11/02/2013

AINDA É CEDO/ CAPÍTULO 14: ELA FALOU “VOCÊ TEM MEDO”



-Como foi que você conseguiu essas fotos, menina?

-Digamos que não é muito inteligente para um homem manter um caso e beijar a amante na rua. Tudo foi obra do acaso, mas infelizmente eu não pude evitar. Ou será “felizmente”?

-Você vai dar um jeito dessas fotos sumirem pra sempre.

-De graça? Não, Ricardo. Elas vão continuar em meu poder e eu vou destruir todas as cópias quando você me der o cheque.

-Como é que eu posso ter certeza disso?

-Porque você vai me ver destruindo as fotos, uma por uma.. E também porque não quer arriscar ver seus filhos sofrendo por causa da sua traição com a Cora Lauveríssimo.

-Até o nome dela você sabe, sua desgraçada?

-Acredita mesmo que eu só ficaria nas fotos? Eu apurei tudo sobre essa mulher. Onde ela trabalha, onde ela mora, tudo. O caso de vocês poderia muito bem ser secreto se não fosse a sua falta de discrição.

-Pelo jeito de falar, até parece que você quer mesmo que a minha família saiba de tudo.

-Motivos pessoais eu não tenho. Mas não vou perder essa chance. E então, Ricardo? Vai ou não me dar o dinheiro?

-Amanhã você passa aqui...

-Hoje mesmo, às três e meia. Do banco passamos no jornal e pegamos as últimas cópias disponíveis. Não tente me enganar, ou vai se arrepender. Bom... – pega a bolsa e põe num dos braços- o doutor é um homem importante e tem uma reunião para a qual já está atrasado. Nos vemos mais tarde. Com licença. Ah, tem mais uma coisa. Recolhe essas imagens do chão. Vai que a arrumadeira vê isso. Seria terrível se outras pessoas descobrissem. Até logo.

Ricardo espera Ludmila sair e decide ligar pra Cora.

-Sou eu, Cora. Olha, eu vou ter sair pra almoçar. Tem como você me esperar às doze horas na pousada? Tudo bem. Um beijo.

Ao desligar, ele perde a cabeça e atira o celular contra a porta, tomando pela raiva que sente da jornalista.



*****



Fabrício continua em seu quarto, discutindo com sua mãe sobre a festa.

-Meu filho, já imaginou os nomes na coluna social de novo? Isso vai representar a nossa virada, a volta por cima.

-Quem tem que dar a volta por cima sou eu. Não é a família Faria. Eu é que quase morri naquele acidente, e não tô mendigando matéria em jornal nenhum.

-Me desculpa, filho, mas eu não sou obrigada a aceitar todos os seus caprichos.

-Ah, sei, mas o Pedro, o meu pai e eu temos que aguentar suas frescuras sem falar nada?

-Confia em mim, meu filho.

-Até quando você vai insistir que somos mesmo uma família feliz? A gente não era antes do acidente, e agora nem se fala.

-Eu sou sincera nos seus sentimentos.

-Mas acha que precisa expressar todos eles numa capa de jornal.

-Bom, Fabrício, daqui a cinco dias, toda a cidade vai saber que você está disposto a fazer uma cirurgia e voltar à sua vida normal.

-E se eu não...

-Vai voltar. O seu irmão vai te ajudar.

-Quando você vai parar de insistir nessa mentira?

-Eu nunca vou parar de insistir nessa mentira. O meu amor por vocês é grande demais pra que eu possa abrir mão dessa mentira. Agora, se me der licença, eu vou fazer a sua lista de convidados- levanta-se e sai do quarto.

-Irmão...



*****



Ricardo chega ao quarto de Cora, que o recebe com um beijo ardente.

-O que foi? Você está distante demais.

-Aconteceu um problema. Eu preciso conversar com você.

-Por favor, senta aqui- tira uma almofada do sofá- O que aconteceu?

-Cora... A gente tem que terminar o nosso romance.

A professora fica em estado de choque, por não acreditar que ele tomaria essa atitude.



*****



Pedro e Viviana estão no quarto de Fabrício. O rapaz faz exercícios com o irmão.

-Pra quê isso? Eu nem tô operado ainda.

-A gente tem que exercitar a sua musculatura. Não pode ficar enrijecido.

-Teu irmão sabe o que tá fazendo, Fabrício. É pro seu bem.

-Onde é que você tava, Milena? Você demorou pra chegar hoje.

-Uns problemas.

-De família?

-É, Fabrício, você sabe me ler como ninguém.

Pedro mantém a perna direita de Fabrício dobrada.

-O que tá fazendo?

-Já falei. Exercitando você. Não sente nada?

-Não, nada.

-E agora?- Pedro dobra a outra perna, e se manem sobre ambas.

-Nada ainda. Quer dizer...

-O quê?

-Eu tô sentindo como se tivesse queimando. Mas pelo menos eu tô sentindo alguma coisa.

-Milena, me ajuda aqui.

-Eu faço o quê, Pedro?

