-O que foi? Não gostou?
-Não, amor, é que... Tu me pegaste de surpresa, foi só isto.
-Queres que eu retire o que eu disse?
-Não!
-Estou brincando, meu amor.
-Desculpa-me, Valente, é que eu não esperava por este pedido.
-Achaste que eu nunca fosse fazê-lo?
-Preferi nunca tocar no assunto. Achei que tu querias esperar
mais.
-Até a tarde de hoje, era esta a minha opinião.
-E o que te fez mudar de opinião?
-Estive conversando com o Pastor e a irmã Nete durante um
almoço no Recifeeling. Pensei que o
meu trabalho fosse algo provisório, que havia arriscado na sorte, mas a
recepção do Hélio e do público foi muito boa para comigo. Até comentei que tens
planos de abrir a tua confecção e deixar a loja na qual trabalhas.
-Resta saber quando isto se dará.
-Por isso que eu pensei melhor esta tarde. A minha situação,
pelo menos, é um pouco mais confortável que a tua. Por enquanto, podemos morar
aqui mesmo, e depois, eu junto as minhas economias e nós compramos a nossa
própria casa.
-Ficas ainda mais lindo falando desta forma sobre nós dois,
os planos que traças... – Cissa enxuga as lágrimas- Toda a minha vida será
pouco para dizer o quanto eu te amo, insuficiente para que eu te ame.
-Cissa, nós... Temos uma vida pela frente, devemos pensar nos
passos que queremos dar. Será realmente que tu me amas a ponto de querer
unir-se a mim?
-Não te subestimes, Valente. Tu não fazes ideia do valor que
tens. Eu não tenho o que pensar nem esperar. Escolher-te foi a melhor coisa que
eu fiz em toda a minha vida. Amo-te.
O casal se beija apaixonadamente e Tato sai de um dos
aposentos do apartamento para vir até a sala de estar, surpreendendo Cissa.
-Cissa, eu quero apresentar-te o Otávio. Tato, esta é a
Clarissa, minha namorada.
-Namorada até poucos instantes, porque a minha resposta é “sim”.
Aceito casar-me contigo- abraça o agora noivo- E de onde vocês se conhecem?
-Da rua.
-Como assim? És um menino de rua? Mas estás tão bem vestido!
-Valente, desculpa-me o incômodo, mas é que eu preciso ir ao
banheiro. Onde é que fica?
-Segunda porta, à esquerda.
-Obrigado, e... Muito prazer, Clarissa.
-O prazer é todo meu- assim que Tato sai da sala, volta-se
para o saxofonista com uma feição de seriedade- Como assim “o conheces da rua”?
-O gajo foi atropelado por uma moto mais cedo, eu o trouxe
até aqui.
-Não seria o caso de levá-lo ao hospital?
-Já havia pensado nisso, mas ele não sofreu fraturas nem
ferimentos.
-Uhum. E por que ainda está aqui? Por que não foi para casa?
-Que tom é esse, Cissa?
-Amor, convenhamos que colocar um desconhecido dentro de casa
é um bom motivo para preocupações.
-Eu não poderia mandá-lo para casa, ele nem mesmo quer
voltar... Problemas de família.
-Não creio que estejas habilitado para saná-los.
-Clarissa, a situação do Tato é muito grave.
-Tato? Ficaste tão amiguinho que já puseste o nome do rapaz
no diminutivo?
-Todo mundo o chama assim...
-Todo mundo quem? Fala-me! O que tu sabes da vida desse aí é
o mesmo que sei eu: absolutamente nada.
-Ele teve uma briga com o pai e foi expulso de casa somente
com a roupa do corpo, até agressão física aconteceu.
-Prova cabal de que ele deve ter feito algo de muito grave
para acabar com a paciência desse pai.
-Vamos parar de julgar, por favor? Este papel não é algo que
nos caiba.
-Nem a você portar-se como um bom samaritano.
-Qual é o mal nisto? Não somos nós que servimos ao Bom
Samaritano?
-Sermão agora não, Valente! Entendeste bem o que eu quis
dizer. Se ele não quiser ir à casa do pai, OK, deve haver outro parente para
recebê-lo. Basta ir para lá.
-Irá amanhã.
-Como é?
-Amanhã ele vai embora para a casa do tio, à noite. Contou-me
que o tio trabalha o dia inteiro e só volta para a casa à noite, às vezes até
dorme no trabalho...
-Significa que ele dormirá aqui?
-Significa- Valente já demonstra inconformismo com a atitude
da noiva.
-Valente, raciocines. Há um homem que tu nunca viste e que
vai dormir no teu apartamento...
