É aniversário da
mimada Sophia. Eric, como sempre, é um rapaz atento a tudo que ocorre à volta
de sua namorada, mas não percebe seu verdadeiro caráter. Filho de uma família
tradicional da cidade, ele age como um bobo só pra satisfazer os caprichos da
amada, e se coloca numa posição inferior à moça. O que não imagina é a relação
que Sophia pretende manter através desse namoro: uma solução para seus
problemas financeiros.
Determinado a
surpreendê-la, liga para a sua melhor amiga, Graziela. Estaciona em frente à
uma vitrine de roupas femininas.
-Oi, Eric.
-Queria falar
contigo. Hoje é aniversário da Sophia.
-Hum... Soube
pela internet. Ela disse que vai dar uma festa.
-Não te convidou?
-Você sabe que a
gente não é tão próxima assim...
-Pois é... Eu
tô pensando em dar um presente pra ela, faz só seis meses que a gente
tá namorando. Não sei o que vou comprar. Tem como me ajudar nessa?
-Eu?
-É, poxa.
Você é mulher. Deve saber o que ela quer ganhar.
-Meu gosto
é diferente do dela, pode ter certeza. Ela adora mostrar que tem, se
exibir pra todo mundo.
-Sophia diz que
só gosta de coisa simples...
-Coisa simples
pra você dar. Deve ser chato pedir ao namorado presente. Dá uma
bolsa. Tudo bem que ela deve ter um monte, mas do namorado ela não vai recusar,
não é?
-Já sei o
que eu vou fazer- diz Eric, depois de olhar para diversos vasos de flores- A
gente se fala depois.
-OK. Beijo-
Graziela desliga.
-Quem era?-
surpreende Téo, namorado de Graziela e amigo de infância de Eric.
-Eric. Adivinha
pra quê? Pra pedir dica do que comprar pro aniversário da Sophia.
-Fácil de saber:
é só ele bancar a festa.
-Ai, eu não sei
por que ele perde tempo com ela ainda.
-Porque ele ama
aquela menina. Do mesmo jeito que eu amo você- tenta beijá-la.
-Não, Téo. Agora,
não.
-O que foi? Ficou
nervosinha por que ele te ligou?
-Claro que não.
Deixa de dizer besteira.
-Eu não ia me
surpreender, não, Graziela. É natural. Amar em silêncio é uma coisa
difícil pra caramba. Eu imagino. Mas só quem sente, sabe.
-Eu não mandei você parar?
-De quê? De dizer
a verdade?
-Você está a
fim de discutir mesmo?
-E você de
me deixar ser a sombra do meu melhor amigo. Olha o que você faz comigo: eu
estou disputando com ele uma mulher que ele nem sabe que existe.
-Acabou? Com
licença!- pega a bolsa.
-Onde é que
você vai?
-Pra qualquer
lugar que você não esteja perto. Não sou obrigada a escutar sua crise de
ciúme. A mulher aqui sou eu. A ofendida sou eu.
-E a rejeitada
também.
-Que seja- sai da
sala de aula da universidade.
-Grazi? Grazi, desculpa.
Volta aqui.
-Nem vem- fecha a
porta.
-Droga!
Eric comprou o
maior dos buquês para Sophia. Tira do bolso sua carteira e, após abri-la,
entrega o seu cartão de crédito para um dos vendedores. Enquanto isso, ele liga
para a namorada. Quem atende é a mãe, Jaqueline.
-Alô?
-Oi, Eric.
-Liguei pra
desejar parabéns pra Sophia. Onde ela está?
-Oh, querido, ela
ainda está dormindo. Eu peço pra ela te retornar quando acordar.
-Certo. Eu ligo
depois. Até mais.
-Tchau- desliga o
aparelho.
-O que ele
queria?- aparece Sophia, composta.
-Te desejar feliz
aniversário. Só não entendi por que você não quis atendê-lo.
-Ninguém aguenta
esse namorado pegajoso, mãe. Por favor. Vê lá se eu tenho cara de
quem vai atender telefone à essa hora só porque ele quer.
-Sophia, você não
devia brincar com a sorte desse jeito. O Eric pode ser a salvação dos nossos
problemas financeiros. Olha aqui: nem pense em deixar esse garoto escapar.
-Escapar como,
mãe? Ele só tem olhos pra mim. Nunca que ele vai se apaixonar por outra
pessoa. O cara come na minha mão, caladinho. Eu sou a válvula de escape dele, e
não ele a minha.
O cartão de
crédito é devolvido ao Eric. Ele dirige sua moto com bastante ansiedade,
indo ao encontro e esperando surpreender Sophia. O que ele não imaginava era
que outra motocicleta ultrapassaria um semáforo, causando-lhe um acidente que
lhe faria perder a consciência, algumas escoriações e flores espalhadas no
asfalto, despedaçadas como a sua vida diante de muitos fatos prestes a
acontecer.
O outro
motociclista também cai, mas nada sofre. Busca socorrer Eric através de uma
ligação feita do celular. A ambulância não demora. O aparelho telefônico do
rapaz desacordado está jogado também na pista. Busca avisar a alguém de sua
lista de contatos. Liga de um por um, mas por falta de sinal, só consegue se
comunicar com alguém quando está em frente ao hospital. A primeira pessoa com
quem estabelece comunicação é Graziela.
-Alô?
-Eu queria falar
com a Graziela.
