Cora se afasta lentamente de Ricardo, e já não consegue disfarçar mais a forte atração que sente por ele. Toma-o pela mão e o leva até o quarto no qual está hospedada. Continuam sendo observados por Ludmila.
-Isso é melhor do que arrancar dinheiro da
Cristina Faria. Ele, o Ricardo, tem mais a esconder do que a esposa. Vamos ver
quanto ele está disposto a pagar pra não ver essas fotos na coluna social.
*****
Viviana vai ao quarto de Fabrício e percebe
que o rapaz está um pouco triste.
-O que houve, Fabrício?
-Você viu meu pai lá fora?
-Não, ainda não.
-Pois é. Desde que eu cheguei, eu também não
vi. São dez e meia, ele já devia ter saído da agência há muito tempo.
-Entendo. Tá preocupado com ele.
-Que preocupação, Milena? Eu percebi que ele
não quer voltar pra casa, pra não correr o risco de me encontrar.
-Uma hora, isso vai ter que rolar.
-Nem eu sei o que vou fazer quando acontecer.
-Tem que ter paciência com ele.
-Mesmo sabendo que comigo ele não vai ter?
-Não vai demorar muito tempo pra ele voltar a
ser o pai que sempre foi.
-Juro pra você: se alguém me contasse como
era meu pai antes do acidente e como ele tá agora, eu não acreditava. Sério,
Milena, às vezes eu penso que ele é mais fraco do que eu.
-Vão voltar às boas, pode ficar certo disso.
Bom, eu vou embora.
-À essa hora? Fala com o Pedro, ele te mostra
onde é o outro quarto de hóspedes. Ou então você pode dormir aqui. Se a minha
mãe te ver, a gente diz que você chegou cedo amanhã.
-Não, eu vou evitar problema. Amanhã de manhã
eu passo aqui, prometo.
-Pede então pro motorista te levar. Por falar
nisso, onde é que você mora.
-Acho que tá meio tarde pra você me perguntar
isso, não é?
-Sem brincadeira. Olha o tempo. Vai de quê?
-A pé.
-Tá vendo só?
-Já tô acostumada com a noite. Andei muito
quilômetro pra chegar ao lugar onde moro hoje.
-Se insiste tanto assim...
Viviana beija-o rosto, e ele vai até uma
gaveta onde está guardado seu notebook. Nele, vê fotos em que aparentava
felicidade ao lado de Cristina, Pedro e Ricardo.
-Eu vou vencer. Mesmo que seja sozinho, eu
vou sair dessa.
*****
Cristina está tomando café da manhã com os
dois filhos. Mal contém a felicidade ao vê-los juntos.
-Há quanto tempo eu não vejo essa cena.
-Só faltou o nosso pai aqui. Não é, Fabrício?
-Ele não dormiu em casa.
-Não?
-Fiquei acordado a noite toda. Depois que a
Milena foi embora, ninguém mais pisou aqui.
-Fiquei sem reparar nisso, tinha que dormir e
acordar cedo pra ir à faculdade.
-E como está indo o curso, filho?
-Do modo normal, mãe: sem novidades.
-Você vai ver o Werner hoje?
-Hoje, não. Por quê? Algum recado?
-Queria saber se ele pode vir aqui. Eu quero
falar sobre a cirurgia- Cristina e Pedro se surpreendem- O que foi?
-Nada. Eu posso passar no hospital antes de
ir pra faculdade e peço pra ele passar em casa. Quem sabe ainda hoje ele não
venha?
Ricardo chega à mesa do café.
-Bom dia.
Com exceção de Pedro, todos agem com
hostilidade.
-Oi, pai. Gente, eu tenho que ir agora. Falo
com Werner e vou direto pra facul. Fui.
-Tchau, filho- dizem Cristina e Ricardo.
-E você? Tá melhor?
-Pra eu ficar melhor, eu tinha que ter
sentido alguma coisa. Eu não sinto nada, esqueceu? – olha pra Cristina- Perdi a
fome, vou pro quarto.
-Como foi sua noite, Ricardo?
-Se quer mesmo saber, bem animada.
-Ótimo.
-Por que ele está assim comigo?
-Por quê? Ora, Ricardo! Você realmente não vê
o modo indiferente como você trata o Fabrício? Aliás, indiferente, não. Porque
pra ser indiferente tem que mostrar que se importa em algum momento, mesmo que
seja por um péssimo motivo. E você... Nem isso.
-Cristina, eu... Eu prometo que vou ser mais
compreensivo com ele.
-Tenho muito medo da sua compreensão. Muito
mesmo. Tanto que se ele resolver fazer uma loucura, você vai incentivá-lo. Da
mesma forma que você incentivou o Pedro pra ir àquele conservatório, pra encher
a cabeça dele com ideias sobre Música.
-Mas do que você...
