01/09/2018

VALENTE VALENÇA/ CAPÍTULO 13


-Não podes estar dizendo a verdade!
-Comproves por si mesma. Vejas!- o celular de Tato é entregue à Dora, que lê o texto enviado por Michel- Acabou de chegar ao celular do Otávio. Leias tudo!
-“Tenho estado ocupado demais com as noites em que venho trabalhar na boate. Estou ansioso para ver-te aqui em casa. Assim que deixares o shopping, passes para que eu possa matar essa saudade que sinto de ti. Até consigo despedir-me com um beijo apaixonado, mas com a certeza de que outros serão dados assim que nos vermos. Do teu Michel”.
-Isto é algum tipo de brincadeira, Otávio?
-Não, Isadora. É motivo de chacota. Imagines quantas vezes textos deste teor devem ter sido escritos em troca de mensagens entre ele e o outro sem-vergonha, e mais quantas vezes devem ter rido de nós pelas costas, por nunca termos desconfiado de nada!
-Deixa-me explicar, Pai...
-Queres aclarar o que está mais do que óbvio, Otávio? Só quero saber há quanto tempo. Por quanto tempo tem nos feito de idiotas?
-Não é nada disso que vocês estão a pensar.
-Então, expliques, meu filho- Dora resolve dar uma chance de defesa- O que significa esta mensagem?
-Verdade que tu preferes ser engabelada por este gajo? Isadora, eu sempre te admirei por tua ingenuidade, mas agora vejo o quanto és burra!
-Não fales assim com a minha mãe!- Tato se revolta.
-Quem falou isto? Ah, o defensor das famílias portuguesas. Deverias abrir uma liga em favor da preservação das famílias, já que tu és tão honrado que levas uma vida dupla!
-Cala-te, Kleber!
-Há quanto tempo estás envolvido com outro homem? Falas!
-O Michel, ele... Ele era o rapaz que nos cumprimentou quando fomos às Bahamas.
-Bahamas? Há quatro anos?
-Tato, não me digas que... O encontro de vocês naquela ocasião não foi por acaso?
-Claro que não, Isadora! Teu filho levou o amiguinho para hospedar-se no mesmo local que nós! E se isso aconteceu há quatro anos, é porque vocês devem praticar esta imundície há muito mais tempo...
-Não. Conheci o Michel naquela viagem.
-Mas disseram que eram amigos, e que se conheceram em Lisboa.
-Foi uma mentira que o Michel inventou para...
-Chega. Chega. Não aguento mais ouvir o nome desse imbecil na minha cara. Chega! E o zelo da tua boca só de pronunciar o nome? Dá-me nojo!
-Otávio, como pudeste esconder isto de nós todo este tempo?
-Falta de caráter explica.
-Pares agora! Se eu não falei o que sinto por ele, foi para evitar esta situação. Olhem para vocês dois, agindo como se isto não pudesse acontecer, como se não fosse uma coisa absolutamente normal...
-Ah, certo, agora tu queres dizer que isto é normal... Vives à margem da tua família e quer nos empurrar goela abaixo a aberração que praticas com sabe-se lá quem?
-O senhor age como se eu não pudesse ser livre para viver o que eu sinto.
-Vamos aos fatos, Otávio. Se tu preferes, faremos agora uma retrospectiva da tua trajetória para concluirmos se a minha reação é exagerada ou não. Alguma vez, que possas lembrar, eu te levei para a escola e disse a alguma das suas professoras: “eduque meu filho para que ele se torne um homossexual”? Ou então eu já te levei em alguma missa e pedi para que o padre rezasse e clamasse aos céus que tu sentisses desejo sexual por homens?
-Kleber, encerres esta discussão com nosso filho de uma vez por todas...
-Mais fácil seria eu acabar com ele do que com esta discussão! Vamos, Tato. Ponha a tua memória para funcionar! E quando indagaste tua mãe, na mais tenra infância, sobre de onde vinham os bebês? Acaso ela te falou que, ao descobrir o teu sexo, desejou que o filhinho amado dela fosse gay?
