-Como foi que você conseguiu
isso?
-Sempre desconfiei de que ela
tinha alguma coisa a ver com a morte do Abílio, porque a secretária me falou
que ela foi pegar os pertences da Virna que ficaram na minha sala.
-E aí ela tirou o explosivo
que você guardava... E pôs no carro do Abílio.
-Eu pedi a ajuda da
governanta da minha casa, a pus a par das minhas suspeitas.
-O que mais você sabe sobre
ela? Tem algo mais que eu preciso saber sobre aqueles dois?
-Leandro, é melhor você pedir
a exumação do cadáver da Virna.
-Por quê? Já está bem claro,
ela foi assassinada.
-Não estou me referindo à
causa da morte, e sim à identidade da vítima.
-Você não está tentando dizer
que... Ah, agora só falta me dizer que quem morreu foi a Valentina e a Virna
enganou a todos nós durante quase um ano... Isso é loucura, Bruno! Você quer enlouquecer
a todos, manipular como sempre faz!
-Deixa eu te fazer uma
pergunta de caráter pessoal: a Valentina tem evitado ter algum contato íntimo
com você desde que a irmã faleceu?
-Por que está me perguntando
isso?
-Sua cara já diz tudo. Você
não voltou a tocar nela porque ela não quis, assim como o Iago também nunca
tocou nela, apesar de ter feito todas essas atrocidades. Sabe por que, Leandro?
Porque a Virna nunca tinha se entregado a homem nenhum, e se você transasse com
ela, saberia que ela assumiu o lugar da irmã pra me destruir.
-Agora eu entendo muitas
coisas... Entendo por que de repente ela começou a desistir da ideia de termos
um filho... Onde você esteve escondido, nesse tempo todo?
-Numa igreja daqui, de
Alagoas. Contei a minha estória a um padre e ele me acolheu. Voltei pra Recife
ontem, te procurei assim que soube da verdade, mas soube que você estava aqui.
No mesmo hospital que o meu filho está internado.
-Mas se você estava aqui o
tempo todo... E o incêndio?
-Incêndio?
-Assim que você desapareceu,
a nossa casa pegou fogo. Valentina estava sozinha em casa, e só escapou porque
chegamos a tempo, eu e o...
-Quem, Leandro?
-O Iago...
-Está vendo? Mais um plano
pra colocar a culpa em mim, pra colocar a polícia no meu pé! Essa mulher está
enganando todo mundo, e com a ajuda do mequetrefe do delegado! Você tem que
fazer alguma coisa!
-Fazer o quê?
-Usa essa gravação e decreta
voz de prisão conta o Iago e contra essa farsante! Faz isso em segredo, senão
eles podem escapar.
-Você tem ideia do que está
me contando? Primeiro, me diz que a minha mulher é uma assassina. Depois, diz
que ela está morta! Se você está dizendo a verdade, por que não estaria morta a
Virna, e sim a Valentina, que não tinha nada a ver com você?
-Quem dera se eu tivesse
todas as respostas, Leandro... Mas com o que eu tenho, não pode mais deixar
aqueles dois livres. Eles mataram a Valentina, mataram o Abílio, quase me
fizeram matar a Giovanna e o meu filho! Ligue pra polícia e mande detê-los!
Leandro pega o celular,
assustado, e procura um número em sua agenda. Reluta bastante em discar.
-Novaes? Sou eu, Leandro. O
Iago... Ele está na delegacia? Não, não chama. Eu preciso que você monte uma
operação e expeça um mandado de prisão. Contra ele e a Valentina.
|||||
Saindo da cantina, Giovanna
vem com um pouco de café. Ao chegar à área de oncologia, encontra Bruno olhando
para Henrique, que dorme. Assustada, deixa a bebida cair.
-Bruno?
-Não esperava por mim, não é?
Pensou que eu ficaria preso eternamente no nosso álbum de casamento? Ou nas
lembranças ruins que você fez questão de guardar?
-Como foi que você soube?
-Por você. Você se confessou
pra mim naquela noite, o padre não estava.
-O quê?
-E seria naquela mesma igreja
que se realizaria a missa de sétimo dia do Henrique, não era? Como você teve
coragem de mentir desse jeito pra mim?
-Queria que eu fizesse o quê,
Bruno? Deixasse o meu filho conviver com um assassino?
Bruno não se contém e dá uma
bofetada na esposa.
-Essa vai ser a última vez
que você vai se referir a mim dessa forma, ouviu bem?
-Você me bateu, seu covarde! Como
é que você teve coragem?