-Segura as pernas dele, na mesma posição. Eu vou pegar uma coisa na gaveta.

-Vai lá.

Pedro pega um piloto na gaveta e se aproxima da perna que está sentindo um incômodo.

-Olha só: eu vou escrever, bem devagar, um nome. Você vai ter que dizer que nome eu escrevi. Certo?

-Tá bom, Pedro. Escreve.

Pedro começa a escrever, enquanto Viviana olha em silêncio.

-Pronto. Que nome eu escrevi.

-Milena. Você escreveu o nome da Milena.

-Foi. Isso mesmo. O nome da Milena. Você tá começando a sentir suas pernas, Fabrício.

-Eu não acredito. Eu não acredito... – Fabrício abraça o irmão, e Viviana se emociona.



*****



-Você não pode estar falando sério.

-Nunca falei tão sério na minha vida, Cora.

-Ricardo... Para pra pensar. A minha vida agora depende do que vai acontecer conosco. Eu me sinto ligada a você. Eu sei que não devia, mas não posso controlar.

-O nosso caso não pode continuar.

-Caso? Você chama o que temos de caso? Eu chamo de entrega. E você ficava me cercando, me procurou até que eu não pudesse resistir mais. Agora, essa conversa de fim de caso. O que é? Outra mulher?

-Não. É a mesma. Eu descobri que ainda sou apaixonado pela minha mulher.

-Isso não é verdade.

-Somos casados há vinte anos, temos uma cumplicidade mútua...

-Você está mentindo pra mim!- começa a gritar- Se tem uma coisa que a sua mulher representa pra você, é a prisão. Eu sou sua única saída, Ricardo. A única que consegue te amar de verdade.

-Para com isso, Cora. Eu vim até aqui pra deixar de te iludir, de contar mentiras. Eu fiquei fragilizado pelo que aconteceu com o meu filho, mas passou. A Cristina me inspira segurança, e eu não posso mais te enganar. Adeus, Cora.

-Volta aqui, Ricardo. Não me deixa sozinha! Você não pode fazer isso comigo. Eu te amo! Eu vou acabar com você, desgraçado. Eu vou acabar com a sua família, maldito! Volta!

Cora percebe que Ricardo não volta ao seu quarto e chora compulsivamente, a ponto de cair do chão. O que ela quer agora é se vingar do homem que a abandonou.



*****



Pedro, Viviana e Fabrício vão à praia. Os três estão na calçada, e só o estudante de Medicina entende o propósito de estarem lá.

-Por que você trouxe a gente aqui?

-Quis comemorar seu progresso. E acho que você queria comemorar também.

-Comemorar eu só vou quando eu puder correr pela areia, sentir as ondas batendo em mim, me sentir livre.

-Tenho pra mim que você pode fazer isso hoje.

-Tá pensando no quê, Pedro?- Viviana fica curiosa com as ideias do jovem.

-Me ajuda aqui, Milena.

E Pedro retira o irmão da cadeira de rodas.

-Vamos tomar banho, como a gente fazia quando era criança. A mãe levava a gente pro colégio e, em vez da gente ir direto pra casa, a gente largava a bolsa na areia e brincava na água. Vem também, Milena.

Viviana e Pedro correm com Fabrício até a água, onde se divertem bastante. O rapaz esquece por alguns minutos de seus problemas e brinca com o irmão e a amiga no mar. Num dado momento, ele abre os braços e se sente flutuar.

Passados algumas horas, ele está de volta à cadeira, no meio da areia, olhando o pôr do sol, enquanto Viviana e Pedro vão comprar uma água de coco, observando-o.

-Nunca vi ele sorrir tanto desde que aconteceu o acidente.

-Parece que agora fica mais fácil pra fazer o meu irmão andar, voltar a ser feliz. O que foi? Tá distante...

-É que... Minha manhã hoje foi barra-pesada.

-Por causa dos problemas com a família que o Fabrício contou.

-Isso aí.

-Você não merece sofrer, Milena. Desde que você chegou, a nossa vida podia ter ficado pior. Em meio à tragédia total. É só chegar lá em casa e ver que meu pai não tá lá, minha mãe tá mandando mais na gente... Acho que cria um problema pra fugir de outro.

-Pelo menos você tem mãe. Uma pessoa pra reclamar.

-Você é órfã?

-Pior: não sei nada dela, não sei onde ela tá, meu pai tá me procurando e eu não quero mais a cara dele... – Viviana para pra chorar, e Pedro enxuga suas lágrimas.

-Quando a gente tem alguém do lado, os problemas somem. É assim que eu me sinto quando eu tô com você.

-Pedro...

-Me dá uma chance. Você tornou a vida da gente melhor, a minha melhor também. Eu só quero tentar te fazer feliz, mesmo que pouco. Eu vou te perguntar de novo, e se você disser que não, eu vou entender. Na boa. Quer namorar comigo?

No mesmo momento, ela olha pra Fabrício, que está bem distante. Sem saber do pedido do irmão, o rapaz também olha pra ela.

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