-Bissexual. Eu sempre te contei do meu envolvimento com meninas, mas eu nunca quis assumir nenhum compromisso sério. E eu também nunca fui para a cama com outros rapazes, porque por eles eu não sinto nada. As únicas vezes em que eu... Enfim... Foi com o Michel.
-Desculpa-me, filho. Eu contribuí para o teu silêncio. Imaginas... Um homem tão bem-sucedido não estar atento às nomenclaturas corretas da falta de moralidade? Tu me perdoas, de coração? Por não entender a sujeira em que fazes questão de mergulhar? O caso que tens há quatro anos não é motivo para que me peças perdão, mas a minha ignorância é?
-Otávio... Vais para o teu quarto. Teu pai está muito nervoso e... Depois vocês conversam com mais tranquilidade.
-Não, Dora. Não esperes tanto, eu posso voltar a ser controlado agora mesmo, só depende do Otávio.
-Do que estás falando, Pai?
-Eu quero que tu... Ou melhor: eu exijo que tu vás ao encontro desse tipo com quem estás envolvido.
-Kleber, o que estás dizendo?
-Deixa-me terminar, Isadora! Vais à casa do tal Michel e rompas com ele.
-Como é?
-Entendeste perfeitamente bem. Não repetirei.
-Não, eu não posso fazer isto...
-Coloques na balança o que tu podes perder se insistires na nojeira que chamas de relacionamento. Acabes com o teu caso hoje!
-O que posso perder se mantiver o meu compromisso com o Michel?
-“Compromisso”? Garoto, não me faças rir!
-Corro o risco de perder o quê? Teu respeito? Pelo que acabei de ver, eu não o tenho. Aliás, parece que eu só nasci para atender aos teus anseios. Desculpa-me se eu não sou o filho que tu idealizaste, mas se eu escondi a minha sexualidade verdadeira foi por temer que exatamente acontecesse o que ocorreu agora. O que prova que tu não és o pai que eu idealizei para mim!
-A tua concepção de perfeição paterna é qual, Otávio? A do pai que aceita passivamente as imundícies que tu praticas? Achas mesmo que eu criei um filho para ele fazer sexo com outro homem?
-Eu não escolhi ter que me apaixonar pelo Michel, será que tu não...
Tato recebe uma bofetada desferida por Kleber. Dora corre para levantar o filho, caído no chão por conta da agressão.
-O que foi que fizeste, Kleber?
-O que faltava a este desgraçado! Disse que não aguentava mais ter que vê-lo pronunciar o nome do amante.
-E achas realmente que assim vais conseguir resolver o problema do Otávio?
-Se ele criou, ele que resolva. Não é homem suficiente para iniciar uma relação tão duradoura? Pois que termine. Mas esta situação não continuará!
-Porque o senhor não quer?
-Porque eu exijo que assim seja!
-Mas não. Depois de ter encostado a mão em mim, achas mesmo que eu vou dar-te ouvidos?
-Vais ter que começar a escutar-me, já que há tempos não tens feito.
-E se eu não acatar a sua ordem?
-Respeitas teu pai, Otávio!
-É uma pergunta simples, Mãe. Vais fazer o quê caso eu não te obedeças?
-Porei em termos práticos, para ver se consegues compreender: ou terminas o que tu chamas de caso ou sairás desta casa.
-Esperas, Kleber, não podes fazer isto. A casa também é minha, e se o meu filho quiser...
-Se ele quiser ficar, que fique. Mas longe desta baixeza que ele vive. Rompas com o desgraçado e a tua vida voltará a ser o que era antes.
-Se for para escolher entre ele e o senhor, prefiro o Michel. Mil vezes, se possível for escolher! Mas não se preocupes. Sairei da tua casa o quanto antes. Vou fazer as minhas malas.
-Malas?- Kleber gargalha próximo ao rosto do filho- A não ser que tu queiras ser detido por atentado violento ao pudor, sairás desta casa somente com a roupa do corpo.
-Não podes fazer isto comigo!
-Não mesmo, Otávio? Tu não trabalhas, não estudas, não tens ocupações nesta vida. Ou seja: tudo que tu possuis fui eu quem te deu. E tudo está sendo tirado porque insististe em não reconsiderar.