-Você me deu essa coragem! Eu
pensei que ninguém mais seria capaz de me decepcionar além do Plínio, mas você
se revelou pior do que ele! Você é que é um monstro!
-Monstro? Eu dei te dei amor,
carinho, respeito que nenhuma outra mulher poderia te dar!
-Claro que sim! E eu ganhei
também o pior sofrimento de todos: a culpa! Eu poderia ter passado a vida toda
preso numa clínica psiquiátrica, com remorso por algo que eu não fiz! Tanto que
eu te falei naquele hospital que a minha intenção não era machucar vocês...
Olha só o que você fez comigo! Olha só o que você fez com o nosso filho! Ainda
cogitou a possibilidade de não me pedir ajuda, mesmo sabendo que o Henrique poderia
morrer!
-Isso não muda o fato de você
ser um criminoso!
-Não, Giovanna- Leandro
surpreende a moça- Por mais incrível que pareça, Bruno conseguiu provar que é
inocente de alguns dos crimes dos quais ele é acusado.
-Do que você está falando, Leandro?
-O assalto à casa de vocês
realmente aconteceu. E foi tudo planejado pra que você se decepcionasse com o
Bruno. Colocaram mesmo uma arma na sala de vocês pra que ele fosse preso por
porte ilegal.
-Mas... E o assassinato do
Abílio?
-Foi cometido pela mesma
pessoa que organizou o assalto: a Valentina.
-Você está dizendo que... A sua
mulher fez tudo isso só pra prejudicar o Bruno?
-E você acreditou, sua
idiota. Em tudo que aquela mentirosa fez e contou.
-Bruno, eu... Eu nem sei o
que dizer.
-Não precisa me dizer nada, Giovanna.
Eu só quero que você minta outra vez. Só que agora, eu quero que finja pra mim
que você morreu. Porque eu vou fazer isso. Independente do nosso filho, eu vou
esquecer que você existe- vira-se para Leandro- E o que foi que você resolveu?
-Vamos ter que ir de volta
pra Recife. Eu vou ter de deixar o Novaes atuar no caso, já que eu sou ligado a
uma das vítimas.
-Não sei da Virna, mas ele
pode escapar a qualquer momento. E eu sei como pegá-lo!
-Virna? Mas o que está
acontecendo?
-A Virna não morreu, Giovanna.
Tudo foi uma farsa pra me colocar na cadeia e me separar de você.
-Isso só vamos ter certeza
depois que exumarmos o cadáver- frisa Leandro.
-Então, vamos logo. Eu vou
precisar da sua ajuda pra pegarmos o Iago.
-Vamos, sim. Só um minuto-
Leandro se dirige à Giovanna- Posso te pedir um favor? Vai até o quarto da minha
mãe e diga que eu vou precisar me ausentar por um tempo, mas amanhã eu volto.
-E... Aonde você vai?
-Eu vou seguir o conselho da
minha mulher e fazer justiça- afirma, com lágrimas nos olhos, saindo ao lado de
Bruno.
-Minha filha? O que houve?
-Um pesadelo, mãe. O pior
pesadelo da minha vida!
|||||
O carro de Leandro chega à
porta da delegacia, com Bruno.
-E então, Leandro?
-Iago foi a uma lanchonete
que fica aqui perto, já que é hora do almoço. Daqui a uma hora, mais ou menos,
ele vai pra casa. Você disse que tinha uma ideia pra pegar o Iago.
-Sim. Você lembra que, na
conversa que ele teve com a Virna, ele disse que pilotou um helicóptero no dia
que eles mataram o Abílio?
-Lembro... Aonde você quer
chegar me lembrando disso?
-Se o Iago tentar escapar,
ele certamente vai fazer isso pilotando um helicóptero, pois seria muito óbvio uma
fuga de carro.
-É... E o Iago só usa o
helicóptero em operações de alto risco.
-Pois é.
-Ainda não entendi o que você
quer.
-Eu quero que você avise ao
principal heliporto da cidade pra ficar alerta caso o Iago tente fugir de
helicóptero.
-Entendo. Pra não o deixar
decolar.
-Muito pelo contrário. Eu
conheço uma pessoa que pode perfeitamente pilotar o helicóptero e o trazer à
delegacia.
-Está querendo envolver um
civil na operação?
-Não é um civil qualquer, Leandro.
É o que não só tem domínio de um helicóptero como também foi o maior
prejudicado nessa sujeira toda.
-Não pense em fazê-lo agir
com as próprias mãos.