-Se o teu medo é de que ele me roube, não acontecerá nada
disto. O Tato não é um bandido.
-Pela fé, Valente! É muito perigoso dar guarida a um sujeito
desses! E se for ele um fugitivo da polícia?
-Tua imaginação galopante já está a deixar-me um tanto
preocupado. Não vai acontecer nada comigo, nem com a minha casa.
-Que garantias tu me dás?
-Quem garante é Deus. Eu apenas sigo o ensinamento de ajudar
as pessoas.
-Tomara, então, que eu esteja enganada.
-Mas voltando ao assunto do nosso casamento...
-Hum, a pauta voltou a ficar interessante.
-Eu queria sacramentar o passo que vamos dar. E por isso, não
quero ficar apenas no campo das palavras que só nós trocamos. Vou ao ato.
-Valente!- a mente sedenta por intimidade física pensa mais
uma vez que o músico convidá-la-á para um momento íntimo.
-Por essas e outras que eu quero que amanhã, à noite, o seu
irmão esteja aqui para dar-me a tua mão.
-Ah, claro, o Michel... – Cissa fala baixo, entredentes- Tudo
bem. Amanhã, a que horas?
-Às sete.
-Só não podes demorar muito com ele, sabes que ele toca na
noite.
-Sem problemas. Convidarei o pastor e a esposa, a Madre Joana
e o meu chefe, é claro.
-Obrigada por esta alegria que estás me dando, meu amor-
beija-lhe novamente- Vou para casa escolher o modelo de amanhã... Que griffe eu devo vestir?
-“Recatada e do lar”, pois bela tu já és.
-Então, nos vemos amanhã. Mal posso esperar.
-Fiques com Deus.
-Você também, meu varão valoroso.
Ao ver que Cissa fechou a porta, Tato sai do banheiro.
-Eu não costumo enganar-me com as pessoas.
-A que te referes, Tato?
-Ela não gostou muito de mim, não.
-Não te preocupes com isto, é apenas o jeito da Cissa. A
propósito, eu quero convidar-te para um compromisso amanhã à noite.
-Do que se trata?
-Meu noivado. Será aqui mesmo, em casa. Pedirei a mão da
minha namorada ao irmão.
-O certo não seria pedir aos pais da tua namorada?
-Cissa só tem mesmo o irmão mais velho de parente. O pai
morreu quando eles eram crianças e a mãe resolveu viajar pelo mundo. Sabes
aquele tipo de família que não é apegada aos parentes?
-Queria muito saber... Engraçado, esta história que tu me
contaste lembra muito a do... Esqueças.
-Fales.
-Não, não vale a pena. Acho melhor eu dormir.
-Boa noite, então.
-Obrigado pelo que tens feito por mim. Nunca vou conseguir
retribuir.
-Se Deus der paz ao teu coração, eu já me sentirei
recompensado o suficiente.
-Tomara. Boa noite.
Assim que Tato entra num dos quartos, Valente tira o celular
do bolso e faz uma ligação para Hélio, que está no Recifeeling.
-Alô?
-Valente? O que houve para me ligares? Não estarias na igreja
esta noite?
-Pois é, eu já voltei de lá. Daí, vim para casa e tive uma
conversa com a Cissa.
-Aconteceu algum problema?
-Muito pelo contrário. Eu pedi a Cissa em casamento.
-Que boa notícia, gajo. Fico feliz por ti e por ela também.
-Queria convidar-te para que tu venhas aqui amanhã à noite,
pouco antes de começar a minha apresentação no restaurante. Oficialmente,
pedirei a mão de Cissa ao seu irmão.
-Pode ser... Pode ser que eu compareça.
-Alguma coisa errada? Estou a achar-te tão distante...
-Problemas de família. Lembra-se de uma vez, logo no dia em
que começaste a trabalhar aqui, que apresentei-te o meu irmão e a minha
cunhada?
-Claro. Como esqueceria? Acho que desde então eles não
voltaram mais juntos ao Recifeeling. Às vezes, tua cunhada almoça lá e tu
conversas com ela, porque o marido é bastante ocupado...
-Exatamente, Valente. Ele teve uma briga terrível com o filho
e estamos tentando fazer com que ele faça as pazes com o garoto.
-Nossa, que pena. Se tu não puderes vir amanhã, eu vou
entender.
-Prometo que farei o possível, mas faço questão de comparecer.
A Cissa veio visitar-te algumas vezes no restaurante, e me pareceu ser uma boa
moça. E se quiseres, posso ajudar no menu
da noite também.
