CENA 1
Maria
Clara está dirigindo calmamente seu carro, dirigindo-se para o trabalho na
Pharmanveres. Liga o rádio do automóvel.
MARIA
CLARA: Hoje vai ser um dia tranquilo, na santa paz... Eu acho, né? Vamos ver
quais são as notícias do dia, desde que não mencionem meu nome.
RADIALISTA:
Tu sintonizaste na Rádio Amantes Amazonenses. E para começar o nosso programa
de hoje, “Flashback com remixes”, vamos recorrer a uma das mais belas canções
lançadas nos anos 80.
(fundo
musical: “Tempo perdido (Anicio, Danne & Vipp Code remix)”- “todos os dias
quando acordo”)
A
empresária aciona uma raquete elétrica, destruindo o aparelho.
MARIA
CLARA: A música preferida do Ivan... Por que ele tinha que aparecer tanto nos
meus pensamentos? Tinha tudo pra esquecer esse homem, mas não consigo. Como é
que vou fazer pra tirar o Ivan da minha...
Maria
Clara é interrompida por uma colisão de seu automóvel com outro carro, amassado
pela empresária.
MARIA
CLARA: Pronto! Era só o que me faltava! Acho que vou ter que aprender a nadar
pra sobreviver a essa maré de azar!
IVAN:
Mas quem foi o idiota que acabou com o meu... Tu?
MARIA
CLARA: Eu devo merecer! Tanta rua pra andar no Amazonas e você tem que cruzar
na que eu tô?
IVAN:
Tá reclamando de quê? Foi você quem bateu no meu carro!
MARIA
CLARA: Vai me processar também? Porque é só o que me falta!
IVAN:
Se você pagar o conserto do meu carro, eu já me dou por satisfeito!
MARIA
CLARA: Vai sonhando!
IVAN:
Vai me deixar com o carro desse jeito?
MARIA
CLARA: Bem que você merece um prejuízo por tudo que fez contra mim!
IVAN:
Eu não fiz nada!
MARIA
CLARA: Ah, vá! Não me tome como lesa! Esse discurso você usa com sua amante de
tabloide!
NARRADOR:
“LESA”: quem não percebe facilmente o que acontece à sua volta. Se a
característica for contínua, diz-se que a pessoa sofre de “leseira baré”.
IVAN:
Eu não tenho amante nenhuma, não tenho caso com a Paloma!
MARIA
CLARA: Contra fatos não há argumentos, Ivan! Olha só, vamos encerrar essa
conversa de uma vez! Deixa que eu ligo pra um mecânico e peço pra consertar teu
carro!
IVAN:
Deixa pra lá.
MARIA
CLARA: Como assim? Você não queria que eu arcasse com os custos do conserto?
IVAN:
Pensando bem, vindo de você eu não quero dinheiro nenhum.
MARIA
CLARA: Por quê? Eu tô na pior, mas acho que a traseira de um carro eu posso
reparar.
IVAN:
Mudei de ideia. Não quero nada que venha de você.
MARIA
CLARA: Sua dignidade me espanta.
IVAN:
Não seja irônica, Maria Clara.
MARIA
CLARA: Eu não posso? Depois de tudo o que eu vi?
IVAN:
Se você acredita tanto naquilo que presenciou naquele quarto, por que se mostra
tão machucada?
MARIA
CLARA: Porque eu respeitava você.
IVAN:
Isso, sim, é difícil de acreditar. Na primeira oportunidade que você teve,
jogou na minha cara uma coisa que eu não fiz.
MARIA
CLARA: Não é o que você e a Paloma fizeram naquele quarto que me tirou do eixo,
foi saber que você não era quem eu pensava.
IVAN:
Sabe que eu me arrependo de ter voltado ao Brasil por você?
MARIA
CLARA: Se é que foi por mim mesmo... Porque o esforço que você parece ter feito
foi em vão.
IVAN:
Perda de tempo ficar discutindo contigo...
MARIA
CLARA: Ótimo, vamos encerrar a conversa aqui! Eu vou fazer um cheque!
