Cristina chega ao hospital e entra no
consultório.
-Doutor Oliveira?
-Pode entrar, dona Cristina.
-Eu vim falar com o senhor. Sobre a
transferência. Queria saber se há condições de tirar o meu filho daqui.
-O Fabrício está evoluindo muito bem.
Inclusive eu soube que ele já pediu para comer. Se possível, hoje mesmo
resolvemos esse problema.
-Ótimo. O senhor não sabe como eu fico feliz
em ver que ele já está melhor.
-Temos um empecilho ainda: ele não quer usar
a cadeira de rodas.
-Mas isso é questão de tempo. Logo, logo, o
meu outro filho, Pedro, vai convencê-lo a fazer o tratamento necessário.
*****
Pedro está saindo da faculdade e encontra
Cora em seu carro.
-Professora?
-Indo para o conservatório?
-Não, eu vou ao hospital. É o mesmo caminho,
na verdade.
-Quer que eu te leve?
-Isso já tá virando rotina!
-Você sabe que não tem problema nenhum.
Aliás, é um gosto ajudar você. É um dos meus melhores alunos, se não o melhor.
Quer dizer, foi.
-Sabe que eu já nem sei mais o que pensar?
Quanto mais eu fico aqui, nessa faculdade, mais eu tenho vontade de desistir de
tudo. E agora tem um motivo mais forte pra eu continuar: Fabrício.
-O caso ainda é grave?
-Ele tá fora de perigo. Mas por causa do
trauma que ele sofreu, ele não pode andar.
-Nossa, eu sinto muito, Pedro.
-O problema mesmo é que a gente não sabe qual
é o tratamento, porque ele não aceita a minha ajuda.
-Mas você é o irmão dele, por que ele não...
-Professora, é uma história comprida demais.
E não é o melhor lugar pra contar.
-Bom, meu convite fica de pé. Quer minha carona?
-Tudo bem, eu vou com a senhora.
Pedro entra no carro e Cora conduz o veículo
rumo ao hospital.
*****
-Por que você fez isso?
-Pra você entender, de uma vez por todas, que
eu não quero fazer o que todo mundo manda. Ninguém vai dominar, entendeu? Ninguém!
-Fabrício, eu vou repetir que é pro seu bem.
-Meu bem? O que é que você sabe? O que é que você
entende da minha vida? Sofreu por acaso? Descobriu que era filha de gente que
não conhece, nem sabe o nome? Eu não vou sentar nessa cadeira! E pode vir
Pedro, Cristina, a repórter, a polícia, o escambau!
-Não vai se levantar, é?
Viviana trava uma luta contra o rapaz,
tentando a todo custo tirá-lo da cama.
-Me solta! Você tá me machucando! Para, Milena!
Me larga!
-Cala a boca! Você não acha que eu sofri? Acha
que eu não tenho nada? Que eu não sinto nada? Senta!
-Olha aqui, ninguém me tratou desse jeito.
-Porque você é rico! É só isso o que
interessa. Tua família é você. Quem liga pra saber como você tá, só se preocupa
por causa do seu dinheiro.
-Eu não quero dinheiro nenhum.
-O que você não quer é gente que te ama perto
de você. Sabe o que eu fiz antes de chegar aqui? Fugi! É, eu fugi pra não ter que viver com gente
perigosa e insensível feito você.
-Não quero saber!
-Mas vai saber! Você não sabe o que é amor,
mesmo sendo amado. Mas vai ter que aprender na marra. Eu vou embora, mas quando
eu voltar, eu quero te ver sentado, comendo, falando com todo mundo. Se quiser
ficar com raiva, pode ficar. A hora é essa.
Viviana abre a porta e sai irritadíssima. Ela
encontra Cristina, que percebe o quanto a moça está alterada.
-O que houve?
-Eu fiz ele se sentar na cadeira.
-Ah, quer dizer que conseguiu convencê-lo?
-Não, eu fiz o que todo mundo tem que fazer
pra conversar com ele: briguei.
-O que você fez com o meu filho?
-Fiz ele ser homem e sentar. Arrastei ele da
cama até a cadeira e resolvi o problema.
-Quem te deu o direito fazer isso, sua
insolente?
-Fabrício, com a falta de educação dele. Com
licença.
Cristina fica barbarizada e liga para
Ricardo.
-Onde você está?
-Na agência.
-Você tem que vir pra cá.
-Por quê? O Fabrício piorou?
-Ele vai sair o mais rápido possível daqui.
Não quero mais meu filho metido nesse lugar.
-Resolva o problema da transferência, fale
com o médico.
-Já falei. Venha pra cá.
-Pra resolver o quê?
-Ricardo, você é o pai dele! Venha agora!
-Não vou desmarcar minha reunião pra resolver
seus caprichos.
-Ricardo? Ricardo? Desligou na minha cara o
desgraçado. Ai, mas vai ter volta.
-Droga! O que foi que eu fiz? Eu não posso
deixar minha mulher sozinha numa hora dessas- Ricardo se levanta e pega o carro
para ir ao hospital.
*****
Passada meia hora, Cora faz uma cara de
preocupação, quando está prestes a chegar com Pedro.
-O que houve, professora?
-O combustível está acabando.
-Pode me deixar aqui. Tá perto, eu vou
andando.
-Imagina. Isso daqui é uma avenida, o que não
falta é posto de gasolina.
Na entrada do hospital, Pedro agradece.
-Tia Cora, eu nem sei como te agradecer.
-Pra começar, pode parar de me chamar de tia.
Já passamos dessa fase.
-É o costume. Já te conheço faz tempo.
-Manda melhoras pro seu irmão.
-Valeu- Pedro a beija no rosto, desce do
carro e vai até a recepção.
Momentos depois, Cora está com o celular nas
mãos. Ricardo chega e vê Cora, aproveitando para se aproximar do carro.
-Você por aqui?
E ela se surpreende com a presença de
Ricardo, ficando bastante mexida através da lembrança do beijo que deram.
*****
Na zona central da cidade, Cristina chega
numa ambulância com Fabrício. Ele, no momento acordado, é levado ao Hospital
Melina Dubeux. A mãe adotiva do jovem conhece o novo médico do filho.
-Muito prazer, dona Cristina. Eu sou o Werner
Ribeiro.
-Prazer. Tem certeza que ele vai ficar bem
aqui?
-Nosso hospital é referência no estado, pode
ficar tranquila. Como ele reagiu á notícia sobre a paraplegia?
-Da pior forma possível. Mas acredito que,
com o tempo, ele volte a si.
-Pelo visto, vamos ter muito trabalho.
-O meu outro filho é estudante de Medicina.
Eu queria saber se ele pode acompanhar a evolução do quadro.
-Claro, sempre que quiser.
-Eu só queria pedir mais uma coisa, doutor.
-O quê?
-Eu queria proibir a entrada de uma pessoa em
especial.
-Imagino. Repórter?
-Não. Uma moça chamada Milena. Ninguém desse
hospital pode deixá-la entrar de jeito nenhum.
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