26/11/2014

MENTES/ CAPÍTULO 30: NÃO PRETENDO PASSAR PELA VIDA COMO QUEM TEM QUE SE DESCULPAR


Bruno consegue abrir a porta do helicóptero, enquanto a aeronave vai, aos poucos, afundando. Um cinto de segurança prende Iago, que se desespera ao ver que a água está lhe cobrindo.

-Socorro! Alguém me ajuda! Eu estou afundando! Socorro!- a água já começa a entrar na boca do delegado.

O arqueólogo ativa um sinalizador de fumaça, ficando ainda perto da aeronave. Logo, uma lancha comanada pelo Corpo de Bombeiros se aproxima do helicóptero, e um dos rapazes ajuda Bruno a subir no veículo. Outro bombeiro desce ao mar e tenta resgatar Iago, que deixa a arma no veículo aéreo.

-Estão todos bem?- pergunta o piloto.

-Sim, está- responde Bruno, fingindo estar abalado com a queda- Ainda bem que vocês chegaram a tempo.

-Bem uma ova! Esse homem é um assassino, procurado pela polícia! Tentou me matar fingindo ser o piloto do meu helicóptero e o atirando ao mar. Vocês precisam chamar a polícia!

-Fazendo uma paráfrase: pra quem precisa dela, Iago. No caso, você!- noutra lancha, Novaes aparece acompanhado de Leandro, que olha para o ex-amigo com rancor- Acabou pra você!

-Mas o que está acontecendo?

-Você sabe muito bem o que está acontecendo, calhorda! Tanto é que estava fugindo de nós. Mas agora você vai ter o que merece.

-Iago Pereira- Novaes entra na lancha dos bombeiros e algema o ex-colega- Você está preso pelo assassinato de Abílio Cerqueira e pelo assalto à casa de Bruno Reinchenbach.

-Sem contar o incêndio, não é... – dispara Bruno, como quem solta a frase de maneira inocente.

-Leandro... Você não pode levar em consideração as mentiras desse cara. Eu sou seu amigo, você me conhece melhor do que... – é interrompido por um soco dado pelo marido de Valentina.

-Melhor do que a Valentina? A sua amante? Pode me poupar dessa mentira toda, seu imbecil! Você vai pra cadeia, e vai ser agora!


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Plínio está comum auxiliar de enfermagem.
-Logo, logo, nós poderemos começar a cirurgia.
-Vai demorar muito?
-O doutor será o mais breve possível, Seu Plínio. Espere um minuto que eu vou procurar o frasco de seringas.
-Claro- Plínio senta-se numa cadeira- Escuta, você não acha que o meu neto...
-O que foi que houve?
-Nada, deve ser uma tontura. Fiquei em jejum por causa do transplante, deve ser por isso.
-É melhor o senhor ficar sentado- Marisa e Giovanna entram na sala.
-Tem razão- quando Plínio volta ao banco, cai no chão desacordado.
-Plínio? Plínio, o que é que você tem?
-Mãe, chama o médico, rápido!
-Plínio, o que você está sentindo? Ele não me responde!
-Chama o doutor pra mim, diz que é uma emergência!- o assistente encontra uma enfermeira no corredor e pede ajuda.
-Plínio, nós precisamos de você! O meu filho precisa de você, agora mais do que nunca! Reage, por favor!

