CENA 1
IVAN:
Maria Clara?
MARIA
CLARA: Oi, Ivan.
IVAN:
O que você tá fazendo aqui?
MARIA
CLARA: Infelizmente você foi vítima de duas fake
news. A primeira foi quando me mandaram uma mensagem ontem, dizendo que
tinham te sequestrado e que...
IVAN:
Sequestrado? Que história é essa?
MARIA
CLARA: E a segunda foi há alguns anos, quando eu te conheci e achei que você
prestasse. Essa é a mentira mais grave.
IVAN:
Clara, pode parecer absurdo o que eu vou te dizer, mas o que você tá vendo aqui
não é o que você tá pensando.
VLAVIANO:
Não é absurdo. Só clichê.
MARIA
CLARA: Mas eu confesso que te entendo, Ivan. Imagina só: passar dez anos da sua
vida atrás de uma mulher que não te quer. Em algum momento você tinha de jogar
a toalha. Só não precisava me humilhar.
IVAN:
Quando foi que eu te humilhei?
MARIA
CLARA: Quando inventou essa história suja de sequestro, de que os bandidos
queriam negociar o teu resgate comigo. Tudo isso pra quê? Pra que eu visse você
se esfregando nessa jornalista de meia tigela?
PALOMA:
Não precisa me ofender. Eu sei que a situação não é das melhores. Pra mim
também não é fácil passar uma noite com o homem da minha vida e perceber que
ele não se lembra de nada.
MARIA
CLARA: Tem razão, você não tem culpa. Ele tem.
IVAN:
Quer me explicar do que é que eu tô sendo acusado por você?
MARIA
CLARA: De me atrair até aqui! Tudo pra que eu presenciasse esse espetáculo
patético de vocês, essa cruza de cruz-credo com cor de burro quando foge!
PALOMA:
Olha, eu como jornalista devo atentar que a expressão certa é “corro de burro
quando foge”.
VLAVIANO:
Ela tem razão. Significa que o burro, quando foge, se torna um animal tão
violento que as pessoas fogem do seu ataque.
MARIA
CLARA: Sabe o que vocês dois deveriam fazer com essa linguística desnecessária?
Não me façam responder!
IVAN:
Maria Clara, eu posso te contar tudo o que aconteceu desde que estava no...
MARIA
CLARA: Se tem uma coisa que eu não quero é ter qualquer contato verbal com
você. Agora sai dessa cama e bota uma roupa, porque eu não sou obrigada a te
ver fazendo esse papel ridículo de macho degustador com mil e uma desculpas na
ponta da língua!
PALOMA:
Vem cá, o que é que tá acontecendo com você, hein? Como é que você se presta a
fazer esse tipo de mulher traída, se você e ele nunca tiveram nada?
MARIA
CLARA: Nem eu, nem você, não é, queridinha? Porque sexo não tem nada a ver com
o que estamos discutindo aqui.
PALOMA:
Engraçada você...
MARIA
CLARA: O que tem de graça, palhaça?
PALOMA:
Sua interpretação magnífica de despeitada. Cobra o Ivan por algo que vocês não
tiveram e anda com outro homem a tiracolo. Aliás, quem é esse rapaz?
VLAVIANO:
Bom, já que vocês pretendem discutir, eu vou lá embaixo comprar um dindim,
porque o clima aqui dentro tá mais quente que lá fora.
NARRADOR:
“DINDIM”: gíria manauara para o picolé vendido em saco. Em Parintins, também no
Amazonas, o produto é conhecido como “flau”. E em outras regiões do país, ele é
conhecido como “sacolé”;
MARIA
CLARA: Eu não tô cobrando o Ivan por ele ter dormido com você. E sim porque ele
me cercou dizendo que gostava de mim, pra depois ir pra cama com outra mulher.
IVAN:
Você não pode colocar em dúvida o que eu sinto por você, não tem esse direito.
MARIA
CLARA: Não tenho direito de quê? De questionar? Ou de constatar que você é um
sem-vergonha?
PALOMA:
Olha como fala com ele!
MARIA
CLARA: Vai defender o amante?
PALOMA:
E se eu quiser? Vai me impedir?
IVAN:
Clara, eu não tenho caso nenhum com a Paloma.