-Não vou reconsiderar nunca! Durante muito tempo eu não vivi plenamente o que eu quis viver por causa do medo que eu sinto pelo senhor. Mas depois das ameaças, da chantagem, de ter agredido a mim? Está bem. Eu não levo nada daqui. Se a minha derrocada te deixa contente, divirta-se. Mas eu, a despeito do que possas pensar ou fazer, vou viver o que eu quero para minha vida.
-Otávio...
-Deixes, Dora. Aprendas a andar com as próprias pernas, rapaz. Mas quando se deres conta do erro que estás cometendo, não me procures para me dizer que eu tinha razão e não me peças perdão.
-Fiques tranquilo. O mesmo eu posso dizer para o senhor. Tomara que o senhor nunca procure a mim para pedir perdão.
Dora fica em estado de choque com a despedida do filho, que sai a pé em direção ao apartamento de Michel. Kleber senta num dos degraus da escada e chora em silêncio.
-Tens que fazer alguma coisa, Kleber! O Otávio não pode sair desse jeito.
-Pode, sim. A escolha foi dele, não minha.
Depois de muitos passos e trafegar por três bairros, Tato chega à casa do rapaz, que o espera.
-Veio mais cedo do que eu pensava, Tato.
-Tenho que falar contigo.
-Entres.
-Onde está a tua irmã, de quem tanto tu falas?
-Deve estar na casa da amiga, a Beatriz. Se não foi pra lá, então está na igreja.
-Algo me diz que seremos apresentados dentro em breve.
-Por quê?
-Porque eu vou ficar aqui, Michel.
-A troco de quê?
-Meu pai expulsou-me de casa.
-O que aconteceu, Tato?
-Sabes a mensagem que enviaste a mim há algum tempo?
-Liguei-te tanto e não atendias; daí, mandei uma mensagem para que... Não.
-Antes que eu visse, ele já havia lido.
-E agora?
-Acabou que eu saí dessa história machucado, física e psicologicamente. O que ele me fez e me disse eu não desejo nem pro meu pior inimigo. Parecia que eu não conhecia o meu pai.
-Deve ter ele pensado o mesmo quando leu a mensagem. Mas não desmentisse, falaste que era uma brincadeira?
-Desmentir?
-Se tu quiseres, eu falo com ele e digo que é uma anedota...
-Não te arriscaste há anos, nunca tentaste me convencer de que eu deveria abrir o jogo... Agora queres que eu tenha coragem para mentir? Não me bastou omitir o caso por quatro anos?
-Tu confirmaste o que tens comigo?
-Confirmei o que temos um com o outro.
-Não pode ser- Michel senta em seu sofá- E agora?
-Vim até aqui a pé, porque nem o carro ele deixou que eu levasse.
-Precisas dar um jeito de te reconciliares com teu pai.
-Talvez eu não queira, após ter ouvido tantos disparates a meu respeito. Disse que o que temos é uma imundície, que eu tentei empurrar uma aberração.
-Tato, já imaginaste o que pode acontecer se ele conta para todos o que temos?
-Claro que sim. E me importaria com o fato até poucas horas atrás, mas ele mesmo me demoveu do medo do que falarão.
-Eu não acredito...
-Qual é o problema, afinal?
-Tu seres expulso da tua casa não é um problema?
-Não, porque sei onde ficarei: aqui. E ainda por cima, contigo.
-Nem cogites essa hipótese.
-Como assim?
-O que tivemos foi uma cousa...
-Não, cala-te! Esperes para ver se eu entendi bem o que falaste: "tivemos"? No pretérito? Desde quando o nosso relacionamento é passado?
-Otávio, nós vivemos sempre a nossa relação sem rotulá-la.
-Por medo meu e sugestão tua! Hoje eu venho te dizer que não precisas mais esconder-se.
-Tua presença não é só para este fim, e sim para ficares aqui.
-Justamente, pois não tenho para onde ir.
-Ensaies uma reconciliação com o Kleber. Desculpe-se pelo que podes ter falado mais cedo.
-Pedir perdão pelo quê? Por ser quem eu sou?
-Imagino a aflição de tua mãe quando te viu deixando a tua casa...
-Afinal de contas, tua preocupação é com eles ou comigo?