-É ela
mesma. Quem fala?
-Moça,
você conhece o Eric Ávila?- olha na carteira de identidade do rapaz.
-Eric? Conheço,
sim. O que foi que houve?
-Ele sofreu um
acidente aqui perto. A minha moto acabou batendo na dele.
-O Eric? E como
é que ele está?- quando fala o nome do amigo, surge novamente Téo, atrás
dela.
-Desmaiado. Os médicos
foram cuidar dele agora. A gente acabou de chegar.
-Escuta, eu quero
o nome do hospital. Qual é? Sei, sei onde fica, sim. Eu estou correndo pra
chegar a tempo. Tomara que não seja nada grave. Tem mais uma coisa: na agenda
dele, tem o nome “Sophia”. É a namorada dele. Liga pra ela avisando do
acidente, ela deve estar indo pro hospital também. Pode ser? Certo, obrigada.
-Que é que
está pegando? O Eric está sentindo o quê?
-Um acidente com
a moto. Parece que bateram nele, não sei. Eu vou pro hospital.
-Mas você tem uma
apresentação hoje. Graziela, é a última prova. Eu vou junto com você!
-Não dá. Não dá,
eu fiquei nervosa. Não vou conseguir fazer nada. Eu falo com o professor e
tento remarcar para outro dia. Se ele não deixar, eu pago a cadeira de novo.
-Fica calma,
Grazi. A gente não sabe se é tão grave assim. Vai ver ele só teve um ferimento,
nada demais.
-Ele
está desmaiado, Téo. Lógico que é grave. Eu preciso ir lá, e eu vou
é agora.
-Pelo menos,
espera por mim, não é? Não vai fazer o papel da viúva inconsolável antes
do tempo.
-Sem gracinhas,
entendeu? Sem gracinhas. Eu vou chamar um táxi pelo celular, te espero
lá embaixo- desce às escadas.
XXXXX
-Claro. Claro que
sim, eu sou a mãe dela. Vou avisá-la
sobre o que aconteceu. Obrigada por ter nos avisado, eu vou preparar um carro
para levá-la ao hospital. Até logo.
-Quem era no
telefone, mãe?
-A empregada
mandou me chamar. Um rapaz ligou dizendo que o Eric sofreu um grave acidente de
moto.
-O Eric? Mas logo
hoje? Logo hoje, pra estragar o meu dia? Eu já estava me planejando pra
festa, pra receber o pessoal...
-Aterrissa,
Sophia! Por favor! O Eric vai precisar de você nesse momento. A festa pode
esperar.
-Mas é meu
aniversário!
-Aprenda como dar
prioridade às coisas. O mais importante é a saúde desse rapaz. Já pensou
se ele morre? Como é que a gente fica? Hein? O motorista já está esperando você
no jardim. E agora você precisa mostrar que está apaixonada por ele, mais do
que nunca.
-Sempre com seus
planos, não é, Dona Jacqueline?
-Não deixe esse
rapaz escapar por nada desse mundo. Nada!
XXXXX
Na enfermaria,
Eric está com o pé enfaixado e começa a recobrar os sentidos. O
médico se aproxima dele.
-Eric Ávila?
-Sou eu. E o
senhor, quem é?
-Fui quem te
atendeu quando você chegou. Não se lembra do que houve? Você sofreu um acidente
de moto, o rapaz que te atropelou te trouxe pra cá.
-Lembro
só que eu tinha que comprar flores pra Sophia, minha namorada. Depois
disso, eu juro que não lembro mais de nada. Ai!- sente dor quando tenta se
levantar.
-Calma, ainda
está cedo pra você se levantar. Tem que chegar alguém que seja conhecido,
que possa te levar pra casa.
-Tem a Sophia. O
número dela está no...
-Seu celular
está na seção de prontuários. O rapaz que te atropelou o recuperou e ligou
pra sua namorada e para uma amiga, a Graziela.
-É, a Grazi deve
estar chegando também.
-Eric, eu queria
conversar com você antes de ir pra casa.
-O que houve?
Algum problema?
-Nós tivemos que
fazer alguns exames pra saber se você estava bem. Eu pedi um exame de
sangue e enviei ao laboratório que fica perto daqui.
-Mas, doutor...
Desculpa, eu só sinto mesmo dor no pé. Nem sei como eu vou fazer com a
moto.
-Vai mais além do
que o ferimento no pé.
-Mais? Mais o
quê, doutor? O senhor está me deixando assustado agora. O que é que eu
tenho?
-O exame mostrou
que a sua taxa de glóbulos brancos está baixíssima. Isso pode comprometer e
muito a sua saúde.
-Calma aí!
Glóbulos brancos? Leucócitos, é disso que o senhor está falando?
-É, sim, Eric.
-O senhor não
está tentando me dizer que...
-Que você... Está
correndo risco muito grande. Embora você ainda não sinta nada, você está muito
doente. E precisa buscar ajuda médica o quanto antes.
-Não.
É mentira. Eu não posso ter ficado doente! Não agora que a minha vida
está dando certo. Não posso!- agarra o médico.
-Você tem
que ser forte. Tem que aceitar, porque daqui em diante, tudo será mais
difícil pra você. E vai precisar muito do apoio da sua namorada e de todos que
te cercam.
O olhar de Eric
fica perdido, como se esperasse alguém que trouxesse uma solução que pudesse
livrá-lo daquele pesadelo.
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