-Não, não é necessário. Será uma coisa mais intimista, e
rápida também. O irmão da Cissa trabalha à noite, e nós dois temos que
trabalhar também. Mas queria muito que tu fosses, sabes o quanto és importante
para mim. Não vou esquecer-me do dia em que me estendeste a mão.
-Por favor, Valente, a tua vida já mudou, não precisas ficar
remoendo esta suposta dívida de gratidão comigo. Se nós dois somos bons colegas
de trabalho é porque um faz questão de contar com o outro. Ou tu achas que não
me ajudaste quando estávamos em tempos difíceis? Sejamos sinceros: parte dos
clientes do Recifeeling vem para te
ver.
-Mas foste o primeiro a confiar em mim.
-A que horas será o pedido de casamento?
-Às dezenove horas, no meu apartamento.
-Vamos fazer o seguinte: amanhã eu não vou ao restaurante
porque tentarei ver o que consigo resolver da situação do meu irmão, Kleber.
Mas à noite eu vou à tua casa, para dar um abraço em tua noiva, e daí eu dou-te
uma carona.
-Tudo bem. Amanhã nos veremos, então. A paz do Senhor.
-Amém, Valente. Obrigado pelo convite- Hélio desliga o
celular. Alessandra sai do balcão e vai conversar com o patrão- É engraçado.
Mesmo eu não sendo protestante, ele faz questão de cumprimentar-me com a paz de
Jesus.
-Foi somente isso que te fez sorrir? Porque, pelo que
contaste a mim, teu dia foi turbulento...
-O nosso saxofonista vai casar, Alessandra!
-Não acredito. Que bom para o Valente. Mas eu pensei que ele
fosse esperar mais.
-Também fui pego de surpresa, mas ele tem maturidade nas
decisões que toma.
-E quando vai ser o noivado?
-Amanhã, no apartamento em que ele mora, à noite.
-Espera, mas amanhã não vais até a polícia dar queixa do
desaparecimento do teu sobrinho?
-Terei que me desdobrar, não é, Alessandra? Mas darei esta
força ao Valente, ele merece.
-Fico imaginando a agonia da Dora em não saber notícias do
Tato.
-Tudo aconteceu tão de repente que é até impossível de
acreditar. Mas se Deus quiser, e Ele há de querer, amanhã nós descobriremos
onde o Tato está... Quer dizer, eu vou descobrir, porque a depender do Kleber,
o filho não passa a pão e água. Está possesso com o que descobriu sobre ele.
Envolvido no segredo que Tato tanto escondeu- o que era
pertinente ao seu gosto- Michel recebe a notícia do noivado da irmã com
euforia.
-Até que enfim aquele homem mexeu-se! Parabéns, Cissa!-
abraça-lhe.
-Ainda estou sem acreditar, de tão feliz que me sinto.
-Já não era sem tempo. Pensei até que ele desistiria.
-Viras esta boca para lá.
-Desculpa-me, irmã, mas é que teremos de concordar que
Valente e tu são como óleo e água.
-Mas as nossas diferenças estão mui próximas de serem
sanadas.
-Garota, não vás com tanta sede ao pote. Tu conheces melhor o
teu noivo do que eu.
-Juro, Michel: quando ele disse que ia ao ato, quase fui ao
chão. O ato era te chamar para que tu concedesses a minha mão a ele.
-Acho que não vou poder comparecer a esse noivado intimista,
Clarissa.
-Como assim? Por que não?
-Porque o Valente quer que eu dê a tua mão, e tu queres
entregar teu corpo todo.
-Tu não prestas mesmo, hein?- a vendedora ri.
-Tudo bem, eu faço o número da família feliz.
-Não é um número, Michel. É a minha vida.
-Quando tu dirás ao Valente que este papel de mulher prendada
foi construído apenas para agradá-lo?
-Isto nem de longe é um erro.
-Pode ser que não seja, Cissa, mas tu frequentas a igreja
apenas para que ele se agrade de ti.
-Michel, quando eu passei a namorar o Valente, eu quis uma
nova história para a minha vida.
-Disto eu sei. Mas em vez de amar ao Deus a quem tanto se
refere, amas ao teu namorado. E vês neste casamento a oportunidade perfeita
para refrear teu verdadeiro instinto.
-OK, tu queres a verdade? Vou te dar. Tens ideia do que é
conviver com um homem atraente, inteligente e não poder tocá-lo?
-Muito fácil de explicar este "fenômeno particular":
ele é crente e não é o Ricardo, que te fez gostar de sexo.