-Com a harmonia de tua família...
-Ah, pares!- Tato anda pela sala de estar em círculos, até que se aproxima de Michel- Gostas mesmo de mim?
-Se não sentisse nada, não estaríamos juntos há quatro anos...
-O tempo não importa, e sim a intensidade.
-O que é que tu achas?
-Se é assim, tu aceitarias, sem nenhuma reserva, dizer a todos que estás comigo?
-Por que estás me pondo à prova?
-Respondas.
-O que é que tu pretendes com este interrogatório?
-Acho que consegui obter a resposta... O que tu sentes é mera atração, mas não ímpeto para que nós permaneçamos unidos. Pior: queres continuar à sombra de tudo e de todos no que diz respeito à tua sexualidade.
-Até hoje tu nunca reclamaste disto.
-Para mim, nunca foi confortável.
-Foi uma opção tua.
-Foi, sim. Mas não foi opção minha refrear aquilo que em mim tu despertaste. O segredo foi decidido em consenso.
-Só que agora não há mais mistérios, pelo menos não no tocante ao teu pai. Está o caso que tivemos à luz.
-Nossa... Jamais imaginei o quão confortável deves ter ficado todo este tempo. Como eu fui tolo.
-Há chance ainda, Tato. Corras atrás do teu pai e voltes para a tua casa.
-Quanto medo, Michel. Achas que o poderoso Kleber Lacerda Goulart vai expor o seu unigênito e o affair que ele tinha? Ele morre de vergonha de mim. Só não acredito que seja maior do que a vergonha que sentes tu de nós.
-Queres a verdade, Otávio? Eu não vou chamar a atenção do mundo por conta da minha sexualidade, não vou expor-me como sonhas que eu faça! Tenho estado muito bem assim e assim continuará.
-Como eu tinha medo de que este dia chegasse, Michel. Mas nunca por ouvir o que escutei de ti.
-Tato, ouça-me... – Michel coloca a mão no ombro de Tato, mas este trata de retirá-la.
-Quanta vergonha deves ter sentido de si mesmo durante esses anos, não é? Mas acredites: se preciso for que eu grite aos quatro ventos qual é a minha opção sexual, vou fazê-lo. Fiques com a tua indiferença e os teus medos, eu vou tratar de sobreviver ao destrato do meu pai e a ti.
-Agora vais dizer também que és bissexual por minha causa?
-Apesar de tu seres o único homem que passou pela minha vida, credito-te apenas o fato de eu ser um completo idiota! Eu vou embora daqui com a verdade, e isto tu não vais poder tirar de mim nunca. Tomara que nunca mais tenhamos que nos cruzar- Tato abre a porta do apartamento para sair, até ouvir:
-Otávio!- o tom de apelo de Michel faz o filho de Dora e Kleber pensar que tudo ficará bem e o irmão de Cissa recebê-lo-á de braços abertos em seu apartamento. A demora para completar a frase deixa Tato ainda mais nervoso- Por que tu não vais para a casa de teu tio, Hélio?
O jovem expulso de sua própria residência se aproxima de Michel, exalando todo o rancor sentido naquela ocasião nefasta de sua vida.
-Por que tu... Não vais para o inferno?- bate violentamente a porta.
Fora do prédio, a última coisa dita por Michel faz o jovem pensar acerca do assunto, enquanto caminha de maneira veloz.
-Não, eu não vou para a casa do Tio Hélio. Ele não vai ficar do meu lado, vai apoiar o meu pai. Não importa a fome e o frio que eu tenha que passar, nem tudo que ele me tirou. Mas para aquela casa eu não volto nunca mais- reflete.
Com fome mesmo estavam Fabiano e Nete, que passaram aquela manhã movimentada comprando rosas para a ornamentação da Igreja Comportas do Céu. E depois de tantas compras, nada melhor do que um almoço acompanhado de pessoas queridas em um local agradável. O ambiente pelo qual o casal optou é o Recifeeling, e a companhia é a de um certo saxofonista que anda ensaiando por lá... Nos últimos anos.
