09/01/2016

MENTIRAS ESCANCARADAS/ CAPÍTULO II: EU NÃO TE ESPERO, COMO EU TE QUERO

Dara não tem dúvidas: trata de agarrar Antonio.
Calma, não é isso que você está pensando. Ela carrega o rapaz no colo e o põe em seu automóvel. Logo em seguida, liga para o Corpo de Bombeiros.
-Por favor, teve uma explosão aqui no viaduto do Cabanga.
-A que horas foi a ocorrência?
-Agora há pouco, eu estava passando de carro e escutei o barulho.
-Está conseguindo ver alguma vítima?
-Não, está um nevoeiro muito forte. Mas venham rápido, pode ser que tenham mais explosões.
-Já estamos indo pra aí. Se encontrar alguém aí, não o remova do local. Pode ser prejudicial.
-OK- desliga o celular-tijolo da Motorola- Tá louco que eu vou ficar esperando? Esse rapaz tá sangrando muito, eu não vou esperar... Vou levar ele pro Hospital Português agora!
Dara dirige o carro. Mas, se nos ativermos ao texto, perceberemos que a fala da protagonista é tão explicadinha que chegamos a pensar que o médico é o Roberto Leal!

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Já na Defensoria Pública do Estado, o clima também é um tanto tenso. Michele aparece e consegue falar com o advogado.
-Por favor, sente-se.
-Doutor, tem como me ajudar?
-Primeiro, me diga o que a trouxe até aqui.
-É o seguinte: eu quero entrar com um processo contra o Felipe Almeida Coelho, o dono da revista Play Pause.
-Por qual motivo?
-Estive na sala dele, negociando o contrato para o meu ensaio sensual, e ele me agarrou.
-Pode isso, Arnaldo?
-Mas o pior eu ainda não lhe contei: a esposa dele entrou e acreditou que eu estivesse dando em cima dele. Claro, ele deu uma desculpa qualquer e a besta acreditou.
-Pois bem. Eu farei com que o Dr. Coelho seja chamado para depor na delegacia sobre a sua acusação. E creio que, em breve, ele estará diante de um juiz. A julgar pelo caso, tudo indica que a juíza Dara Lira será a responsável pelo acompanhamento do processo.
-Tem mais uma coisa que eu exijo, Doutor.
-Peça.
-Deixe de começar todas as frases com a letra P. Se isso é alguma estratégia para chamar a atenção dos interlocutores e se tornar um personagem indispensável na história, desista.
-Foi mal...

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No Hospital Português, Dara está apreensiva à espera de notícias sobre o estado de saúde de Antonio. Logo, se aproxima o médico.
-Por favor, Doutor... É... - põe os óculos- Fabiano Santarém.
-Nossa, a senhorita se aproximou tanto do meu jaleco. Sua miopia é tão grave assim?
-Não, eu só pus os óculos porque homens acham mulheres de óculos bem atraentes, e eu alcançarei o público masculino que está nesse momento vendo "Supercine".
-É... Acredito que você seja a acompanhante de Antonio.
-Esse é o nome dele? Eu não sei, eu o encontrei desacordado na estrada.
-A senhorita tem ideia do risco que fez esse rapaz correr? Não poderia tê-lo removido do local do acidente.
-O que o senhor queria que eu fizesse? Deixasse ele lá, até que outra pedra atingisse a cabeça dele?
-Pois é sobre isso que eu preciso conversar com você.
-Qual é o problema? Esse tal de Antonio não vai sobreviver?
--Sim, vai. Mas é preciso mais alguns exames para conformar a minha suspeita.
-Do que está desconfiando?
-O rapaz que a senhorita trouxe sofreu uma lesão um pouco grave na região occipital do crânio. Quando atingida fortemente, por meio de algum trauma físico ou de natureza psíquica, essa região pode desenvolver uma ligeira afetação.
-Ele vai desmunhecar?
-Não é nesse sentido. Quis dizer que um dos cinco sentidos será temporariamente desligado. Sendo assim, é necessário conversar com o paciente para que ele se adeque à situação, mesmo que por alguns dias.
-E qual sentido normalmente é o mais afetado, Doutor?
-ALGUÉM ABRE A JANELA!!!!!!!!- grita Antonio.
-Visão.
-Ah, coitado. Ele precisa de assistência.
-Se quiser, eu posso recomendar uma enfermeira particular.
-Não. Deixa que eu cuido dele.
-Mas a senhorita nem o conhece direito.
-Disso eu sei, mas... Sei lá. Alguma coisa nele me encantou. Talvez a beleza.
-Queira me desculpar, mas em matéria de beleza, a senhorita dá de dez a zero em qualquer ser vivente desse planeta. Homem, então, nem se fala.
-Humpf! Mas será possível que só eu não percebo essa beleza que os homens tanto veem em mim?
-Sim, só você, a modesta, a Luiza Brunet do judiciário, a Xuxa Meneghel do Direito, a Luma de Oliveira da OAB, a Vera Fischer da Vara de Família, a Caroline do Raça Negra!

/////

Coelho fica inconformado ao receber a intimação de um oficial de justiça no seu ambiente de trabalho (harém):
-Depoimento?Escuta aqui: o senhor tem ideia de quantas tiragens eu ainda tenho que imprimir nesse mês? Eu sou um homem de princípios familiares, éticos e editoriais. O que essa mulher está alegando é uma calúnia.
-Sendo mentira ou não, é diante da justiça que o senhor tem que explicar a acusação dessa moça...
-Que é absurdamente leviana!
-O senhor disse "leviana"?
-Sim, e sabe por quê? Porque ela queria fazer mil loucuras comigo na cama...
-Prefiro acreditar que você ainda me ama- o oficial canta.
-Pois, apesar de tudo, eu sinto a sua falta...
-LEVIANA!- ambos cantam... Ou melhor, gritam.
Essa música é da década seguinte. Podem parar!
-Está bem, então... Comparecerei ao local indicado, e me prostrarei diante do juiz. Mas já vou logo avisando: eu sou ótimo para convencer as pessoas, do que quer que seja.
-Se eu fosse o senhor, não contaria com isso. Não sabe quem vai julgar a causa dessa moça.
-Seja quem for, eu compro... Com a minha honestidade, é claro. Eu sou um homem de bem, que lê mangás proibidos em secreto, nada além disso. Michele que se prepare, pois pretendo acioná-la na justiça por calúnia e difamação.

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Estonteante até para a ocasião que nem pede tanto, Dara entra no quarto onde está Antonio.
-Dara?- a palavra proferida assusta a juíza- É você que tá chegando perto de mim?
-Como sabe meu nome?
-O médico me contou.
-Não se preocupe. Ele contou que essa cegueira é temporária.
-Ele também me disse que... Que foi você que me salvou.
-Foi. Eu não podia deixar você naquele estado, sozinho, esperando uma ajuda. Pensei que seu caso fosse mais grave, mas...
-O pior é que eu estou sem notícias de como estão os operários da obra.
-O doutor me contou que todos tiveram ferimentos leves. Só você que teve de ficar internado.
-Será que ele tem ideia de quando eu vou voltar a ver?
-Deve demorar alguns dias. Mas o importante é você ficar de repouso absoluto.
-Uma pena que eu não possa te ver. Ainda mais porque o médico falou que você é muito bonita.
-Começo a achar que esse médico é meio tarado.
-Só espero que não fique muito tempo sem trabalhar.
-Vai ficar o tempo necessário em casa. Só precisa de uma pessoa pra te ajudar.
-Por que você não fica comigo?


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