-Me traga um
Diazepam. Vou demorar pra dormir hoje. Como é que a Isabela teve coragem? Ah,
mas eu vou tomar as minhas providências.
-O que a
senhora vai fazer?
-Eu vou falar
com o pai desse menino! Que palhaçada é essa de levar a minha filha pra praia
tarde da noite?
-Praia? Mas a
Bella não tem tempo pra isso.
-Não tinha, Taciana.
Agora está indo ver as conchas com aquele safado. Mas ele que me aguarde. Com
aquela carinha de quem só gosta de música clássica, e leva a filha dos outros
pro mau caminho? Ah, ele vai me pagar.
-Sim, mas e
eu? Jogo esse teste no lixo? Olha, é melhor a senhora se decidir porque não vou
poder me atrasar pra aula!
-Você vai
fazer melhor. Que curso você faz na federal?
-Pedagogia,
mas o que...
-Sem
perguntas. Você vai vigiar a Isabela hoje. Toda vez que ela chegar perto desse
rapaz, você me dá um toque a cobrar. Aproveita que tô com bônus.
-E se ela
passar o dia todo vendo esse homem, o que eu faço?
-Liga do mesmo
jeito. Agora, joga esse teste fora, porque eu vou ter uma conversa quando ela
chegar aqui. E enquanto estiver terminando de arrumar esse quarto, nada de
ficar escutando Britney. Moramos no Ibura, entendeu? Aqui a ordem é música
regional. É de Labaredas à Camelô, sem pestanejar.
-Sim, senhora.
Mas... Assim... Nem... “Oops...”...
-Varre esse
quarto!
XXXXX
Caio chega
mais tarde à universidade, sendo seguido por Taciana. Inspirada em sua cantora
predileta, a jovem está usando uma peruca loura. O jovem padeiro encontra
Isabela fazendo uma cara de quem está posando para a foto do perfil de uma comunidade
nova do Facebook: a “Cafeína da Depressão”. Fica a dica.
-O que houve,
Bella?
-Nada, Caio.
Por quê?
-Você tá
mentindo pra mim.
-Eu?
-A gente não
conversa há mais de quinze dias. Você ficou estranha comigo. Ficou com raiva
porque eu te deixei na Concha? Eu já te expliquei...
-Não, não é
isso. É que... Você é menino, e é meio difícil de explicar algumas coisas.
-Sou seu
amigo, e isso conta.
-O problema é
o meu ex-namorado.
-Vamos falar
do Sport!
-Não, é sério.
Lembra que a Thaís falou dele na calourada?
-Lembro, sim.
O que tem ele?
-Eu tive uma
recaída.
-Pela sua
cara, isso não é bom.
-Isso é
péssimo, Caio. Sabe quando você investe numa coisa e descobre que seu esforço
não valeu de nada?
-No caso, você
está falando do teu ex?
-Não, eu falo
de ter passado horas arrumando a bolsa e ter esquecido as fichas pra prova de
Letramento.
-Bella... Você
gosta dele ainda?
-Adianta dizer
que não? Fiquei com ele. Eu podia ter tomado um rumo novo, uma atitude sensata,
como participar do “Rola ou Enrola”, pedir a volta do “Beija Sapo”, me envolver
com alguém que valesse a pena...
-Mas isso só
aconteceu uma vez. Não quer dizer que você vai querer que isso se repita. Quer dizer,
você quer. Mas precisa resistir.
-A teoria é
maravilhosa. Mas não funciona.
-Racionalidade,
Isabela. Não combina com o coração, mas é mais do que urgente.
-Como?
-Quando você
sabe que vai se machucar, começa a pensar melhor.
-Parece que você
já passou pelas mesmas situações.
-Não. Mas me
programo pra não passar.
-Às vezes,
parece que eu sou amiga de um cara sem sentimentos.
-Eles se
manifestam quando eu fico de cara com aquilo que realmente tem valor. Uma
família, uma amizade verdadeira, uma xícara de café... Paçoca!
Taciana se
aproxima e fica atrás de um carro de som para escutar a conversa. Os dois caras
que estão no veículo se preparam para executar uma música, quando diz um deles:
-Não, bicho.
Toda vez a gente bota essa música do Gonzaguinha. Vamos trocar.
-Tá, pega o pen drive e bota a primeira coisa que
tiver.
Toca “Macarena”!
Agora há a cena da comédia pastelão!
-Putz, mas
essa música fica no pé do ouvido da pessoa?
-Amigo,
acredite: o sindicato põe Edson Gomes. Sorte a sua deles terem variado o
repertório.
Para fazer o
anúncio, o carro sai em disparada! Taciana se desequilibra e procura disfarçar
com a coreografia de Los Tombos Del Trio, indo para a aula.
-Como essa
menina dança bem! Parece a minha diarista.
-Não será ela,
não?
-Imagina. Ela
nunca dançaria nada que não fosse relacionado à Britney Spears.
-Cada um com
sua mania.
-Justo. Agora
eu tenho que entrar. O professor vai falar sobre Montaigne.
-Quem é esse?
-E eu é que
sei? Só sei que ele diz que o sonho da vida dele é se livrar da gente, escrever
suas memórias e ler o tal de Montaigne. Vem comigo.
Os dois entram
no centro acadêmico.
XXXXX
Caio chega à
sua casa, entrando pela padaria. Seu Leoni está no caixa.
-Ô, Caio!
-Não vai dar,
pai! Tenho que estudar.
-Espera, eu
tenho falar com o senhor.
-Senhor. Eita
lá!
Os dois entram
e sentam no sofá.
-Meu filho, eu
vou te fazer uma pergunta e quero que você seja sincero.
-Pode falar.
-Sabe que a
havaiana vai comer se mentir, não sabe?
-Pai!
-Tudo bem. É
sobre a Isabela.
-O que houve
com ela?
-A pergunta é:
o que houve com vocês dois? Caio, naquela noite que você chegou tarde, estava
com a Isabela?
-Sim, mas
cheguei mais tarde porque tinha uma turma dançando no meio da rua, bebendo em
frente ao Bar da Kelly. Não me olha com essa cara, eu nem sei quem é Kelly.
-Vamos direto
ao assunto: o que existe entre Isabela e você?
-Oi?
XXXXX
Isabela entra
em seu quarto e acende a luz. Sentada, estava dona Cris para assombrá-la.
-Ai, mãe! O
que é isso? Fazendo o quê aqui?
-Vim ter uma
conversa séria com você.
-O que
aconteceu?
-Eu encontrei
um teste de gravidez.
-Não acredito.
-Pode começar
a acreditar. O que significa isso, Isabela?
-Mãe, faz três
semanas que eu venho me sentindo um pouco estranha.
-Como?
-Já que é pra
ser sincera, o absorvente Sempre Livre não está sendo usado.
-Não pode ser
verdade. Eu não acredito nisso- põe a mão na cabeça.
-Só foi um atraso,
mãe. Isso não significa que...
-Você está
grávida, Isabela!
-Pura
suposição!
-Eu vi o teste
de gravidez. Mudou de cor. Deu positivo. Eu vou ser avó!
-O quê?
-E sabe qual é o pior de tudo, fedelha? É que
além do pai ser o filho do padeiro sem eira nem beira, isso acontece logo agora
que estou começando a diminuir minhas rugas com Cicatricure!
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