-Não adianta negar. Eu vi. Vi o seu carro na
rua do conservatório, à tarde, quando voltava do hospital. Decidi entrar lá e
encontrei o Pedro filmando uma apresentação, em vez de procurar uma forma de
ajudar o Fabrício. Eu fico impressionada que tento manter os dois no bom
caminho e você arruma um jeito de desviar. Emprestar o seu carro pra ele ir
àquele lugar, compactuar com uma farsa dessa?
-Você... Viu meu carro?
-Sim, Ricardo... Vi, sim. Por quê? Era pra
não saber? Ou será que tem mais um segredo que eu precise descobrir?
-Isso é você quem diz. Por que não averigua?
-Porque quanto ao nosso casamento, você é um
marido exemplar. De longe se vê, não tem como eu fazer crítica. Mas como pai,
Ricardo, você falha cada vez mais. Meu filho vai ser médico porque esta é a
minha vontade. E como tudo dentro dessa casa, é a minha palavra que prevalece. Agora,
com licença, que o meu apetite acabou.
*****
Viviana sai do prostíbulo no qual mora e vai
para a casa da família Faria. Atrás dela, a alguns metros de distância, uma voz
masculina fala, bastante trêmula.
-Milena... Minha filha.
-Você aqui? Não pode ser.
-Faz quase dois meses que eu te procuro.
Finalmente eu te vi.
-Eu não vou voltar. Você pensa que vai me
enganar com essa cara de quem se arrependeu, mas eu não confio mais em você. Se
afasta de mim.
-Não, Milena. Não foge de mim. Eu sou teu
pai.
-Pai? Que me esconde a identidade da minha
mãe? Que ela tá viva?
-Sua mãe me traiu!
-Você não se vingou dela? Me afastando dela?
Então, quem vai se afastar de você agora sou eu!
-Milena, volta aqui! Volta aqui, minha filha!
Milena!
Viviana corre na direção contrária à mansão.
Sem olhar para trás, não percebe que o pai se cansa rapidamente, pondo a mão no
peito.
-Eu não posso voltar. Ele vai me obrigar a
voltar e eu não quero. Não vou voltar, nem perdoar o que ele me escondeu.
Nunca!
*****
Ricardo chega à sua agência. A recepcionista
logo se aproxima para avisar.
-Doutor Ricardo, uma jornalista quer falar
com o senhor. Está esperando na sua sala.
-Não é possível. Eu estou atrasado pra uma
reunião. Não tem como fazer a moça esperar?
-Ela disse que o assunto é urgente e que só
pode resolver com o senhor.
-Tudo bem, eu vou ver de quem se trata.
O publicitário encontra Ludmila em sua sala.
A jornalista se levanta rapidamente.
-A senhorita, quem é?
-Desculpe ter vindo à sua sala durante a sua
ausência. Meu nome é Ludmila, eu trabalho no Diário da Cidade.
-Prazer, Ludmila. Quem tem que pedir
desculpas sou eu, mas você vai ter que esperar por mais algum tempo. Eu tenho
uma reunião para a qual estou atrasado e peço que espere um pouco mais.
-Eu não vou tomar muito o seu tempo, Ricardo.
Eu vim entregar um envelope que contém fotos de algo que muito lhe interessa.
*****
Cristina entra no quarto de Fabrício.
-Filho, eu tive uma ótima ideia.
-O que, mãe?
-Eu pensei bem, e acho que a sua volta pra
casa tem que ser comemorada em grande estilo.
-Do que a senhora está falando.
-Eu quero te dar uma festa de presente.
-Não, mãe. Eu não quero festa nenhuma. Nem
pense em fazer festa pra mim.
*****
-O que seria, exatamente?
Ludmila abre a bolsa e entrega um envelope a
Ricardo.
-Veja o senhor mesmo.
-Isso é alguma brincadeira sem graça?
-Já disse que é do seu interesse. O futuro da
sua família depende e muito do que está dentro desse envelope.
Ricardo toma para si o envelope e o abre,
ficando aborrecido por saber que seu caso com Cora foi descoberto. Logo pega um
isqueiro e queima o pacote, enquanto Ludmila assiste a tudo, sorridente.
-Como você conseguiu isso?
-É uma questão a se considerar, Ricardo.
Ainda mais agora que você destruiu as fotos. Mas a pergunta que não quer calar
é a seguinte: como foi que eu consegui isso aqui? E isso? E isso? E esse pacote
também?- a moça tirava diversos envelopes da bolsa e jogava para o alto. Eles
deixavam escapar cópias das comprometedoras imagens. Ricardo se enche de fúria
e agarra a jornalista pelo pescoço.
-O que você quer, hein? O que eu tenho que
dar pra você calar a sua boca e não deixar ninguém saber disso?
-Pra começar, solta o meu pescoço. Agora eu
posso falar? O que eu vou pedir é simples: cem mil dólares.
-O quê?
-Ou você me dá cem mil dólares ainda hoje ou
Cristina, Pedro e Fabrício vão saber tudo sobre o caso amoroso do publicitário
Ricardo Faria. E então?
Nenhum comentário:
Postar um comentário