é?
-Você destruiu a Valentina! Destruiu tudo que ela poderia sentir por mim!
-Não se preocupe! Eu vou fazer você ter o mesmo destino dela: a morte! Só assim vocês vão ficar juntos!
-O que você está fazendo?- Iago percebe que o helicóptero está indo em direção ao mar.
-Sabia que a minha mãe morreu assim, do mesmo jeito que você vai morrer?
-Não faz isso, seu louco!
-Acabou pra você, delgado de bosta! Acabou!
Bruno joga o helicóptero na água, mesmo com os gritos apavorados do delegado.

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