-Não. Prometo que ele vai
colaborar com a polícia.
|||||
Já passam das três da tarde. O
delegado meliante demora mais tempo que o previsto para voltar pra casa. Iago
está dirigindo até a rua de sua casa, mas encontra várias viaturas. Estranha, e
segue vagarosamente com o veículo. Desiste da ideia ao lembrar o que disse à
Virna.
-Já me sujei muito por você!
Joguei minha reputação no lixo, me meti com bandido, virei assassino. E o Bruno
não sofreu a metade do que eu tive que me submeter por sua causa!
-Toca no Bruno e eu te jogo
na cadeia.
-Aquela desgraçada me
denunciou!
-Olha o carro do Iago ali!-
avista um policial.
Iago começa a dirigir em alta
velocidade. As viaturas o perseguem.
|||||
Novaes recebe um telefonema
na delegacia.
-Alô? E aí? Droga! Não perde
ele de vista, por favor!- desliga o telefone.
-O que houve?
-Iago conseguiu escapar, Leandro!
-Droga! A gente nãopode
deixar ele fugir... O heliporto.
-O que tem? Você acha que ele
foi pra lá?
-Iago tem a mania de andar
com todos os documentos no carro. Ele pode estar com o passaporte, e a licença
pra pilotar.
-Mas quem deixaria o Iago pilotar,
sabendo de tudo que ele fez, e que está sendo procurado pela polícia?
-Bruno disse que tem alguém
que sabe de tudo e está disposto a colaborar com a polícia. Ele fingirá levar o
Iago, mas vai entregá-lo de bandeja pra gente.
-Leandro, o Bruno envolveu
outra pessoa? Isso é arriscado! E se o Iago a fizer de refém ou matá-la?
-Depois do que eu descobri,
eu tenho que dar esse voto de confiança ao Bruno.
-Então, vamos para o
heliporto, rápido!
|||||
Bruscamente, Iago freia o
carro na frente do heliporto. Encontra uma moça na porta do local.
-Eu quero um helicóptero
agora!
-Mas, senhor...
-Deixa que eu pago quanto for
necessário! Me arranja um helicóptero pra pilotar agora!
-Só tem um disponível,
senhor, e já está reservado para... – Iago passa pela mulher- Senhor? Senhor!
Ao chegar ao pátio, vê a
porta de um helicóptero fechada, com o piloto dentro.
-Me leva pra Fernando de
Noronha agora- Iago invade o veículo.
-O quê?- assusta-se o louro
piloto, com óculos escuros e de cabelo longo.
-Olha aqui- tira um revólver
do bolso- Me leva pra Fernando de Noronha, rápido!
-Sim, senhor. Só um momento.
Um carro da polícia chega ao
pátio. O helicóptero está decolando. Leandro e Novaes descem da viatura. A moça
que estava em frente ao heliporto entra correndo.
-Quem está naquele
helicóptero? O Iago?
-Sim, Seu Novaes.
-E quem está pilotando?
-Não se preocupe, o Bruno já
me colocou a par da situação, reservei aquele helicóptero pra ele.
-Onde está o Bruno?- pergunta
Leandro.
-É ele quem está dirigindo. Até
mostrou a licença de piloto.
-Essa não...
-Nos arrume outro helicóptero
urgente. Precisamos saber onde eles vão- Novaes é categórico.
|||||
-É impressão minha ou o
helicóptero está dando voltas?
-Não, não é impressão sua,
desgraçado!- Bruno vira o rosto para Iago.
-Você?
-Que curioso! Não está
reconhecendo meu cabelo de Pocahontas? Ou será que foi o tempo que fez você
esquecer da minha cara?
-Então, você está por trás de
tudo isso? Se disfarçou pra armar uma cilada contra mim?
-O que você acha? Que eu
ficaria de braços cruzados vendo você me destruir, junto com aquela vaca?
Iago volta a ameaçar Bruno
com o revólver.
-Me leva pra onde eu falei. Senão,
eu vou fazer com você aquilo que eu fiz com o Abílio.
-Mesmo que eu te deixe no
lugar que você quer, vai acabar comigo de todo jeito, não é?
-Você destruiu a Valentina! Destruiu
tudo que ela poderia sentir por mim!
-Não se preocupe! Eu vou
fazer você ter o mesmo destino dela: a morte! Só assim vocês vão ficar juntos!
-O que você está fazendo?- Iago
percebe que o helicóptero está indo em direção ao mar.
-Sabia que a minha mãe morreu
assim, do mesmo jeito que você vai morrer?
-Não faz isso, seu louco!
-Acabou pra você, delgado de
bosta! Acabou!
Bruno joga o helicóptero na
água, mesmo com os gritos apavorados do delegado.
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