MARIA
CLARA: Não precisa ter. O que eu vejo hoje já é o bastante. O que eu nunca
imaginei foi que você estivesse tão decepcionado comigo a ponto de inventar um
sequestro pra que eu te flagrasse com ela.
IVAN:
Eu não inventei sequestro nenhum, Maria Clara. Você precisa me dar um voto de
confiança.
MARIA
CLARA: Você há de convir que é difícil.
PALOMA:
Se você acredita no Ivan ou não, isso não tem a menor importância.
IVAN:
Pra mim tem, Paloma.
PALOMA:
Olha aqui, Ivan, eu não vou deixar essa mulher falar com você desse jeito.
MARIA
CLARA: E desde quando ele precisa da sua defesa?
PALOMA:
Desde que eu me apaixonei por ele.
MARIA
CLARA: (ri debochadamente) E quando foi que você constatou isso?
PALOMA:
Muito antes de você, pode ter certeza.
MARIA
CLARA: Tá iludida por causa da noite que passou com ele? No seu lugar, eu não
me contentaria com tão pouco.
VLAVIANO:
Maria Clara, é melhor você sair antes que isso descambe pra baixaria.
PALOMA:
Isso, rapaz. Leva ela mesmo. Pra ver se ela entende que, no meu lugar, ela não
vai estar nunca. Porque eu nunca vou poder ser comparada a uma criminosa.
MARIA
CLARA: Viu só? Ela acha que ter levado o Ivan pra cama é mérito dela...
Coitada. Se rebaixar pra defender um homem que não te ama.
PALOMA:
Pelo visto, nem a você.
IVAN:
Paloma, para!
MARIA
CLARA: O que me impressiona é você acreditar na própria narrativa. Sim, porque
por mais que ele tenha te feito feliz ontem, vai saber no que ele deve ter
pensado enquanto estava com você.
PALOMA:
Cala essa boca, garota...
MARIA
CLARA: Me conta, Paloma: qual é a sensação de ter prazer, proporcionado por um
homem que fala o meu nome por não conseguir sentir nada por você?
PALOMA:
Cala a boca (Paloma esbofeteia Maria Clara, que cai nos braços de Vlaviano)!
(fundo
musical: “Sentença (Voltech, Ethernal Soul and Deep Motion remix)”- “essa é a
sentença”)
IVAN:
(segura a jornalista) Paloma, o que foi que você fez?
PALOMA:
Me larga! Primeiro você ficou comigo pra depois afirmar que não se lembra de
nada! Agora essa mulher acha que tem o direito de me ofender desse jeito? Eu
não mereço isso! Vou embora daqui!
MARIA
CLARA: Pronto, falou a ofendida! Eu sou enganada, levo um tabefe na cara e a
vítima é ela?
PALOMA:
(recolhe as roupas) Por mim, você pode pensar o que bem entender. O que vem de
você não me interessa!
IVAN:
Espera, Paloma! Paloma, volta aqui, a gente tem que conversar!
MARIA
CLARA: Isso. Vai atrás dela. Vocês se merecem mesmo.
IVAN:
Tá pensando que é quem pra falar comigo assim?
VLAVIANO:
Essa pergunta não era o que estávamos esperando ouvir.
MARIA
CLARA: Ivan?
IVAN:
Você coloca o meu amor em xeque, agride fisicamente a Paloma... Agora me
menospreza?
MARIA
CLARA: Para com isso, Ivan! Se você estivesse no meu lugar, pensaria e falaria
o mesmo!
IVAN:
Engano seu! Nunca teria dúvida do seu caráter porque conheço você mais do que a
mim.
VLAVIANO:
Devo admitir: sou pouco afeito a excessos de sentimentalismo, mas estou
começando a torcer por esse cara.
IVAN:
Sabe o que eu acho? Que, no fundo, você sabe que não aconteceu nada entre mim e
a Paloma, mas prefere acreditar e justificar a distância que você quer nos
impor.
MARIA
CLARA: Não tenta virar o jogo a seu favor, Ivan; isso não vai funcionar.
IVAN:
Estou virando a seu favor. Como sempre, não é, Maria Clara? Agora dá pra você e
seu amiguinho deixarem meu quarto, por gentileza?
VLAVIANO:
Eu não sou amigo dela, não. A gente se conheceu hoje.
IVAN:
Sinceramente, isso pouco me importa.
MARIA
CLARA: Eu nunca poderia esperar isso de você.
