-Não, mãe.
Você só pode estar enganada. Não pode ter dado positivo esse exame.
-Mas deu,
Isabela. E agora? Como é que a gente vai resolver essa situação? Eu nem falo
mais pela criança, e sim da minha falta de confiança em você.
-Se eu pudesse
voltar atrás, eu tomava chá com borracha pra apagar esse miserável da minha
mente.
-Tudo
aconteceu no dia da tal concha. Foi lá, não foi? Foi lá que você se perdeu!
-Para com esse
vocabulário. Estamos em 2013.
-Não me
conteste, Isabela!
-E lá pobre
sabe o que é contestar?
-Olha aqui,
esse desgraçado vai pagar pelo que fez. Ele vai assumir o seu filho, sim.
-Desiste
disso, mãe. Você já conhece, sabe que ele não é de voltar atrás.
-Por quê? Ele
deu a palavra de homem que não criaria esse bebê com você? E por acaso aquele
moleque lá sabe o que é palavra? Mas eu vou obrigar esse cabra safado a vir
aqui em casa e conversar contigo. Filha minha não pare antes de casar, nem que
a gestação tenha que durar dezoito meses. Eu vou resolver o problema!
-Onde é que a
senhora vai?
-Nem pense em
vir atrás de mim, Isabela. Não sonhe com isso!
-Mãe, volta
aqui! Mãe!- desiste ao perceber que dona Cris é irredutível.
XXXXX
-Que história
é essa, pai? Não existe nada entre mim e a Isabela. A gente é apenas amigo.
-Caio, não
precisa mentir pra mim. Na sua idade, é normal que certas coisas aconteçam.
Isso é a puberdade, meu filho. Não precisa ficar constrangido.
-Constrangimento
é esquecer que eu tenho dezoito anos.
-Dezoito?
Certo... Nunca fui bom em Matemática... Eu descobri uma coisa grave sobre essa
moça, mas você não pode comentar isso com ninguém. Muito menos com ela.
-Agora o
senhor está me assustando.
-Isabela está
grávida.
-Bella?
Grávida? Não, só pode ser mentira. Ela não está grávida.
-Como é que você
tem tanta certeza?
-Pai, somos
amigos. Ela me contaria. Inclusive, conversei com ela hoje à tarde.
-Você conhece
Isabela não tem mais de um mês. Ela pode ter escondido.
-Por quê?
-Porque talvez
você seja o pai.
-O senhor está
passando do limite.
-Caio...
-Eu não tenho
nada com a Isabela. Já falei. Nada além da amizade e do carinho. Se o senhor
quiser interpretar de outra maneira, não posso fazer nada.
-Pior que
pode: se afastando dela.
-Mas é nunca!
-Se você não é
o pai, não tem nada a temer.
-Por isso
mesmo.
-Escuta o seu
pai, Caio.
-Não. Eu sei
que estou fazendo a coisa certa. Deixa a Isabela em paz.
-Quem tem que
deixar essa garota é você. Já está avisado. Vou voltar pra padaria.
XXXXX
Thaís vai até
a casa de Isabela. Taciana atende a porta.
-Onde é que
ela está?
-Deve estar no
quarto. Eu vou chamar.
-Ainda bem que
você chegou- Isabela chega e faz um sinal para que a diarista a deixe com sua
amiga.
-O que houve? Até
fiquei preocupada.
-Você não vai
acreditar. Uma bomba.
-Não me deixa
nervosa, Bella. Me conta o que houve.
-Eu fiquei
grávida do meu ex.
-Isso é sério?
-Como é que eu
vou brincar com uma coisa dessas?- vê que a amiga está rindo- Qual é a graça,
palhaça?
-Desculpa, Bella,
mas você é muito azarada. Tanto que você sofreu pra terminar o namoro com
aquele cachorro e você resolve engravidar logo dele? Seus romances só dão certo
nos teus romances, porque a realidade é completamente diferente.
-Vai rindo.
Queria ver você no meu lugar.
-Eu, na
situação em que você está, não mudaria nada. Ele continua não prestando. O importante
é o bebê. Agora, quando foi que isso aconteceu?
-Na calourada.
Pelo visto, por causa daquela caneca que você me deu.
-Bem que você
falou que era fraca pra bebida.
-Mas o meu caráter
não! Thaís, eu nem cheguei a ver o resultado do teste quando fiz na hora. Minha
mãe ficou sabendo. E agora, o que eu faço?
-Tem que
procurar o cara pra contar sobre o filho. Ou vai por acaso cuidar dele sem ter
a ajuda do pai?
-Não, claro
que não.
Taciana encosta-se
à porta do quarto de Isabela e passa a ouvir um pouco da conversa.
-Pois é. Você
sabe onde ele estuda, é só procurar o cara na Federal. Assim, se você cercar o
cara por todos os lados, não tem como ele escapar.
-E se ele não
quiser assumir? Conhecendo esse cara do jeito que eu conheço, e pelo que eu
venho percebendo, bem pouco...
-Vai por mim,
amiga. Ele pode até não gostar de você, como naquela noite, mas vai ser
pressionado pra ter responsabilidade.
-Responsabilidade...
Gente, será que o filho do homem da padaria é mesmo o pai do bebê?- pensa Taciana
consigo mesma.
XXXXX
Caio vê de
longe o namorado de Isabela e o reconhece.
-Ele é o cara
que namorou a Bella. Ela não trocou o status
de relacionamento. Fiz bem em stalkear
esse cara. Ele vai ter que me escutar.
Os dois sobem
num ônibus cujo nome não importa no momento. O mocinho da estória observa o
rapaz. Em vinte minutos, ambos chegam ao Terminal de Integração do Barro. Já
imaginou a linha, não é? Quando descem, o musicista grita.
-Nicholas!
O ex de Bella
está parado, junto a uma viatura policial que faz ronda.
-Quem é você?
-Eu sou Caio,
amigo da Bella.
-E desde
quando ela tem amigos? Ela diz que adora ser antissocial.
-Você ficou
com ela na Calourada da Concha, não foi?
-Foi, meu
irmão, e o que é que você tem a ver com isso? Ficou a fim dela, por acaso?
-Bicho... Você
vai ser pai.
-Como é a
história?
-A Isabela está
grávida!
Começa um
tumulto provocado por pessoas que protestam contra a superlotação e o aumento
das passagens de ônibus. Um dos policiais atira para o alto, fazendo com que
boa parte dos protestantes se disperse. Outros, entretanto, permanecem enfrentando
os oficiais. Um batalhão de choque é obrigado a atirar neles com balas de
borracha. Um deles- o mais exaltado- berra no ouvido de Nicholas, que vê o
policial se preparando para atirar. Pensando que Caio sairia machucado, alerta:
-Cuidado!
Caio percebe e
se joga ao chão. O policial atira no maluco protestante. Mas a bala de borracha
acaba entrando pelo cano de escape da viatura, fazendo o carro, o rapaz e
Nicholas irem para os ares.
-Nicholas!
Nicholas!
-Você tá bem?-
abaixa-se o policial.
-Claro que não. Passei o dia inteiro treinando
meu fá sustenido e ainda tenho que me sujeitar a essa cena de suspense ridícula!
Nenhum comentário:
Postar um comentário