-Por isto mesmo. O que eu vivi com o Ricardo foi uma
verdadeira dependência, como se fosse uma droga, entendes? Nem mesmo quando eu
soube da sua infidelidade, eu conseguia parar. Sabes o que cheguei a sugerir
certa vez? Que ele fizesse comigo exatamente o que fazia com a outra, que na
cama tratasse-me pela amante.
-Quanta humilhação, Clarissa...
-Assim que o Valente apareceu na minha vida, eu vi que ele
era o tipo que precisava para me completar, porque era exatamente o oposto de
mim. É bem verdade que só de ver aquele homem respirando versículo dava-me
agonia, mas entendi que se eu não me cercasse de alguém tão diferente do meu
instinto, continuaria subjugada ao Ricardo.
-O que me enche de dúvidas é o seguinte: Valente conseguiu
completar-te?
A pergunta gera um silêncio ensurdecedor na sala de estar dos
Irmãos Marques Barboza.
-Tu vais ao meu noivado, conceder a minha mão, ou não?
-Claro que vou. Sou teu irmão, não teu inimigo.
-Estás bem, então. Esperamos-te na casa do meu noivo amanhã,
às sete. Boa noite- irritada, Cissa vai ao quarto, deixando Michel sozinho
depois de uma atribulada manhã. Outro protagonista do período matutino exaltado
do DJ, Tato acorda no dia seguinte e resolve arrumar o apartamento de Valente,
que a esta altura foi ao Lar do Menino Tobias para convidar Joana à ligeira
confraternização, passando depois pela Igreja Comportas do Céu e deixando
Fabiano e Nete felizes com a notícia do noivado. Enfim, foi ao Recifeeling para um ensaio, quando Hélio
buscou inutilmente por notícias do sobrinho numa delegacia. Em duas ocasiões
daquele dia, o filho de Dora e Kleber usa o telefone fixo do apartamento para
localizar o seu tio, mas a bateria dele descarregou no dia anterior.
Voltando para casa com algumas garrafas de refrigerante, o
saxofonista encontra a residência depois da faxina promovida pelo novo amigo.
Tato pede desculpas pela invasão aos utensílios, mas Valente agradece pelo
favor, uma forma de retribuir o abrigo dado pelo músico no dia anterior.
-E com que roupa tu vais, Tato?
-Para que lugar?
-Ao meu pedido de casamento para o irmão da minha Cissa.
-Acho melhor não comparecer, Valente.
-Qual é o problema?
-Não conheço ninguém além de ti e da própria Cissa...
-Só precisa mesmo conhecer os noivos, e esse requisito tu já
preencheste com louvor. Venhas comigo- o jovem leva o expulso ao seu
guarda-roupa, onde estão os ternos que usa quando toca na igreja- Acho que
temos um corpo parecido, qualquer um desses caberá em ti. Escolhas.
-Valente, não precisas ficar preocupado comigo. Eu vou com esta
roupa mesmo, tomei banho e ela não está nem com odor...
-Nem penses nisso. Convidei amigos para dividir comigo este
momento tão especial. Não vais ficar de fora. O meu patrão vai me dar uma
carona até onde eu trabalho, daí tu dizes se fica perto da casa do teu tio e
vais conosco.
-Juro que não precisas incomodar-te com isto, verdade. Bom,
já que insiste tu, eu vou escolher um dos ternos e tomar um banho. Mas, como faltam
cinco minutos para as sete, terei que me trocar no banheiro. Não vou passar
seminu na frente dos convidados.
-Muito bem, gajo.
-Pode ser este?- escolhe o terno cinza.
-E leves esta camisa aqui- Valente separa uma veste branca.
-Tu és mesmo um anjo da guarda.
-Passo bem longe disto, rapaz. Agora, vais para o banheiro.
A campainha toca, Tato corre até o banheiro com o terno e a
camisa e Valente atende à porta: a primeira a comparecer ao noivado é Joana.
-Querido, como estás tu?
-Melhor agora, que a senhora chegou. Entres, por favor.
Ainda com a porta aberta, Beatriz vê a entrada da madre e
aproveita para entrar no apartamento.
-Espero não estar muito atrasada, Valente.
-Imagines, Beatriz. Falta pouco para as sete, mas foste
pontual.
-O que a gente não faz pela melhor amiga? Até adiantar o
horário do celular para não perder a hora do noivado do século.
-Falando nisso, eu tinha entendido que tu virias com a Cissa
e o Michel.
-E vim, mas ela tentou estacionar o carro lá embaixo. Daqui a
pouco sobe com o teu futuro cunhado.
-Tua irmã não veio contigo?
-Queria muito ter vindo, mas a Olívia resolveu fazer uma
pós-graduação no exterior.
-Nossa, que ótimo, eu fico muito feliz por ela. Sempre foi
uma aluna bastante esforçada.