IVAN:
Nem eu de você. Quer dizer, eu posso mesmo aguardar tudo de quem não gosta de
mim. Saiam daqui.
De
volta ao corredor do hotel em que Ivan se hospeda, Maria Clara permanece
abalada.
VLAVIANO:
Eu sinto muito pelo que aconteceu, de verdade. Mas a gente precisa conversar.
MARIA
CLARA: Faz o seguinte: marca uma hora lá na empresa com a minha secretária, a
Nicole. Não tenho cabeça pra mais nada hoje.
VLAVIANO:
É importante, Maria Clara.
MARIA
CLARA: Não mais do que a minha vontade! Com licença!
VLAVIANO:
Maria Clara, volta aqui! Impressionante! Foge de mim feito o caipiroto da cruz!
Deve ser sentimento de culpa. Só pode.
(ABERTURA)
CENA 2
NARRADOR:
Há quinze anos...
O
telespectador é levado para o mundo ao qual Vlad verdadeiramente pertence. No
ano de 2005, ele estuda no Colégio Providencial, em franca atividade. Um adolescente
mais velho, moreno e com mais espinhas que o perseguidor de Vlaviano, troca
olhares com a ruiva Letícia, que aparenta ter raiva de quem lhe visualiza.
Intempestivamente, ela chega perto de Vlad, que está escrevendo um trabalho no
pátio.
LETÍCIA:
E aí, curumim? Quer namorar comigo?
VLAD:
Oi?
LETÍCIA:
Tô falando sério. Quer ou não?
VLAD:
O que é que você viu em mim?
LETÍCIA:
Você tem cara de ser galã de filme internacional (pensa) Que mentira, uma
tartaruga ninja dessas...
VLAD:
Tá bom, eu aceito.
LETÍCIA:
Ótimo; então, tchau.
VLAD:
Tchau, amor. Gente, eu não acredito que isso aconteceu comigo vivo... Eu
desencalhei!
JEAN:
(pensa) Ela acha que vai me fazer ciúme andando com esse tampinha. Vai
achando...
(fundo
musical: “À francesa (Extended club mix)”- parte instrumetal)
Observando
de longe, Amanda vê o garoto sendo enganado.
AMANDA:
(pensa) Letícia não tinha que ter mentindo pra ele. Mas eu vou mandar a real.
CENA 3
Nick
está na Pharmanveres quando o seu celular toca sobre a mesa.
(fundo
musical: “Tempo perdido (Anicio, Danne & Vipp Code remix)”: “somos tão
jovens/ tão jovens/ tão jovens”)
NICK:
Alô? Fala, meu anjo.
PALOMA:
Só liguei pra dizer que deu tudo certo.
NICK:
Do rocha? E como foi isso?
NARRADOR:
“DO ROCHA?”: “você confirma?”.
PALOMA:
Liga pra agência de viagens e reserva uma passagem pra França. Vou buscar minha
Palma de Ouro. O meu desempenho, como diria Gloria Pires, foi simplesmente...
Fabuloso. Mas eu tenho que te cumprimentar. Não conseguiria sem você.
NICK:
Vou te dizer uma coisa: eu queria ser um carapanã pra ver a cara da Maria Clara
naquele momento.
MARIA
CLARA: Que momento, Nicole?
(fundo
musical: “Adrenalizou (Gabe Pereira remix)”: “não sei como vou controlar”)
Nick
se assusta com Maria Clara em frente à sua mesa.
MARIA
CLARA: Com quem você tá conversando sobre mim em pleno expediente?
Estamos
apresentando “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
NARRADOR:
A carreira do pior ator pernambucano em um documentário pra lá de esquecível.
THIAGO: Ah, sim. Eu assisti à cena do olhar que tive que
fazer e entendi que definitivamente eu não tenho talento para participações
icônicas na filmografia brasileira.
APRESENTADOR: Tenta o exterior.
THIAGO: Tô falando sério. Quando olhei pra cara que eu fiz,
me senti como a música da Banda Magníficos e fiz o possível pra não olhar pra
mim mesmo.
NARRADOR:
Neste domingo, duas da tarde, “Como nascem os ator (doados)” entra em cartaz no
“Me deu gastura máxima”.
Voltamos
a apresentar “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
MARIA
CLARA: Fala, Nicole. Com quem é que você tá falando ao celular?
