23/04/2025

TRÊS ESTAÇÕES | TERCEIRO EPISÓDIO | INVERNO



 Cena 1 (sala de estar)

HANNIERY: Isso é jeito de falar comigo?

LEANDRO: Eu não aguento mais você me pressionando. Toda vez que eu volto pra casa é uma pergunta...

HANNIERY: Você está se pressionando. Ou eu não tenho mais o direito de me preocupar contigo?

LEANDRO: Hanniery...

HANNIERY: Olha como você tá. Não é por pouca coisa.

LEANDRO: Certo... (anda em círculos) Eu tive um problema pessoal com o dono da empresa. E eu percebi que ele falou mal de mim depois que eu saí de lá. 

HANNIERY: Foi assédio moral, Leandro?

LEANDRO: O Vitor tem muita influência no meio. A empresa dele é a maior do país. Toda vez que alguém lê meu currículo e descobre que eu trabalhei lá, eu sou descartado. Não importa o quão maravilhoso eu seja.

HANNIERY: Você tinha que processar esse cara! Ele não pode te prejudicar profissionalmente!

LEANDRO: Essa batalha já tá perdida, Hanniery. O que eu posso fazer é sobreviver à guerra. Por isso que eu prefiro esconder.

HANNIERY: Quanto tempo você pretendia ficar sem me revelar a verdade?

LEANDRO: Não sei. Mas acredita, não é por falta de confiança. Mas é porque tem coisas que só Deus poderia me entender. Você não.

HANNIERY: Do que você tem medo, Leandro?

LEANDRO: Se eu abrisse meu coração, o meu medo seria de machucar você. Mas você é o cara que eu mais admiro no mundo, e eu não quero perder teu respeito. É melhor parar por aqui. (deixa a sala de estar)

Arthur observa Hanniery lamentando pela falta de confiança de Leandro.


Cena 2 (cozinha)

(fundo musical: “Regue fé, esperança, amor” – “tratar e conversar no mesmo patamar; ouvir e respeitar, já que diz que se importa; ter sensibilidade no olhar. O amor é a chave que abre a porta”)

Hanniery picota algumas verduras no tabuleiro, e depois as mistura num pote. 

(obs.: não é obrigatório aparecer o rosto do personagem)

Após acender uma das bocas do fogão, faz-se uma transição, com o intuito de mostrar que anoitece.


Cena 3 (sala de jantar)

Hanniery e Leandro estão sentados, diante da mesa.

LEANDRO: A gente não pode servir o jantar?

HANNIERY: Vão jantar os três.

LEANDRO: Onde ele está?

HANNIERY: A nova identidade ficou pronta. Ele foi buscar.

LEANDRO: Esse arroz que você fez parece uma delícia.

HANNIERY: Você que me ensinou a receita.

LEANDRO: (ri discretamente) O representante de uma empresa sediada em Santa Catarina entrou em contato comigo.

HANNIERY: Que ótimo! Mas a conversa vai ser à distância?

LEANDRO: Não, ele vem a Recife por conta de um congresso na próxima quinta-feira. Ora por mim, tá bem?

HANNIERY: Vai dar certo. Se você for, eu vou sentir saudades... E inveja, porque Santa Catarina não pode ser mais quente do que aqui!

LEANDRO: A gente nunca vai se separar, Hanniery. Você nunca vai estar sozinho. 

ARTHUR: (chega sem que os rapazes percebam) Não vai ficar mesmo. Chegou quem faltava.

Hanniery olha para Arthur com um sorriso leve, enquanto Leandro muda a expressão facial.


(Abertura)


Cena 4 (sala de jantar)

Os três irmãos estão jantando, cada um com um prato de arroz e um copo d’água ao lado direito de cada rapaz. Arthur alimenta-se normalmente, enquanto Hanniery usa o garfo para levar o alimento à boca e percebe que Leandro não está comendo nada.

HANNIERY: Você não tocou na comida, Leandro...

LEANDRO: Sem fome. Tô com dor de cabeça. Você tem algum remédio?

HANNIERY: Sim, na quarta gaveta da estante. Pode pegar.

LEANDRO: (levanta-se) Obrigado, Hanniery. (anda devagar)

HANNIERY: Gostou do arroz?

ARTHUR: Uma delícia! Só faltou um limão.

HANNIERY: Não sabia que você usava limão na comida. 