IVAN:
De você eu não recebo nem um alfinete!
MARIA
CLARA: (aproxima-se do geógrafo) Ivan, para com isso, que se tem alguém aqui
que pode dizer que saiu lesada fui eu...
IVAN:
(levanta a voz) Uma barbeira dessas e eu ainda levo a culpa de alguma coisa?
Toma vergonha, Maria Clara!
MARIA
CLARA: Pode ter certeza de que eu sei o significado dessa palavra, Ivan!
IVAN:
Só não exerce o conceito, mas pra me acusar de tudo que existe de ruim nesse
mundo você é uma velocista!
MARIA
CLARA: Escuta bem, se você acha que eu vou permitir ser ofendida por você...
IVAN:
Nem dê a si própria o trabalho de discutir comigo. Afinal de contas, eu não
significo nada pra você.
MARIA
CLARA: Nada mesmo!
IVAN:
Neca de pitibiriba!
MARIA
CLARA: Uma nulidade!
IVAN:
Coisa alguma!
Os
dois ficam algum tempo em silêncio, até que decidem beijar-se no meio do
asfalto.
(fundo
musical: “Jack Soul Brasileiro (Jørd & Mojjo remix)”- “me diz aí quem foi/
quem foi/ quem foi/ quem foi/ quem foi/ quem foi”)
(ABERTURA)
CENA 2
De
mãos dadas, Maria Clara e Ivan estão temporariamente sozinhos na recepção da
Pharmanveres.
IVAN:
Ainda bem que viemos pra cá e fugimos do calor da avenida enquanto o reboque
não chega.
MARIA
CLARA: Aqui é Amazonas, querido. Pode nevar que vai continuar a quentura, seja
na rua, seja em ambiente fechado.
IVAN:
Gostou do orçamento que o meu mecânico fez pro meu carro?
MARIA
CLARA: Se fosse mais salgado, eu teria uma crise hipertensiva. Mas vamos parar
de falar de coisas sem importância. Acho melhor aproveitarmos que minha
secretária ainda não chegou e usarmos melhor o tempo.
IVAN:
Não vai me dizer que... Tu estás pensando em...
MARIA
CLARA: Uhum. E se fôssemos ao depósito pra que você me desse aquelas aulas de
geografia?
IVAN:
Nas quais eu chego a conhecer todos os seus pontos extremos?
MARIA
CLARA: Sim, meu lindo. Do Oiapoque ao Chuí.
IVAN:
Passando, é claro, por São Gabriel da Cachoeira, Lábrea, Atalaia do Norte e
Nhamundá...
MARIA
CLARA: Exatamente de acordo com os pontos cardeais.
IVAN:
Não sabia que você conhecia todos esses lugares daqui do Amazonas.
MARIA
CLARA: E não conheço: olhei na Wikipédia só pra te dar uma cantada.
IVAN:
Nós dois aqui, sozinhos... Parece até que esse dia não tá acontecendo.
VLAVIANO:
Não tá mesmo!
MARIA
CLARA: Mas você de novo?
IVAN:
Posso saber o que é que tu estás fazendo aqui?
VLAVIANO:
Não, ela pode. O assunto é com Maria Clara.
MARIA
CLARA: Tô lembrada quem é você. Tava comigo no dia em que eu flagrei... Melhor
esquecer.
VLAVIANO:
Nós tínhamos um assunto pendente. Ao menos eu não disse tudo que tinha pra
falar.
IVAN:
Olha aqui, mano, não é por nada, não, mas é que a gente queria ficar por um
momento sozinho aqui no escritório.
VLAVIANO:
E eu lá sou chegado a você pra tu me chamares de “mano”? Que eu saiba a única
vez que nos vimos foi quando ela te flagrou usando um pijama do Frajola!
NARRADOR:
“MANO”: tratamento carinhoso entre conhecidos ou não.
IVAN:
Maria Clara, de onde que você conhece esse cara?
MARIA
CLARA: Também queria saber.