NICK:
Com... Com ninguém importante, Clara. O que é que você tá fazendo aqui? Eu
pensei que você não viesse hoje.
MARIA
CLARA: Pensou, foi? Por quê? Por acaso eu deixei algum recado contigo dizendo
que não iria comparecer à Pharmanveres hoje?
NICK:
Não, é que... Tô achando você tão abatida...
MARIA
CLARA: Deixa de me engabelar e fala: tá conversando sobre mim com quem?
NICK:
Já te disse, Clara; não é ninguém importante.
MARIA
CLARA: Ah, não? Vamos verificar (toma o celular da mão de Nick).
PALOMA:
Nicole, você ainda tá aí?
MARIA
CLARA: Não tá mais, não, sua ordinária. Pelo menos pra você!
PALOMA:
Maria Clara?
MARIA
CLARA: Escuta aqui: tenta convencer o seu amante pra colocar um pouco de juízo
na sua cabeça. Pelo menos assim você para de cercar a minha empresa e os
funcionários dela, urubu aspirante à CNN (encerra a ligação)! O que é que essa
desequilibrada queria?
NICK:
Clara, fica calma...
MARIA
CLARA: Ela queria o quê, Nicole? Fala!
NICK:
Você mesma disse... Me cercar... Ela me ligou pra saber se você tinha alguma
declaração nova pra dar... Sobre o caso das cobaias.
MARIA
CLARA: Posso saber por que tu tens o contato de Paloma no teu celular?
NICK:
Foi ela que ligou pra mim.
MARIA
CLARA: Isso não importa. O que você vai me dizer agora mesmo é desde quando se
relaciona com essa mulher.
NICK:
Ah, Clara, sei lá! Esse povo é jornalista, tem fonte, contato, checa
informação... Principalmente quando o assunto é uma polêmica. Sente o cheiro de
carniça de longe.
MARIA
CLARA: Peguei parte da conversa que vocês duas tiveram.
NICK:
Ah, foi? E... O que exatamente você ouviu?
MARIA
CLARA: Tinha alguma coisa importante entre vocês que eu tivesse que escutar?
NICK:
Maria Clara, calma! O que é houve com você? Que agressividade é essa?
MARIA
CLARA: Se você faz questão de saber, eu cheguei na parte em que você dizia
querer ser um carapanã pra ver a minha cara naquele momento. Que momento,
Nicole?
NICK:
Nesse! Claro, nesse momento! É que, quando eu atendi, a Paloma me perguntou se
você já tinha chegado à empresa, e como eu não sabia, falei que queria ser um
mosquito pra saber.
MARIA
CLARA: Sim, mas você disse “naquele momento”, e não “nesse”.
NICK:
Você entendeu errado.
MARIA
CLARA: Eu ouvi bem.
NICK:
Não sei o que foi que te aconteceu, mas enganada eu garanto que você tá. Falei
“nesse momento”.
MARIA
CLARA: Foi? Mas você acabou de me dizer que ela perguntou do meu paradeiro
quando você atendeu. Então, quando ela quis saber se eu tinha algum
pronunciamento pra fazer, se a conversa telefônica se restringiu a onde eu
estava?
NICK:
A Paloma tinha... Tinha me telefonado uns minutos antes. Eu que pedi pra ela
ligar, porque talvez desse tempo de você chegar. Achei que esse assunto deveria
ser conversado entre ela e você. Vai que ela distorce as minhas palavras, ou acha
que você tá me colocando pra fugir do contato com ela...
MARIA
CLARA: Ah, é tudo que eu quero: me livrar dessa infeliz! Até a voz de sonsa
pelo telefone me irrita!
NICK:
Nunca te vi desse jeito, Clara. O que foi que fizeram contra você? Me fala.
MARIA
CLARA: Olha aqui: você tá proibida de dar qualquer informação que seja pra essa
cretina. Fala com qualquer outro jornalista, mas com ela não! E presta atenção
se ela não ligar pra cá e inventar outro nome, porque é bem capaz dessa mulher
(começa a chorar)...
NICK:
Maria Clara, conversa comigo. O que é que te fizeram?
MARIA
CLARA: Tô me sentindo impotente, Nick. Eu nem posso dizer que acabou porque... Eu
só sei que acabou. Pra sempre.