-E as orquídeas estavam pela hora da morte, meu filho, mas tive que discutir o preço para ver se sairiam mais em conta. Imagines, eu sou cliente cativa da floricultura. Queriam aumentar o preço por causa da crise mundial, mas eu gritei: “não, porque crente que é crente não tem crise”!
-Nete não perde uma briga para ninguém, não sei se já percebeste, meu varão valoroso.
-Sei bem, Pastor.
-Falando em valores, quando irão casar tu e a Cissa?
-Nós ainda não falamos de casamento, irmã.
-Um assunto a ser discutido.
-Nete, este assunto é deles, não nosso.
-O que tem demais perguntar, Fabiano?
-Eu penso, sim, em casar-me com a Cissa. Mas é melhor a nossa vida estabilizar mais. Hoje ela trabalha naquela loja de roupas do shopping, sendo que os planos dela são maiores. Como abrir a própria confecção.
-Tens toda razão, Valente.
-E o emprego aqui no Recifeeling?
-Pretendo manter, se assim o Senhor e o Hélio ainda me quiserem aqui.
-Não se sentes incomodado em tocar para uma plateia mundana? Muitas vezes, as pessoas aplaudem-te quando estão embriagadas por um vinho.
-As pessoas, Irmã Nete, confiam mais no que eu posso oferecer do que eu mesmo.
-Deve ser muito desgastante ver estas pessoas pedindo para que tu toques músicas mundanas, evocando a degradação sexual e o desrespeito aos valores cristãos.
-Irmã, nem tudo é pecaminoso. Sem contar que encontrar erros e falhas em tudo não é saudável. Muito pelo contrário, é julgamento puro. E não estou eu em condições para julgar porque sou um pecador.
-Porém, não vive em pecado.
-O segredo, Irmã Nete, é cercar-se daquilo que me faz bem e leva a mim para mais perto de Deus.
-Mas voltando ao casamento, não é, Nete?- Fabiano nota o clima tenso entre ambos- Eu sou totalmente a favor.
-Verdade?
-Claro, meu querido. A Cissa é uma moça excepcional. Combina perfeitamente contigo. O engraçado é que os dois se converteram ao Cristianismo ao mesmo tempo. Até nisso completam-se.
-Mas eu sempre fui cristão, irmão.
-Compreendes o que eu quis dizer, gajo.
-Amanhã tu vais para a igreja tocar?
-Sim, eu estarei lá. Agora eu tenho que ir.
-Para onde, meu filho?
-Vou à casa, Pastor, tomar um bom banho. Mais tarde eu volto para cá. Hoje promete ser cheio.
-Se pensares em passar numa joalheria, eu conheço ótimas.
-Obrigado, irmã- Valente levanta-se da cadeira- Fiquem na paz, bênçãos.
-Amém- os dois respondem ao cumprimento.
-Mas tu não se dispões a dar uma trégua, hein, Nete?
-Fabiano, o Valente é um jovem bem vistoso, formoso, e certamente alvo dos olhares de diversas "perigospeis"- usando um neologismo brasileiro, Nete faz referências às mais atiradas e desprovidas de critério que podem aparecer em templos religiosos.
-E para fugir dos olhares alheios ele deve apressar o casamento? Sequer estão noivos ainda.
-Quatro anos, estão esperando o quê? O Obama assumir a presidência dos Estados Unidos pela terceira vez? Melhor casar logo e evitar a fornicação. Já não correm o risco de virarem aeroporto de demônios.
-Só mesmo tu para pensares que Valente é o tipo que pensa nestas coisas.
-Ótimo, é para não pensar mesmo. E a Cissa também não fica atrás. Gente virtuosa como ela é muito difícil de encontrar.
-Concordo.
Valente chega perto do apartamento que alugou assim que passou a receber o salário como músico do restaurante de Hélio. Do outro lado da calçada, vem o apressado Tato, confuso por tudo o que aconteceu. O rapaz tenta atravessar a rua movimentada, quando vem uma moto em alta velocidade. O barulho do veículo é escutado pelo saxofonista, que vê o unigênito de Kleber e Dora sem enxergar o condutor.
-Cuidado!
Tato nem chega a escutar, pois é atingido pela moto, e o motorista segue viagem sem descer para acudir o rapaz caído ao chão mais uma vez.

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