VLAVIANO:
Ah, mas é claro que você sabe. Eu fui uma das cobaias do Semancol.
MARIA
CLARA: Escuta, eu nem estava no dia dos testes; portanto, você e todos os
outros foram recebidos pela minha secretária. Ou seja: não nos conhecíamos, até
que veio aquele dia fatídico do karaokê.
VLAVIANO:
Ótimo, chegou ao ponto que eu queria falar. Eu vim te dizer que não adianta
usar tua funcionária contra mim.
MARIA
CLARA: Do que você tá falando?
VLAVIANO:
Eu não quero dinheiro, nem mesmo qualquer indenização da empresa. Porque eu
entendi que o Semancol funciona.
MARIA
CLARA: Nossa, até que enfim um homem sensato no Amazonas!
VLAVIANO:
Eu andei conversando com o meu psicólogo e ele me fez entender que a felicidade
é a memória que eu tenho de quando eu era mais novo. Essa memória é justamente
a minha fase adolescente, quando eu era animado e me identificava como Vlad.
Essa lembrança passou a me seguir em todos os lugares, tentando me fazer voltar
ao comportamento que tinha aos treze anos de idade. Mas o Vlad desapareceu, e
eu creio que isso se deve ao fato do efeito ter passado.
MARIA
CLARA: Eu sabia! Eu sempre falei que o Semancol funciona, e o tal de Vlad é a
prova disso! Como é que eu faço pra encontrá-lo?
IVAN:
Basta submeter esse rapaz ao medicamento.
VLAVIANO:
Por mim, tudo bem. Mas eu quero deixar claro que eu, ao contrário dos outros
que injetaram o remédio, só pude ser contemplado com esse momento depois de
passar pela primeira dose do Semancol.
MARIA
CLARA: Que “primeira dose”, rapaz? O medicamento é pra ser injetado na veia uma
vez só.
VLAVIANO:
Não foi o que a tua secretária andou dizendo às cobaias no dia que eu estive
aqui.
MARIA
CLARA: Nicole falou isso? Mas ela sabe que o Semancol era pra ser administrado
em dose única, dei ordens expressas pra isso.
VLAVIANO:
Pois fique sabendo que ela mentiu. E andou ligando pra mim, marcando um
encontro comigo lá na entrada do bodozal, pelas tantas da madrugada. Não se
identificou, mas eu logo vi que era a voz dessa moça. E alegou que eu deveria
ir porque ela explicaria como te destruir.
MARIA
CLARA: Você tá enganado, a Nicole nunca faria isso.
VLAVIANO:
A seu mando, talvez. Mas eu não quero acabar com você. Eu só queria que você me
explicasse por que uma dose só foi o bastante pra retomar as lembranças que eu
havia perdido, quando o acordado comigo e com os outros era que duas doses eram
necessárias.
MARIA
CLARA: Só que eu nunca mandei que ela aplicasse duas doses do Semancol! Por que
você tomou uma só?
VLAVIANO:
Porque fui embora, tinha que entregar um currículo. Peguei a grana e me mandei.
IVAN:
Amor, será que não foi essa segunda dose que causou a alucinação nos outros
pacientes?
MARIA
CLARA: Ivan, isso é impossível. O Semancol não deixaria as pessoas agressivas
contra mim nem mesmo em volume acima do que eu estipulei.
IVAN:
Então, só tem uma explicação, Maria Clara: a Nicole te sabotou.
VLAVIANO:
E quer acabar com você.
MARIA
CLARA: Gente, vocês não estão entendendo. Além de secretária, a Nicole é minha
amiga. Ela não pode ter feito isso comigo. E depois o Semancol, mesmo acima do
recomendado, não causaria alucinações. Como isso se explica?
VLAVIANO:
Só se ela ministrou o remédio com outra coisa, e eu escapei por pouco.
IVAN:
Onde foi que você pediu que ela fizesse o experimento com as cobaias?
MARIA
CLARA: Na sala de estoque da Pharmanveres, onde eu guardei todas as seringas de
Semancol.