ARTHUR: E não uso. Mas mais ácido que o Leandro não dá pra ser.

LEANDRO: Falando mal de mim, Arthur? E nas minhas costas?

ARTHUR: Se quiser, eu falo na frente também. Quer?

HANNIERY: Esqueceram que é a hora do jantar?

LEANDRO: Calma, Hanniery; é que eu fiquei curioso. Qual é a tua queixa, Arthur?

ARTHUR: Você não percebeu que todo jantar é igual, com você fazendo a expressão de quem não quer estar aqui?

LEANDRO: O jantar é maravilhoso, talvez eu somente não queira estar com você.

HANNIERY: Leandro!

ARTHUR: Tudo bem, Hanniery. A gente sabe que ele é recalcado mesmo.

LEANDRO: Ah, você tem propriedade pra falar do assunto, não é?

ARTHUR: Não, eu não culpo a minha família pelos meus problemas. Nem problemas eu tenho.

LEANDRO: Você cria.

ARTHUR: Sério? Agora eu sou o culpado de você não ter dado certo na vida? Teu diploma é só um quadro pendurado na parede aberto a visitações, mas a culpa é minha?

HANNIERY: Arthur, chega!

ARTHUR: Engenharia não é a sua área. Você deveria ser ator dramático!

LEANDRO: Também pensei nisso. Quem sabe você não me ajuda a conseguir um emprego na Fox?

(Arthur fica apavorado)

HANNIERY: Do que vocês estão falando?

LEANDRO: Conta pra ele, Arthur. O nome “Fox” não significa alguma coisa pra você?

HANNIERY: Estúdio de cinema? “Raposa” em inglês?

ARTHUR: Você não vai colocar o Hanniery contra mim!

(Hanniery puxa o braço de Arthur)

HANNIERY: Tem mais alguma coisa que você não me contou, Arthur?

LEANDRO: Ele traiu a Karla com uma garota de programa.

HANNIERY: Isso é mentira, Leandro. O Arthur... Ele nunca faria isso.

LEANDRO: Fez. Eles se conheceram num site, onde ela vende os “serviços".

ARTHUR: Não cai nessa, Hanniery, por favor!

LEANDRO: Tá duvidando? Eu encaminhei pro meu celular as conversas dos dois.

(música incidental: “Strictly sadness stringed instrument orchestra (1092497)”)

Um flashback, em sépia, revela a conversa que Fox e Arthur tiveram, reexibindo o momento em que o diálogo foi lido por Leandro.

LEANDRO: Até o site está aqui, olha. (entrega o celular a Hanniery)

(Arthur vira o rosto para Leandro, com ódio por ser exposto. Hanniery começa a ler)

HANNIERY: Www.topotudotodotempo.com.br?

ARTHUR: Você não tinha o direito de mexer no meu celular!

LEANDRO: Por que não? Eu perdi meu emprego por sua causa, qual o problema de eu ler suas conversas no WhatsApp?

HANNIERY: Espera! O Arthur não pode ser culpado disso, nem ele nem eu conhecemos o seu ex-patrão. 

LEANDRO: Mas ele conhece a ex-esposa do Vitor. Por que você acha que nós nunca vimos a Karla?


Cena 5 (sala de jantar)

(música incidental: “A 60-second dark cinematic sue designed for horror/ suspense trailers and promos (1317535)”)

A câmera percorre os olhares dos trigêmeos: Hanniery assustado, Leandro enfurecido e Arthur calmo.

(obs.: os pratos e copos já não mais aparecem, como se os trigêmeos tivessem levantado da mesa)

HANNIERY: Essas coisas que você tá dizendo... São porque você tá com raiva do Arthur.

LEANDRO: O Vitor descobriu o caso que a Karla tinha com esse imbecil e me demitiu, porque achou que eu sabia de tudo.

ARTHUR: A Karla era a esposa do Vitor? Mundo pequeno esse, hein?

LEANDRO: Arthur não saiu de casa porque estava apaixonado. Foi porque no divórcio a Karla ficou com um apartamento em Casa Amarela. Sabe quanto custa? Um milhão de reais! Era lá onde ele morava.

HANNIERY: Por que você não me contou nada?

LEANDRO: Porque quando ele voltou pra casa, eu achei que ele estava arrependido. Mas não. Ele traiu a Karla com outra mulher, e continuou com ela depois de ter voltado pra nossa casa.