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Enquanto isso, Iago troca de roupa e vai até a sala de interrogatórios. Bruno acompanha Novaes e Leandro, observando o delegado pelo vidro.
-Não acho prudente você fazer isso, Bruno.
-Isso não vai adiantar. Ele não vai falar nada, desiste dessa ideia.
-Calma, Leandro. Eu tenho um trunfo, algo que vai fazer com que ele fale. Uma coisa dolorosa. Quer uma coisa que cause mais dor que a verdade?
-Tudo bem, entra. Mas se ele tentar fazer alguma coisa, nós vamos entrar pra contê-lo.
-Fique tranquilo. A única pessoa que ele vai ter vontade de bater vai ser nele mesmo- um carcereiro acompanha o arqueólogo até a mesa diante da qual Iago está sentado.
-O que você quer aqui?
-Talvez fazer aquela tática do policial bom e do ruim. Não funcionaria. Seria o corregedor péssimo!
-Sai daqui, seu idiota! O que você pensa que vai ganhar com esse teatrinho de homem da lei?
-A minha liberdade! Mas, acima de tudo, a minha satisfação em te ver na lama.
-Pensa que eu não sei que eles estão nos vigiando? Pensa que eu não sei que você deu um jeito de engabelar a polícia? Mas a mim, não! Eu posso não saber o que está acontecendo, nem quando vou sair daqui, mas uma coisa eu te garanto: bem você não vai ficar.
-Eu repito, Iago. O meu maior prêmio é a satisfação em te ver na lama.
-Sabe quando você vai me ver no fundo do poço? Nunca! Já você, não é... Já esteve lá e se esqueceu de ficar.
-Você tem tempo pra eu te contar uma coisa? Que pergunta a minha, tempo é o que não vai te faltar! Mas escuta só: você sabia que a Valentina é apaixonada por mim?
-Como a Virna...
-Não. Como ela mesma.
-Do que está falando?
-Nunca percebeu que Virna e Valentina são a mesma mulher?
-Que conversa é essa?
-Iago, você se diz tão apaixonado pela mulher do seu amigo, conseguiu arquitetar esse plano mórbido... Não percebeu a diferença entre ela e a irmã gêmea?
-Você está mentindo... É a sua especialidade, não é?
-Talvez não. Talvez eu nunca tenha precisado mentir! Se ela te convenceu a matar o Abílio só pra me prejudicar, e a me procurar para prestar esclarecimentos sobre a morte... O que será que ela te prometeu em troca? Largar o marido?
-Isso... É um complô! Não tenho nada a ver com isso.
-Muito bem, Eduardo Jorge. Mas eu vou interpretar o Aécio e apontar o dedo pra você mesmo assim.
-Você não passa de um doente.
-Que seja. Se você entendesse de patologias, saberia que aquela demente te enganou. Como ela poderia me acusar se somente a Virna teria algo contra mim, já que eu não transei ou tive qualquer tipo de relacionamento com ela?
-Acusaria, sim. Elas eram irmãs, muito ligadas. O que uma fazia, a outra sabia.
-Então por que a Valentina nunca te contou que não perdeu a virgindade com o Leandro?
-O quê?
-Valentina era virgem até a semana passada, meu caro. E considerando que ela está há trocentos anos com o Leandro, me explique: como ela poderia ser virgem?
-Tudo mentira!
-Concordo, é tudo mentira! Dela! Você convidou o Leandro e a Valentina pra identificarem um corpo que você fez questão de acreditar que era da Virna. E a cachorra, prometendo amor, conseguiu te convencer a me destruir pra ficar com ela. E tem coisa pior, hein, Iago? Se prepare pra escutar!
-Para com isso. Eu sei que você está dizendo isso pra me desestabilizar!
-Tanto você fez pra acabar comigo, e eu fui logo... O que conseguiu fazer o que você tenta fazer há anos. Valentina, ou Virna, seja quem for, deixou de ser virgem por minha causa.
-O quê?
-Sabia que o ódio e o amor são pra serem vividos na mesma proporção. Mas com a Valentina foi fácil demais. Meio copo de cachaça e ela é capaz de desvirtuar qualquer um. Eu fui o escolhido. Por isso, eu vou ser sempre superior a você. Ela pode ter te trocado pelo Leandro, mas foi comigo que ela sentiu prazer primeiro. Coisa que você não é homem suficiente pra dar!
Iago pula sobre a mesa , tentando estrangular o arqueólogo.
-Desgraçado, eu vou acabar com você! Era você quem devia ter caído daquela escada! Era você que eu devia ter matado naquele carro! Você, maldito!- Novaes e Leandro intercedem por Bruno.
-A Valentina está morta, Iago! E você ajudou a verdadeira assassina a escapar da prisão. Cego! Burro! Agora você vai pagar cada minuto que eu passei naquele sanatório, fugindo de tudo e de todos. E eu vou cobrar com juros!
-Me solta! Ela não vai ficar com você! Nem com você, Leandro! A Valentina é minha, sempre foi!
-Ela não vai ser de mais ninguém, Iago! Eu te prometo- afirma, ainda ofegante.
-Seu bosta! Você vai ver quando eu sair daqui! Se você tocar nela... Eu liquido você, como eu fiz com todos! Eu mato sem dó!- Novaes algema o ex-parceiro novamente- Me solta! Eu tenho que dar um fim nesse cara! Me roubou a Valentina! Me solta!
-Está tudo bem?
-Vai ficar melhor quando eu pegar a pipoca e assistir à condenação desse miserável, de camarote!