IVAN:
E se déssemos uma verificada lá pra ver se encontramos alguma coisa que a
comprometa?
CENA 3
Os
personagens da cena anterior vão à sala de estoque.
MARIA
CLARA: Olha aqui: todas as seringas de Semancol que eu produzi estão vazias.
Isso quer dizer que ele foi usado em todos os pacientes.
IVAN:
Logo, rejeita-se a ideia de overdose de Semancol.
VLAVIANO:
Mas quer dizer também que eu escapei por pura sorte, e outra substância foi
lançada na corrente sanguínea das cobaias.
MARIA
CLARA: O que é isso aqui? Uma caixa com duas seringas, ampolas vazias de
calmante, uma garrafa de caipirinha, outra de vodca e meio limão?
VLAVIANO:
Seco, por sinal.
MARIA
CLARA: Como é que essas coisas vieram parar aqui?
IVAN:
Só pode ter sido a Nicole que trouxe isso pra cá.
VLAVIANO:
Ela é alcoólatra? Porque ela deve ter feito uma caipirosca no trabalho!
IVAN:
É isso! O calmante!
MARIA
CLARA: O que é, Ivan?
IVAN:
Caipirosca com calmante! Foi ela que deve ter me dopado no karaokê!
MARIA
CLARA: Impossível, Ivan. Na noite do karaokê, ela ficou trabalhando aqui na
empresa.
VLAVIANO:
Espera, eu tô lembrando uma coisa: na noite em que eu te conheci, eu tinha
falado com a Nicole. E ela me deixou sozinho na recepção, dizendo que ia tentar
te localizar.
MARIA
CLARA: À noite?
VLAVIANO:
Sim. Depois, eu me cansei de esperar e fui embora de Uber. Foi, então, que eu
te encontrei.
IVAN:
Tá explicado, então. A Nicole saiu daqui e foi pro karaokê me dopar.
MARIA
CLARA: Mas eu não a vi entrar naquele lugar.
IVAN:
Só se... A garçonete loura da boca carnuda!
VLAVIANO:
Ela se disfarçou? Galera, eu tô começando a ficar com medo dessa história.
MARIA
CLARA: Ivan, essa teoria não faz sentido em lugar nenhum do mundo. Por que a
Nicole te doparia, se ela não teria vantagem nenhuma nisso? A única que poderia
se beneficiar dessa armação é a Paloma!
IVAN:
Mas a Paloma bebeu comigo, e quando eu acordei ela estava tão atordoada quanto
eu.
VLAVIANO:
A explicação mais plausível é que elas sejam cúmplices. Tu sabes de alguma ligação
entre as duas?
MARIA
CLARA: Paloma, no dia seguinte, estava conversando com a Nicole. Mas ela me
disse que a pilantra tinha ligado pra saber novidades a respeito do escândalo
do Semancol.
VLAVIANO:
Tá na cara, elas estão juntas pra te passar a perna.
IVAN:
Desculpa, mano, mas fica difícil de acreditar que a Paloma armou tudo isso só
pra me enganar.
VLAVIANO:
Ou pra prejudicar a Maria Clara.
MARIA
CLARA: Mais absurdo é envolver a Nicole nessa sujeira toda.
VLAVIANO:
Bom, provar que a tal de Paloma é mentora desse plano, ou somente cúmplice, é
uma coisa que eu não posso fazer. Mas tem como fazer vocês verem que a Nicole
tá armando alguma coisa contra mim, e pelas costas da Maria Clara.
MARIA
CLARA: De que jeito, Vlaviano?
VLAVIANO:
Eu salvei aqui no celular o número que ela usou pra me ligar e marcar o
encontro no bodozal. Dá uma olhada.
MARIA
CLARA: Hum... Esse telefone não é o dela, eu sei decorado de tanto ligar.
VLAVIANO:
Faz o teste da fidelidade da tua funcionária. Liga pra ver quem atende.
MARIA
CLARA: Tudo bem, então. Eu vou ligar pra provar que vocês estão errados a
respeito da Nicole...