ARTHUR: Agora entendi: a estratégia é de colocar a culpa do que te aconteceu em mim.

LEANDRO: É sua culpa!

ARTHUR: Isso já tem mais de um ano, Leandro; por que você não conseguiu um emprego?

LEANDRO: Ninguém quer me contratar depois que o Vitor me prejudicou!

ARTHUR: A verdade é que você não arranja emprego porque não quer! Ou melhor: porque você é incompetente!

HANNIERY: Arthur, para com isso, pelo amor de Deus!

ARTHUR: (vira-se para Hanniery) Já tô cansado desse cara querer ser a régua moral do mundo e não cuidar da própria vida! (volta o rosto para Leandro) Quer que eu soletre o que você é? I-N-C-O-M-P...

Leandro interrompe a provocação esbofeteando Arthur. Ele bate com o rosto na parede, deixando Hanniery em choque. O ex-amante de Karla desencosta da parede, tempo no qual Hanniery fica à frente de Leandro. O engenheiro arrepende-se instantes depois.

(música incidental: “Switch, surprise, explosion and other sound effects”)

LEANDRO: Não era pra eu ter feito isso... Desculpa, eu...

ARTHUR: Tudo bem. Você tá no seu direito. Mas eu não vou sentir dor sozinho, não...

(Hanniery coloca a mão esquerda sobre o peitoral de Arthur, impedindo que ele avance)

HANNIERY: Você não vai tocar no Leandro!

ARTHUR: Hanniery, você vai concordar com ele?

HANNIERY: E o que você quer? Que eu fique ao seu lado depois de tudo que soube?

ARTHUR: Claro... Os dois unidos, como sempre... Eu não vou te perdoar por isso, Leandro. (olha para Hanniery) A você também não.

(Arthur retira-se da mesa, mas pega o seu copo já vazio e joga contra a parede, visando atingir Leandro)

(música incidental: “Quiet fear/ japanese horror atmosphere 8-piano”)

ARTHUR: Imbecil!

HANNIERY: Meu Deus, pra onde ele vai?

LEANDRO: Por mim, Hanniery, que vá pro inferno! (deixa Hanniery sozinho na sala de jantar)


Cena 6 (quarto de Hanniery/ quarto de Leandro)

(fundo musical: “Sopra em nós (Remix)” – parte final)

Subitamente, o fornecimento de energia elétrica é suspenso: primeiro, as luzes começam a piscar; depois, apagam-se as luzes do roteador e do quarto de Hanniery para, por fim, as hélices do ventilador pararem de girar. O gêmeo logo exclama, diante da escuridão: 

HANNIERY: Não acredito... Que sacanagem! (sinaliza olhando para a lâmpada)

Leandro está sentado sobre a própria cama, irritado e olhando para baixo. Ele repara quando o irmão entra em seus aposentos.

HANNIERY: Eu vim pegar uma vela.

LEANDRO: (volta a olhar para baixo enquanto comenta) Tudo bem.

Hanniery encontra a vela, mas coloca o objeto debaixo de um dos braços para perguntar:

HANNIERY: Sério mesmo que você não tá nem um pouco preocupado?

LEANDRO: Eu preciso estar preocupado?

Hanniery irrita-se e deixa o quarto de Leandro, que demonstra descontentamento.


Cena 7 (rua/ estacionamento/ quarto de Hanniery/ quarto de Leandro)

(fundo musical: “Livre” – introdução)

A rua está sob baixa iluminação, e nela passa um ônibus da linha Vila Dois Carneiros. A cena passa a ser num estacionamento, no qual Arthur abrigou-se após sair da casa dos irmãos.

ARTHUR: “Um dia, você vai achar que a vida é muito mais que o aconchego do lar. Sem mágoas, sem rancor, sem despedida, sem hesitar se o rumo vais tomar. À sua frente, um vasto horizonte já traz o lar ficando mais distante. E então você dirá: ‘livre! Enfim, senhor de mim; sem destino, sem lei, sem Deus. Livre! Enfim, senhor de mim; sem limite, sem norte. O mundo é meu, o mundo é meu, o mundo é meu!’.

Hanniery surge chorando em frente à vela que acendeu.