(fundo
musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- “meu bem, a vida passa/ e como passa/
não espera por ninguém”)
Maria
Clara abraça Nick, que discretamente comemora a derrocada sentimental da
patroa.
NICK:
(pensa) Acho que quem vai acabar buscando a Palma de Ouro sou eu, como melhor
atriz coadjuvante. Ê, caroço...
NARRADOR:
“Ê, CAROÇO”: quando alguém se safa por pouco de uma situação complicada.
CENA 4
(fundo
musical: “Luz que me traz paz (Astronauts & Deep Motion remix)”- “eu vou
cantar pra ela que eu sempre a quero mais/ eu vou dizer pra ela que ela é a luz
que me traz paz”)
No
Colégio Providencial, Vlad está sentado no muro da quadra, vendo os
adolescentes jogarem bola, e demonstra satisfação com o pedido feito por
Letícia. Uma moça se aproxima do garoto amazonense.
AMANDA:
Dá licença. Eu posso falar com você?
VLAD:
Pode, mas depois.
AMANDA:
Depois de quê?
VLAD:
Tô anestesiado com tudo que me aconteceu. Acho que não ficava tão grogue desde
a cirurgia de fimose.
AMANDA:
Mas ainda não completaram nem vinte e quatro horas e tu já estás doido por ela?
VLAD:
Não é todo dia que alguém te pede em namoro. Pensei que teria que virar padre,
apesar de nem pertencer à religião. Desculpa, eu falo, falo e nem deixo você
dizer nada. A gente se conhece?
AMANDA:
Daqui, do Providencial mesmo.
VLAD:
É verdade.
AMANDA:
Mas a gente nunca foi apresentado. Meu nome é Amanda Mel B.
VLAD:
Te batizaram com o nome de uma das Spice
Girls antes da banda aparecer?
AMANDA:
Não, é que você sabe que adolescente adora inventar nome. Ainda mais com essa
moda de Orkut. Mas eu queria falar sério contigo.
VLAD:
Mesmo? Do quê?
AMANDA:
Fiquei sabendo que você tá namorando a Letícia.
VLAD:
Você conhece ela também?
AMANDA:
É minha amiga. E a gente estuda na mesma série.
VLAD:
Ah, então, eu posso considerar minha amiga a partir de agora. Você viu ela por
aí?
AMANDA:
Vi, ela tá perto da portaria conversando com umas meninas da sala.
VLAD:
Então, eu vou lá falar com ela. Dá licença...
AMANDA:
Espera. É... Teu nome, qual é mesmo?
VLAD:
Me chama de Vlad.
AMANDA:
Vê só, Vlad. Eu tenho que te contar uma coisa que vai deixar teu coração cheio
de corubas, mas é melhor do que te deixar ser feito de idiota.
NARRADOR:
“CORUBAS”: feridas.
VLAD:
Caramba, tá começando a me assustar. O que foi?
AMANDA:
A Letícia, ela... Ela tá te usando.
VLAD:
Peraí, Amanda. Que história é essa?
AMANDA:
Ela namora outro carinha, o Jean. Ele é do terceiro ano.
(fundo
musical: “Se a gente pode sonhar (Zerky remix)”- “porque existe uma força em
cada um de nós/ e ninguém vai me dizer do que eu sou capaz/ eles nunca vão nos
entender/ jamais”)
VLAD:
Jean? Só pode ser mentira o que você tá me dizendo.
AMANDA:
Pior que não, Vlad. Eles brigaram na semana passada e já têm uns dias que eles
não se falam. Daí ela resolveu te pedir em namoro.
VLAD:
Só pra provocar esse menino?
AMANDA:
Jean tava vendo vocês dois de papo. Ela sacou e por isso te fez o pedido de
namoro.
VLAD:
Isso é mentira, né?
AMANDA:
Eu sei que te falei que a Letícia é minha amiga, mas não acho legal ela te
enganar. Por isso eu vou contar tudo que eu sei dos dois.
CENA 5
(fundo
musical: “Farol (Kalozy, Nogue, Vhenace remix)“- “quando a solidão foi te
encontrar/ crie asas e comece a voar/ temos um mundo inteiro a descobrir”)
Vlaviano
decide voltar a fazer sessões com Douglas. O motivo é a não comunicação com
Maria Clara acerca da presença de Vlad em sua vida.