IVAN:
Espera, amor. Se a Nicole costuma receber ligações suas, ela deve ter decorado
teu número também. O melhor é ligar do meu.
MARIA
CLARA: Ótimo.
IVAN:
Não precisa falar nada, só escuta a voz de quem atender.
MARIA
CLARA: Tá chamando.
NICK:
Alô?
(fundo
musical: “À francesa (Extended club mix)”- parte instrumental)
Maria
Clara derruba o celular de Ivan ao chão.
MARIA
CLARA: É ela!
IVAN:
Destruiu meu carro e agora meu celular?
Estamos
apresentando “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
NARRADOR:
Passar no vestibular pode ter suas consequências.
JÚNIOR:
Benedetto, eu tenho uma revelação muito grave a fazer.
BENEDETTO:
Já sei: você não consegue decorar os números do “Criança Esperança”, não é?
JÚNIOR:
Angélica deu aula hoje.
(fundo
musical: “Iniciação”)
NARRADOR:
E muitas delas parecem não ter explicação.
BENEDETTO
(NARRADOR): Seria um dia normal se a população maia não tivesse previsto que o
mundo acabaria no dia da festa: sexta, 21 de dezembro de 2012.
(fundo
musical: “Vlad”)
BENEDETTO
(NARRADOR): Mas é melhor o mundo acabando do que eu reprovando por falta, não é
mesmo?
NARRADOR:
“Sete lendas universitárias”. Hoje, depois de “Catch back”, em “Cinema
espacial”.
BENEDETTO:
A porta não quer abrir! Meu Deus! É a profecia maia se cumprindo! O fim chegou!
(fundo
musical: “Iniciação”)
Voltamos
a apresentar “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
CENA 4
Maria
Clara bebe um copo d’água oferecido por Ivan. Vlaviano conversa ao celular com
seu psicólogo, Douglas.
DOUGLAS:
Uma história impressionante, com certeza.
VLAVIANO:
Ainda não temos como provar que essa Paloma tá envolvida com a Nicole, com o
intuito de prejudicar a Maria Clara. Mas a culpa dessa secretária no plano de
apagar o Ivan e no de manipular os resultados do Semancol é certa.
DOUGLAS:
Onde é que tá a Maria Clara agora?
VLAVIANO:
Aqui do meu lado, amparada pelo catch
back dela. Parece que eles voltaram às boas.
IVAN:
Só não estamos melhores porque você interrompeu o nosso “colóquio amoroso”.
MARIA
CLARA: Nada de colocar nada em canto nenhum, temos um caso policial a resolver.
IVAN:
Me desculpe, querida.
DOUGLAS:
O que vocês pretendem fazer agora?
VLAVIANO:
Não faço ideia. Denunciar é a primeira ideia, mas não há como provar aquilo que
já sabemos. Por isso que eu te liguei. Você é mais inteligente que eu e pode
nos dar uma ideia.
DOUGLAS:
Só tem um jeito de provar que essa Nick é uma mulher perigosa.
VLAVIANO:
E que forma é essa?
DOUGLAS:
Usando a Maria Clara como isca. Se ela foi prejudicada por essa secretária, é a
maior interessada em saber se ela mentiu e quando.
VLAVIANO:
Então, me explica o que ela tem que fazer.
DOUGLAS:
Presta atenção, Vlaviano, porque o meu plano é muito esquisito. Primeiro, a
Maria Clara tem que verificar quais são os horários que essa Nicole trabalha
aí. Daí, ela dispensa os funcionários...
(fundo
musical: “Farol (Kalozy, Nogue, Vhenace remix)”- parte instrumental)
Maria
Clara e Ivan olham para Vlaviano, bastante confiante com o que lhe é dito
através da ligação telefônica.
MARIA
CLARA: Faz tudo que esse psicólogo disser. A minha intuição diz que o que ele
tá bolando vai dar certo.
CENA 5
(fundo
musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- “tu me olhas e me invades/ na tua boca
quero estar/ em teus braços vou fazer meu lar”)
Nick
volta à empresa, mas, ao chegar à recepção, não encontra nenhum funcionário.