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Marisa e Giovanna vão até a sala do médico para saber o que houve com Plínio.
-Por favor, Doutor, me diga o que foi que aconteceu com meu sogro.
-Eu nem sei como eu posso dizer isso pra vocês. O quadro de saúde de Plínio inspira cuidados.
-Mas o que foi que ele teve? Uma indisposição passageira?
-Não, Dona Marisa. Começaram a se manifestar os sintomas de uma grave doença.
-Doença?
-Uma neuropatologia, para ser mais preciso. A Síndrome de Machado-Joseph.
-Mas... Do que se trata exatamente essa síndrome, doutor?
-Bom, é uma degeneração espinocerebelar, e os sintomas aparecem com uma severidade intensa. Em alguns casos, pode ser que ela seja hereditária. A pessoa começa a perder o controle dos próprios movimentos, levando-a mais adiante à paralisia. Isso explica a perda de sentidos do Plínio. Também é comum que ela tenha dificuldades na deglutição de alimentos e na fala.
-E como é que ele está agora?
-Acordou, e voltou a dormir. Da primeira vez, ele não estava totalmente lúcido. Em alguns casos, acontece essa confusão.
-Doutor, o que se pode fazer num caso desses? Ele vai ficar paraplégico, sem andar, sem se mexer?
-O diagnóstico requer que ele se submeta a sessões de fisioterapia, Giovanna. O mais provável é que, pela gravidade do caso, Plínio não possa se locomover.
-Existe cura pra isso?
-Quando o caso é mais brando, pode se amenizar os sintomas da síndrome. Mas não esperem por uma recuperação rápida. Isso requer tempo.
-Tempo... Tudo o que não temos, doutor! O meu filho está à beira da morte, e o Plínio era o único doador compatível!
-Eu entendo, entendo perfeitamente o que a senhora está passando. Vamos começar uma campanha nas redes sociais, entre a família e dentro do hospital para que as pessoas se conscientizem e façam o teste de compatibilidade. De fato, a doença do Plínio atrapalhou e muito os planos de vocês.
-E agora, mãe? O meu filho vai morrer, é isso?

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Na manhã seguinte, Bruno está se arrumando para ir ao instituto. Recebe uma ligação de Leandro.
-Bruno?
-Fala, cara. Alguma novidade do Iago?
-Não disse uma só palavra depois que você foi embora. Passou a noite batendo na cela, chorando. Parecia um louco.
-Um homem que guarda todas essas coisas ruins dentro de si não parece, é um louco.
-Novaes decidiu fazer uma acareação.
-Mas depois de tudo que ele me falou, não foi o suficiente?
-Para comprovar a culpa dele, sim. Mas não pra mostrar a Virna como cabeça desses crimes. Na minha casa, ela não está.
-Claro que não, Leandro. Mas até encontrar, é uma questão de horas.
-Como assim? O que quer dizer?
-Tudo que ela fez foi pra me atingir. E ela não vai desistir tão fácil de acabar comigo.
-Bruno, você tem ideia de onde ela possa estar?
-Tenho. E se você me der consentimento, eu vou capturá-la. Pode deixar que eu sei onde encontrá-la.


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