VLAVIANO:
Depois de rodar Manaus todinha atrás do cativeiro do tal namorado dela, a gente
descobriu que não teve sequestro nenhum.
Mas um barraco foi garantido.
DOUGLAS:
No que isso te afeta?
VLAVIANO:
No fato de que a mulher não me deixou falar. E o pior: não conseguiu me
esclarecer como o Vlad surgiu na minha vida.
DOUGLAS:
Tem certeza de que isso é efeito do medicamento que a Maria Clara produziu?
VLAVIANO:
Essa seria a explicação mais plausível. Tirando isso, só se aquele curumim
surgisse de novo. Mas depois que ele esqueceu a carteira de estudante comigo,
nunca mais. Sinceramente, não fico tão pra baixo desde que descobri que fui
corno no meu único namoro, ainda menor de idade.
DOUGLAS:
Posso interpretar seu desabafo como uma falta que você sente do garoto?
VLAVIANO:
Não delira, cara. Eu quero que ele, ou a Maria Calara, me explique o que tá
acontecendo comigo. Imagina se eu vou ter saudade de um cidadão irritante como
aquele.
DOUGLAS:
Se você quer que o Vlad reapareça, só depende de você.
VLAVIANO:
Que é isso, Douglas? Virou coach
agora? Para, que esse negócio vicia, hein?
DOUGLAS:
Vlaviano, eu não gosto de me desfazer da ética. Nem pessoal, tampouco
profissional. Mas talvez seja a quebra dessa ética que vai esclarecer o
mistério que ronda vocês dois.
VLAVIANO:
Aonde tu queres chegar?
DOUGLAS:
O que é que te faz rechaçar tanto esse menino? Ele não pode ser tão diferente
de você.
VLAVIANO:
Porque você não viu o dito cujo! Ele é tão insuportável, com aquela felicidade
toda, aquele otimismo invejável... Aquela crença de que as coisas, por piores
que estejam, vão se acalmar... De que toda e qualquer infelicidade seja
passageira.
DOUGLAS:
Foi assim alguma vez na vida?
VLAVIANO:
Sei lá, Douglas; esse menino deve ser assim desde sempre...
DOUGLAS:
Não é dele que estou falando. É de você, Vlaviano.
VLAVIANO:
Eu? Olha, eu... Acho que quando eu tinha a idade dele, que eu escondia meu nome
e só deixava que os outros me chamassem de Vlad. Acho que procurei ser o melhor
de mim até os primeiros anos da vida adulta.
DOUGLAS:
Mesmo diante das dificuldades, você se sentia feliz?
VLAVIANO:
Demais. Mas depois as frustrações foram se acumulando. E o sorriso foi se
perdendo.
DOUGLAS:
E os dentes também.
VLAVIANO:
(mostra que é banguelo) Não fala de meu dente!
DOUGLAS:
A Maria Clara tem a ver com essa situação, sim. Mas muito menos culpa do que
responsabilidade.
VLAVIANO:
Então você se acha capaz de dizer qual é a verdadeira identidade do menino?
DOUGLAS:
O Vlad é você.
(fundo
musical: “Puro êxtase (Sax in the house version)”)
Vlaviano
reage incrédulo à conclusão chegada por Douglas, e o seu rosto congelado no momento
da revelação encerra o episódio.
(CRÉDITOS FINAIS)
(fundo
musical: “Dias melhores (KVSH & Flow remix)- “vivemos esperando/ dias
melhores pra sempre”)
(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)
CHAMADA
(fundo
musical: “Dias e noites”- “viver algo novo/ tocar no seu rosto/ viver”)
NARRADOR:
Próxima quinta- a alegria de Vlad está com os dias contados.
VLAD:
Posso saber o que você andou fazendo ontem de tarde?
LETÍCIA:
Fui pra locadora pegar “Crossroads” pra assistir.
VLAD:
E chamou o Jean pra rebobinar a fita por quê?
NARRADOR:
E Nick sabe que Vlaviano pode salvar a reputação de sua patroa, mas Paloma está
disposta a impedir que isso aconteça.
NICK:
O que é que a gente faz agora? Ele não pode encontrar a Maria Clara e contar
que o remédio funciona.
PALOMA:
E não vai. Marca um encontro com ele e risca esse rapaz do mapa.
NARRADOR:
Próxima quinta- as surpresas das últimas semanas de “Catch back”.
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