ARTHUR: Você vai desfrutar cada segundo, provar das mil delícias desse mundo tão como se o amanhã não existisse; tão como se a sorte, enfim, sorrisse. Suas noites serão longas e repletas de amigos e amores de ocasião. E então você dirá: ‘livre! Enfim, senhor de mim; sem destino, sem lei, sem Deus. Livre! Enfim, senhor de mim; sem limite, sem norte. O mundo é meu, o mundo é meu, o mundo é meu!’.

Leandro também chora, sozinho em seu quarto.

ARTHUR: Porém, de vez em quando, você vai lembrar dos bons conselhos de seu Pai que, sob chuva, sol ou tempestade; nas vilas, nas montanhas, nas cidades, nos becos, nas esquinas, nas tavernas teu nome irá chamar com voz tão terna. E quando te encontrar vai te abraçar, e sorrir de um jeito tão amável que você não vai mais resistir! E então você dirá: ‘livre, enfim! Agora, sim, no calor do abraço de (amanhece rapidamente e Arthur assusta-se, olhando para o alto) Deus! Livre, enfim! Agora, sim! Livre, enfim, do mundo! O amor venceu! Livre, enfim! Agora, sim, no calor do abraço de Deus! Livre, enfim! Agora, sim! Livre, enfim, do mundo! O amor venceu! O amor venceu! O amor venceu! O amor venceu!’”.

A câmera mostra Arthur de frente a um outdoor, sentado na calçada do estacionamento. 


Cena 8 (quarto de Hanniery)

(fundo musical: “Livre” – parte final)

A vela apaga-se ao amanhecer e aos últimos segundos de “Livre”. Hanniery é visto sobre a cama, deitado com a barriga para cima, com o seu celular encostado à cabeceira do móvel. Vê-se o aparelho auditivo em sua orelha direita. Por meio deste, ele ouve o telefone móvel. Ele muda o olhar, acreditando que irá receber notícias do irmão desaparecido.

HANNIERY: Arthur!

Apressadamente, o rapaz pega o celular e o desbloqueia, mas vê que há uma mensagem de áudio enviada por Jonathan. O estudante aciona o play.

JONATHAN: Bom dia, Hanniery. Tudo bem? Eu queria te pedir desculpas. A correria foi tanta nos últimos dias que eu nem me lembrei de mandar mensagem pra te perguntar: seus irmãos e você estão precisando de alguma ajuda? Assim que você acessar esse áudio, me responde, por favor. Abraços, meu querido.

O rapaz solta o celular e olha para cima, desesperado por não ter notícias do irmão e não saber o que responder a Jonathan.


Créditos finais

(fundo musical: “Atos 2 (citação musical: ‘Eu navegarei’) – “nasci pra isso, eu quero Te adorar/ minha vida eu coloco em Teu altar/ menos de mim/ mais de Ti”)


Músicas executadas neste episódio

“Regue fé, esperança, amor”

Compositor: PAULO CESAR BARUK

Intérpretes: IBAB CELEBRAÇÃO, LITO ATALAIA E PAULO CESAR BARUK


“No sangue e no fogo”

Compositores: FERNANDA BRUM E LIVINGSTHON FARIAS

Intérprete: FERNANDA BRUM


“Te busco”

Compositor: ALEXIS VELEZ

Intérprete: ALEX ZURDO


“Sopra em nós (Remix)”

Compositora: IRMÃ ANA PAULA, CMES

Intérpretes: DJ JP DA IMACULADA E IRMÃ ANA PAULA, CMES


“Livre”

Compositor: CLÊNIO ABREU

Intérpretes: CORAL UNIVERSITÁRIO DO UNASP – EC, VITRINE UNASP E BRUNNO RAMON


“Atos 2 (citação musical: ‘Eu navegarei’)”

Compositores: GUSTAVO DANIEL ALVES GOMES, ISAAC MEDEIROS CABRAL, HIAGO RAMALHO VIANA E AZMAVETH CARNEIRO DA SILVA

Intérpretes: BIG ASHER, 2METRO, TRINDADE RECORDS, SHISO E LOVE FUNK 


locação

SÃO MIGUEL CENTER – SHOPPING DE AFOGADOS


Agradecimento especial

GERALDA REIS


Este produto audiovisual é independente e baseado nas ementas dos cursos de Libras Básico I (Erem Amaury de Medeiros – Gre Recife Sul) e Intermediário (Instituto Federal do Mato Grosso do Sul).

Os sinais descritos nesta obra de ficção estão sujeitos a alterações devido às variações geográficas.


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