NICK:
Tem alguém aí? Maria Clara?
MARIA
CLARA: Estou aqui.
NICK:
Aconteceu alguma coisa? Que cara é essa?
MARIA
CLARA: Você sempre me conheceu tão bem, desde que começamos a trabalhar juntas.
Pena que eu não possa dizer o mesmo de você.
NICK:
É alguma indireta?
MARIA
CLARA: Não perco meu tempo com isso. Digo na cara.
NICK:
Então, fala. Qual é a razão desse tratamento comigo?
MARIA
CLARA: Dê-se por feliz. Porque a minha vontade é de dar na sua cara uma surra
de gato morto até o gato miar!
NICK:
Quem te envenenou contra mim? A Paloma? Ela inventou alguma mentira contra mim
ou tu estás com raiva ainda porque ela tem o número do meu celular?
MARIA
CLARA: É, você tem propriedade pra falar do assunto. Uma cobra. Cobra que eu
criei aqui na minha empresa.
NICK:
Maria Clara, eu respeito muito você, mas eu não admito que você me trate dessa
forma.
MARIA
CLARA: Para de se esforçar pra parecer uma atriz convincente, porque estamos
sozinhas nesse teatro que você montou. Eu sei que você alterou o efeito do
Semancol nos meus pacientes, menos no Vlaviano. E descobri também que você
dopou a Paloma e o Ivan pra que ele achasse que dormiu com ela. A única coisa
que eu não entendi até agora foi desde quando você passou a me odiar tanto!
NICK:
Você quer sinceridade, Clarinha? De mim? Sério que é isso que tu estás
esperando?
MARIA
CLARA: Conta de uma vez: desde quando você me odeia?
NICK:
Desde que eu descobri que você existia.
MARIA
CLARA: Como é que é?
NICK:
Você se acha tão imponente, mas não sabe como foi fácil acabar contigo. Dia a
dia. E é tão esnobe... Aposto que, apesar dos anos, nem o meu sobrenome você
deve saber.
MARIA
CLARA: Deveria? Achava que era “Sucuri”.
NICK:
Nicole Cardoso. Ele te diz alguma coisa? Pois é. Eu sou a filha do homem que
fundou a Car Dose Pra Leão. Não te diz nada também? Pois eu explico: essa era a
maior empresa farmacêutica da Região Norte do país. Até que você e a sua
maldita Pharmanveres entraram no mercado e nos jogaram no limbo.
MARIA
CLARA: Plano de vingança frágil o seu, hein? Porque até onde eu sei, a empresa
faliu após um monte de dívidas trabalhistas que o seu pai contraiu antes de
morrer.
NICK:
E que eu paguei, disposta a voltar pro mercado. Mas a sua competência foi
responsável por transformar essa quitinete em referência internacional.
Farmácias, universidades, postos de saúde, clínicas, hospitais... Todos atrás
dos medicamentos produzidos pela mulher que abdicou dos melhores anos da vida
pra ser a número um do ramo farmacêutico. E a minha empresa sequer recuperou a
credibilidade que eu lutei tanto pra reaver.
MARIA
CLARA: Parece até que foi ontem o dia em que eu vi você implorando por uma
oportunidade. Um currículo nas mãos, atrás de um emprego como secretária. E
tudo isso pra me apunhalar pelas costas, Nicole?
NICK:
Eu tinha um objetivo, mas eu não sabia de que forma executar. Foi aí que a
Paloma entrou na jogada. Porque ela tem mais ódio de você do que eu. Ela não te
perdoa por ter desiludido tanto o Ivan a ponto de fazê-lo morar no exterior.
Primeiro, eu dei uma dose de Semancol e outra de um calmante fortíssimo pra que
as cobaias tivessem uma alergia ao teu medicamento. Depois, eu dopei o Ivan e a
Paloma. A mando dela.