-Sei bem, gajo, convivo com a mulher há um quarto de século!
Um dos professores da universidade selecionou uma lista de ótimas instituições
e pediu que ela o encontrasse no campus
para ver se ela se decide e faz logo as provas de qualificação e classificação.
-A paz do Senhor, amado- o casal Nete e Fabiano entra no
apartamento do saxofonista.
-Amém. Sejam muito bem-vindos, fiquem à vontade.
-De um lado, uma freira. Do outros, dois evangélicos...
Parece que eu morri e se esqueceram de enterrar-me!- pensa Beatriz,
desconfortável.
-Chegamos, meu varão valoroso- brada Cissa, empolgada com a
noite, e acompanhada de Michel.
-Vamos sacramentar logo isto de uma vez.
-Michel, tenhas modos!
-Estou a brincar, minha irmã. Cissa sempre levou tudo a ferro
e fogo.
-Como vai, Michel?
-Lamentando que não tens passado lá em casa ultimamente para
conversar com o irmão da tua futura esposa.
-Passei ontem pela manhã, Michel, mas ainda estavas na boate
tocando.
-Boate? Este está no aeroporto tirando passaporte para ir
direto ao inferno...
-Contenha-se, Nete, estamos em público- adverte Fabiano,
sentado ao lado de Joana- Como vai, Madre?
-Muito bem, Pastor. A paz do Senhor- Joana surpreende o casal
com a saudação.
-Agora ela vai utilizar a minha frase também?
-Nete, por favor!
-Querem beber alguma coisa?- pergunta Valente.
-Vodca!- Beatriz choca os presentes- Mas, na falta de algo
alcoólico, aceito este refrigerante que está sobre a mesa, desde que ponhas
bastante gelo- Beatriz olha ao redor e vê os convidados surpresos com a
provocação- Gente, foi só uma brincadeira para a descontração do ambiente; todo
mundo sabe que Valente não bebe refrigerante por medo de que o rótulo tenha
alguma mensagem subliminar.
-Podem mudar o nome desta moça para “Bateria”, porque ela
está “carregada”!- alfineta Nete.
-Vou servi-los, então- Valente encerra o desconforto.
-Amor, não está faltando chegar mais pessoas?
-O Hélio contou que talvez possa atrasar-se- Valente explica
enquanto serve os copos, auxiliados por Joana- E o meu amigo, Otávio, está no
banheiro, trocando de roupa para juntar-se a nós.
-Otávio?- o nome assusta Michel- Que amigo é este, Valente?
-Uma longa história, Michel, depois eu te conto tudo- Cissa
vai servindo aos presentes.
-Filho, deixa que eu sirvo os copos, e tu dizes o que tens
para falar.
-Obrigado, Madre. Bem, eu convoquei essa pequena reunião
entre pessoas tão queridas para compartilhar uma decisão que eu tomei. Há
quatro anos, eu conheci essa mulher tão especial e tive a oportunidade de me
apaixonar diariamente por ela. Clarissa, a minha Cissa... Se eu tivesse a
chance de dizer todas as palavras bonitas do mundo para dizer o que eu sinto
por ela, o mundo ainda não seria suficiente. É por isso que eu chamei todos
aqui nesta noite. Quem me conhece, sabe que eu de especial não tenho nada, mas com
a Cissa do meu lado, eu experimento esta sensação.
-Ah, meu Pai, é agora- Cissa busca a contenção da fala.
-Michel, tu me concedes a mão de tua irmã a este simplório
saxofonista, mas que tem um coração sincero para dividir com ela?
-Valente, eu nunca fui um homem que se pode chamar de
convencional.
-Nota-se- Nete está mais afiada do que nunca! Felizmente, ela
não foi ouvida.
-Antes mesmo que eu pensasse neste relacionamento de vocês
como mera possibilidade, o coração de Clarissa já te pertencia. E a minha irmã
é a pessoa que eu mais amo no mundo. Claro que eu concedo.
-Sendo assim... – Joana entrega os copos ao casal- Um brinde
aos noivos.
-E que esta união seja mais do que abençoada- Fabiano toma a
palavra.
-Viva aos noivos- os convidados da noite comemoram, quando Tato
sai do banheiro e fica assustado com a presença de Michel.
-Venhas, Tato. Brindes conosco- Valente pede ao amigo.
-O que estás fazendo aqui, Michel?
-Eu é que te pergunto: o que fazes no noivado da minha irmã?
-Calma... De onde vocês se conhecem?- Cissa não compreende a
reação do seu irmão, apavorado com a presença de Tato no apartamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário