10/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 13: EU APRENDI TAMBÉM, EU SEI


Cora se afasta lentamente de Ricardo, e já não consegue disfarçar mais a forte atração que sente por ele. Toma-o pela mão e o leva até o quarto no qual está hospedada. Continuam sendo observados por Ludmila.
-Isso é melhor do que arrancar dinheiro da Cristina Faria. Ele, o Ricardo, tem mais a esconder do que a esposa. Vamos ver quanto ele está disposto a pagar pra não ver essas fotos na coluna social.



*****



Viviana vai ao quarto de Fabrício e percebe que o rapaz está um pouco triste.

-O que houve, Fabrício?

-Você viu meu pai lá fora?

-Não, ainda não.

-Pois é. Desde que eu cheguei, eu também não vi. São dez e meia, ele já devia ter saído da agência há muito tempo.

-Entendo. Tá preocupado com ele.

-Que preocupação, Milena? Eu percebi que ele não quer voltar pra casa, pra não correr o risco de me encontrar.

-Uma hora, isso vai ter que rolar.

-Nem eu sei o que vou fazer quando acontecer.

-Tem que ter paciência com ele.

-Mesmo sabendo que comigo ele não vai ter?

-Não vai demorar muito tempo pra ele voltar a ser o pai que sempre foi.

-Juro pra você: se alguém me contasse como era meu pai antes do acidente e como ele tá agora, eu não acreditava. Sério, Milena, às vezes eu penso que ele é mais fraco do que eu.

-Vão voltar às boas, pode ficar certo disso. Bom, eu vou embora.

-À essa hora? Fala com o Pedro, ele te mostra onde é o outro quarto de hóspedes. Ou então você pode dormir aqui. Se a minha mãe te ver, a gente diz que você chegou cedo amanhã.

-Não, eu vou evitar problema. Amanhã de manhã eu passo aqui, prometo.

-Pede então pro motorista te levar. Por falar nisso, onde é que você mora.

-Acho que tá meio tarde pra você me perguntar isso, não é?

-Sem brincadeira. Olha o tempo. Vai de quê?

-A pé.

-Tá vendo só?

-Já tô acostumada com a noite. Andei muito quilômetro pra chegar ao lugar onde moro hoje.

-Se insiste tanto assim...

Viviana beija-o rosto, e ele vai até uma gaveta onde está guardado seu notebook. Nele, vê fotos em que aparentava felicidade ao lado de Cristina, Pedro e Ricardo.

-Eu vou vencer. Mesmo que seja sozinho, eu vou sair dessa.



*****



Cristina está tomando café da manhã com os dois filhos. Mal contém a felicidade ao vê-los juntos.

-Há quanto tempo eu não vejo essa cena.

-Só faltou o nosso pai aqui. Não é, Fabrício?

-Ele não dormiu em casa.

-Não?

-Fiquei acordado a noite toda. Depois que a Milena foi embora, ninguém mais pisou aqui.

-Fiquei sem reparar nisso, tinha que dormir e acordar cedo pra ir à faculdade.

-E como está indo o curso, filho?

-Do modo normal, mãe: sem novidades.

-Você vai ver o Werner hoje?

-Hoje, não. Por quê? Algum recado?

-Queria saber se ele pode vir aqui. Eu quero falar sobre a cirurgia- Cristina e Pedro se surpreendem- O que foi?

-Nada. Eu posso passar no hospital antes de ir pra faculdade e peço pra ele passar em casa. Quem sabe ainda hoje ele não venha?

Ricardo chega à mesa do café.

-Bom dia.

Com exceção de Pedro, todos agem com hostilidade.

-Oi, pai. Gente, eu tenho que ir agora. Falo com Werner e vou direto pra facul. Fui.

-Tchau, filho- dizem Cristina e Ricardo.

-E você? Tá melhor?

-Pra eu ficar melhor, eu tinha que ter sentido alguma coisa. Eu não sinto nada, esqueceu? – olha pra Cristina- Perdi a fome, vou pro quarto.

-Como foi sua noite, Ricardo?

-Se quer mesmo saber, bem animada.

-Ótimo.

-Por que ele está assim comigo?

-Por quê? Ora, Ricardo! Você realmente não vê o modo indiferente como você trata o Fabrício? Aliás, indiferente, não. Porque pra ser indiferente tem que mostrar que se importa em algum momento, mesmo que seja por um péssimo motivo. E você... Nem isso.

-Cristina, eu... Eu prometo que vou ser mais compreensivo com ele.

-Tenho muito medo da sua compreensão. Muito mesmo. Tanto que se ele resolver fazer uma loucura, você vai incentivá-lo. Da mesma forma que você incentivou o Pedro pra ir àquele conservatório, pra encher a cabeça dele com ideias sobre Música.

-Mas do que você...

-Não adianta negar. Eu vi. Vi o seu carro na rua do conservatório, à tarde, quando voltava do hospital. Decidi entrar lá e encontrei o Pedro filmando uma apresentação, em vez de procurar uma forma de ajudar o Fabrício. Eu fico impressionada que tento manter os dois no bom caminho e você arruma um jeito de desviar. Emprestar o seu carro pra ele ir àquele lugar, compactuar com uma farsa dessa?

-Você... Viu meu carro?

-Sim, Ricardo... Vi, sim. Por quê? Era pra não saber? Ou será que tem mais um segredo que eu precise descobrir?

-Isso é você quem diz. Por que não averigua?

-Porque quanto ao nosso casamento, você é um marido exemplar. De longe se vê, não tem como eu fazer crítica. Mas como pai, Ricardo, você falha cada vez mais. Meu filho vai ser médico porque esta é a minha vontade. E como tudo dentro dessa casa, é a minha palavra que prevalece. Agora, com licença, que o meu apetite acabou.



*****



Viviana sai do prostíbulo no qual mora e vai para a casa da família Faria. Atrás dela, a alguns metros de distância, uma voz masculina fala, bastante trêmula.

-Milena... Minha filha.

-Você aqui? Não pode ser.

-Faz quase dois meses que eu te procuro. Finalmente eu te vi.

-Eu não vou voltar. Você pensa que vai me enganar com essa cara de quem se arrependeu, mas eu não confio mais em você. Se afasta de mim.

-Não, Milena. Não foge de mim. Eu sou teu pai.

-Pai? Que me esconde a identidade da minha mãe? Que ela tá viva?

-Sua mãe me traiu!

-Você não se vingou dela? Me afastando dela? Então, quem vai se afastar de você agora sou eu!

-Milena, volta aqui! Volta aqui, minha filha! Milena!

Viviana corre na direção contrária à mansão. Sem olhar para trás, não percebe que o pai se cansa rapidamente, pondo a mão no peito.

-Eu não posso voltar. Ele vai me obrigar a voltar e eu não quero. Não vou voltar, nem perdoar o que ele me escondeu. Nunca!



*****



Ricardo chega à sua agência. A recepcionista logo se aproxima para avisar.

-Doutor Ricardo, uma jornalista quer falar com o senhor. Está esperando na sua sala.

-Não é possível. Eu estou atrasado pra uma reunião. Não tem como fazer a moça esperar?

-Ela disse que o assunto é urgente e que só pode resolver com o senhor.

-Tudo bem, eu vou ver de quem se trata.

O publicitário encontra Ludmila em sua sala. A jornalista se levanta rapidamente.

-A senhorita, quem é?

-Desculpe ter vindo à sua sala durante a sua ausência. Meu nome é Ludmila, eu trabalho no Diário da Cidade.

-Prazer, Ludmila. Quem tem que pedir desculpas sou eu, mas você vai ter que esperar por mais algum tempo. Eu tenho uma reunião para a qual estou atrasado e peço que espere um pouco mais.

-Eu não vou tomar muito o seu tempo, Ricardo. Eu vim entregar um envelope que contém fotos de algo que muito lhe interessa.



*****



Cristina entra no quarto de Fabrício.

-Filho, eu tive uma ótima ideia.

-O que, mãe?

-Eu pensei bem, e acho que a sua volta pra casa tem que ser comemorada em grande estilo.

-Do que a senhora está falando.

-Eu quero te dar uma festa de presente.

-Não, mãe. Eu não quero festa nenhuma. Nem pense em fazer festa pra mim.



*****





-O que seria, exatamente?

Ludmila abre a bolsa e entrega um envelope a Ricardo.

-Veja o senhor mesmo.

-Isso é alguma brincadeira sem graça?

-Já disse que é do seu interesse. O futuro da sua família depende e muito do que está dentro desse envelope.

Ricardo toma para si o envelope e o abre, ficando aborrecido por saber que seu caso com Cora foi descoberto. Logo pega um isqueiro e queima o pacote, enquanto Ludmila assiste a tudo, sorridente.

-Como você conseguiu isso?

-É uma questão a se considerar, Ricardo. Ainda mais agora que você destruiu as fotos. Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: como foi que eu consegui isso aqui? E isso? E isso? E esse pacote também?- a moça tirava diversos envelopes da bolsa e jogava para o alto. Eles deixavam escapar cópias das comprometedoras imagens. Ricardo se enche de fúria e agarra a jornalista pelo pescoço.

-O que você quer, hein? O que eu tenho que dar pra você calar a sua boca e não deixar ninguém saber disso?

-Pra começar, solta o meu pescoço. Agora eu posso falar? O que eu vou pedir é simples: cem mil dólares.

-O quê?

-Ou você me dá cem mil dólares ainda hoje ou Cristina, Pedro e Fabrício vão saber tudo sobre o caso amoroso do publicitário Ricardo Faria. E então?

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