MARIA
CLARA: Tem ideia do que você e aquela maluca fizeram? Vocês me fizeram duvidar
do Ivan, da integridade dele! Agora, mesmo que eu conte que foi tudo uma
armação de vocês, nunca mais ele vai querer olhar na minha cara!
NICK:
Sem contar a prisão pra qual você vai, não é, Clara? Porque todos os que foram
submetidos ao Semancol estão dispostos a te processar. Tanto é que você foi
intimada. E com a ajuda do alcance que a Paloma tem na mídia vai ser fácil te
trancar numa penitenciária. Mas não se preocupe, você logo vai se acostumar com
a solitária e a conviver com as ratas feito você.
MARIA
CLARA: Nicole, você não tem medo de nada do que está me contando?
NICK:
Por que teria? Porque você vai procurar o Vlaviano e vai obrigar o rapaz a
dizer que ele não foi drogado? Por quanto tempo você acha que ele vai
permanecer em segurança? E depois, meu anjo, se o Vlaviano comer capim pela raiz
de repente, a culpa vai ser atribuída única e exclusivamente a você. Minha
confissão não é prova de nada. O máximo que você pode fazer é me demitir. Agora
convenhamos: ser demitida por uma suspeita envolvida com drogas é um alento,
não é? (suspira) Que lipoaspiração! Falei a verdade e parece que perdi dez
quilos.
Entra
um policial na empresa.
POLICIAL:
A liberdade também.
NICK:
O que é isso?
POLICIAL:
Nicole Cardoso, você está presa por ferir o Artigo 273 do Decreto Lei de número
2.848, de 12 de dezembro de 1940, por alterar a substância Semancol
atribuindo-lhe entorpecentes na corrente sanguínea dos pacientes da
Pharmanveres. E também por aplicação do golpe “boa noite, Cinderela” contra
Ivan Lemgruber.
NICK:
Quem foi que chamou a polícia?
VLAVIANO:
Você não adivinha?
NICK:
(ri) Você? Então, estão juntos contra mim? O que eu falei pra ela eu repito pra
você: não existem provas que me coloquem na cadeia.
IVAN:
Na verdade, existe uma só, que é mais do que suficiente. (mostra um gravador) A
confissão que você acabou de fazer.
MARIA
CLARA: Foi um prazer trabalhar com você, Nick.
IVAN:
E um prazer maior ainda foi te passar pra trás.
(fundo musical: “Puro êxtase (Sax in the house
version)”)
O
episódio congela na expressão de pavor vivida por Nick ao ser desmascarada por
Maria Clara, Ivan e Vlaviano.
(CRÉDITOS FINAIS)
(fundo
musical: “Livre pra viver (DJ Ippocratis ‘Grego’ Bournellis, DJ Silvio Müller,
DJ Cabello e DJ Ricardo Guedes)”- “sou livre pra voar/ nem me importa London ou
New York, ou Paris”)
(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)
CHAMADA
(fundo
musical: “Dias e noites”- parte instrumental)
NARRADOR:
Próxima quinta- depois de uma grande decepção amorosa, Vlad pode ficar entre a
vida e a morte.
Ouve-se
a pancada do brinquedo que atinge a cabeça do adolescente, fazendo-lhe
desmaiar.
NARRADOR:
E Paloma finalmente será confrontada pela mulher que mais odeia em sua vida.
MARIA
CLARA: Poço de elegância? Eu sou praticamente a bacia amazônica da finesse, minha filha! Acontece que eu
não vou gastar as dicas de etiqueta que aprendi com Glória Kalil com uma mulher
feito você! E o pior é você acreditar que o Ivan um dia poderia querer ficar
contigo! Se olha no espelho, infeliz! Você não só não é páreo pra mim como
também não é pra nenhuma mulher que preste!
PALOMA:
Agora você tocou no ponto certo! Já que eu não posso ser a mulher da vida do
Ivan, eu vou acabar com a mulher da vida do Ivan!
(fundo
musical: “Dias e noites”- “viver algo novo”)
NARRADOR:
Próxima quinta- penúltimo episódio de “Catch back”.
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